Destaques do 2º dia da Semana Brasileira de Catequese

16 de novembro de 2018

O dia teve início com a Celebração Eucarística, às 7h, presidida por Dom Armando Bucciol, bispo da diocese de Livramento de Nossa Senhora. Após o café, no auditório, Ir. Maria Aparecida deu a palavra a Dom Leomar Antonio Brustolin, bispo auxiliar de Porto Alegre-RS, para a primeira conferência do dia sobre “O Querigma e a transmissão da fé no contexto atual”.

Alguns destaques do conteúdo apresentado:

- Em cada nova etapa da história, a Igreja, impulsionada pelo desejo de evangelizar, não tem senão uma preocupação: quem enviar para anunciar o mistério de Jesus? Em que linguagem anunciar? Como conseguir chegar a todos? (EN 22)

- Desafios do contexto:

  • Olhar do discípulo missionário (EG 50).
  • Dialogar com essa realidade que Deus deseja salvar, para que todos. tenham vida e vida em abundância.

-Características deste tempo:

  • Geração 4.0 – inteligência artificial (digital, físico, biológico).
  • Sociedade do cansaço.
  • Crise de alteridade e estranheza.
  • Pluralismo cultural e religioso.
  • Cresce uma espiritualidade sem compromisso com a vida.
  • Culto sem envolvimento com a ética.
  • Religiosidade que coloca a pessoa no centro das relações com o sagrado.

- E a Fé?

Sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária. Ora um tal pressuposto não só deixou de existir, mas frequentemente acaba até negado( PF 2). O teste de autenticidade da IVC é o testemunho.

- Entre nós....

  • Também cresce o espírito do fazer, organizar e planejar, mais do que o ser cristão, testemunhar a fé, viver a gratuidade, a esperança e a dor de quem segue Jesus.
  • Somos tentados a fazer do que ser.

- Crer de forma integral

  • A fé envolve todo o ser do crente: vontade, sentimento e pensamento.
  • Não pode ser mero sentimentalismo ou mera explicação racional.
  • A fé cristã não aceita fanatismos, nem fundamentalismos.
  • Ser cristão exige seguimento de Jesus Cristo.
  • Estamos formando discípulos ou adeptos?

Instrumentum Laboris do Sínodo de 2012 alertava: muitas comunidades cristãs não perceberam plenamente o alcance do desafio e a natureza da crise gerada por este ambiente cultural também no interior da Igreja.

-Chances para o querigma

  • Não está acabando o cristianismo.
  • A cultura atual não transmite a fé, mas liberdade religiosa.
  • Os cristãos de amanhã sentirão a fé como elemento especial da Graça que favorecerá seu desenvolvi mento humano.
  • Viverão a fé em meio a pessoas que pensam e vivem de modo diferente deles.
  • Anunciará mais pelo testemunho do que pelas palavras. É um cristianismo com mais qualidade de seguimento...
  • Toda IVC sem renovação da comunidade não funciona. Não adianta. Não adianta mudar os iniciados e colocar numa comunidade não iniciada...

- O Encontro com Cristo

  • Relação de proximidade, encontro e diálogo.
  • Acolher o chamado de jesus: vinde e vede.
  • Jesus – presença do Eterno no meio do tempo que passa.
  • Em sua vida, paixão, morte e ressurreição, encontramos o sentido da existência.
  • Sua boa-nova é o amor que torna amável a vida.

- No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma pessoa que dá a vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo(Deus Caritas Est 1).

- O encontro com o Cristo não é abstrato ou teórico, nem afasta do irmão mais pobre. A comunidade dos seguidores de Jesus é missionária.

- Quem crê anuncia

  • Ser discípulo ser missionário.
  • Anunciar é afirmar, gritar, comunicar. É transmitir a fé com toda a vida. Anunciar com toda alegria.
  • Não se anuncia uma mensagem fria ou apenas um corpo doutrinal.

-...E a comunidade?

  • O anúncio da fé é sempre uma atitude comunitária.
  • O encontro pessoal não se separa do encontro com aqueles que percorrem o mesmo caminho
  • Há uma relação entre o eu e o tu, entre a pessoa e Deus, que se relaciona com o nós.
  • A fé exige que o eu se encontre no nós. A primeira catequista é a comunidade.

