Estamos dando o nosso “último passo” desta série de reflexões sobre o diálogo. Muita coisa foi dita, muitos questionamentos levantados, favorecendo respostas e mudanças nos nossos relacionamentos. Pudemos concluir que estes só serão bons na medida em que houver uma boa comunicação, quando dialogarmos livres de preconceitos, dispostos a ouvir, compreender, sermos transparentes na fala e nos sentimentos. Um diálogo bem conduzido e honesto pode gerar mudanças positivas de pensamentos, atitudes e o encontro de soluções as mais variadas. Há quem diga que os problemas de relacionamento só se resolvem com um “bom diálogo”. Sendo assim, ele é o caminho para a Paz, a harmonia, a serenidade...
Os empecilhos para a paz
O mundo se agita na ânsia do desenvolvimento econômico e tecnológico. Nesta corrida a meta é o Ter. A maioria das pessoas que não têm “equipamentos” necessários para competir, fica de fora, assistindo, infeliz.
A voz interior sussurra indicando que a meta da felicidade é o Ser. Todos deveriam estar bem “equipados”, só que não para uma corrida desenfreada, competitiva, e sim para uma caminhada harmoniosa conduzida pelo espírito de fraternidade. A alegria está em que todos cheguem vitoriosos. O que vale é o coletivo, o bem comum.
O diálogo é o único caminho para resolver os grandes problemas do nosso mundo
“O coração pacífico é mais forte que a bomba atômica, porque a bomba atômica é limitada, mas o coração manso tem poderes ilimitados”, assim dizia Gandhi. Ele disse e deu o testemunho com uma luta pacífica pela independência da Índia, sua pátria. Sua arma foi o diálogo constante mantido tanto com os dominadores como com seu povo e assim tornou-se realidade o seu ideal: a liberdade de seu povo.
Exemplos como este nos motivam e nos dão a certeza de que a paz é sempre possível quando se vive a mensagem: “Amai-vos uns aos outros”. Que bom seria ver o sonho de muitos acontecer, o sonho da Paz Universal. Impossível? Com certeza que não. Difícil, sim. Porque mudanças não acontecem de um dia para outro. Passam por todo um processo e dependem de uma tomada de consciência em massa, respeito pela cultura, religiosidade e riquezas próprias de cada povo. Que as nações se entendam, que haja intercâmbio entre elas, mas sem imposições, interferências nas individualidades, sem jogos sujos de interesses, favorecendo aos mais fortes economicamente. A bandeira a ser levantada deve ser única, a da felicidade universal. O mundo é a casa de toda a humanidade, onde há espaço e recursos para todos viverem bem e serem felizes.
Comunidade - meio para a grande união
A catequese atual é voltada para o aspecto comunitário. Quer despertar para o pensamento coletivo. Começando com pequenas comunidades, vão se entrelaçando, formando uma grande rede. É caminho para a grande união.
Para refletir
1. Nosso diálogo no grupo dos catequistas, na comunidade paroquial, com outras pastorais, tem levado a maior PAZ?
2. Há esforços de diálogo em nossa sociedade? Em nível mundial? Quais?
Para terminar, vamos rezar ou cantar a “Oração de São Francisco”.
Inês Broshuis
(Texto extraído e adaptado do subsídio "Diálogo e Ecumenismo" da Catequese do Regional Leste 2)
Acompanhando os “passos” do diálogo, ficou claro que ele só é possível quando as duas partes o desejam, estão abertas, desarmadas, dispostas a ouvir, a falar, empenhadas em respeitar e entender as ideias e sentimentos mútuos. Dialogar é uma arte bastante complexa. De certa forma, nos expomos e corremos riscos. Daí a conveniência em termos algum conhecimento a respeito da pessoa com a qual vamos dialogar.
Dialogar com Deus
Nosso diálogo com Deus tem características semelhantes. Exige escuta, abertura, estar desarmado...
O ponto de partida para dialogar com Deus é se perguntar: “Quem é Deus para mim? - como o percebo?”
Se a percepção for de um “chefe” que nos controla 24 horas por dia, pronto a nos castigar pelos deslizes cometidos, ou um Deus mágico que pode satisfazer nossos desejos, ou ainda um Deus que brinca de marionete com a humanidade, assim é impossível haver diálogo.
Uma experiência pessoal
Uma catequista disse: “Há alguns anos, ao rezar o Pai-Nosso, eu não conseguia pronunciar com espontaneidade as palavras ‘Seja feita a vossa vontade’. Esta situação me incomodava demais; ficava envergonhada de mim mesma. Me perguntei: - Afinal, quem é Deus para mim? Embora eu não entendesse, o diálogo já existia... Na busca, aos poucos, as respostas foram surgindo e percebi que Deus é Amor e Amor é comunicação, é sinal de vida, é força transformadora.
O Salmo 117 diz: ‘Javé é minha força e energia. Ele é minha salvação’.
Felizmente, também fiz esta descoberta! Na tristeza, ele me consola; no desânimo, me fortalece; na dúvida, me dá discernimento; na alegria, me torna contagiante. Sendo assim, por que temer a Vossa Vontade?”
Dialogar com Deus no dia-a-dia
Para quem vive em grandes centros urbanos, é difícil “desligar-se” do turbilhão de informações, afazeres, solicitações as mais variadas. Aquietar-se, silenciar-se para ouvir é difícil, mas não impossível. Criamos oportunidade para tantas coisas que queremos... Feliz daquele que se surpreende encantado com o agito e o canto dos bem-te-vis, pela manhã, em nossa cidade. É um belo de um bom dia! Feliz daquele que sabe se encantar e exclamar: “O Céu está azul de tinir!”, ou ainda “Que dia lindão!” A natureza é a manifestação do amor de Deus por nós.
As caminhadas são um grande benefício físico; creio que mais ainda, mental e espiritual... São capazes de despertar em nós o senso de observação, de contemplação. A partir de pequenas percepções, vamos nos tornando capazes de nos emocionar (até chorar) diante de uma obra de arte: música, poema, pintura... é Deus se comunicando.
Deus nos fala através de situações e acontecimentos
O diálogo com Deus nem sempre é só suavidade, doçura. Pode ser também enérgico ou mesmo sofrido. Deus nos questiona, incomoda, exige mudanças a partir de situações injustas e de sofrimento. Saibamos entender os apelos que Deus nos dirige. Sejamos capazes de atitudes transformadoras.
Dialogar com Deus é dialogar com o Amor e o Amor é exigente. Diz uma música: “Se eu quiser falar com Deus, tenho que ter mãos vazias, ter a alma e o corpo nus...” Esta postura de humildade, despojamento, desarmamento, com certeza, é condição indispensável.
Que Deus nos perdoe por todas as vezes que fomos indiferentes e tampamos nossos olhos e ouvidos, que fechamos nossa mente e coração a seu convite ao diálogo.
Para refletir
- Com certeza, temos nossas experiências de “diálogo com Deus”. Partilhemos com o grupo.
- Coloquemos também nossas dificuldades. Em grupo, surgem pistas.
- Como iniciamos nossos catequizandos no diálogo com Deus?
Inês Broshuis
(Texto extraído e adaptado do subsídio "Diálogo e Ecumenismo" da Catequese do Regional Leste 2)
É comum ouvirmos dizer: “Antes, eu não gostava de fulano, mas depois, com a convivência, percebi que não era quem eu pensava. Hoje, somos ótimos amigos”.
Descobrindo o outro
Hoje, são dados vários apelidos ao diálogo, como “jogar conversa fora”, “perder tempo”...
É necessário reconstruir o caminho que nos leva à descoberta do outro. Assim perceberemos o sabor do diálogo, a alegria da convivência, a importância e lugar do diálogo em nosso dia-a-dia.
Sozinho, não!
Não se constrói algo edificante sozinho. Somos pessoas “em relação”. Estamos em processo contínuo de crescimento. Somos um conjunto de pensamentos, sentimentos, valores, desejos, ansiedades, temores... A partir desses aspectos, são construídos os relacionamentos (nem sempre tranqüilos).
