Filme: A Felicidade das pequenas coisas
-
Direção:> Pawo Choyning Dorji
-
2019
-
Butão / China
resumo: O drama butanês-chinês parte de uma hipótese clara: as cidades tornam os indivíduos frios, desconectados da família e da natureza, enquanto o campo preservaria os verdadeiros guardiões das tradições e dos bons costumes. Em outras palavras, sustenta-se a tese do bom selvagem: o ser humano nasce puro, porém a sociedade o corrompe. A narrativa exemplificar este caso através das ferramentas da fábula: Ugyen Dorji (Sherab Dorji) é um professor sem vocação ao ensino, preferindo passar a vida em bares com os amigos. Quando é enviado à “escola mais remota do mundo”, acessível após oito dias de trilhas rumo ao cume de uma montanha, ele detesta o local e as pessoas sorridentes que ali vivem. No entanto o professor vive as transformações sofridas pelo homem amargo, egoísta e preso aos aparelhos eletrônicos. A subida geográfica rumo à minúscula cidade Lunana também funciona como uma ascensão aos céus, à pureza da humanidade em meio às nuvens. Embora manifeste um comportamento arredio com os vizinhos e colegas, continua sendo tratado com cortesia e sorrisos. Aos poucos, será impregnado de otimismo por osmose.
Um lindo filme sobre o sentido da vida, o que vale realmente a pena na vida. Uma paisagem belíssima,
A vida tem crueldades, mas também delicadezas que se
estendem além da paixão - que, sendo relâmpago e trovão,
nem sempre traz a desejada permanência. Em qualquer
relacionamento: amizade, família, trabalho, amor,
somos realidades em choques. O aprendizado não é fácil.
Aqui e ali, tiramos notas baixas, alguma vez somos
reprovados num teste importante. Aceitar essa reprovação
pode levar todo o tempo de uma longa vida. Queremos
o milagre, mais do que o milagre, queremos sempre a
salvação. Mesmo quando o chão começa a afundar,
e o tapete deslizou sob nossos pés aflitos,
teimamos em pensar que ainda há remédio:
um pobre band-aid serviu.
Ou um passe de mágica que nos tornasse
menos expostos, menos humanos.
LYA LUFT
In Secreta Mirada, 1997
Nesta noite
Nesta noite Deus dorme
Dorme na tenda da minha humanidade
Juntou-se a mim,
Armou a sua tenda para não viver numa tediosa solidão.
Nesta noite Deus dorme
Dorme dentro em mim
Fez companhia à minha inquietude solidão
Armou a sua tenda nos meus desejos.
Nesta noite Deus dorme
Dorme no silêncio da minha alma,
E desperta-me para o louvor dos benditos
desperta-me para o grito dos libertos.
Nesta noite Deus dorme
Dorme nos meus sonhos e,
Colocam em caixinhas fáceis de serem tocadas
Desembrulha-me e toca nas peças da minha humanidade.
Nesta noite Deus dorme
E eu também durma dentro Dele.
Igor Cristiano Oliveira Nascimento
23 de dezembro de 2023
Que, neste Natal, mais do que tudo, sejas. Sejas de verdade.
Que, neste Natal, sejas o abraço que refugia.
Que, neste Natal, sejas o sorriso que abraça.
Que, neste Natal, sejas a mão que segura.
Que, neste Natal, sejas o olhar que toca.
Que, neste Natal, sejas a ternura que cura.
Que, neste Natal, sejas o colo que cuida.
Que, neste Natal, sejas a palavra que fala do coração, ao coração.
Que, neste Natal, sejas a presença que conforta.
Que, neste Natal, sejas o gesto que salva.
Que, neste Natal, sejas a vida que ama.
Que, neste Natal, sejas a luz que acende todas as estrelas. A luz que acende a chama da esperança.
Que, neste Natal, sejas a paz que abraça a alma. A paz que serena o coração.
Que, neste Natal, sejas o lado bom, a parte bonita. Do dia, da vida, do mundo. Para alguém.
Que sejas o milagre de Natal de alguém. Que faças sorrir. Só por seres, por estares, por existires. Com amor.
Que, neste Natal, mais do que tudo, sejas amor.
Talvez descubras que é tudo o que importa. E talvez descubras que o verdadeiro sentido do Natal (e de tudo) é continuar a sê-lo, todos os dias. Sempre. E a encontrá-lo também.
Sê Natal. Feliz Natal.
