O barulho está na moda. Estão na moda os arraiais, as festas e todos os convívios que impliquem ruído em excesso. Refugiamo-nos em ambientes onde o volume pode ser ampliado para o máximo. De preferência, ampliado a ponto de não conseguirmos ouvir os que estão connosco. O barulho faz-nos esquecer do que nos preocupa e do que nos consome os dias. Faz-nos ouvir uma voz que não é a nossa e que não mora dentro de nós. Assim é fácil. O som distrai-nos. Abstrai-nos e deixa-nos ilusoriamente felizes. Durante o tempo em que não nos ouvimos, não precisamos de pensar, de lidar com assuntos mais ou menos difíceis.
O silêncio não está na moda o suficiente. Se estamos calados, haverá sempre quem pergunte se nos dói alguma coisa ou se há alguma nuvem a toldar-nos o pensamento. Se não dizemos nada, é porque amuamos. Porque estamos tristes. Porque estamos zangados. Porque estamos num dia não. O que não podemos é estar calados por estar.
Acaba por ser estranha e curiosa a forma como aceitamos o ruído que nos deixa surdos e rejeitamos e estranhamos o silêncio.
Carros. Buzinas. Música alta. Guitarras. Mensagens que caem no telefone. Notificações. Gente que fala do lado de lá da televisão sem dizer nada. Motores. Travagens. Obras. Máquinas. Bebés que choram na rua. Crianças que fazem birras demasiado audíveis. Portas que fecham. E que se abrem.
Falta-nos sossegar. Encontrar forma de querer tanto fazer silêncio como quem quer ir a um concerto, a um espetáculo ou a um arraial.
Falta-nos fazer marcha atrás. Dizer aos outros que estamos calados porque o barulho nos faz ficar velhos mais depressa e nos deixa mais apressados do que devia.
Falta-nos sentar num sofá, numa cadeira ou num banco como quem pousa. Como quem chegou onde devia ter chegado. O descanso também é um lugar e nunca lá está ninguém.
Falta-nos falar menos. Dizer menos sobre o que não sabemos.
Falta-nos olhar como quem diz coisas.
Falta-nos reparar como quem ama as coisas que vê e que, de alguma forma, também são suas.
Se o descanso é um lugar e nunca está lá ninguém,
Que tal irmos juntos e fazes-me companhia?
Marta Arrais
In: imissio.net
A novidade parece perturbadora. Angustia ao coração como algo assustador e gerador de inseguranças. Facilmente tendemos a manutenção, ao conservadorismo, para não se sentir instável. Assim, transmitimos repetidamente as experiências, os ritos, as interpretações, a vida. Ousar na mudança chega a ser muito inquietante e dói. Mudar dói muito! Foi assim com os judeus que se converteram ao cristianismo. Romper com tradições diante de uma proposta revolucionária e altamente transformadora não era nada fácil. Abrir os horizontes para novos focos, ressignificações, releituras: pedia coragem demais.
No começo da caminhada cristã, para facilitar a aceitação da novidade que Jesus nos havia apresentado, foi necessário “Construir Jesus”. Uma espécie de jornada adaptativa ou itinerário formativo que pudesse, passo a passo, garantir um amadurecimento da proposta de modo menos agressivo e bem experimentado. O caminho não era fácil. Tratava-se de mudança de pensamento, de modo de ver, viver, sentir, celebrar, seguir. Tudo com outro olhar!
Não passava mais pelo simples hábito, pelo cumprimento da lei, pela simples normatividade. Jesus trouxera novo sentido e pedia que a ação fizesse sentido para corresponder ao projeto do Pai. A princípio, Ele é perspectivado pela tradição do primeiro testamento, associado às múltiplas manifestações de Deus na história do judaísmo e de suas categorias e personagens. Esse movimento, ou construção, ganha a credibilidade e manifesta, assim, Salvação de Deus. Logo, o que Ele diz deve ser escutado, ainda que provocando uma perturbadora novidade.
O tempo foi passando e as renovações das instituições que se inspiram nos ensinamentos de Jesus, ainda hoje seguem se adaptando e amadurecendo sua abertura às mudanças de tempo e aos tempos de mudanças. Sobretudo os que estão em profunda e íntima sincronicidade com o Mestre, notam como é desafiador viver a novidade do plano de pleno amor que Ele nos oferece. Por isso, muitas vezes recuamos, esperamos, adaptamos, resignificamos sem medo. Somos apenas colaboradores da construção de Jesus em cada tempo da história. O que vemos é “Ele, erguendo as mãos, os abençoava, e separando-se deles, sendo levado aos céu” (Lc. 24 – 50,51). A voz passiva, “levado aos céus”, mostra que o agente dessa obra é Deus. Somos construtores, abençoados por Ele!
Pe. Evandro Alves Bastos
28.05.2019
A literatura Bíblica usa muito a simbologia e os sinais para trazer a mensagem libertadora da eleição e da salvação. É preciso se debruçar horas, rezar, meditar muito a Palavra para decodificar os sinais, sair das explicações prontas e aprofundar na beleza apresentada por eles. No entanto, sinais, são apenas sinais! Eles não revelam a totalidade do amor de Deus manifestado em Jesus Cristo. Ainda que muitas vezes revestidos de singularidade e espantosa beleza, são apenas sinais. Podem demonstrar muito do poder, mas não é disso que Jesus se alimenta, e seus sinais, apontam para algo muito maior que qualquer desejo ou poderio. É como ver uma foto ou uma notícia e julgar que ela é verdadeiramente ou somente aquilo. Uma foto, uma imagem é uma sinal. Porém, muito maior é o que está na experiência vivida por traz dos sinais.
Para debruçar-se sobre o que há de maior e mais profundo nos sinais do amor de Deus pela nossa humanidade é urgente experimentar esse amor. Não adianta comprar respostas ou justificar julgamentos. Só quem se alimenta desta íntima vivência quem é capaz de sentir, de experimentar, de irradiar esse pleno Amor de Deus em tudo que faz.
Vejo muitos falarem em AMOR! Por todos os lados o uso desse termo como uma palavra forte, cheia de explicações e argumentações vai revelando um desejo profundo de sentido para a vida. Em alguns casos revela, uma mendicância por fragmentos de amor: alguém que se sente muito carente pede amor o tempo todo. Noutros casos, o uso banal, mas nem por isso menor, dos que usam tão corriqueiramente o termo, leva-os a chamar o outro assim, sem se dar conta da intensidade: “- FALA, AMOR!”
Na vida cristã, para a veracidade e testemunho de sua real vivência, não adianta trazer o uso do termo apenas em palavras repetidas. Jesus pergunta, repete a pergunta e mesmo depois do sinal da pesca abundante, Ele revela o que o Pai, amando-nos profundamente, espera de nós: TU ME AMAS? Se a resposta for positiva virá o imperativo: ENTÃO, CUIDA!
Cuida! Promove a partilha, o sonho, a Vida!
Cuida! Defende o trabalho, a justiça e a paz!
Cuida! Desarma a ganância e o poder da opressão!
Cuida! Convide ao pensar, a reflexão, a sociologia, o perdão!
Tu de amas?
Cuida! Cuida da dignidade das minhas ovelhas!
Pe. Evandro Alves Bastos
02.05.2019
Quando a crise está mais forte e as dores da vida parecem incontroláveis, renasce simultaneamente o desejo de uma vida nova. Os sinais de desânimo estão muito evidentes e ao mesmo tempo, a esperança parece ganhar uma força nunca antes experimentada. O medo evidencia traços de uma violência gritante, e projetos de resistência, renovação da fé e do entusiasmo pela defesa da vida, dão sinais de que somos capazes de muito mais.
O ciclo é estranho. No entanto, é muito forte! Observo como nesses últimos meses, ou melhor 100 dias, enquanto a crise política toma conta das preocupações e noticiários, voluntários organizam campanhas para salvar um hospital. Enquanto 80 tiros eram disparados, “por acidente”, o Observatório Social percorre comunidades com uma mensagem de compromisso e transformação. Ao mesmo tempo que as notícias de feminicídio davam sinais da sociedade machista em que vivemos, o projeto “Marinas” nasce sincronizando a esperança de que podemos salvar vidas. Se por um lado uma professora, representando boa parcela da sociedade brasileira, discrimina o aluno negro, politizado e maduro na sua reflexão que não aceita descaracterizar a história, os bombeiros que deram amor e esperança em Brumadinho, atravessam o oceano para chegar a Moçambique no desejo de ajudar.
Não posso desanimar!
A vitória da manhã de domingo é fruto do enfrentamento corajoso e da confiança de que valerá, ir até o fim. O medo, pode passar pela porta do coração, mas não pode armar sua tenda aí. O vazio, até costuma fazer-nos uma visita, mas não pode ser hóspede que ocupa o quarto da esperança em nossa morada interior. A angústia, chega muito perto da casa dos sonhos de justiça e paz, porém não tem a chave para tomar posse da mansão do Amor.
Páscoa: é vida nova!
Manhã de luz: tendo enfrentado sombras e trevas.
Abraço forte: depois de sentimentos de temerosa solidão.
Brotos novos: após violenta poda.
Canção de festa: entre lágrimas de dolorosa memória.
Saudade viva: quando o momento foi profundamente marcante.
Memória brilhante: ainda que a tortura pressione o esquecer.
Mesa farta: como resultado da partilha e da comunhão.
Mudança de olhar: consciente da dureza do chão.
FELIZ VIDA NOVA!
Pe. Evandro Alves Bastos
16.04.2019
As tensões das últimas semanas, carregadas de tantos dilemas, lágrimas e assombramentos com a violência, começa a se abrandar. Ao menos até a próxima notícia trágica, nosso amigo “tempo” vai passando e diminuindo os medos e sentimentos diversos. É nessa hora que nos acomodamos! Perdemos a capacidade de indignação e começamos a nos fechar nos conforto da individualidade. Muitos ainda choram seu mortos. Outros tantos já seguem como se nada os abalasse. Tantos homens, mulheres e famílias encontram-se perdidas com enormes faltas deixadas em casa. Outros já sofisticam as programações e planejam suas próximas aventuras, viagens, passeios.