Dialogar em busca da construção do amor
Nossas convivências nem sempre são relações de amor. O diálogo possibilita a construção do amor que surge na caminhada conjunta. A base é o respeito. O preconceito e o julgamento são anulados. O erro é reparado com o perdão; a discórdia cede lugar à compreensão.
Quando não damos oportunidade de diálogo, de relacionamento, interrompemos a possibilidade do amor nascer.
Para refletir
1. Você procura deixar-se conhecer pelas pessoas? Você aproveita as oportunidades para conhecer os outros?
2. Seu grupo de catequistas procura se conhecer, dialogar, buscando o caminho do amor, ou existem preconceitos e julgamentos que impedem crescer na convivência?
3. Como os encontros de catequese podem auxiliar os catequizandos a caminhar no conhecimento do outro, sem julgamentos e preconceitos, visando realmente o crescimento no amor mútuo?
Inês Broshuis
(Texto extraído e adaptado do subsídio "Diálogo e Ecumenismo" da Catequese do Regional Leste 2)
(7º passo para o diálogo verdadeiro)
Uma catequista contou:
“Trabalhando com um grupo de crianças com idade entre quatro e cinco anos, um dia, uma delas fez algo de que não gostei e disse-lhe que a deixaria fora da brincadeira. Ela respondeu: ‘Palavras, tia. Você sempre diz isto e nunca faz’.
Neste dia, levei um susto. Como aquela criança ousava falar comigo daquela maneira? Porém, ela me fez refletir sobre as minhas atitudes com o grupo. Hoje, procuro dizer o que sou capaz de cumprir, lembrando-me sempre daquela criança.”
Nós e nossas relações interpessoais
Não vivemos sozinhos. É a partir das nossas relações interpessoais que vamos crescendo, aprendendo num processo contínuo de mudanças. Em nossas relações existem algumas atitudes que nos impedem de caminhar e crescer. Não foi isso que o exemplo acima nos mostrou? A primeira reação da catequista foi recusar a revisão da sua postura. Porém, o mais importante seria perceber a oportunidade de mudança.
Críticas... algo positivo ou negativo?
A palavra crítica, na maioria das vezes, é vista como negativa. É comum, após um encontro, curso..., ao se pedir uma avaliação, alguém dizer: “Não há nenhuma crítica a fazer. Foi tudo perfeito”. Daí a dificuldade de perceber as críticas positivas ou negativas como oportunidade de crescimento, de alerta a alguém para que veja algo, até então não visto ou percebido.
Geralmente, não aceitamos críticas com o mesmo sorriso com que recebemos um presente desejado, mas o “travesseiro”, com certeza, nos auxiliará a reavaliar, repensar e mudar, se for necessário.
Se a crítica foi feita com agressividade, ironia, preconceito, desprezo e com ar de superioridade, machuca-se a pessoa, resultando na quebra da relação de diálogo. Em nossas relações é preciso ser sensíveis à maneira de ser diferente das pessoas. Na certa, você já leu esta frase: “Não fomos feitos iguais para que pudéssemos nos completar”, e não para que pudéssemos destruir ou massacrar o que pensa diferente.
Nossa convivência precisa ser relação e não imposição. Se acredito ser o dono da verdade, certamente não serei sensível a crescer a partir da crítica. Ao invés de abrir novos caminhos para o diálogo, interditarei a estrada do conhecimento e crescimento mútuos.
Para refletir
-Sabemos aceitar críticas como caminho de crescimento e mudança? Lembramo-nos de algum fato?
-Em nossos encontros de catequese, somos capazes de aceitar críticas dos catequizandos? Somos bastante humildes para percebê-las?
Inês Broshuis
(Texto extraído e adaptado do subsídio "Diálogo e Ecumenismo" da Catequese do Regional Leste 2)
Para início de conversa, uma pergunta
Qual foi o dia, ou quais foram os momentos mais felizes na nossa vida?
Pensando bem, geralmente foram os momentos em que chegamos a uma profunda comunicação com alguém, a um encontro em que, reciprocamente, houve uma partilha de sentimentos e emoções, em que tivemos a coragem de tirar as máscaras e de ser nós mesmos. Você já teve uma experiência assim? Por que você se sentiu tão feliz?
O mistério dos nossos sentimentos
Em tudo que fazemos, pensamos ou dizemos, os sentimentos têm influência. O sentimento é algo que não se tem na mão. É involuntário. A gente “sente” espontaneamente ódio, repugnância, simpatia, raiva, ciúme, amor... Não quer dizer que a gente se entrega aos sentimentos. Ao tomar consciência deles, toma-se uma atitude de aceitação ou de rejeição. Não devemos “alimentar” os sentimentos negativos. mas o primeiro impulso é espontâneo.
Os sentimentos e o diálogo
No diálogo, devemos respeitar os sentimentos do outro, procurar entendê-los. Devemos dar ao outro o direito de sentir e de expressar seus sentimentos diferente de nós. Deve haver este espaço dentro de um clima de amor e compreensão. Quando alguém se sente amado e valorizado, mais facilmente expressará seus sentimentos, o que beneficiará o diálogo. E devemos ter muito cuidado em não machucar o outro e provocar sentimentos negativos diante de nossas palavras e atitudes. Se “pisamos” nos sentimentos do outro, o diálogo fracassou de vez!
(Quando ambas as partes estão envolvidas emocionalmente, de um modo muito forte, é aconselhável haver uma terceira pessoa, neutra no assunto, para conduzir o diálogo de um modo objetivo e mais tranquilo.)
Ter a coragem de tirar as máscaras
Todos usamos, de certo modo, uma máscara; uns mais, outros menos. Não nos damos facilmente a conhecer como somos ou o que pensamos. Mostramo-nos seguros, autossuficientes, autoritários, até virtuosos, mas, lá no fundo, somos inseguros, medrosos, conscientes de nossos fracassos e falhas. Não queremos mostrá-los, nem admitimos que os temos.
Por que temos tanto medo de mostrar o que somos, por que tanto medo de partilhar nossa vulnerabilidade, nossos medos e fraquezas? Por que é tão difícil admitir nossa insegurança, deixar correr as lágrimas, sermos nós mesmos? Por que tanto medo de dar, ou receber, afeto e carinho?
Quando estamos dispostos a partilhar todo o nosso “eu”, estamos realmente nos comunicando. Reconhecer nossa fraqueza tem um efeito positivo sobre o outro. O fato de eu tirar a máscara, vai inspirar o outro a fazer o mesmo.
É claro que isto pode acontecer somente num clima de muito amor, de profunda amizade. Mas é o caminho indicado para o diálogo na profundidade, para a comunhão interpessoal que faz felizes e que faz crescer aqueles que se arriscam a fazê-lo.
Inês Broshuis
(Texto extraído e adaptado do subsídio "Diálogo e Ecumenismo" da Catequese do Regional Leste 2)
Na reflexão anterior, falamos sobre a necessidade de saber escutar: escutar o outro com toda a atenção e interesse, escutar o que diz e perceber o que não diz, “escutar” o que dizem suas atitudes e gestos. Agora, vamos ver a importância de saber falar.
Um fato
Outro dia, ouvi alguém dizer: “Hoje, vou ter uma boa conversa com F. Sou franca e vou lhe falar umas verdades que ela precisava ter ouvido há muito tempo. E, se não quiser ouvir, azar dela!”
Será que é assim que se faz um bom diálogo?
Como começar?
O início de um diálogo sempre supõe uma palavra acolhedora, que coloca o outro à vontade, faz se sentir bem e levado a sério.
Depois, coloca-se a questão, o assunto, o problema, de um modo objetivo, sem deixar-se levar pelas emoções. Ou, se o convite para uma conversa vem do outro, deixe-o colocar o motivo da conversa.
Conversar, como?
Em qualquer momento do diálogo, evitemos o sarcasmo, a censura, a agressão, a ironia, ares de superioridade, desprezo... Tudo isto machuca e mata qualquer diálogo.
A conversa seja mais interrogativa. Por exemplo: “Esta é minha opinião. Mas, o que você acha? Talvez veja nosso caso de maneira diferente...”