Daniela Barreira
in: imissio.net 18.12.23
Advento, Deus ao nosso encontro
Uma virgem recebe um anúncio angelical,
Deus se humanizará em seu seio,
O advento nos faz um convite especial
Preparar as vindas do Senhor em nosso meio.
Na primeira vinda se faz homem, cumpre uma promessa de amor.
Mistério que transcende nosso entendimento.
Acolhido nas águas batismais do Jordão, pelo precursor,
Inaugura seu ministério, verdadeiro sacramento.
Na segunda vinda nos concede a plenitude,
Aquele que vem do Eterno, revela nossa eternidade,
Jesus continua vindo, em graça e amplitude.
É o Menino Deus, em sua simplicidade.
Advento, convite à vigilância, despertar o coração,
Um Deus que cotidianamente nos encontra, na alegria e na dor
Na presença de cada ser humano, no silêncio e comoção,
Que estejamos abertos à beleza emanada do Criador.
O advento é momento de espera, mas também de ação,
Tempo de avivar a busca interior que nos move à virtude
Praticando o verbo amar, exercitando o perdão,
É um tempo para celebrar a vida com coragem e atitude.
Nas velas acesas de uma litúrgica coroa,
Semanalmente a esperança se aquece.
É um anúncio de amor, que se encarna, se doa
No silêncio e na fé, a espera se faz prece.
É o ciclo de esperança que nunca se encerra,
Na luz do presépio, pelo brilho da estrela enaltecida,
Na humildade do nascimento, divinizador da Terra,
Na encarnação que se deu e mudou nossa vida.
Pe. Marlone Pedrosa
Comissão para Animação Bíblico-Catequética do Leste 2
12.12.23
AS BÊNÇÃOS
Não tenho a anatomia de uma garça pra receber
em mim os perfumes do azul.
Mas eu recebo.
É uma bênção.
Às vezes se tenho uma tristeza, as andorinhas me
namoram mais de perto.
Fico enamorado.
É uma bênção.
Logo dou aos caracóis ornamentos de ouro
para que se tornem peregrinos do chão.
Eles se tornam.
É uma bênção.
Até alguém já chegou de me ver passar
a mão nos cabelos de Deus!
Eu só queria agradecer.
Manuel de Barros
In: O fazedor de amanhecer
imagem: pexels.com
A cada ano
Essa é a receita da vida
minha mãe disse
me abraçando enquanto eu chorava.
Pense nas flores que você planta
a cada ano no jardim.
Elas nos ensinam
que as pessoas
também murcham
caem
criam raiz
crescem
para florescer no final.
(Rupi Kaur. O que o sol faz com as flores. São Paulo: Planeta, 2022, p. 114)
Vem ver o que o amor fez de mim
Me ponho a caminho abrasado
em sangue de amor colorido
sábio não sou, nem desvairado
Vem ver o que o amor fez de mim.
Às vezes uivo como o vento,
poeira de estrada me invento,
às vezes me faço torrente,
Vem ver o que o amor fez de mim.
Sussurro como as águas claras,
Meu coração, cheio de dores,
Busco o amado em mil suspiros
Vem ver o que o amor fez de mim.
Vem já, e dá-me a tua mão
Abre-me, enfim, teu coração
dá-me alegria, não afã.
Vem ver o que o amor fez de mim.
(EMRE, Yunus. Caderno azul. Seleção e tradução de Marco Lucchesi. São Paulo: Patuá, 2023, p. 45.)
"O que interessa agora é não me deixar dominar por aquilo que neste momento está a acontecer dentro de mim. Deve passar para segundo plano, de uma maneira ou de outra. O que quero dizer é o seguinte: na realidade, uma pessoa nunca deve deixar-se paralisar completamente por uma só coisa, por pior que ela seja, a grande corrente da vida deve continuar a fluir".
[ETTY HILLESUM, In Diário 1941-1943. 5 de dezembro de 1941, sexta-feira de manhã, às 9 horas].
imagem: pexels.com
"O que interessa agora é não me deixar dominar por aquilo que neste momento está a acontecer dentro de mim. Deve passar para segundo plano, de uma maneira ou de outra. O que quero dizer é o seguinte: na realidade, uma pessoa nunca deve deixar-se paralisar completamente por uma só coisa, por pior que ela seja, a grande corrente da vida deve continuar a fluir".
[ETTY HILLESUM, In Diário 1941-1943. 5 de dezembro de 1941, sexta-feira de manhã, às 9 horas].
Página 1 de 9