A vida e suas contradições promove esses ângulos. Algumas vozes proféticas gritam: “ela é alegria ou é sofrimento... ela é uma doce ilusão”? E no fundo de nós mesmos o desejo de renascer brota com aspirações por mudanças, novas oportunidades, sonhos e realizações. Desafiamo-nos a conhecer bem seus entre laços para não passarmos como estranhos na própria casa da existência, ainda que alguns hábitos deslizem das nossas mãos.
Não temos como controlar a vida. Ela mais tarde ou ainda cedo, nos desafia a compreender que não é parte de nós: é o nosso todo.
Logo, o que hoje instiga a não parar para rever, reconstruir, resignificar, reelaborar os próximos passos, está diretamente ligado à essa cultura individualista que toma conta da nossa consciência e do nosso coração. Culpamos o sujeito que entra na mesquita e mata. Julgamos os jovens que friamente planejam suas violentas ações. Colocamos toda responsabilidade na atitude de um e do outro. É mais fácil entender assim, deslocando para o individual, projetando para o privado. Então, o sofrimento volta a ser da família que perdeu seus filhos, da professora que viu os alunos mortos, do sujeito que esteve envolvido diretamente com os fatos.
Os cristão tinham tudo em comum. Sofriam e sorriam juntos. Assumiam a vida como um todo que a todos pertencia e colocavam tudo em comum. Se queremos a justiça e a dignidade como bem comum, por políticas públicas, por projetos para o bem de todos, somos todos responsáveis. A dor e a responsabilidade não pode recair sobre o sujeito, vítima ou senhor solitário da ação. O que afeta alguns é também a dor de todos. O que é conquista para salvar os que precisam é disponível para todos quando necessitarem. O que transforma os sonhos para o bem destes, também é direito para aqueles. E todos somos responsáveis! E todos ganhamos! Sofremos, choramos, conquistamos e lutamos juntos pelo bem comum.
Pe. Evandro Alves Bastos
22.03.2019
Estamos começando mais uma Quaresma. Ela é tempo propício para ajudar as pessoas na reflexão, revisão e aprimoramento em tudo que exige atitudes de responsabilidade e de construção do bem comum. Por causa disso, a Campanha da Fraternidade 2019 apresenta o tema das “Políticas Públicas”. Elas são ações de governo, mas necessitam de cobrança dos destinatários, para sair do papel.
Com o lema “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1,27), a Campanha sugere, principalmente no tempo quaresmal, ações comprometidas com a defesa da dignidade humana e do direito das pessoas, provocando saída do comodismo e da acomodação. O bem existe, mas ele tem que ser conquistado. O que é de interesse de uma comunidade, a conquista deve ser feita por todos.
No tema “perigo da acomodação” está o grande sentido da vida. Aqueles que se acomodam diante de problemas do cotidiano, principalmente em atitudes de omissão, contribuem com as situações que dificultam a harmonia e o progresso da coletividade. Deixam de construir o bem e se tornam reféns da cultura do indiferentismo, do desânimo e perda do sentido do protagonismo e da esperança.
A vida humana sadia não pode ser fruto de uma construção fundamentada na superficialidade dos atos praticados pelas pessoas na vida da comunidade e nem no descompromisso com uma justiça relacionada com o bem comum. A acomodação é caminho para a ociosidade, podendo causar práticas de verdadeira desonestidade, ocasionando grandes prejuízos na condução da sociedade.
Dentro da cultura moderna e do consumismo avassalador, as pessoas são tentadas a fugir de compromissos comunitários e a viver uma vida desequilibrada. Deixam de lutar por uma sociedade que esteja centrada e fundamentada nos princípios da Palavra de Deus. Com isso, o ambiente se torna irreal e dificulta a construção de uma vida equilibrada, e favorece a prática da acomodação.
Parece que muitas pessoas desejam o indesejável, principalmente na dimensão do poder, e passam a viver numa condição desconfortável, sem força, triste, sem humor, indiferente e infeliz. Só Deus, com seu amor infinito de misericórdia e de acolhida, é capaz de tirá-las dessa triste realidade. Aqui está o verdadeiro sentido pedagógico da Quaresma, tempo de mudança de vida.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.
Jovens e crença religiosa: Do sincretismo às peregrinações, da busca de sentido à liturgia
Os diferentes contextos religiosos
A experiência religiosa dos jovens é fortemente influenciada pelo contexto social e cultural em que vivem. Em alguns países a fé cristã é uma experiência comunitária forte e viva, que os jovens partilham com alegria.
Noutras regiões de antiga tradição cristã a maioria da população católica não vive uma pertença real à Igreja; não faltam, todavia, minorias criativas e experiência que revelam um renascimento do interesse religioso, como reação a uma visão reducionista e sufocante.
Noutros lugares, ainda, os católicos, juntamente com outras denominações cristãs, são uma minoria, que conhece por vezes discriminações e até perseguições.
Há por fim contextos em que há um crescimento das seitas ou de formas de religiosidade alternativa; aqueles que as seguem não raro ficam desiludidos e tornam-se adversos a tudo quanto é religioso.
Se em algumas regiões os jovens não têm a possibilidade de exprimir publicamente a sua fé ou não vêem reconhecida a sua liberdade religiosa, noutros sente-se o peso das escolhas do passado – inclusive políticas –, que minaram a credibilidade eclesial.
Não é possível falar da religiosidade dos jovens sem ter presente todas estas diferenças.
A busca religiosa
Em geral os jovens declaram estar à procura do sentido da vida e demonstram interesse pela espiritualidade. Essa atenção, no entanto, configura-se por vezes como uma busca de bem-estar psicológico mais do que uma abertura ao encontro com o mistério do Deus vivo.
Em particular em algumas culturas, muitos consideram a religião uma questão privada e selecionam das várias tradições espirituais os elementos nos quais encontram as suas convicções. Difunde-se assim um certo sincretismo, que se desenvolve sobre o pressuposto relativista de que todas as religiões são iguais.
A adesão a uma comunidade de fé não é vista por todos como a via de acesso privilegiada ao sentido da vida, e é flanqueada e por vezes substituída por ideologias ou pela procura de sucesso no plano profissional e econômico, na lógica de uma auto-realização material.
Ainda assim, permanecem vivas algumas práticas transmitidas pela tradição, como as peregrinações aos santuários, que por vezes envolvem massas de jovens muito numerosas, e expressões da piedade popular, frequentemente ligadas à devoção a Maria e aos santos, que protegem a experiência de fé de um povo.
O encontro com Jesus
A mesma variedade encontra-se na relação dos jovens com a figura de Jesus. Muitos reconhecem-no como Salvador e Filho de Deus e, muitas vezes, sentem-se perto dele através de Maria, sua mãe, e comprometem-se num caminho de fé. Outros não têm com Ele uma relação pessoal, mas consideram-no como um homem bom e uma referência ética. Outros, ainda, encontram-no através de uma forte experiência do Espírito. Para outros, Ele é uma figura do passado privada de relevância existencial ou muito distante da experiência humana.
Se para muitos jovens, Deus, a religião e a Igreja emergem como palavras vazias, eles são sensíveis à figura de Jesus, quando é apresentada de maneira atraente e eficaz. De muitas maneiras também os jovens de hoje dizem: «Queremos ver Jesus» (João 12, 21), manifestando assim essa saudável inquietação que caracteriza o coração de cada ser humano: «A inquietação da busca espiritual, a inquietação do encontro com Deus, a inquietação do amor» (papa Francisco).
O desejo de uma liturgia viva
Em diversos contextos os jovens católicos pedem propostas de oração e momentos sacramentais capazes de intercetar a sua vida quotidiana, numa liturgia fresca, autêntica e jubilosa. Em muitas partes do mundo a experiência litúrgica é o recurso principal para a identidade cristã e conhece uma participação ampla e convicta. Os jovens reconhecem nela um momento privilegiado de experiência de Deus e da comunidade eclesial, e um ponto de partida para a missão.
Noutros lugares, em vez disso, assiste-se a um certo afastamento dos sacramentos e da Eucaristia dominical, percecionada mais como preceito moral do que como feliz encontro com o Senhor ressuscitado e com a comunidade.
Em geral, constata-se que mesmo onde se oferece a catequese sobre os sacramentos, é débil o acompanhamento educativo para viver a celebração em profundidade, para entrar na riqueza do mistério dos seus símbolos e dos seus ritos.
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 30.10.2018 no SNPC
Originalidade e especificidade
As jovens gerações são portadoras de uma aproximação à realidade com traços específicos. Os jovens pedem para serem escutados e respeitados na sua originalidade.
Entre os traços específicos mais evidentes da cultura dos jovens foram assinaladas a preferência dada à imagem comparativamente a outras linguagens comunicativas, a importâncias das sensações e emoções como via de aproximação à realidade e a prioridade da concretude e da operatividade em relação à análise teórica.
Revestem-se de grande importância as relações de amizade e a pertença a grupos de coetâneos, cultivadas também graças às redes sociais.
Os jovens são geralmente portadores de uma abertura espontânea relativamente à diversidade, que os torna atentos às temáticas da paz, da inclusão e do diálogo entre culturas e religiões. Numerosas experiências de muitas partes do mundo testemunham que os jovens sabem ser pioneiros de encontro e diálogo intercultural e inter-religioso, na perspetiva da convivência pacífica.
Compromisso e participação social
Ainda que de formas diferenciadas em relação às gerações passadas, o compromisso social é um traço específico dos jovens de hoje. Ao lado de alguns indiferentes, há muitos outros disponíveis para se comprometerem em iniciativas de voluntariado, cidadania ativa e solidariedade social, a acompanhar e encorajar para fazer emergir os talentos, as competências e a criatividade dos jovens e incentivar a sua assunção de responsabilidade.
O compromisso social e o contacto direto com os pobres permanecem uma ocasião fundamental de descoberta ou aprofundamento da fé e de discernimento da própria vocação.
É forte e está espalhada a sensibilidade pelos temas ecológicos e pela sustentabilidade, que a encíclica “Laudato si’” soube catalizar.
Foi também assinalada a disponibilidade para o compromisso no campo político pela construção do bem comum, que nem sempre a Igreja soube acompanhar, oferecendo oportunidade de formação e espaços de discernimento.
Em relação à promoção da justiça, os jovens pedem à Igreja um compromisso decidido e coerente, que erradique toda a conivência com uma mentalidade mundana.