Ou: “Gostaria que você me dissesse o que você sente diante da minha atitude, ou das minhas palavras...”
Estejamos sempre cientes de que ninguém possui a verdade inteira e que qualquer assunto pode ser visto sob diferentes aspectos. Ninguém é igual em sentir e pensar. Não podemos exigir que o outro pense e sinta igual a nós.
Já vimos que é necessário ser humilde, aceitando que o outro possa ter razão e quem deve mudar talvez seja eu. O verdadeiro diálogo sempre faz crescer ambas as partes. Nunca faz de alguém o vencedor.
O diálogo supõe que saibamos reconhecer as razões, os motivos, os sentimentos do outro, que saibamos pedir perdão se for necessário, que saibamos agradecer a confiança que o outro depositou em nós abrindo-se para nós.
Só chegaremos a “falar” do modo certo, se procurarmos entender os sentimentos, as razões, os motivos do outro, com a firme vontade de acertar o passo para um melhor relacionamento.
Inês Broshuis
(Texto extraído e adaptado do subsídio "Diálogo e Ecumenismo" da Catequese do Regional Leste 2)
Você já observou uma criancinha de colo, quando a mãe lhe fala, às vezes com o rosto bem próximo ao da criança? Olhos nos olhos, todo o seu ser está concentrado em captar a comunicação que se estabelece além das palavras. A criancinha escuta!
Você sabe escutar?
Para a criancinha, naquele momento de intensa comunicação, só existe a mãe e o que ela lhe fala.
Ao darmos o quarto passo na arte do diálogo, também precisamos fazer assim: todo o nosso ser deve estar concentrado no ato de ouvir. Ouvimos com nossos ouvidos, mas nosso interlocutor só vai perceber isso se nossos olhos estiverem pousados nele.
Quando alguém nos fala, quer ser ouvido. Acolhamos sua mensagem com todo o nosso corpo, voltemo-nos para ele atentos. Que nossa atitude lhe diga: “Neste momento, você e sua palavra são o mais importante para mim”. Quem se sente acolhido, fica encorajado a se comunicar aberta e sinceramente.
Ouvir e escutar
Estamos rodeados de sons o dia inteiro. Eles nos atingem e nós os ouvimos, mas nem sempre tomamos consciência deles.
Quando alguém nos dirige a palavra, é mais um som que nos alcança. Mas difere dos outros, porque é um ser humano que nos faz um apelo. Pede uma resposta. Resposta que nem sempre precisa ser dada com outra palavra, mas com nossa acolhedora atitude de escuta. Escutar, isto é: ouvir atenta e conscientemente.
Nosso ato de escutar seja tão atento que possa bem acolher a comunicação emitida, até além das palavras: pelo gesto, pelo olhar, pelos sentimentos expressos através da postura e do semblante de nosso irmão.
Acolher - eis o segredo para bem escutar.
Jesus, à beira do poço, escutou a samaritana. Escutou Nicodemos, à noite. Em qualquer circunstância, tempo e lugar, Jesus sabia escutar. Até na cruz escutou e acolheu. Aprendemos com ele.
Saibamos escutar inteira e amorosamente o nosso irmão que nos fala, que nos oferece sua palavra e espera nossa escuta.
Para refletir:
Para saber escutar é preciso saber calar. Você já descobriu aquilo que impede você de escutar o outro? Às vezes, temos “barulhos” dentro de nós mais fortes que os sons de fora...
Exercite a escuta também com seus catequizandos. Convide-os a escutar uma mensagem, fazendo “silenciar” todo o corpo, através de uma postura tranqüila, atenta. Depois, peça para tentar transmitir, o mais fielmente possível, aquilo que conseguiram captar.
Inês Broshuis
(Texto extraído e adaptado do subsídio "Diálogo e Ecumenismo" da Catequese do Regional Leste 2)
3º passo para o diálogo: humilde paciência
O filósofo grego, Sócrates, deixou para nós duas frases e uma prática muito sábias: “Conhece-te a ti mesmo”. Era a recomendação que fazia a seus discípulos. E, de si, dizia: “Só sei que nada sei”. Conta-se que seus ensinamentos eram transmitidos através do diálogo. Entre perguntas e respostas se cultivava a sabedoria. Sócrates, há mais de dois mil anos, conhecia um importante segredo para o diálogo: a humildade.
Humildade não é baixa-estima?
Engano. A pessoa humilde conhece a realidade de si mesma. Sabe-se capaz, conhece seus valores, mas também seus limites, seus pontos fracos. Está empenhada na descoberta constante de si mesma. E, assim, junto com a alegria do desabrochar, cultiva a paciência do esperar crescer.
Voltado para si mesmo?
Quem anda à procura de conhecer-se, aprende a lidar com o limite. E percebe que as outras pessoas também são limitadas, estão a caminho, em crescimento.
A paciência com o outro começa na paciência consigo mesmo. Saber rir, com bom humor, dos próprios “tombos”, alegrar-se com os pequenos avanços, eis um pequeno segredo para sermos também pacientes com aqueles que se relacionam conosco, e com os quais procuramos dialogar. Os outros também estão a caminho. Será para nós uma alegria irmos juntos!
Podemos crescer juntos
Através do diálogo temos essa possibilidade. Somamos nossos esforços para crescer, em vez de nos desafiar. Amparamo-nos em vez de nos empurrar. Rimos juntos, sem nunca nos ironizar. Da humilde paciência entre nós, vai tomando forma o melhor fruto do diálogo: a união.
O diálogo na catequese
Na catequese, no nosso contato com os catequizandos, lembremo-nos, humildemente, que tanto nós como eles estamos a caminho, em crescimento. Ninguém é acabado. Todos precisamos de espera paciente, como a do lavrador com a semente, com a planta. Junto com a paciência, coloquemos o adubo forte do estímulo, da confiança. E acrescentemos a segurança das estacas de verdade e de firmeza.
Para refletir
-Nós nos interessamos por conhecermos a nós mesmos? Já experimentamos fazer uma lista de nossos valores e de nossos limites? Será que partilhamos nossas descobertas com alguém que nos dê ajuda nesse esforço maravilhoso de colaborar com Deus em nos modelar à “sua imagem e semelhança”?
-Quando dialogamos com os outros, sabemos ser pacientes e humildes? Ou sentimo-nos superiores, esperando que os outros se mudem conforme nossas próprias expectativas?
-Vamos ler Mt 15, 21-28. Depois desta leitura, procuremos descobrir como o diálogo muda Jesus, confirma a mulher cananéia e torna possível a libertação da filha.
Inês Broshuis
(Texto extraído do subsídio "Diálogo e Ecumenismo" da comissão Regional de Catequese do Leste 2)
2º passo para o diálogo: colocar-se no lugar do outro
Retomando nossa reflexão no texto anterior, voltemos rapidamente ao episódio do psicólogo. Será que se eu tivesse me assentado no lugar de outra pessoa no auditório, a uma distância maior ou menor do quadro apresentado, teria percebido a mesma imagem?
Somos diferentes
Assim como nós, os dedos das mãos também não são iguais. Cada um tem sua função. Mas, trabalhando juntos, conseguem fazer maravilhas. Quando algum dedo se fere, os outros logo tratam de substituí-lo de maneira, pelo menos razoável. Um toma a função do outro.
Da mesma forma, o cristão tem o dever de, em todos os níveis do seu relacionamento pessoal, profissional, familiar ou comunitário, tentar partir para um diálogo aberto e sem pré-conceitos, colocando-se no lugar do outro, a fim de compreender melhor a sua opinião ou a sua verdade.
As diferenças enriquecem
Ao contrário do que muita gente pensa, as diferenças não deveriam afastar as pessoas, mas aproximá-las e enriquecê-las mutuamente. Os que pensam de maneira diferente deveriam funcionar para nós como uma espécie de “espelho”. Este nos mostraria os nossos defeitos, os nossos limites, a nossa visão estereotipada e, às vezes, torta, do mundo e das coisas.