-Propor e repropor o Querigma

  • De forma continuada e permanente.
  • O primeiro anúncio, não implica que este se situe apenas no início.
  • É o primeiro em sentido qualitativo, porque é anúncio principal, aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras e aquele que sempre se tem de voltar a anunciar(...) em todas as suas etapas e momentos (EG 163).

- Conversão

  • É preciso arrepender-se de um estilo de pastoral de manutenção para assumir nova postura missionária.
  • Superar um estilo de vida que não pode ser tido como “cristão”.
  • Há batizados e até agentes de pastoral que não fizeram o encontro com Jesus que muda a vida.

- Desafios

  • Passar de uma religião de herança social para uma religião de opção pessoal.
  • De uma sociedade unificada pela fé católica para uma sociedade constituída na liberdade democrática e no pluralismo de ideologias.
  • De uma igreja de massa a uma igreja diferenciada e articulada em pequenas comunidades de discípulos missionários.

- O que é querigma?

  • Para definir evitar tanto uma concepção muito ampla quanto uma noção reduzida.
  • Ampla – afirmar que a pregação do evangelho já é um primeiro anúncio e que tudo é anúncio, significa que nada é anúncio.
  • Reduzida – se limita a uma pregação calorosa.

- O querigma é anúncio

  • Convite para dar os primeiros passos na fé.
  • Implica na pessoa que testemunha uma atitude espiritual de esvaziamento.
  • Ela não tem o poder de transmitir a fé e de converter.
  • Há o imprevisto, o inesperado, o risco da liberdade.
  • Tudo é graça de Deus.
  • A difusão da fé é obra do Espírito Santo.
  • O querigma vem de onde não esperamos. É obra do Espírito.

- O destinatário

  • É também um interlocutor que se escuta.
  • Que se vai aprendendo a conhecer.
  • Que tem direito a palavra.
  • Com quem se estabelece uma relação de amizade.
  • Em meio ao pluralismo e relativismo do nosso tempo, é intolerável que tenha bom efeito um anúncio imposto e fechado, sem diálogo.

- Quem realiza o querigma

  • Quem fez o encontro com o Senhor.
  • Se sente discipulo.
  • Não faz de forma isolada, mas em nome da Igreja.
  • As comunidades cristãs anunciam pelo seu estilo de vida, seu espírito, suas assembleias, suas celebrações, seus projetos e compromissos com os pobres.

- Pontos fundamentais do querigma:

  • A revelação do amor de Deus que tudo criou por amor.
  • O pecado humano que impede a pessoa de responder esse amor.
  • Jesus Cristo é a revelação do rosto amoroso de Deus que nos salva da morte e permite ao ser humano acolher e responder ao amor de Deus.
  • A resposta humana a esse amor é crer e mudar de vida, conversão.
  • Quem garante essa experiência atualizada do amor de Deus é o Espírito Santo.
  • Ao acolher o amor de Deus a pessoa encontra irmãos e irmãs para caminhar nesta estrada, é a comunidade eclesial – a Igreja.

-O querigma numa Igreja em saída

  • Ir às periferias, sair ao encontro das diferentes periferias.
  • há muitos batizados que não vivem as exigências de seu batismo, perderam o senso de pertencimento à igreja e já não sentem a consolação da fé.
  • Buscar os socialmente excluídos e os moralmente perdidos, como Jesus fez.

- Querigma e sociedade: Querigma implica compromisso social. Resgatar a doutrina social da Igreja e a opção preferencial pelos pobres.

- Indicações finais

  • Apresentar a boa nova de forma alegre e propositiva- Evangelho da alegria.
  • Ir ao encontro do outro já. É missão.
  • Procurar manter uma maior proximidade com as pessoas. Pedagogia da presença.
  • Propor o diálogo que estabelece uma verdadeira pedagogia da escuta.
  • Anunciar Jesus Cristo em linguagem acessível e atual.
  • Uma conversão pastoral que supere a uma pastoral de manutenção

“Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (DA 29)

Após o café, Pe. Thiago faccini Paro, proferiu a segunda conferência da manhã com o tema “Celebrar e iniciar ao mistério: a Liturgia”.