Arte, música e desporto
O sínodo reconhece e valoriza a importância que os jovens dão à expressão artística em todas as suas formas: são muitos os jovens que usam neste campo os talentos recebidos, promovendo a beleza, a verdade e a bondade, crescendo em humanidade e na relação com Deus. Para muitos, a expressão artística é inclusive uma autêntica vocação profissional. Não podemos esquecer que, durante séculos, a “via da beleza” foi uma das modalidades privilegiadas de expressão da fé e de evangelização.
Absolutamente peculiar é a importância da música, que representa um verdadeiro ambiente no qual os jovens estão constantemente imersos, como também uma cultura e uma linguagem capazes de suscitar emoções e de plasmar a identidade. A linguagem musical representa também um recurso pastoral, que interpela em particular a liturgia e sua renovação. A homologação dos gostos em chave comercial arrisca por vezes comprometer o laço com as formas tradicionais de expressão musical e também litúrgica.
Igualmente significativo é o relevo que entre os jovens assume a prática desportiva, da qual a Igreja não deve subvalorizar a potencialidade em chave educativa e formativa, mantendo uma sólida presença no seu interior. O mundo do desporto precisa de ser ajudado a superar as ambiguidades com que é atravessado, como a mitificação dos campeões, a subjugação a práticas comerciais e a ideologia do sucesso a qualquer preço. Neste sentido, reitera-se o valor do acompanhamento e do apoio das pessoas com deficiência na prática desportiva.
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 30.10.2018 no SNPC.
MENSAGEM DA 4ª SEMANA BRASILEIRA DE CATEQUESE AOS CATEQUISTAS DO BRASIL
Indaiatuba(Itaici), 18 de novembro de 2018.
“Nós ouvimos e sabemos que ele é o Salvador do mundo” (Jo 4, 42)
Queridos (as) catequistas,
A 4ª Semana Brasileira de Catequese a serviço da IVC, cujo o lema, nós ouvimos e sabemos que Ele é o Salvador do mundo, mergulhou-nos em temas sobre a Iniciação à Vida Cristã. Eis seu objetivo geral: compreender a catequese de inspiração catecumenal a serviço da Iniciação à Vida Cristã, buscando novos caminhos para a transmissão da fé, no contexto atual. Gostaríamos que esta mensagem chegasse a vocês antes do nosso retorno. Afinal, nada do que refletimos aqui se torna realidade sem o trabalho dedicado de vocês aí.
Algumas questões muito relevantes abordamos aqui:
- A transmissão da fé às novas gerações nos novos contextos e com novos interlocutores;
- A mudança que o seguimento de Jesus traz à nossa compreensão do sentido da vida;
- A importância da liturgia para mergulhar no segredo de Deus, isto é, no seu mistério e no compromisso com a vida;
- O Senhor Jesus Cristo é a Palavra humana por Deus pronunciada. A Leitura Orante é a grande experiência de deixá-Lo falar.
- Acolher essa palavra nos aproxima do irmão e nos faz viver em comunidade,
- Os tempos mudaram, a linguagem digital domina os movimentos e os relacionamentos. Nós, catequistas, somos desafiados e desafiadas a comunicar nesta realidade, a alegria do Evangelho.
Como aconteceu com a Samaritana depois do encontro com Jesus Cristo, queremos voltar para comunicar a experiência que tivemos com Ele. Assim esperamos que muitas pessoas possam conhecer e acolher com alegria as boas notícias da parte de Deus. Os tempos são difíceis, mas as promessas de Deus são generosas. Tudo passa rápido, mas a fidelidade dele é permanente. E todos nós, catequistas, vivemos a emocionante alegria de sermos testemunhas deste anúncio do qual o mundo tanto precisa.
Se quisermos ser fieis à Igreja do Evangelho e ter criatividade ao em transmitir a pessoa de Jesus Cristo, o melhor caminho será abraçar a possibilidade de processos iniciáticos nas nossas comunidades. Onde já se começou, comunidades novas surgem. Quem é iniciado assume uma nova identidade.
Queridos catequistas, que Deus lhes multiplique em bênçãos a bênção que são vocês para a formação de novos discípulos, novos missionários e muitos novos iniciados. São grandes os problemas, mas são maiores as nossas esperanças.
Hoje é fácil encontrar más notícias. Mas a Iniciação à Vida Cristã é uma grande geradora de boas notícias. Vocês, catequistas, são Palavras da Igreja na construção do mundo melhor que Deus sonha para todos os seus filhos.
Que Maria, a catequista de Nazaré, lhes seja uma grande fonte de inspiração na experiência do discipulado. Que ressoe em seus ouvidos a frase pronunciada em Caná: “fazei tudo o que Ele vos disser!”(Jo 2, 5) e assim nunca faltará o vinho da alegria na festa da vida.
Destaques do 3º Dia da Semana Brasileira de Catequese
17 de novembro
A Celebração eucarística foi presidida por Dom Carlo Verzeletti, bispo de Castanhal-PA. Após o café, às 9h, Dom José Antonio Peruzzo, arcebispo de Curitiba e presidente da Comissão Bíblico-Catequética da CNBB, proferiu a conferência “Do encontro com Jesus ao encontro com o irmão: viver em comunidade”.
Alguns destaques do conteúdo apresentado:
- A forma nominal “seguimento” não se encontra nos evangelhos. Seus autores empregam o verbo “seguir”.
- “Seguir Jesus” era uma realidade possível, cujo início dependia, fundamentalmente, de um encontro pessoal com Ele. Sem burocracias, sem pré-requisitos.
- O que se afigurava um encontro ocasional se tornou comunhão de vida e até participação plena na mesma causa dele. Nestas linhas, além de dialogar com os evangelistas, tendo diante dos olhos a suas palavras, é a Palavra de Deus que nos vai ensinar sobre o seguimento.
- No evangelho de Mc 1,16-20 o tema do seguimento está entre as primeiras palavras pronunciadas por Jesus. Isto é já sinal de que estamos ante uma das questões mais caras aos evangelistas. Viu e lhes pronunciou a palavra-convite. Aquele olhar e aquela palavra assinalaram um fim e um começo: deixaram de ser pescadores de peixes. Começou o caminho dos pescadores de homens.
- Em Jo 1,35-39 – a resposta “Vinde e vede” (1,39) não propõe um endereço. Oferece-lhes sua relação de convívio. Isso não se aprende por informação, nem por lição vinda de um mestre. É por experiência, é mediante o encontro pessoal.
- E o seguimento continuou. Jesus, caminhando à beira do mar, viu... chamou... E eles, imediatamente, deixaram as redes e o seguiram (Mc 1,16-18). Assim também com Levi: “Ele se levantou e seguiu-o” (Mc 2,14). Algo semelhante aconteceu nos relatos de João. Apenas um exemplo: “Os dois discípulos ouviram esta declaração de João Batista e passaram a seguir Jesus” (Jo 1,37). Na realidade, os evangelistas querem estimular o leitor à adesão a Jesus. Por isso, aceleram o tempo da história. Mas houve um processo. Houve um caminho começado. E continuado até com dificuldades.
- O evangelista tem sempre ante seus olhos o leitor. A ele quer aproximar a história e os passos dos discípulos. Expõe seus caminhos, tropeços, e novos caminhos. Chegamos ao lava-pés (Jo 13,1-11). Impressionam o vs. 4-5. São vários verbos no presente: “Levanta-se... depõe o manto... cinge-se... derrama água na bacia...pôs-se a lavar... a enxugar”. Na língua grega isso significa que aqueles mesmos gestos e significados continuam a valer para o tempo do leitor. Pedro não entendera todos aqueles ritos. Referiu-se a Jesus como “Senhor”, mas custava-lhe ver Jesus com avental, água, toalha... Vê-lo como soberano não requer nova mentalidade. No seguimento Pedro seria interpelado a colocar o avental..., fazer-se e lavar os pés dos irmãos (Jo 13,13-17). É o caminho do discípulo.
- A fraternidade entre os seguidores de Jesus é uma verdade constitutiva do discipulado. Ou seja, se esta faltar não há mais seguimento.
- O mandamento novo “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos...” não tem alcance cronológico, mas qualitativo. Por outro lado, o complemento “assim como eu vos amei” aponta para o fundamento que sustenta a missão de amar-se uns aos outros. Este decorre da experiência de amor que eles, discípulos, terão tido com Jesus. É ele a causa do amor entre eles. A amizade com Jesus, por eles experimentada, não é apenas comparação. É a realidade fundante.
- A Igreja no Brasil está a pedir a seus filhos que recomecemos a partir de Jesus Cristo. Nossa vocação e missão apontam para o encontro com Ele e com o irmão. Ou seja, para experiências comunitárias e eclesiais de seguimento.
- É hora da fé e da esperança no caminho da Iniciação à Vida Cristã. Os evangelistas parecem ter percebido isso desde seus primeiros escritos. Pedem que não nos atrasemos.
Após o intervalo, a palavra foi dada ao professor Moisés Sbardelotto para a conferência: “A catequese na era digital: novas linguagens, novos processos de comunicação”.
Alguns destaques do conteúdo:
- Não está em questão o uso de tecnologias, o que está em jogo é uma cultura nova que vai além do uso de tecnologias. A Igreja é convidada a repensar os seus processos de comunicação.
- Não é uma questão de oferecer receitas para a catequese. Temos uma Igreja diversa, não adianta dar receitas porque a longo prazo não servirá. Não iremos refletir sobre o uso de maquinário técnico, o mais importante é entender as lógicas que movimentam isso. A cultura digital tem facetas próprias em vários locais.
- Em 30 anos a transformação no mundo foi enorme. Também a Igreja mudou sua maneira de fazer comunicação. Alguns dados importantes:
Dados sobre o Brasil:
-Dos 210 milhões de habitantes, metade usa internet.
-130 milhões usam mídias sociais
-O tempo médio de uso da internet é de 9 horas de uso por dia.
Uso específico em mídias sociais: 4 horas por dia.
É importante pensar esses dados à luz da fé.
- A ferramenta mais utilizada é o YouTube, depois Facebook, Messenger, Instagram. São as principais.
- Cresce o número de crianças e adolescentes conectados só pelo celular. A maioria não assiste televisão. O computador fixo também diminuiu o uso. 44% consomem informações via celular. 85% usou a internet ao menos uma vez em 3 meses. Também em classes de renda baixa.