A vaidade
Este é o maior obstáculo que temos que enfrentar antes que sejamos capazes de nos colocar no lugar do outro. Com que orgulho e ar de superioridade ouvimos (sem escutar) uma opinião diferente da nossa, já com nossas respostas e argumentos prontinhos... E no topo da nossa vaidade ainda pensamos: “Coitado... Ele não sabe de nada... Será que um dia verá que eu tenho razão? Valerá a pena gastar meu tempo com ele?”
Será que é por aí?
Inês Broshuis
(Texto extraído do subsídio "Diálogo e Ecumenismo" da comissão Regional de Catequese do Leste 2)
1º passo para o diálogo
O primeiro passo a ser dado em direção a um verdadeiro diálogo entre duas ou mais pessoas é a experiência concreta dessa máxima: “Ninguém é dono ou detém a verdade em sua totalidade”.
Uma experiência
Em determinada ocasião, um palestrista mostrou à assembléia um quadro com um desenho sem formas definidas, um amontoado de arabescos e rabiscos. Pediu à platéia que olhasse fixamente por 30 segundos para o quadro e fechasse os olhos. Em seguida, perguntou:
- Quem de vocês conseguiu descobrir nesse desenho uma bruxa? (dessas de contos de fada)
Mais ou menos um terço do auditório levantou a mão.
- E quem conseguiu “ver” o rosto de um bondoso velhinho?, continuou perguntando.
Outro tanto de pessoas levantou a mão.
- Alguém aqui percebeu mais alguma coisa?, prosseguiu o palestrista.
- Um sapo.
O palestrista sorriu e com um pincel contornou nitidamente as três figuras.
Quem tinha, pois, razão? Todos os presentes que deram respostas, sem contar aqueles que não conseguiram “ver” nada.
Vamos refletir
Na maioria das vezes, comparecemos a uma conversa ou discussão “prontos”, repletos de argumentos e de certezas. Nosso prato já está cheio e não aceitamos sequer uma azeitona do prato do outro. Tentamos convencer pela retórica, pelo tom de voz, ou pior ainda, até pela nossa inteligência ou cultura (o que nos colocaria, de certa forma, em vantagem, em relação ao outro).
Será que é por aí? Discussão, interpelação, questionamento, sim, ainda que eles nos levem a desencontros. Pois, muitas vezes, estes desencontros nos permitem perceber nossos defeitos e nossas limitações.
Não podemos querer convencer o outro das nossas verdades, a não ser pelo testemunho.
E se o outro estiver certo? Ou, se pudermos somar suas certezas às nossas?
A verdade é relativa
Como vimos na experiência narrada, um mesmo fato ou mesma figura podem ser interpretados ou assimilados através de várias óticas (ou óculos). Se eu uso lentes verdes, verei tudo verde; se as uso azuis, tudo será azul ao meu redor. Todos detemos uma parcela ou um aspecto da verdade. E todas as verdades ou certezas são relativas. Relativas ao tempo em que se vive, às diferentes culturas, ideologias e até às religiões. Apenas Deus é a Verdade Absoluta.
No quadro apresentado pelo psicólogo, até a posição ou distância das pessoas deve ter tido influência na percepção da imagem. Já dizia a grande Santa Tereza d’Ávila: “Não tenho o direito de fazer de nada um ponto de honra”. Em outras palavras: não devo “fincar o pé” em nenhum conceito ou ideia de maneira radical, sem me abrir para a opinião ou o momento do outro. Afinal, não sou o dono da verdade.
Para refletir
Em nossas conversas, nós nos sentimos “donos da verdade”? Ou sabemos dar voz e vez aos outros?
Inês Broshuis
(Texto extraído do subsídio "Diálogo e Ecumenismo" da comissão Regional de Catequese do Leste 2)
O Catequese Hoje inicia uma série sobre o Diálogo e o Ecumenismo. Na primeira parte da séria vamos refletir sobre o que é Dialogo.
A CNBB coloca omo uma das condições para uma boa evangelização, o Diálogo. Não pode haver verdadeira evangelização sem diálogo. O Papa Francisco recentemente deu importantes passos no diálogo com o judaísmo, o islamismo e Igrejas Cristãs. Podemos dizer que vários de seus discursos e entrevistas abordam a importância do diálogo entre as religiões e culturas.
Mas, antes de tudo, precisamos aprender a dialogar: dialogar entre nós na nossa própria Igreja, na comunidade eclesial, na catequese, na família, no trabalho... Um bom diálogo deve ser aprendido; requer maturidade.
É por isto que vamos desenvolver, primeiro, a “arte” de dialogar.
O que é diálogo
Quando se consulta um bom dicionário, encontram-se as definições: “Comunicação, conversação, colóquio. Troca ou discussão de idéias, opiniões, conceitos com vista à solução de problemas, ao entendimento ou à harmonia”.
Esclarecendo mais, podemos dizer que diálogo é um colóquio ou conversa que procura levar a uma solução de determinados problemas que possam existir entre pessoas ou grupos. O diálogo procura, então, remover obstáculos que impedem uma maior compreensão e um melhor relacionamento entre as partes envolvidas.
O diálogo não é só para resolver problemas no campo emocional. É necessário para planejar, pôr trabalhos em execução, chegar a um acordo sobre determinada linha de ação, esclarecer idéias e princípios etc. O diálogo se torna mais difícil quando as pessoas estão envolvidas emocionalmente.
O que não é diálogo
A palavra “diálogo” é facilmente usada. Pensa-se que quando se conversa sobre determinado assunto se está dialogando. Porém, na maioria das vezes, se está longe de um verdadeiro diálogo. É mais imposição das próprias idéias que devem prevalecer de qualquer jeito do que uma escuta e troca de opiniões, respeitando o ponto de vista do outro.
O desafio está aí
Todos sentimos que não é fácil dialogar. Há impedimentos psicológicos que dificultam o diálogo. Mas precisamos começar se quisermos que melhore o diálogo entre catequistas e coordenadores, entre o pároco e a coordenação, entre pastorais e movimentos, entre pais e filhos, entre esposos...
Nos próximos artigos, vamos aprofundar as condições para um verdadeiro diálogo. Vamos ver, passo a passo, como agir, como falar. E vocês vão percebendo que, desenvolvendo a arte de dialogar, estão se desenvolvendo, ao mesmo tempo, atitudes positivas, realmente evangélicas, de humildade, paciência, abertura ao outro, enfim, atitudes de amor.
Depois de ter visto o diálogo em nível pessoal, poderemos abordar também o diálogo com outras Igrejas, grupos e culturas.
Inês Broshuis
(Texto extraído e adaptado do subsídio "Diálogo e Ecumenismo" da Catequese do Regional Leste 2)
A Internet, qual espada de dois gumes, corta à direita e à esquerda. Ora cura, ora fere; ora traz vida, ora semeia morte; ora destrói as belezas interiores, ora evangeliza. Sentimo-nos em pequeno barco em face de ondas encapeladas. As ondas nos escapam do controle. Temos o leme e os remos da barqueta para orientar a direção.
No império dos Googles, das wikepdias, dos blogs, dos chats, dos sites a povoarem o infinito do ciberespaço, cabem duas atitudes evangelizadoras: seleção e criação. Adentramo-nos cada vez mais na Sociedade do conhecimento. Este nos banha por todos os lados. Parados, estonteados, sem iniciativa, molhamo-nos com todas as águas, desde as lustrais até as pútridas. Se não queremos contaminar-nos, não há outro remédio: apliquemos o olftato crítico, escolhamos águas que nos purifiquem, nos perfumem. Cabe aos pais, mestres, educadores, catequistas relevante tarefa evangelizadora na escolha e na divulgação de sites sadios e educativos. A evangelização da seleção. Ainda não exploramos pedagógica e catequeticamente tal fonte. Em vez de deixar os jovens entregues, sem mais, às solicitações perversas de inúmeros sites que vão da mais nojenta pornografia até o incentivo do suicídio, adiantemo-nos a oferecer-lhes prato saboroso e são.
