Em entrevista a Padre Gruen, em 13 de julho de 2002, ele afirmou: “não dá para determinar quando e como, propriamente certas, as nossas opções nasceram. Ao longo da vida, surgem fatores cuja importância só mais tarde é que conseguimos avaliar. Esses fatores vão-se entrelaçando com outros, até uma circunstância especial desencadear o novo.”
De fato, pode ser difícil identificar o momento exato em que fazemos escolhas significativas, mas certos acontecimentos atuam como divisores de águas nas nossas vidas. Assim percebo o quanto foi marcante a presença e a produção do Padre Gruen.
Há 50 anos, ele integrou o grupo responsável pela elaboração do projeto de Ensino Religioso e exerceu docência no curso oferecido pela UFJF. Em 1974, apresentou o documento “Um Anteprojeto: Reflexões e Proposições sobre o Ensino Religioso na Escola Pública,” com o apoio do Instituto Central de Filosofia e Teologia da Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Nesse anteprojeto, ele destacou a distinção entre Ensino Religioso e Catequese, defendendo que os docentes de Ensino Religioso deveriam ser formados em Ciências das Religiões. Essa ideia foi reiterada na década de 80, quando, atuando como membro do Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais, foi relator do Parecer n. 18/80.
Durante a década de 70, Gruen colaborou com a Secretaria de Estado da Educação no esboço de um projeto pedagógico para o Ensino Religioso e publicou artigos que refletiam a sua preocupação com essa disciplina na escola pública e com a formação dos profissionais da área. Já naquela época, defendia um Ensino Religioso não confessional, fundamentado numa abordagem antropológica e tratando a religiosidade como objeto de estudo. Nos anos subsequentes, suas ideias foram aprimoradas, e suas publicações demonstraram uma evolução na sua perspectiva, sendo fundamental para a consolidação do Ensino Religioso enquanto componente curricular, especialmente pela distinção que estabeleceu entre Catequese e Ensino Religioso com base na linguagem adotada na sala de aula e na formação dos educandos.
Ao longo da sua carreira, Gruen atuou em diversos cursos de formação para gestores e docentes de Ensino Religioso no Brasil, com forte presença em Belo Horizonte, Minas Gerais. Foi fundamental na criação e condução do Curso de Metodologia e Filosofia do ERE, no Departamento Arquidiocesano de Ensino Religioso (DAER), e, em 1995, na PUC Minas, lecionou no Curso de Pós-graduação em Ensino Religioso, destinado ao aperfeiçoamento de Especialistas de Educação e docentes envolvidos na implementação do Ensino Religioso nas escolas. Um curso similar havia sido realizado em 1978 na UCMG para supervisores e docentes de Ensino Religioso, sob sua coordenação. O seu pensamento e prática inspiraram inúmeros profissionais dessa área. Gruen também participou diretamente do Grupo de Reflexão sobre o Ensino Religioso (GRERE) da CNBB e integrou a Comissão de Ensino Religioso no Regional Leste II.
Salesiano, nascido na Alemanha, amplamente respeitado como teólogo e exemplo de sabedoria, cultura, respeito e abertura ao diálogo inter-religioso, Wolfgang Gruen é uma inspiração por seu exemplo, modéstia e simplicidade, deixando uma marca profunda em todos que com ele conviveram.
Gratidão, mestre e amigo, por esses 97 anos de existência... E, neste dia especial, cabe a pergunta: “Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena.” (Fernando Pessoa, 1934).
Gisele do Prado Siqueira (PUC-MG)
30.10.2024