- Os maiores medos das novas gerações: não ter WiFi, ficar sem internet, ficar sem bateria.
Características dessa cultura digital
.Cultura sintética (digitalização de tudo).
- Cultura da convergência.
- Da multimídia à transmídia.
Vivemos nessa cultura digital, do link. Fala-se em transmídia. Verificar como cada uma pode ajudar no processo comunicacional.
.Cultura da conectividade
- Somos Aldeias globais.
- Mutação da relação com o conhecimento e com o outro: “inteligência coletiva” e “intercriatividade”.
.Ubiquidade
- A rede em toda a parte ao mesmo tempo. “Aqui, agora, já”. Mobilidade.
- Cultura instantânea, simultânea, “presenteísta”.
.Autonomia
- “Autocomunicação de massa” M. Castells
- “O amador ocupa o espaço livre entre o profano e o especialista” P.Flichy
- Cultura da participação.
- Cultura maker.
Se a catequese não circula no espaço digital, amadores ocupam este espaço. Quem é cultura da participação não suporta ficar sentado, precisa participar. O debate é mais precioso. É uma cultura do fazer.
Crianças querem fazer, colocar a mão na massa, também adolescentes e jovens.
Inculturação digital
- Pela inculturação, a Igreja “introduz os povos com as suas culturas na sua própria comunidade”, porque “cada cultura oferece formas e valores positivos que podem enriquecer o modo como o Evangelho é pregado, compreendido e vivido” (EG 116).
- É preciso ver o que há de positivo na cultura digital e como ela pode enriquecer a catequese. Não significa trazer tecnologia para dentro da Igreja e da catequese, mas as formas, os valores dessa cultura...
- A Igreja tem reflexão interessante sobre isso. Basta acompanhar as mensagens dos dias mundiais das comunicações sociais, por exemplo. A mensagem do próximo ano irá tratar sobre “Comunidades em rede e comunidades eclesiais”.
- A Igreja não só reflete, mas tenta encarnar o que propõe:
.março 95 – Vaticano lança um site.
.Papa João Paulo II enviou um primeiro e-mail, em novembro 2001, aos bispos do mundo inteiro.
.Papa Bento XVI inaugura sua página no Twitter. O primeiro papa que fala em nome próprio na cultura digital (dezembro de 2012).
.Papa Francisco continuou usando essa página no Twitter – O papa é o primeiro colocado na lista de líderes mundiais mais seguidos. Em março de 2016, criou sua conta no instagram.
É a tentativa de aproximar a Igreja nas redes.
Interfaces entre a catequese e a cultura digital
Didático-informativa
A internet é um “banco de dados” e ”memória sociocultural”. Que bom se a catequese puder se aproveitar disso, das imagens, dos textos. Os assuntos do momento também podem ser utilizados como sinais dos tempos...
O celular pode ser utilizado como recurso. Como aproveitar o celular como recurso catequético? Usar para fotos, para pesquisa...
Aplicativos podem ser desenvolvidos.
- Sombras:
- Hiperinformação e infoxicação.
- Fake News e desordem informacional (falso + nocivos). Mistura maldade, agressão.
“Na atualidade temos excesso de informação e insuficiência de organização, logo carência de conhecimento (E. Morin).
Os nativos digitais sabem usar a tecnologia, mas precisam ser educados no uso delas. Temos muita informação, mas o que se faz com ela para gerar conhecimento é que é a questão.
- Luzes:
- Que os encontros possam organizar e ressignificar: deslocamento do doutrinal para o experiencial/vivencial. Ensinar a exigência irrenunciável do amor ao próximo (EG 161).
- Catequese querigmática e mistagógica (EG 160). A catequese pode ajudar a ler o que se vivencia em rede.
- Alfabetização midiática, presença significativa, ativa, autocritica e cristã. Formar para a informação.
- Discernimento: examinar, priorizar, escolher, decidir. Ajudar a ver quais prioridades tenho no dia a dia, a quem seguir, a quem bloquear
- Verdade – beleza – bem comum – são os critérios.
Psicopedagógica
- Identificação e significação da pessoa. Fazer esforço para conhecer o perfil dos catequizandos e o contexto cultural em que estão inseridos. Podemos conhecer mais coisas das pessoas do que no presencial. Não é bisbilhotar a vida dos catequizandos, mas ver o que a rede nos apresenta sobre essa pessoa, se comunica a pessoa do catequizando. Tudo que se faz em rede não é neutro. Estamos falando sobre nós mesmos quando falamos em rede.
- É preciso colocar um ouvido no megafone que são as redes sociais e ouvir o que os catequizandos estão confessando sobre si. Captar a riqueza, valores, possibilidades...
- Ficar à escuta do povo para descobrir aquilo que os fiéis precisam ouvir. Um pregador é um contemplativo da Palavra e também um contemplativo do povo. Nunca se deve responder a perguntas que ninguém se põe (EG 154-155). Olhar as redes e ver quais perguntas aparecem sobre os catequizandos.
Sombras:
- Quanto sofrimento há na rede, ciberlullyng, pornografia, boatos, fraudes, isolamento...
- Supervelocidade: aceleração do tempo e perda de memória.
- Bolhas informacionais: mais do mesmo.
Luzes:
- Arte do acompanhamento espiritual: também nas redes sociais...
Ajudar a refletir o que se viu, o que os catequizandos postam.
- Nem tudo é bobagem no que a pessoa posta na rede. É ela que está se revelando.
- Somos chamados a formar as consciências, não pretender substituí-las (AL 37).
- Num tempo tão veloz podemos propor a lentidão, propor o jejum tecnológico, o deserto digital.
Sociocomunitária
Como a rede pode nos alimentar nas relações? É preciso ver as redes como facilitadoras e potencializadoras de comunidades.
- Podemos fazer teleconferências e intercâmbios catequéticos: uma catequese na diversidade, encontro com lideranças.
- Sala de catequese expandida: abertura à sociedade e ao mundo. Ruas e redes....
- “Gesto concreto digital”: doar tecnologias para periferias.
O Papa Francisco falou com um grupo de crianças do mundo inteiro. A maneira como foi realizada a preparação para o sínodo com seminários online também foi uma inovação.
Teológico pastoral (algumas indicações)
- Oração via internet e aplicativos.
-Peregrinação virtual (visita a museus religiosos, viagem online à terra santa, caminhar pela terra santa via aplicativo)
- Buscar e encontrar Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus (Santo Inácio). Deus já age nas redes sociais antes de nós. Como perceber sua presença nesses ambientes é nossa tarefa.
- Dar testemunho em rede. O testemunho cristão nas redes não se faz com o bombardeio de mensagens religiosas, mas com a vontade de se doar aos outros, atento às suas questões. Ter coerência dentro e fora dos encontros catequéticos.
Após o almoço, os participantes foram divididos em 20 novos grupos para uma experiência de vivência bíblica. Cada grupo recebeu um texto bíblico e teve a assessoria para a reflexão e vivência do mesmo.
Após o café, às 16h30, os participantes retornaram ao auditório para uma conferência de Dom Otávio Ruiz Arenas, secretário do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização (o resumo da sua conferência estará em outro texto).
Após o jantar, foram feitas homenagens a Ir. Israel José Nery, Therezinha Motta Lima da Cruz, Marlene Maria Silva, Dom Francisco Javier, Pe. Luiz Alves de Lima. Gratidão por todo empenho, dinamismo, reflexão e por todo o trabalho feito pela catequese no Brasil.
Destaques do 2º dia da Semana Brasileira de Catequese
16 de novembro de 2018
O dia teve início com a Celebração Eucarística, às 7h, presidida por Dom Armando Bucciol, bispo da diocese de Livramento de Nossa Senhora. Após o café, no auditório, Ir. Maria Aparecida deu a palavra a Dom Leomar Antonio Brustolin, bispo auxiliar de Porto Alegre-RS, para a primeira conferência do dia sobre “O Querigma e a transmissão da fé no contexto atual”.
Alguns destaques do conteúdo apresentado:
- Em cada nova etapa da história, a Igreja, impulsionada pelo desejo de evangelizar, não tem senão uma preocupação: quem enviar para anunciar o mistério de Jesus? Em que linguagem anunciar? Como conseguir chegar a todos? (EN 22)
- Desafios do contexto:
- Olhar do discípulo missionário (EG 50).
- Dialogar com essa realidade que Deus deseja salvar, para que todos. tenham vida e vida em abundância.
-Características deste tempo:
- Geração 4.0 – inteligência artificial (digital, físico, biológico).
- Sociedade do cansaço.
- Crise de alteridade e estranheza.
- Pluralismo cultural e religioso.
- Cresce uma espiritualidade sem compromisso com a vida.
- Culto sem envolvimento com a ética.
- Religiosidade que coloca a pessoa no centro das relações com o sagrado.
- E a Fé?
Sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária. Ora um tal pressuposto não só deixou de existir, mas frequentemente acaba até negado( PF 2). O teste de autenticidade da IVC é o testemunho.
- Entre nós....
- Também cresce o espírito do fazer, organizar e planejar, mais do que o ser cristão, testemunhar a fé, viver a gratuidade, a esperança e a dor de quem segue Jesus.
- Somos tentados a fazer do que ser.
- Crer de forma integral
- A fé envolve todo o ser do crente: vontade, sentimento e pensamento.
- Não pode ser mero sentimentalismo ou mera explicação racional.
- A fé cristã não aceita fanatismos, nem fundamentalismos.
- Ser cristão exige seguimento de Jesus Cristo.
- Estamos formando discípulos ou adeptos?
Instrumentum Laboris do Sínodo de 2012 alertava: muitas comunidades cristãs não perceberam plenamente o alcance do desafio e a natureza da crise gerada por este ambiente cultural também no interior da Igreja.
-Chances para o querigma
- Não está acabando o cristianismo.
- A cultura atual não transmite a fé, mas liberdade religiosa.
- Os cristãos de amanhã sentirão a fé como elemento especial da Graça que favorecerá seu desenvolvi mento humano.
- Viverão a fé em meio a pessoas que pensam e vivem de modo diferente deles.
- Anunciará mais pelo testemunho do que pelas palavras. É um cristianismo com mais qualidade de seguimento...
- Toda IVC sem renovação da comunidade não funciona. Não adianta. Não adianta mudar os iniciados e colocar numa comunidade não iniciada...