Todos se queixam de falta de tempo. Na sua escassez, impõe-se discernir as prioridades. O psicanalista Mário Corso deu entrevista à revista Época sobre o doloroso drama de Vinicius Marques. Jovem de 16 anos que chegou ao suicídio, incentivado na Internet pelo Centro de Valorização da Morte. Terrível paradoxo: valorizar a morte! Algo criminoso. O psicanalista alerta para o risco daqueles que “habitam na Internet”. Pessoas com problemas graves criam laços com companheiros na mesma situação. Assim jovens que sofrem da anorexia se associam com outras pela Internet e terminam algumas chegando à morte. Conclusão: nesse universo que muitos jovens frequentam e lhes ameaça a vida importa que adultos entrem para dizer aí palavra diferente, sensata. Destarte os ajudam a refletirem e assim evitam-se catástrofes como suicídios e outros crimes.
Abre-se-nos no ciberespaço vasto campo para dialogarmos de maneira positiva com os jovens. Por ex., por que não prolongar as horas de catequese ou do curso de crisma por meio de tarefas, conversas com os monitores no interior de um grupo de conversa fechado aos inscritos? A grande maioria dos jovens tem internet em casa ou, pelo menos, têm fácil acesso a ela junto a amigos, a companheiros ou nalguma Lanhouse.
Merece ainda reflexão séria a unilateralidade da internet na formação do jovem. Desconhece relações reais, o corpo e tantas outras faces da vida humana. Em três palavras: Vigilância, criatividade e complementação.
João Batista Libanio sj
(teólogo jesuíta falecido em 30.01.2014)
O que pais e educadores podem aprender e ensinar no relacionamento no novo continente da internet e das redes sociais.
Steven Jobs, o visionário e inovador das tecnologias e da cultura digital, falecido no dia 5 de outubro de 2010, deixou-nos algumas preciosas orientações sobre como nós, seres humanos, independentemente de diferenças culturais e políticas, gostamos de nos relacionar através das mídias e como estas se tornaram parte de nossas vidas e parceiras inseparáveis nos lares, nos escritórios, nas escolas, nas viagens, nos momentos de lazer e de trabalho.
Jobs dizia com genialidade que tecnologia, beleza e humanismo caminham de mãos dadas. Sem dúvida, ele interpretou com profundidade a linguagem e a motivação das novas gerações. E nos aponta que os tempos mudaram e que a comunicação está no centro de nossas vidas e do nosso trabalho. Estes novos tempos têm tudo a ver com o sonho das novas gerações.
Nós formamos uma simbiose com as novas tecnologias
A internet, o celular, o rádio, a televisão, o Mp3, o Facebook, os e-mails e nós formamos uma ambiência. Imergimos no universo das linguagens, dos símbolos, dos sentimentos e das realidades do dia a dia através das mídias. As novas tecnologias não estão separadas de nós. Com a sociedade midiática não existe mais a fronteira que nos divide das mídias. Interagimos com elas naturalmente.
Educar é interagir
Para conhecermos melhor o rosto e o coração das novas gerações, precisamos, como pais e educadores, mergulhar juntos nesse universo digital que tende a crescer e nos envolver cada vez mais.
Um pai que quer saber o que o seu filho está aprendendo precisa entrar no universo da linguagem midiática e compreender o modo como o filho percebe o mundo digital e interage com as novas tecnologias. Uma mãe que quer entender como o seu filho está se preparando para ser um cidadão e um cristão do futuro, precisa saber como ele ouve música, como interage no Facebook, como se relaciona em rede com os amigos.
Um educador que quer educar verdadeiramente necessita conhecer as novas linguagens virtuais, como funciona o alfabeto digital, como são elaboradas as novas enciclopédias do conhecimento, como funciona a rede da construção dos saberes e como eles estão desenhando os novos ambientes de trabalho e se engajando, por meio das mídias, nas questões políticas e sociais.
Comunicar é aprender novas linguagens
Desenvolver a lógica jogando vídeo game. Criar um conceito novo pela observação das relações humanas nas redes sociais. Aprender com o lúdico e o fácil acesso. Escrever com chips novos conceitos. Manusear novos softwares como enciclopédias, livros, textos didáticos. Desenhar, integrar a beleza do som com a força das imagens e fazer tarefas midiáticas. Buscar a simplicidade de um conceito e aplicá-lo para resolver questões práticas da vida. Navegar nas salas virtuais e confrontar com professores que se tornam parceiros em projetos de pesquisas e promovem o conhecimento como empreendedorismo, inovação e solidariedade. O continente digital tem como língua mãe o virtual e o digital.
Formar é saber se relacionar
No encontro e no relacionamento, os jovens nos testam, nos desafiam como educadores e nos conhecem como pais. Insistem na integridade. Analisam minuciosamente o que falamos, o que propomos e no que de fato acreditamos. Por meio do que é verdadeiro e real, do que é tangível e acessível, eles nos acompanham e se tornam amigos de confiança e de compromisso.
Evangelizar é favorecer experiências significativas
A nova geração é aberta a Deus e ao mistério e, às vezes, tem dificuldade de verbalizar as próprias experiências. A religião torna-se uma experiência e um discipulado quando pais e educadores favorecem experiências que lhe tocam o coração e a alma. Generosamente se entregam ao serviço e à solidariedade quando descobrem pelo exemplo e testemunho que a vida abre novos horizontes no serviço aos outros.
Profissionalizar é amadurecer com competência. O caminho da formação passa pela harmonia e sintonia entre a liberdade responsável, a disciplina criativa e o empenho produtivo. A geração Net tem muito a nos ensinar sobre os novos caminhos do aprendizado e da inovação.
Solidarizar é contribuir com a sociedade
A geração Net não levanta bandeiras ideológicas, mas acredita na força da solidariedade e da política dos valores percebidos a serviço da transformação da sociedade, da preservação do meio ambiente, da transparência política e do serviço de voluntariado.
Comprometer é ser capaz de estabelecer relações amorosas e fiéis
Os componentes da geração Net querem amar e ser amados. O continente digital é um continente de relações humanas, não simplesmente um universo de aparato tecnológico. Não estamos vivendo hoje uma revolução digital, mas uma busca constante e intensa de relacionamento, do sentido de pertença e de ambiência para filhos, pais e educadores viverem em uma sociedade mais humana e fraterna. Essa busca de significado para a existência e para as relações humanas nos novos pátios passa pelo encontro necessário e fundamental com Deus, Pai de coração misericordioso e amoroso, que generosamente nos acolhe como filhos e filhas.Como dizia São João Bosco, o maior educador da juventude: “Educação é coisa do coração”. E o amor é a linguagem e a expressão maior da vida e do sonho da geração internet; dos filhos, pais e educadores que estão descobrindo juntos o continente digital.
Padre Gildásio Mendes
FONTE: http://www.boletimsalesiano.org.br
Como os membros da geração internet relacionam-se afetivamente a partir de uma nova visão de valores? O estilo de vida que estão assumindo exige dos pais e educadores muito diálogo e abertura.
Jovens e adolescentes navegam em centenas de sites, trocam hipertextos falando de seus sentimentos e desejos. Meninos e meninas, de perto e de longe, enviam e-mails, imagens, clips e informações sobre amizade e namoro. Estudantes de todas as classes sociais buscam grupos de interesses na rede para falar de seus relacionamentos e para curtir momentos juntos.
Os membros dessa geração estão descobrindo novos valores, estabelecendo novos estilos de vida e gerando grandes mudanças sociais e culturais na família, na escola, na Igreja e na sociedade. Essas mudanças que influem no comportamento social e afetivo das pessoas são resultado, sobretudo, da ação das novas tecnologias de informação e da internet.
Bento XVI afirma que o fenômeno da internet está se tornando uma nova revolução, trazendo consigo transformações profundas no campo da comunicação e das novas tecnologias. “As novas tecnologias estão a mudar não só o modo de comunicar, mas a própria comunicação em si mesma, podendo-se afirmar que estamos perante uma ampla transformação cultural”, diz ele.
Essas transformações rápidas e contínuas têm um grande impacto no modo de pensar, de sentir e de viver dos adolescentes e jovens de hoje. Diferentemente de outras gerações, os membros da geração internet vivem intensamente um fato denominado “estilo de vida”.