Alguns destaques do conteúdo apresentado:

-Iniciação... Há necessidade da Iniciação na compreensão da vivência da Liturgia.

-O que nos dá identidade são também sinais e símbolos. E só pode perceber os significados deles quem foi iniciado.

-A iniciação é um conjunto de ritos, de ensinamentos orais que provocam uma transformação no estatuto religioso e social do iniciando. A iniciação realiza uma segregação, separação, um tempo de processo iniciático e a incorporação na identidade do grupo/comunidade e mudança de identidade. Entra-se de um jeito e se sai de uma maneira nova.

-Eis o mistério da fé! Fazei isto em memória de mim – É o mistério da ressurreição. Memorial. Fazer a experiência do tempo de Deus, um tempo que não nos limita. Através do rito da última ceia, fazer experiência de passar a pé enxuto no mar...

-O rito nos faz entrar noutra dimensão e celebrar a memória da libertação.

- Fazer isso em memória de mim – não é só recordar a última ceia, mas celebrar o mistério de nossa libertação: paixão, morte e ressurreição do nosso Senhor. O mistério de nossa salvação.

- A comunicação simbólico-ritual:

  1. Compreender a linguagem própria da liturgia.
  2. Os gestos simbólicos se transformam em rito.
  3. Os livros litúrgicos são a partitura da liturgia, mas não são a liturgia.
  4. A liturgia ou rito, tem um ritmo que acompanha o corpo humano.

-O que é um símbolo e como funciona? Símbolo é uma representação que faz aparecer um sentido secreto, ele é a epifania (manifestação) de um mistério. São sinais sensíveis que nos permitem entrar em contato com uma realidade que não está ao alcance dos sentidos, mas que precisa da realidade sensível para se manifestar ao ser humano em busca do sentido da vida, em busca do mistério.

-Tocando os sinais, sensíveis, tocamos os mistérios. Não existe liturgia sem ritualidade

-O tempo da mistagogia e o método mistagógico

  1. Na igreja primitiva a catequese feita pelos padres especulavam nas celebrações e a partir das celebrações. Não estavam preocupados em dar explicações e formas sistemáticas.
  2. Tempo para explicar o rito (vivenciavam o rito e depois explicavam)

- O Vaticano II restaura o catecumenato em etapas, o RICA.

- RICA é modelo inspirador que deve ser reconhecido e valorizado. O tempo e etapas são para catecúmenos...

- Inspiração catecumenal – o segredo não é criar tempos e etapas, mas um itinerário...

- Catequese e Liturgia

  1. Inicia-se pela Liturgia, pela arte de celebrar.
  2. Espiritualidade litúrgica.
  3. Ano Litúrgico.
  4. Eucologia (uso das orações).
  5. Sinais sensíveis.
  6. Música litúrgica.
  7. Espaço Litúrgico.
  8. Arte Litúrgica.

Em seguida, abriu-se o debate com os dois conferencista que fizeram algumas considerações:

  1. A liturgia é iniciática.
  2. Queremos resolver a iniciação sem o discipulado.
  3. Não seguir caminhos trilhados por outros que não fazem o que Jesus fez, como no caso de pregadores midiáticos.
  4. A geração 4.0 é carente de sentido do sentido da vida.
  5. A formação de discípulos concentra-se no coração do mistério pascal.
  6. Inspiração é ver a essência do que está no processo. Não é simplesmente repetir os tempos e etapas do catecumanato, temos batizados na catequese. O itinerário ainda é sacramental e não tem uma sequência. A finalidade é tornar discípulos. O itinerário precisa ajudar a fazer discípulos. É preciso ter um único itinerário que gradativamente vai se encaminhando. O sacramento é parte do processo.
  7. Trocamos o nome para Iniciação à vida cristã, em tempos e etapas, mas não há um itinerário único, cujo fim é formar discípulos.
  8. O processo catecumenal não é cópia do início do cristianismo. É preciso adaptar à realidade atual.

Na parte da tarde, após o almoço, os participantes se reuniram para as 20 oficinas oferecidas. Cada um escolheu uma oficina diferente da que fez no dia anterior (a lista das oficinas se encontra no relatório do dia anterior).

 Lucimara Trevizan e Marlene Maria Silva

Secretaria da 4ª Semana Brasileira de Catequese