- O Encontro com Cristo
- Relação de proximidade, encontro e diálogo.
- Acolher o chamado de jesus: vinde e vede.
- Jesus – presença do Eterno no meio do tempo que passa.
- Em sua vida, paixão, morte e ressurreição, encontramos o sentido da existência.
- Sua boa-nova é o amor que torna amável a vida.
- No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma pessoa que dá a vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo(Deus Caritas Est 1).
- O encontro com o Cristo não é abstrato ou teórico, nem afasta do irmão mais pobre. A comunidade dos seguidores de Jesus é missionária.
- Quem crê anuncia
- Ser discípulo ser missionário.
- Anunciar é afirmar, gritar, comunicar. É transmitir a fé com toda a vida. Anunciar com toda alegria.
- Não se anuncia uma mensagem fria ou apenas um corpo doutrinal.
-...E a comunidade?
- O anúncio da fé é sempre uma atitude comunitária.
- O encontro pessoal não se separa do encontro com aqueles que percorrem o mesmo caminho
- Há uma relação entre o eu e o tu, entre a pessoa e Deus, que se relaciona com o nós.
- A fé exige que o eu se encontre no nós. A primeira catequista é a comunidade.
-Propor e repropor o Querigma
- De forma continuada e permanente.
- O primeiro anúncio, não implica que este se situe apenas no início.
- É o primeiro em sentido qualitativo, porque é anúncio principal, aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras e aquele que sempre se tem de voltar a anunciar(...) em todas as suas etapas e momentos (EG 163).
- Conversão
- É preciso arrepender-se de um estilo de pastoral de manutenção para assumir nova postura missionária.
- Superar um estilo de vida que não pode ser tido como “cristão”.
- Há batizados e até agentes de pastoral que não fizeram o encontro com Jesus que muda a vida.
- Desafios
- Passar de uma religião de herança social para uma religião de opção pessoal.
- De uma sociedade unificada pela fé católica para uma sociedade constituída na liberdade democrática e no pluralismo de ideologias.
- De uma igreja de massa a uma igreja diferenciada e articulada em pequenas comunidades de discípulos missionários.
- O que é querigma?
- Para definir evitar tanto uma concepção muito ampla quanto uma noção reduzida.
- Ampla – afirmar que a pregação do evangelho já é um primeiro anúncio e que tudo é anúncio, significa que nada é anúncio.
- Reduzida – se limita a uma pregação calorosa.
- O querigma é anúncio
- Convite para dar os primeiros passos na fé.
- Implica na pessoa que testemunha uma atitude espiritual de esvaziamento.
- Ela não tem o poder de transmitir a fé e de converter.
- Há o imprevisto, o inesperado, o risco da liberdade.
- Tudo é graça de Deus.
- A difusão da fé é obra do Espírito Santo.
- O querigma vem de onde não esperamos. É obra do Espírito.
- O destinatário
- É também um interlocutor que se escuta.
- Que se vai aprendendo a conhecer.
- Que tem direito a palavra.
- Com quem se estabelece uma relação de amizade.
- Em meio ao pluralismo e relativismo do nosso tempo, é intolerável que tenha bom efeito um anúncio imposto e fechado, sem diálogo.
- Quem realiza o querigma
- Quem fez o encontro com o Senhor.
- Se sente discipulo.
- Não faz de forma isolada, mas em nome da Igreja.
- As comunidades cristãs anunciam pelo seu estilo de vida, seu espírito, suas assembleias, suas celebrações, seus projetos e compromissos com os pobres.
- Pontos fundamentais do querigma:
- A revelação do amor de Deus que tudo criou por amor.
- O pecado humano que impede a pessoa de responder esse amor.
- Jesus Cristo é a revelação do rosto amoroso de Deus que nos salva da morte e permite ao ser humano acolher e responder ao amor de Deus.
- A resposta humana a esse amor é crer e mudar de vida, conversão.
- Quem garante essa experiência atualizada do amor de Deus é o Espírito Santo.
- Ao acolher o amor de Deus a pessoa encontra irmãos e irmãs para caminhar nesta estrada, é a comunidade eclesial – a Igreja.
-O querigma numa Igreja em saída
- Ir às periferias, sair ao encontro das diferentes periferias.
- há muitos batizados que não vivem as exigências de seu batismo, perderam o senso de pertencimento à igreja e já não sentem a consolação da fé.
- Buscar os socialmente excluídos e os moralmente perdidos, como Jesus fez.
- Querigma e sociedade: Querigma implica compromisso social. Resgatar a doutrina social da Igreja e a opção preferencial pelos pobres.
- Indicações finais
- Apresentar a boa nova de forma alegre e propositiva- Evangelho da alegria.
- Ir ao encontro do outro já. É missão.
- Procurar manter uma maior proximidade com as pessoas. Pedagogia da presença.
- Propor o diálogo que estabelece uma verdadeira pedagogia da escuta.
- Anunciar Jesus Cristo em linguagem acessível e atual.
- Uma conversão pastoral que supere a uma pastoral de manutenção
“Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (DA 29)
Após o café, Pe. Thiago faccini Paro, proferiu a segunda conferência da manhã com o tema “Celebrar e iniciar ao mistério: a Liturgia”.
Alguns destaques do conteúdo apresentado:
-Iniciação... Há necessidade da Iniciação na compreensão da vivência da Liturgia.
-O que nos dá identidade são também sinais e símbolos. E só pode perceber os significados deles quem foi iniciado.
-A iniciação é um conjunto de ritos, de ensinamentos orais que provocam uma transformação no estatuto religioso e social do iniciando. A iniciação realiza uma segregação, separação, um tempo de processo iniciático e a incorporação na identidade do grupo/comunidade e mudança de identidade. Entra-se de um jeito e se sai de uma maneira nova.
-Eis o mistério da fé! Fazei isto em memória de mim – É o mistério da ressurreição. Memorial. Fazer a experiência do tempo de Deus, um tempo que não nos limita. Através do rito da última ceia, fazer experiência de passar a pé enxuto no mar...
-O rito nos faz entrar noutra dimensão e celebrar a memória da libertação.
- Fazer isso em memória de mim – não é só recordar a última ceia, mas celebrar o mistério de nossa libertação: paixão, morte e ressurreição do nosso Senhor. O mistério de nossa salvação.
- A comunicação simbólico-ritual:
- Compreender a linguagem própria da liturgia.
- Os gestos simbólicos se transformam em rito.
- Os livros litúrgicos são a partitura da liturgia, mas não são a liturgia.
- A liturgia ou rito, tem um ritmo que acompanha o corpo humano.
-O que é um símbolo e como funciona? Símbolo é uma representação que faz aparecer um sentido secreto, ele é a epifania (manifestação) de um mistério. São sinais sensíveis que nos permitem entrar em contato com uma realidade que não está ao alcance dos sentidos, mas que precisa da realidade sensível para se manifestar ao ser humano em busca do sentido da vida, em busca do mistério.
-Tocando os sinais, sensíveis, tocamos os mistérios. Não existe liturgia sem ritualidade
-O tempo da mistagogia e o método mistagógico
- Na igreja primitiva a catequese feita pelos padres especulavam nas celebrações e a partir das celebrações. Não estavam preocupados em dar explicações e formas sistemáticas.
- Tempo para explicar o rito (vivenciavam o rito e depois explicavam)
- O Vaticano II restaura o catecumenato em etapas, o RICA.
- RICA é modelo inspirador que deve ser reconhecido e valorizado. O tempo e etapas são para catecúmenos...
- Inspiração catecumenal – o segredo não é criar tempos e etapas, mas um itinerário...
- Catequese e Liturgia
- Inicia-se pela Liturgia, pela arte de celebrar.
- Espiritualidade litúrgica.
- Ano Litúrgico.
- Eucologia (uso das orações).
- Sinais sensíveis.
- Música litúrgica.
- Espaço Litúrgico.
- Arte Litúrgica.
Em seguida, abriu-se o debate com os dois conferencista que fizeram algumas considerações:
- A liturgia é iniciática.
- Queremos resolver a iniciação sem o discipulado.
- Não seguir caminhos trilhados por outros que não fazem o que Jesus fez, como no caso de pregadores midiáticos.
- A geração 4.0 é carente de sentido do sentido da vida.
- A formação de discípulos concentra-se no coração do mistério pascal.
- Inspiração é ver a essência do que está no processo. Não é simplesmente repetir os tempos e etapas do catecumanato, temos batizados na catequese. O itinerário ainda é sacramental e não tem uma sequência. A finalidade é tornar discípulos. O itinerário precisa ajudar a fazer discípulos. É preciso ter um único itinerário que gradativamente vai se encaminhando. O sacramento é parte do processo.
- Trocamos o nome para Iniciação à vida cristã, em tempos e etapas, mas não há um itinerário único, cujo fim é formar discípulos.
- O processo catecumenal não é cópia do início do cristianismo. É preciso adaptar à realidade atual.
Na parte da tarde, após o almoço, os participantes se reuniram para as 20 oficinas oferecidas. Cada um escolheu uma oficina diferente da que fez no dia anterior (a lista das oficinas se encontra no relatório do dia anterior).
Lucimara Trevizan e Marlene Maria Silva
Secretaria da 4ª Semana Brasileira de Catequese
Destaques do 1º dia da Semana Brasileira de Catequese
Dia 15 de novembro de 2018
A Celebração da Eucaristia, presidida por Dom Mário Antonio Silva, arcebispo de Boa Vista-RR, às 7h, abriu os trabalhos do primeiro dia da SBC. A primeira conferência foi do professor Edward Guimarães, da PUC-Minas, com o tema "Anunciar-testemunhar Jesus Cristo num mundo plural: novos interlocutores".
Alguns temas abordados no conteúdo apresentado:
- Características do mundo em mudança
- Os novos interlocutores
- Repensar a fé num mundo plural
O professor Edward ressaltou que ser cristão deixou de ser um desafio diário de conversão e que a vida cristã não tem provocado mudança no agir das pessoas. A conversão deixou de ser critério de inserção na comunidade que não exige um itinerário de fé. As mudanças do mundo atual exigem que se mude o jeito de acolher e viver a fé cristã.