Um novo modo de assumir os valores
“Estilo de vida” é uma expressão moderna. É o nosso modo de viver e de fazer escolhas que vêm ao encontro de nossa individualidade, gostos e preferências. Esse conceito está associado à valorização crescente que se dá, por exemplo, ao tipo de alimentação, à aparência, ao corpo e à saúde, aos hábitos próprios de trabalho e lazer; ao modo de organizar o tempo, de fazer escolhas profissionais, de viver a própria espiritualidade, de filiar-se a uma organização social ou política.
O estilo de vida está diretamente relacionado com os valores. Na concepção de alguns pais e educadores, estamos vivendo uma crise de valores que permeia todo o tecido social. Existem também aqueles que acreditam que na verdade não existe crise de valores, mas uma nova maneira de as pessoas colocarem-se diante da vida.
Uma pesquisa realizada pela Unicef, em São Paulo, com 5.280 adolescentes de todo o país revelou que ao contrário do que muitos pensam, 85% dos entrevistados afirmaram que a família tem papel fundamental na sua formação pessoal, além de ser entre todas as instituições a que tem maior responsabilidade pela garantia de seu bem-estar e de seus direitos.
Esse exemplo demonstra que o fenômeno do estilo de vida dos membros da geração internet deve ser estudado e compreendido não pelo binômio do que é certo ou errado, mas pela sua significatividade. Para isso, é necessário um constante diálogo e abertura dos pais e educadores para construir com os educandos um caminho educativo que valoriza a pessoa humana, que aponta o sentido da vida e confirma experiências verdadeiras e gratificantes.
A mudança que observamos hoje na era digital e das redes sociais não é só tecnológica, mas humana. A mudança de escolhas e de comportamentos aponta para o estilo de vida que a pessoa tem. Os próprios fundadores e mentores da chamada era da informação acreditam que o que está acontecendo não é um revolução digital, mas relacional.
Diante desses novos desafios e oportunidades para as novas gerações, a pergunta que devemos fazer aos pais e educadores é: como compreender, dialogar e aprender esse novo estilo de vida da geração internet? Sugiro esclarecimentos sobre alguns desses novos conceitos que podem facilitar o relacionamento com os membros da geração internet.
Estilo de vida e a força dos valores intangíveis
As novas gerações sentem-se atraídas pela busca dos valores intangíveis (amor, felicidade, alegria, fraternidade, sentido de pertença). Estudos na área das novas tendências, como os de Morace (2009), têm mostrado evidências de que as pessoas buscam informações que respondem a seus desejos e expectativas em relação a esses valores intangíveis. Se observarmos a capacidade de apelo e atração do esporte, do carnaval, das grandes celebrações de piedade popular, os grandes shows musicais, percebemos que as pessoas buscam na mídia a identificação ou a resposta para certos valores intangíveis.
Estilo de vida e a força dos valores percebidos
De acordo com a teoria de marketing, um valor percebido é associado a qualidade, benefícios, sacrifício e satisfação das pessoas. A ideia básica é que a qualidade de serviços prestados deve ir ao encontro das necessidades das pessoas, que esses serviços ou produtos não são importantes em si, mas devem favorecer a experiência e o interesse das pessoas.
Para os nativos da internet os valores como respeito, justiça, solidariedade e amor são difíceis de ser compreendidos de maneira conceitual. Eles têm dificuldade de compreender e aceitar as representações das realidades da vida, da política e do institucional. Essa geração busca o que é tangível, confiável, responsável; o que dá segurança, conforto e empatia.
Estilo de vida e a força da experiência vital
Os adolescentes e jovens de hoje seguem os apelos das realidades que envolvem interatividade, engajamento e colaboração. Eles querem ser intérpretes criativos e gostam de viver com intensidade as relações. Semelhante à busca de valores percebidos, querem fazer a experiência profunda da vida, das relações e das escolhas. A experiência vital é a fonte de revitalização e motivação para viver e amar.
Estilo de vida e força da inventividade solidária
O conceito de compromisso social é percebido pela geração internet a partir da subjetividade e espírito inventivo. Para o estudioso do fenômeno cultural das novas gerações Morace (2009), as pessoas estão apreendendo a “preencher” com conteúdos “biográficos” e com os próprios talentos os espaços que a rede propõe ao usuário, para depois transferi-los para a vida real, especialmente no seu modo de se relacionar, trabalhar e ser solidário. Fatos como a campanha presidencial de Barack Obama, organizada pelos jovens nas redes sociais; as campanhas de solidariedade realizadas pelos internautas para ajudar as vítimas do terremoto no Haiti, e a mais recente organização política de massa no Egito para mudança de governo, demonstram que o uso das redes sociais tem sua força social e solidária.
Estilo de vida e a força da experiência do Mistério
Os membros da geração internet não deixaram de acreditar. Pelo contrário, acreditam em Deus. Buscam o sagrado. Gostam das atividades religiosas que valorizam o afetivo, o simbólico, que levam à experiência vital. Esse retorno ao simbólico e afetivo não significa, para eles, uma negação da racionalidade. Talvez busquem com mais clareza as relações sistêmicas e complexas. Eles sabem valorizar a espiritualidade e os rituais religiosos, e se engajam quando, em nome do sagrado e da religião, são motivados para a ação solidária.
O significativo como caminho educativo
Mesmo com muita boa vontade e sinceridade educativa, o modo de padronizar ou buscar soluções rígidas e legais para as questões da afetividade e atitudes dos jovens de hoje torna-se cada vez mais ineficiente e limitada o diante de uma geração que busca o que é significativo e que dá sentido à própria existência.
É verdade que existem incoerências e fragilidades humanas na busca do estilo de vida, assim como interesses comerciais, manipulações ideológicas, individualismos e excessos. Porém, a honestidade e transparência das novas gerações para fazerem escolhas pessoais e autênticas são portas abertas para um diálogo verdadeiro e frutuoso sobre como educar.
A partir do que pulsa e move o estilo de vida desses adolescentes e jovens, somos chamados a acompanhá-los no processo formativo, a confirmar suas experiências significativas, a ajudá-los a abrir novos horizontes, a desenvolver uma atitude misericordiosa diante de si e dos outros, a celebrar com gratidão e alegria suas conquistas.
O estilo das novas gerações é um convite para uma atitude positiva e otimista diante do presente e do futuro de nossas crianças e nossos jovens.
Padre Gildásio Mendes
FONTE: http://www.boletimsalesiano.org.br
A realidade virtual já faz parte da sociedade brasileira. Para compreender o fenômeno virtual na vida dos nossos filhos e na sociedade é necessário ampliar a visão sobre a internet como novo habitat.
De acordo com o Ibope Media, em dezembro de 2012, o Brasil possuía cerca de 95 milhões de internautas, ocupando o 5º lugar em número de conexões no mundo. A pesquisa revela que 50,7 milhões de usuários acessam regularmente a internet; 38% acessam diariamente; 10% de quatro a seis vezes por semana; 21% de duas a três vezes por semana; 18% uma vez por semana. No total,87% dos internautas brasileiros acessam a internet semanalmente, fato que comprova que a realidade virtual faz parte do nosso dia a dia.
Nossos filhos vivem no mundo virtual e, sobretudo, entre as crianças e jovens surgem novos hábitos. Pais e professores se preocupam com os efeitos dessa conexão plena e questionam até que ponto o excesso de informação favorece a formação.
O Papa Bento XVI chegou a afirmar que estamos vivendo hoje no Continente Digital e que as transformações profundas no campo da comunicação e das novas tecnologias não são passageiras nem superficiais. Elas atingem os tecidos mais profundos das relações humanas e alteram as plataformas dos estratos sociais e culturais. As crianças e jovens fazem parte do que alguns chamam de geração conectada.
Nativos do continente digital
Nossos filhos vivem em rede e, nesta nova ambiência, acabam por mudar o modo como se relacionam. A nova ambiência virtual é um lugar onde as pessoas vivem e se sentem, de certa forma, em casa. Não é algo que olhamos como se estivesse fora de nós, mas pode ser considerado um lugar onde habitamos. Dentro desta nova ambiência, as crianças, os adolescentes e jovens se utilizam da internet e das novas tecnologias para estudar, pesquisar, conhecer as realidades ao seu redor, investir na vida profissional, no entretenimento e até mesmo como modo de se engajarem nas questões sociais, políticas e ambientais. Esta nova ambiência é lugar de relações humanas.