O cristianismo não tem evangelizado, está morno. Há a necessidade de se superar ritos e de provocar a intimidade com Deus, uma vida nova de fraternidade e justiça, de cultivar a fé de Jesus e não simplesmente a fé em Jesus. A vida digna é o culto maior a Deus. Deus é amar e não só amor.
Os interlocutores de hoje são pessoas transformadas pela cultura secularizadas; pela experiência de novas tecnologias; pertencentes a outras religiões e outras Igrejas; avessas à religião; carentes de afeto e reconhecimento; cientes da sua liberdade e igual dignidade; excluídas da mesa da cidadania e da dignidade humana.
Como anunciar Jesus neste mundo plural? É necessário superar o combate às demais tradições religiosas, a pretensão de desbancar outras Igrejas cristãs, o desconhecimento dos sem religião e sem fé em Deus, a apologética e o proselitismo, o sentido antigo de evangelizar. É preciso evangelizar fazendo ver, porque o seguimento precisa entrar pelos olhos e penetrar o coração. Viver o cristianismo exercitando o diálogo, o sentido coletivo e humanitário, assumindo o compromisso ético em defesa da vida, catequizar com leveza, alegria e com coragem profética.
Ir. Vera Bombonatto apresentou a 2ª conferência sobre “Seguimento de Jesus e sentido da vida”. Começou questionando o que significa seguir Jesus, hoje, na sociedade pós-moderna e na cultura digital. Destacou, entre outras coisas, que o evento fundante do cristianismo é a relação profunda e pessoal com Jesus e seu projeto. A finalidade do seguimento é assemelhar-se a Jesus. Ter o estilo de Jesus é o mais importante. O ser cristão começa com um encontro que dá sentido à vida. A história da salvação é uma história de seguimento. Na catequese à serviço da Iniciação à Vida Cristã(IVC) o discipulado é o fio condutor que culmina na maturidade do discipulo missionário.
Ir. Vera concluiu sua fala apresentando o vídeo com a mensagem do Papa Francisco no Congresso Internacional de Catequese, em Roma, em 2013. Este vídeo ressalta a necessidade de viver sob o olhar de Jesus e o “ir”, sair ao encontro do irmão. O Catequista não é um mero funcionário. Ser catequista é o mais importante.
Após o almoço, durante toda a parte da tarde, foram realizadas 20 oficinas, a saber:
- Palavra de Deus, fonte da Iniciação à vida cristã – Frei Ildo Perondi
- Leitura orante na Iniciação à vida cristã – Dom Carlo Verzeletti
- A dimensão celebrativa da Iniciação à vida cristã(RICA) – Pe. Vanildo de Paiva
- O Catecismo da Igreja Católica e Iniciação à vida cristã – Pe. Luiz Alves de Lima
- Iniciação à vida cristã numa Igreja missionária (Igreja em saída) – Dom Mário Antonio da Silva
- Comunidade fonte, lugar e meta da Iniciação à vida cristã – Ir. Israel José Nery
- Catequese à serviço da Iniciação à vida cristã – Pe. Abimar Oliveira de Morais
- Iniciação à vida cristã e experiência de Deus – Dom Armando Bucciol
- Unidade dos sacramentos da Iniciação à vida cristã – Dom Geremias Steimntz
- Formação Iniciática de catequistas – Débora Regina Pupo de Lima
- Metodologia dos processos iniciáticos – Pe. Márcio Martins Rosa
- Iniciação à vida cristã e compromisso ético – Laudelino Augusto dos Santos Azevedo
- Catequese e a via da beleza – A vida da beleza como transmissora da fé – Pe. Jordélio Siles Ledo
- Itinerários iniciáticos crianças, adolescentes, jovens e adultos – Pe. Eduardo Antonio Calandro
- Itinerários iniciáticos com pais e padrinhos (catequese batismal) – Maria Erivan Ferreira da Silva
- Itinerários iniciáticos com noivos – Pe. Paulo Cesar Gil
- Experiências de iniciação com povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos – Rose Medeiros
- Iniciação à vida cristã e situações de diversidade (inclusão) – Pe. Marcelo Luiz Machado
- Bibliodrama na catequese – Loredana Vigini
- Catequese e redes sociais (era digital, redes midiáticas) – Carla Regina de Miranda
Os participantes escolheram previamente as oficinas do seu interesse. Estas oficinas aprofundam o tema geral e os temas das conferências.
À noite, às 20h30, momento cultural e homenagem ao Pe. Zezinho por seu trabalho de evangelização e catequese, sobretudo, através da música.
Marlene Maria Silva e Lucimara Trevizan
Secretárias da SBC
A abertura Oficial da 4ª Semana Brasileira de Catequese(SBC) se deu no dia 14 de novembro, às 20h, em Itaici-Indaiatuba-SP com a presença de autoridades eclesiásticas e acolhida oficial dos 425 participantes.
Participaram da mesa de abertura e fizeram uso da palavra Dom Leonardo Steiner, secretário geral da CNBB, Dom Otávio Ruiz Arenas (Pontifício Conselho para a promoção da Nova Evangelização), Dom Antonio Peruzzo e Pe. Antonio Marcos Depizolli(da Comissão Bíblico-Catequética Nacional).
Lucimara Trevizan fez memória das Semanas Brasileiras de Catequese, destacando o conteúdo, detalhes dos participantes e compromissos de cada uma.
Após a celebração de abertura, Pe. Antonio fez a acolhida, encaminhamentos da SBC e apresentação dos regionais presentes.
Em 2009, a Igreja no Brasil realizou sua Terceira Semana Brasileira de Catequese (3ª SBC). O evento foi momento de grande reflexão, mobilizando milhares de catequistas e demais lideranças cristãs em todo o país. Foi momento de olhar a caminhada catequética com suas riquezas e desafios e de propor algumas metas importantes que ainda trabalhamos para realizar.
O contexto da 3.ª SBC
A Semana não veio sozinha. Para sua realização, houve uma programação extensa e rica, com a publicação de diversos subsídios, a promoção de muitos eventos e o envolvimento de muitas pessoas. O seu ponto inicial foi a 44ª Assembleia da CNBB, em 2006, quando os bispos aprovaram a realização do Ano Catequético Nacional, em 2009. Era uma forma de celebrar os 50 anos da realização do primeiro Ano Catequético, promovido em 1959, e também o término do processo de elaboração do Diretório Nacional de Catequese, em 2005, trabalho que começou em 2002.
Outros fatos importantes, que inspiraram a realização do Ano Catequético Nacional e a 3ª SBC, foram: a 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, promovida em 2007 e a celebração dos trinta anos da exortação apostólica Catechesi Tradendae e da 3ª Conferência do Celam (Puebla).
A ação missionária recebe grande destaque naquele momento. O documento conclusivo de Aparecida chama para a formação de discípulos missionários, em vista da promoção da vida. Como resposta, a CNBB elabora as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2008-2010, convocando toda a Igreja para viver o projeto missionário de Aparecida. Em 2008, foi realizado o Sínodo dos Bispos com o tema “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”. Celebrou-se também o ano dedicado ao apóstolo Paulo, entre setembro de 2008 e setembro de 2009.
Assim, o Ano Catequético e, por conseguinte, a 3ª SBC foram fortemente marcados pela reflexão sobre a missão da Igreja e a formação de discípulos missionários.
O Ano Catequético Nacional
O tema escolhido para o Ano Catequético Nacional foi “Catequese, caminho para o discipulado”. Seu lema, “Nosso coração arde quando ele fala, explica as Escrituras e parte o pão”, foi retirado do texto do evangelho de Lucas 24, 13-35, que narra a caminhada de Jesus junto aos discípulos que retornam a Emaús, após a morte do Mestre. É um texto verdadeiramente pedagógico e inspirador para a metodologia catequética: caminhar com as pessoas, ouvir seus lamentos e desilusões, iluminar suas vidas com a palavra de Deus, sentar-se à mesa e celebrar e enviá-las em missão.
Para aprofundá-lo, foi elaborado um texto-base, pela Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB. Ele foi organizado em três partes, com o método Ver-Iluminar-Agir-Celebrar: (1) aprender, caminhando com o Mestre (Jesus se aproxima e escuta); (2) Aprender, ouvindo o Mestre (Ele nos revela as Escrituras) e (3) Aprender, agindo com o Mestre (Ao partir do pão eles o reconheceram e retornaram ao caminho).
O Ano Catequético teve como grande objetivo “dar um impulso à catequese como serviço eclesial e como caminho para o discipulado”. Para que isso ocorra é fundamental: a formação de catequistas, o estudo das Sagradas Escrituras com seu primado na vida da Igreja, o cultivo da dimensão litúrgica da catequese, a inserção e vivência do ministério catequético na vida pastoral, a ênfase à catequese com adultos, com jovens e com pessoas com deficiência, a inspiração catecumenal, a vivência da dimensão missionária da catequese e o compromisso com a sociedade, na interação fé e vida e no diálogo interreligioso e ecumênico.
A 3ª SBC
A Semana ocorreu de 6 a 11 de outubro de 2009, em Itaici, Indaiatuba (SP), e teve como tema “Iniciação à Vida Cristã”. Participaram 223 leigos/as, 88 religiosos(as), 6 diáconos, 121 padres, 25 bispos e 2 cardeais. Foram dias de grande espiritualidade, com diversas celebrações percorrendo todo o evento. Também foram momentos de aprofundar a fé, com reflexões, palestras, trabalhos em grupo que puderam iluminar as realidades apresentadas pelas diversas regiões do país, sob a luz do tema do discipulado missionário. Várias experiências foram apresentadas, tanto no grande plenário como nos trabalhos em grupo e nos corredores. Tudo inspirava a uma grande vivência catequética.
A coordenação geral ficou a cargo da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética (d. Eugênio Rixen, d. Juventino Kestering, d. Jacinto Bergman e as assessoras ir. Zélia Batista e Maria Cecília Rover). Israel Nery e Ir. Marlene dos Santos foram os moderadores. O cardeal Cláudio Humes, d. Eugênio Rixen, d. Juventino Kestering, d. Antônio Possamai, frei Carlos Mesters, Francisco Orofino, ir. Vera Bombonatto, pe. Joel Portela, pe. Jânison de Sá, pe. Lima, Therezinha Cruz e pe. Nilson Caetano Ferreira, bispos convidados e os que participaram da coordenação da Semana, bem como a animação musical do músico Zé Vicente, foram algumas das vozes que contribuíram para a reflexão do tema da iniciação cristã.
O documento final, publicado pelas Edições CNBB, apresenta os textos que serviram de iluminação para a Semana, bem como as propostas que surgiram dos trabalhos em grupos, buscando um olhar sobre a grande diversidade de experiências catequéticas em todo o país e também dos diversos interlocutores.
As três grandes propostas apresentadas ao final da Semana ressaltam a iniciação à vida cristã, por meio da formação de catequistas, da organização de um projeto de divulgação e da catequese com adultos para a formação de discípulos missionários em comunidade.
Rezemos: (oração para o Ano Catequético de 2009)
Senhor, como os discípulos de Emaús, somos peregrinos. Vem caminhar conosco!
Dá-nos teu Espírito, para que façamos da catequese caminho para o discipulado. Transforma nossa Igreja em comunidades orantes e acolhedoras, testemunhas de fé, de esperança e caridade.
Abre nossos olhos para reconhecer-te nas situações em que a vida está ameaçada. Aquece nosso coração, para que sintamos sempre a tua presença. Abre nossos ouvidos para escutar a tua Palavra, fonte de vida e missão. Ensina-nos a partilhar e comungar do Pão, alimento para a caminhada.
Permanece conosco! Faz de nós discípulos missionários, a exemplo de Maria, a discípula fiel, sendo testemunhas da tua Ressurreição. Tu que és o Caminho para o Pai. Amém!
In: Revista ECOando n. 53, março-maio/2016, pp. 16-17
Insistência numa prioridade
O despontar do novo milênio como que acordou a Igreja no Brasil para a necessidade de assumir algo que, na catequese, ressoa como que um estribilho, desde o Diretório Geral de Catequese/1971: “catequese com adultos, como principal forma de catequese”.
Reafirmando o enunciado de documentos anteriores, Catequese Renovada, orientações e conteúdos, n. 120, insiste: “A catequese comunitária de adultos, longe de ser apêndice ou complemento, deve ser o modelo ideal e a referência a que devem se subordinar todas as outras formas de atividade catequética. Ela deve receber uma atenção prioritária em toda paróquia e comunidade eclesial de base”.
Assim é que, pensando na realização da Segunda Semana Brasileira (2.ª SBC), no encontro dos coordenadores regionais de catequese de 1999, foi escolhido o tema “catequese com adultos”.
Numa sociedade globalizada, que sofre os embates do neoliberalismo e no clima do Projeto Ser Igreja no Novo Milênio, bem propício à catequese, foi realizada, 15 anos após da 1.ª Semana Brasileira de Catequese, 2.ª Semana, de 8 a 12 de outubro de 2001, também em Itaici (SP). Em torno do tema “Com adultos, catequese adulta” e o lema “Crescer rumo à maturidade em Cristo” (Ef 4,13), 459 participantes se irmanaram, refletiram, trocaram e celebraram suas experiências.
Um objetivo necessário
Grande processo de mobilização e reflexão foi desencadeado pela preparação da 2.ª SBC, fruto do incentivo da assessoria da Dimensão Bíblico-Catequética da CNBB, do Grecat e das coordenações regionais. Foram produzidos e realizados um instrumento de trabalho, o texto-base, intitulado Com adultos, catequese adulta (Estudos CNBB, n.80), cartazes e folhetos, uma carta aos bispos escrita pelo responsável pela catequese, d. Francisco Javier H. Amedo, uma pesquisa sobre a catequese com adultos, um seminário sobre o “Itinerário da Fé do Adulto” e muitos outros eventos. No decorrer dessa preparação, foi-se confirmando sempre mais a necessidade de alcançar o objetivo da 2.ª SBC: “buscar caminhos para uma catequese e formação permanente de adultos que os ajudem a viver o compromisso com Jesus e sua proposta, numa Igreja de comunhão e participação”.
Uma semana marcante
O tema central, “Com adultos, catequese adulta”, foi abordado por especialistas em intensa programação que permitiu realçar seus vários aspectos:
- O adulto no mundo de hoje: Exposição dos resultados da pesquisa (Ir. Nery, fsc); “Contextosocioeconômico e cultural” (Pedro de Oliveira); “Condicionamentos psicológicos” (Pe. Edênio Valle); “Condicionamentos morais” (Fr. Nilo Agostini, ofm).
- Desafio da educação da fé no mundo adulto: “Diálogo inter-religioso” (Faustino Teixeira); “Diálogo ecumênico, interno e intercultural” (Therezinha Cruz).
- O adulto no contexto eclesial: “O cristão adulto numa Igreja adulta” (Pe. Vitor Feller); “Modelos de catequese com adultos” (Pe. Emílio Alberich, sdb); “Memória do catecumenato na história” (Pe. Luiz Alves de Lima, sdb); “Rica” (Pe. Domingos Ormonde).
- Catequese com adultos, rumo à missão: “Atos dos Apóstolos, atos dos catequistas” (Pe. W. Gruen, sdb).
Outros temas específicos foram objeto de estudo em grupos. As dinâmicas, os relatos de experiências, os momentos de oração, de celebração e de festa e a convivência amiga e fraterna permitiram que a própria semana fosse uma catequese com adultos e ato.
Desafios e compromissos
A semana se prolongou nos compromissos assumidos em diversos níveis. No plano nacional, foram concretizados:
- a elaboração do Diretório Catequético Nacional, aprovado na 43.ª Assembleia Geral da CNBB, em agosto de 2005, que contempla e enfatiza a catequese com adultos.
- a criação de um projeto de formação para os catequistas com adultos, traçado no Seminário Nacional, em 2006, e publicado na coleção “Estudos da CNBB”, n.94, com o título Catequistas para a catequese com adultos: processo formativo.
Revista Ecoando n. 27, setembro-novembro/2009, p. 31
Um tempo novo, uma nova época da catequese
Década de 80... cenário de intensa mobilização a fim de que a catequese do Brasil apresentasse nova face, delineada pelo Espírito, no documento Catequese Renovada. Orientações e Conteúdo. Fruto de um grande mutirão, aprovado pela 21.ª Assembleia Geral da CNBB, no dia 15 de abril de 1983, o doc.26 reacendeu a paixão catequética nas forças vivas da Igreja no Brasil.
Passados três anos, surgiu a necessidade de avaliação, para que a educação da fé desse respostas novas, condizentes com o momento. Sonhou-se assim com a 1.ª Semana Brasileira de Catequese (SBC), realizada em Itaici (SP), entre 13 e 18 de outubro de 1986.
O tema central, “Fé e vida em comunidade – Renovação da Igreja e Transformação da Sociedade”, nasceu do contexto: mudança de regime político (militarismo-democracia), reforma monetária (Plano Cruzado), debates da teologia da libertação e atuação profética da Igreja diante das injustiças.
Uma espera ativa
A participação e a interação com as bases, na preparação da 1.ª SBC, deram-se graças a vários subsídios. Além do cartaz, o Instrumento de Trabalho n.1 propunha:
- a retomada de 8 temas do documento Catequese Renovada; um levantamento sobre a situação da catequese no Brasil; orientações para a realização de tarefas; oração do catequista e bibliografia mínima.
O Instrumento de Trabalho n. 2 destinava-se à celebração do Dia do Catequista e o n.3, “Orando a SBC”, buscou sintonizar as comunidades com a 1.ª Semana Brasileira de Catequese.
Um sonho realizado
Os 450 participantes, vindos de todas as regiões do Brasil, puderam viver num clima catequético, pois a semana foi uma catequese em ato, interagindo vida e fé, nas reflexões, nos trabalhos de grupos, nas festas, nas celebrações e nos compromissos.
Grandes temas expostos por assessores competentes projetaram novas luzes ao já conquistado, abrindo perspectivas para a renovação da catequese no Brasil. O “ver”, contextualização social e eclesial, foi abordado por pe. Fernando Bastos d’Avila e D. Luciano Mendes de Almeida; o “iluminar”, apresentando reflexões como: “Bíblia e Catequese”; “Comunidade-catequese-inculturação” e “Espiritualidade do Catequista”, foi desenvolvido por Pe. W. Gruen, Pe. Marcello de C. Azevedo e D. Murilo Krieger; o “agir”, com perspectivas operacionais, foi indicado por fr. Bernardo Cansi, refletindo sobre “Métodos à luz do princípio de interação” e por Inês Broshuis, que traçou o perfil do “Novo tipo de catequista e sua formação”.
Um horizonte aberto
Fruto da partilha nos minisseminários e da reflexão dos regionais, foram elaboradas propostas e dadas sugestões, condensadas nas Conclusões da 1.ª SBC, na “Carta aos Catequistas do Brasil e ao Presidente da República”.
Alguns aspectos foram considerados prioridades no processo de renovação da catequese: - conceito e formação de catequistas; - organização da catequese; - catequese como dimensão eclesial e permanente; - catequese com adultos; - aprofundamento de aspectos da CR: princípio de interação, dimensão bíblica, ecumenismo, etc.
Um dar-se as mãos
O convite “vem entra na roda com a gente!” foi feito por D. Albano Cavallin, na época, responsável pela Linha 3 (Catequese) na CNBB, pelos membros do Grupo de Reflexão Catequética (Grecat) e pelos assessores nacionais Fr. Bernardo Cansi, Ir. José Israel Nery e Ir. Lurdes Gascho. Muitos, contagiados por eles, entraram na roda viva da 1.ª SBC e saíram, sob o olhar da Mãe Aparecida, com a certeza de que vale a pena assumir uma catequese que renove a Igreja e transforme a sociedade!
Revista Ecoando n. 26 – junho-agosto/2009 p. 31
Certamente você já ouviu comentários como estes:
-Comporte-se como seu irmão! Ele, sim, é um exemplo de menino...
-Você se parece tanto com sua avó. Não tem o que tirar nem por...
-Aqueles gêmeos são tão iguais, que parecem ser a mesma pessoa...
Por que será que se valoriza tanto a semelhança e há tanta dificuldade em tolerar a diferença? Será que ser diferente dos outros é errado? O bom seria sermos todos iguais?
Parece aquela velha história, que se repete ainda hoje: povos que se julgam superiores e consideram os povos diferentes como primitivos, inferiores, sem os quais o mundo ficaria melhor...