Mudança humana e relacional
Para pais e educadores é importante compreender que a verdadeira mudança que vemos hoje acontecer é humana, não tecnológica. Estamos presenciando uma revolução relacional, ou seja, uma mudança de valores, a criação de novos estilos de vida e a busca por experiências e valores percebidos, isto é, experiências que falam por si.
Como pais e educadores, quando lançamos nossos olhares para as redes sociais no universo midiático contemplamos, acima de tudo, a pessoa humana que comunica, e não há como não vislumbrar um ambiente para ser habitado também por nossos filhos. Além disso, não podemos deixar de considerar que esse novo ambiente está pleno de possibilidades para relacionamentos, educação, investimento humano e científico, solidariedade e compromisso com o outro e com a própria sociedade.
Educar na nova lógica digital
Do ponto de vista sociológico e psicológico, as redes sociais revelam aspectos novos de comportamentos e atitudes que devem ser aprofundados. A lógica digital quebra a linearidade do pensamento humano, modifica o conceito de tempo e espaço nas relações ao encurtar distâncias. Além da família e da escola, existe também a comunidade virtual. No mundo virtual, pais e filhos falam a partir de um mesmo lugar como autoridades. Isto não significa nivelamento, pois a hierarquização das relações é diferente, mas a comunicação em rede acontece entre iguais.
A interatividade é um modo de dialogar com as novas gerações. Para essas novas gerações, a interatividade aprendida nos videogames, nas redes sociais, assume uma importância vital, uma vez que interagir é dialogar, e dialogar nada mais é que conversar de igual para igual.
Uma nova ética
Neste contexto das realidades virtuais, presenciamos uma ruptura entre técnica e tecnologia. Não temos ainda clara a relação entre tecnologia virtual e cultura, entre redes sociais e compromisso ambiental, entre crescimento tecnológico e desenvolvimento humano. Dessa forma, o mundo virtual precisa elaborar princípios capazes de responder às rupturas que acontecem entre o indivíduo, a sociedade e a tecnologia. Exemplos disso são a exclusão digital; a precariedade de escolas que têm computadores, mas sem uma política educacional para uso de novas tecnologias; a violência nas redes; os crimes online; o desafio da privacidade e o problema da solidão na rede. Precisamos estar abertos e atentos para as oportunidades e desafios do mundo virtual. É importante conversar com os nossos filhos conectados sobre os valores percebidos como a família, a saúde, a espiritualidade e a religião, o compromisso com a pessoa humana e a sociedade e a relação da nossa vida com as novas tecnologias.
No futuro, veremos tecnologias e sistemas de redes mais sofisticados. A nanotecnologia principia a abertura de novos horizontes de possibilidades tecnológicas. O desafio para todos nós é saber dialogar e compreender as novas gerações que estão fazendo da internet e das redes sociais um novo habitat, mas que, ao mesmo tempo, continuam valorizando a família e o convívio na escola e nos encontros sociais.
Pe. Gildásio Mendes
FONTE: http://www.boletimsalesiano.org.br
Nos ultimos tempos estamos diante de uma intensa mudança na comunicação humana, que se desloca para as redes informáticas e tem alterado toda a noção de mundo até então conhecida. É a revolução Telemática. É um novo contexto existencial que desponta num novo ambiente, virtual. É um verdadeiro espaço humano, pois já é habitado pelo homem. O real e o virtual se misturam. E, as pessoas estão cada vez mais conectadas: 24 horas. Haja vista os smartphones. Diminui assim a noção de público e privado e de real e virtual.
Sentidos como a visão e audição reinam como absolutos neste meio. O modo como a experiência na internet acontece passa prioritariamente por este sentidos. E isso impacta ativamente a religiosidade das pessoas. Pode-se aprofundar a fé e até ser ambiente propício para uma autêntica experiência de Deus. João Paulo II prenunciava uma “divinização da engenhosidade humana” e o Bento XVI definiu como “um verdadeiro dom para a humanidade.” Assim sendo, devemos ter um olhar crítico, mas indubitavelmente positivo em relação as novas mídias. O ambiente virtual possui linguagem própria. Mesmo no mundo real percebe-se que tal linguagem tem interferido na maneira de comunicar. Verbos que fazem parte do fundamento cristão como salvar, converter e com-partilhar mudaram seu sentido a partir da rede. Exige de nós esforço e abertura, principalmente para dialogar com aqueles que chamamos de nativos da rede.
Uma das premissas básicas da internet é ser democrática. Há espaço para todos exporem sua opinião. Mesmo que com isso se cometa crimes como bullying, racismo, pedofilia etc. Na rede encontramos lado a lado coisas que pareciam opostas, desde visões ultra conservadoras a liberais, de fundamentalismos cegos a relativismos vazios, de conteúdos edificadores e densos a preconceituosos e estéreis, enfim, corre-se o risco, sem discernir sobre aquilo que nos é apresentado na internet, de pegar elementos destoantes da fé cristã e fazer um estranho mosaico psico-espiritual. Por mais que estamos na era da subjetividade, onde o indivíduo valoriza a experiência pessoal e assume para si o que lhe aprouver, a Fé cristã tem uma característica cara: a Tradição apostólica. Somos herdeiros do anúncio do núcleo da Fé em Jesus Cristo.
Na história do Cristianismo e no processo de inculturação, se assimilou diversos elementos que ajudaram ou atrapalharam a vivência da Fé cristã. As mídias comunicacionais ampliam este processo de inculturação. Para o bem, ou para o mal.
Mas como discernir entre aquilo que é coerente com o núcleo da Fé e aquilo que é uma interpretação pessoal e sem fundamento? As mídias tornam visíveis as diversas propostas de caminho. Só uma formação sólida da Fé cristã somada com um senso crítico amadurecido ajudará, principalmente o catequista, a se orientar quando navega na rede. Com isso, o apurado o contato com a diversidade poderá ser uma oportunidade para o Ecumenismo, onde podemos conhecer o que o outro tem diferente de nós e também o que tem de semelhante e em que pontos podemos dialogar e nos respeitar. Outra dica é buscar sites recomendados pelas coordenações diocesanas e olhar a fonte, geralmente com o nome Institucional ou Quem Somos. Não se iludir com sites de determinados grupos representativos da catolicidade sejam impecáveis no conteúdo apresentado na net, nem blogs que geralmente servem para visibilizar a opinião pessoal do desenvolvedor. Na dúvida dialogue.
Cuidado especial em “pegar” encontros catequéticos prontos da rede. Não existe material perfeito de catequese. Aquele encontro escrito num site de catequese pode ter dado certo numa realidade, mas não significa que dê certo na sua realidade. Como ajuda para discernir a CNBB lançou o estudo nº 53 - Textos e manuais de catequese - onde diante de um material o catequista deve questionar se: “educa para uma fé engajada, no seguimento de Jesus Cristo, na comunidade eclesial, a serviço da transformação evangélica da sociedade? Favorece a criatividade e a consciência crítica? Estimula a espiritualidade profética? Impulsiona a contínua educação comunitária da fé?”
Uma coisa valiosíssima do catequista é a criatividade. Hoje a internet abriu um leque enorme de possibilidades. De certa forma deixou o perigo da falta de criatividade pessoal do catequista, se este depender unicamente do que encontrar na internet para compor seus encontros. Soa até comodismo. É preciso valorizar a criatividade pessoal com bom gosto e boa formação, mesmo usando a internet para incrementar ideias.
Precisamos sempre é ter um eixo central para o qual vamos usar os recursos assumidos da Internet. Nossa catequese não pode se resumir em recursos, mas pensemos: qual mensagem queremos transmitir e fazer comunhão? Tudo que Jesus fez, viveu e morreu foi pelo Reino do Pai. Sendo assim, este também deve ser nosso eixo: fazer com que os catequizandos se encantem pela pessoa de Jesus e sua mensagem radical do Reino. Quando pegamos algum recurso na internet devemos ter lucidez sobre o que vai me ajudar a transmitir a mensagem do mestre Jesus e levar ao seguimento/discipulado.