O fato é que encontramos dificuldades em conviver com alguém que seja diferente de nós, seja na família, na escola, entre os amigos ou na Igreja.
A diversidade é uma riqueza com a qual Deus presenteou suas criaturas. As diferenças entre as pessoas, povos, culturas e religiões existem para serem conhecidas e valorizadas, não escondidas ou combatidas.
Por outro lado, hoje ouvimos falar muito no direito e respeito às diferenças: pessoais, culturais e/ou religiosas. Porém, quase sempre nos referimos ao outro como se apenas ele fosse ‘o diferente’. Esquecemos que diante dele nós também somos diferentes.
Lidar com as diferenças nem sempre é fácil, pois exige que reconheçamos nossas limitações, falhas e dificuldades. Por isso, para muitos, o diferente é uma ameaça que deve ser eliminada, em vez de ser visto como oportunidade de aprendizagem e enriquecimento mútuo.
Jesus foi vítima da intolerância às diferenças (Lc 11, 14-15). Porém, mostrou que o Reino se constrói na valorização da diversidade. Basta lembrarmos de seu encontro com a samaritana (Jo 4,7-9) e com os cobradores de impostos (Mt 9,11)
Seguindo seu exemplo, os catequistas e a comunidade devem estar prontos para reconhecer as diferenças entre as pessoas e a aprender com elas por meio do diálogo. Uma boa oportunidade para exercitar o respeito ao diferente é conversar com pessoas de outras religiões.
Quais as dificuldades na relação com o diferente?
Dom Juventino Kestering
In: Livro Catequese de A a Z
Catequese na diversidade é o nome dado ao trabalho catequético feito com pessoas com necessidades educacionais especiais. Essas pessoas são: portadores de deficiências, surdos, cegos, superdotados, múltiplos deficientes, portadores de condutas típicas (hiperativos) e outros.
Também é conhecida como catequese especial, para excepcionais, ou diferencial. As maiores dificuldades na realização desse trabalho são o preconceito e a falta de acolhida.
-O preconceito:
Infelizmente, é algo muito antigo na humanidade. Até mesmo entre o povo da Bíblia houve atitudes e comportamentos preconceituosos a respeito dos portadores de deficiências.
Muitos acreditavam que a diferença era um castigo por desobediência a Deus (Dt 28,028-29) e excluíam tais pessoas do convívio social.
Jesus questiona essa crença e a postura das autoridades religiosas que justificavam suas práticas de preconceito com a tradição (Jo 9,01-3). Ele deixa claro que sua proposta de vida está voltada para os excluídos, as vítimas dos preconceitos instituídos pelos donos do poder (Lc 4, 14-21)
-A falta de acolhida:
Esse problema afeta não só, mas principalmente aqueles que têm necessidades educacionais especiais. A catequese precisa estar atenta para não deixar esses irmãos e irmãs à margem, impedidos de fazer a experiência do ressuscitado em comunidade.
Para que isso não aconteça, é importante refletir com nossa família, amigos ou no grupo de catequistas. Nossas atitudes, comentários e comportamentos discriminam ou desvalorizam alguém (ou grupo)?
Refletir com a comunidade: estão sendo bem acolhidas as pessoas que nos procuram, para as celebrações, para pedir informações ou para fazer parte de algum grupo ou pastoral? Como fazer para que se sintam em sua própria casa?
Saber respeitar as diferenças entre as pessoas e aprender com elas enriquece a vida da comunidade.
Que lugar as pessoas portadoras de deficiência ocupam nas comunidades?
Dom Juventino Kestering
In: Livro Catequese de A a Z
Passou o primeiro turno das eleições, mas não a perplexidade. Esta, ao contrário, aumentou. Por quê? Primeiro, por causa da onda avassaladora que emergiu das urnas, transformando radicalmente a configuração política do Brasil em sua quase totalidade. Em seguida, pela percepção de um novo elemento que despontou como protagonista nos resultados dessas eleições: a religião.
Os resultados desse primeiro turno trouxeram surpresa após surpresa. Vários candidatos que as pesquisas davam como favoritos em diferentes estados não apenas não ganharam sequer direito a um segundo turno, como ficaram em último lugar na votação.
Partidos até então líderes no cenário político brasileiro encolheram sua presença nos governos estaduais, na Câmara dos Deputados e no Senado.
Outros até então pequenos e com parca representação cresceram exponencialmente. E a corrida presidencial, embora confirmando as previsões das pesquisas, superou-as consideravelmente.
Enquanto tentamos nos recuperar das surpresas, outro dado novo nos atropela: o protagonismo que a religião passou a ter nas campanhas de tantos candidatos, especialmente em boa parte dos vitoriosos.
O discurso sobre Deus, a compreensão da própria candidatura como vocação dada por Deus, a Bíblia utilizada como epígrafe de entrevistas transmitidas pela mídia se fazem sempre mais presentes na propaganda eleitoral e nos debates entre os candidatos.
Não se trata, porém, do discurso cristão que nos acostumamos a ouvir, característico das Igrejas históricas, católica ou protestante.
A ênfase é na afirmação da supremacia gloriosa de Deus sobre tudo e todos e a conexão disto com o patriotismo exacerbado: a pátria acima de tudo. Os versículos bíblicos – às vezes não citados corretamente – são isolados de seu contexto. E apoiam as afirmações do candidato e não o contrário.
Se Deus está acima de todos, não parece estar acima daqueles que o citam a torto e a direito, em perigosa proximidade com o segundo mandamento que manda “não tomar seu Santo nome em vão”.
Servem tais citações como respaldo e legitimação ao que os candidatos em questão querem propor ao público como ideias a assimilar e projetos aos quais aderir.
É a Bíblia a serviço do discurso eleitoral e não o contrário. É a Palavra de Deus utilizada como apoio para afirmações e declarações que andam distantes daquilo que as Escrituras apresentam como sendo o permanente diálogo de amor e vida em plenitude do Deus da Aliança e da Promessa com seu povo.
Nessas declarações encontram-se incitações à violência e promessas de armar a população e militarizar as escolas. Ouvem-se afirmações discriminatórias em relação a vários segmentos da população: merecem destaque os negros, as mulheres e os LGBT.
Fala-se com desprezo dos direitos humanos e das conquistas duramente conseguidas pela humanidade e concretamente pelos brasileiros ao longo de décadas. Direitos laborais, políticos e sociais são definidos como males a extirpar.
Percebe-se, portanto, uma explicitação da fé cristã descolada dos valores que os candidatos em questão pretendem defender: a família, a moral, a segurança.
Enquanto no Evangelho de Jesus Cristo o que se lê é a apologia do acolhimento ao outro, do perdão, da não violência, da inclusão de todos, os discursos políticos dessas eleições em nosso país vêm carregados de agressividade, eu diria até mesmo de morbosidade.
A ligação constitutiva do cristianismo entre a fé e o compromisso transformador com a justiça passa longe das eleições brasileiras. O que se vê é o louvor como fim em si mesmo, a afirmação da fé em Deus apoiando e legitimando propostas excludentes, agressivas e discriminatórias.
E, pior que tudo, a banalização da violência e da morte como preço necessário a pagar para trazer segurança a um povo cansado de ver a própria vida e de sua família permanentemente em risco.
Essa combinação explosiva de patriotismo ultramontano e religiosidade fundamentalista infelizmente não é nova. Já foi vista em outras situações e mais ou menos recentemente na Europa do final dos anos 30, inicio dos 40. O espaço onde aconteceu foram os países cristãos.
Ali também Deus foi convocado para justificar um novo regime que parecia empoderar países em crise. Os resultados são bem conhecidos. A humanidade amargou o maior genocídio de todos os tempos, pelo qual até hoje paga as consequências.
Ninguém acreditava que líderes que se diziam tementes a Deus pudessem realizar suas enlouquecidas propostas. Tiveram que pagar para ver.
E viram quando já era tarde. Às vésperas do segundo turno, acompanhamos com angústia o rumo que toma nosso país. Que nos ajude a esperança, virtude indispensável que a fé no verdadeiro Deus nos ajuda a não perder.
Maria Clara Bingemer é teóloga, professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio, autora de de “Mística e Testemunho em Koinonia”(Editora Paulus), sua mais recente obra, entre outros livros.
É comum ouvir falar de inclusão:
.de alunos com necessidades especiais em escolas regulares;
.de jovens e de adultos acima de 40 anos no mercado de trabalho;
.de idosos em atividades sociais, etc.
Porém, a inclusão é a outra face da moeda. Se existe a necessidade de incluir alguém em certo contexto social, é porque nossa sociedade promove a exclusão de tais pessoas.
Em nossa sociedade, capitalista e neoliberal, só estão incluídas as pessoas que interessam ao poder econômico. Ou seja, só quem é capaz de produzir e de consumir. O restante é deixado de fora.
Incluir implica, entre outras coisas, deixar de excluir. Na Igreja, assim como na sociedade, tão importante como aprender a incluir é descobrir e combater tudo o que faz com que um número cada vez maior de pessoas seja abandonado à beira do caminho.
Na catequese, fala-se contra a exclusão e a favor da inclusão. Jesus nos convocou a ir pelo mundo e anunciar o evangelho a toda a humanidade (Mt 16,15). Mas que tipo de pessoas nós permitimos entrar nesse todo?
Se olharmos à nossa volta, é possível ver os excluídos da sociedade recebendo a boa notícia? Procuramos ser irmãos de idosos, jovens, drogados, pessoas com necessidades especiais, divorciados... Ou usamos a catequese para fazer o contrário do que Jesus pediu, isto é, para excluir ainda mais essas pessoas?
Não só a catequese, mas toda a comunidade deve ser semelhante ao grupo de Jesus, no qual havia espaço para todos que o procuravam para ouvir a boa notícia do Reino, repensar suas vidas e tomar livremente a decisão de viver o reino do Pai.
Incluir não é só fazer com que as pessoas tenham um espaço físico dentro da Igreja. Muito mais do que isso, é:
.aprender a respeitar cada um em suas diferenças e necessidades;
.adaptar o conteúdo e a metodologia da catequese à realidade do outro, que é diferente da nossa;
.saber ouvir e acolher diferentes experiências de vida;
.parar de excluir em nome de Deus.
Quais as principais dificuldades em realizar a inclusão na catequese?
Dom Juventino Kestering
In: Livro Catequese de A a Z
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