Saibamos fazer escolhas que não destoem da mensagem de Jesus nem da realidade que vivemos. Do contrário corremos o risco de fazer encontros bonitinhos esteticamente por que vimos na internet, mas vazios de mensagem ou resposta interior dos catequizandos. Como a internet aceita tudo, muita coisa não passou pelo crivo da discussão entre o grupo de catequistas e da mensagem cristã. Vale a pena planejar os encontros com o grupo de catequistas e, se possível, chegar ao ponto de perguntar ao padre sobre certos encontros /conteúdos propostos na internet.
Ricardo Diniz de Oliveira
Equipe do Catequese Hoje
Jovem Guarda, Diretas já, Geração Coca-Cola, Rock Roll, Festivais de música. Cada geração foi marcada por um conjunto simbólico onde as pessoas que participaram desta época se identificam. Internet e o celular são os grandes símbolos dos nossos tempos. E a catequese acompanhou as mudanças de cada geração. Cada época tem seus desafios e possibilidades. E as gerações convivem, muitas vezes em conflito ou muitas vezes com dificuldade de diálogo. Conhecer suas características pode ajudar.
A primeira geração são os Baby Boomers. Nascidos no pós 2ª Guerra até meados da década de 1960. São eles que moldaram o mundo de tecnologia, democracia, liberdade... Possuem uma fé confiante e responsável. Constitui uma geração comprometida com as diversas causas e muito voltadas para a família. Viram de longe a mudança, principalmente pela internet. Podemos dizer que é a geração dos avós que viviam de grandes utopias para o futuro, mesmo com a tensão da Guerra Fria.
Depois veio a geração X. Nascidos entre meados dos anos 1960 a 1980, até no máximo 1984. É uma geração desconfiada. Por vezes desiludida de futuro, mas não perdeu a inquietude e cutucou com crítica a tudo, principalmente com movimentos punks. Buscam uma contracultura, ou seja, algo alternativo ao imaginário imposto, ou mesmo a tradição. Inclusive no âmbito da fé. Reina a suspeita diante das instituições e são mais apáticos pelas mudanças sociais. Seriam como que a geração dos pais. E foi esta geração que propiciou ao mundo a globalização e a expansão das mídias digitais. Daqui por diante podemos chamá-las de gerações NET.
A geração seguinte denominamos de Y. Nasceram entre 1984 até meados da década de 1990. São os filhos que conheceram de perto a efervescência da globalização econômica, relativa prosperidade e mundialização cultural através das mídias digitais. São jovens que fazem múltiplas tarefas, seguem o que querem e sonham alto. Muito impacientes, dão valor às relações. O importante é relacionar. A internet é quase que a segunda casa! Têm informação sobre tudo, conectados ao mundo, mas nem por isso sábios para mastigar tantos dados. Nascidos num mundo que fomenta o individualismo e a competição são um desafio para a educação da fé. Confiam em si mesmos e desconfiam de utopias. A Fé é uma pergunta que se responde através das emoções e têm dificuldade de enxergá-la como projeto de vida para orientar-se e ser fonte de transformação da realidade. Ainda assim, há uma fome de espiritualidade crescente.
Por fim, meados de 1990, nasce a geração Z. As outras gerações se conectaram ao mundo virtual, esta não! Já nasceram conectados. E os chamamos de nativos digitais. As gerações X e Y também podem ser chamadas de nativas, mas a particularidade da geração Z é que eles navegam na rede intuitivamente, como que geneticamente treinados para este universo. O modo de aprendizado não é mais impositivo ou por transmissão de conhecimentos. Querem aprender através das experiências pessoais. Traço cada vez mais ampliado desde a geração Y. O raciocínio não é linear, mas assemelha-se muito mais com uma rede. Multifacetado. São muito afeitos ao estético e ao espetacular. Tudo que dá prazer é válido! Voláteis e muito criativos na linguagem, principalmente pela rede. A internet é usada como extensão do próprio corpo. As relações são intensas e autônomas: a família já não dita mais! Os pais são vistos muito mais como amigos. A Igreja também! Não é mãe, nem mestra. A Igreja é companheira das aflições, emoções e questões existenciais. Têm dificuldade de respirar o que é íntimo e público. Os sentimentos são expostos e as redes sociais são como que um diário onde todos podem acompanhar ou até sentir o que se está passando com a pessoa. Alternam nas redes sociais o convívio/isolamento privado da tribo a qual pertencem e também os pontos de vista que querem escancarar para toda a rede de relações virtuais. Geração que descobriu um novo jeito de se rebelar: através das redes. Mas suas utopias são mais pessoais que integradoras de uma mudança na sociedade.
Olhando para este quadro vemos o desafio e a plasticidade que temos que ter ao evangelizar o mundo de hoje. As gerações que predominantemente chegam até nós hoje na catequese de Crisma são Y e Z. Uma tem traços de continuidade com a outra e podemos delinear algumas dicas em comum para catequese:
• Não oferecer respostas prontas, mas provocar discussões, interação e troca de experiências, estes jovens vão encontrando as respostas. O catequista é um guia para não deixar desvios sérios, mas precisa de compreensão para os resultados nem sempre exatos.
• É uma geração impaciente e multi-tarefa. Propor ações práticas e diversificadas que os próprios catequizandos podem oferecer ao grupo.
• Valorizar o que eles valorizam! Neste caso a internet.
• Nas redes sociais eles costumam prolongar as relações que começam no mundo real. Nunca é demais dizer que a catequese tem que criar laços entre catequistas e catequizandos. E a internet pode fomentar isto.
• Muitas vezes reclamamos o pouco tempo de catequese que temos por semana com os catequizandos, sobretudo os jovens. A internet é uma possibilidade de ampliar este espaço. Um erro comum é tentar transpor a linguagem do mundo real para a internet. A internet tem seu jeito próprio de comunicar e devemos explorar isto. Geralmente é uma linguagem objetiva, curta, audiovisual, lúdica e emotiva.
• Propor vídeos, frases reflexivas, poesias, músicas, imagens, fóruns de discussões nas redes sociais. Sempre com bom gosto. Achar que colocar uma imagem de Jesus ensanguentado na cruz é catequética pode, pelo contrário, trazer aversão. Ter em mente a Beleza que atrai. Uma dica para aprofundar neste assunto é o subsídio O Belo, o Lúdico e o Místico na Catequese do Regional Leste 2 da CNBB (pedidos pelo fone: 31-3342-2847).
• Ser presença amiga nas redes. Afastar a tentação de ser fiscal, com posições moralistas, mas dialogar carinhosamente e questionar certas posturas e opiniões.
• Pode-se marcar encontros na rede para alguma determinada tarefa ou discussão. Mas cuidado! Se algum catequizando não tiver acesso a internet isso poderá causar sentimento de exclusão. Ver com o grupo como incluir todos e tornar participativo este momento.
• Muitas vezes na catequese não temos tempo de amarrar tudo que surge nos bate papos. Certos pontos podem ser aprofundados com o grupo pela internet. Ou mesmo propor que façam vídeos com conclusões dos encontros e postem para que todos vejam.
• Criar uma página do grupo. Onde eles postem livremente ou sob orientação do catequista diversas coisas que sintonizem com a motivação do grupo. Pode-se inclusive, através desta página, começar parte do tema do encontro. A parte do VER, por exemplo, pode ser por uma tempestade de ideias na rede. O catequista junta tudo e ao começar o encontro lê-se a síntese das colaborações e continua a metodologia do encontro.
• Ajudar o jovem crismando a ter senso crítico, principalmente em relação ao conteúdo que encontram na rede. Pode inclusive ser fonte de discussão na catequese se certas coisas que aparecem na rede estão de acordo com a mensagem cristã.
Ricardo Diniz de Oliveira
Equipe do Catequese Hoje
25.01.2014
Página 5 de 8