Stefan Mutch - National Geographic
 
Olá! Que bom ver-te de novo! Olha, sabes o que estive a fazer? Estive no 'Facebook' e no 'Instagram' a rever as fotografias deste Natal! Que bom que foi, não foi? Ainda falta a passagem de ano mas tenho pena é que, depois, acabe tudo tão depressa. Durante o resto do ano - tenho reparado - não aproveitas as outros presentes que te vou deixando! Sim, aqueles que te ofereço todos os dias! Não estás a perceber quais? Eu já te digo. E lembras-te que tenho sempre insistido que preciso de ti para fazer chegar o meu amor às pessoas à tua volta? Pois. Bem me parecia que tinhas uma memória de minhoca! Por andares distraído quero escrever-te esta carta: há muitos presentes que te quero oferecer e outros que gostaria que oferecesses. Ora ouve:
 
Quando te levantares, de manhã, repara no Sol que preparei para aquecer o teu dia. Abre a janela, enche os pulmões e diz o “bom dia!” mais enérgico que consigas para que chegue a cada canto do planeta. Aproveita a água quente do chuveiro - mas não te demores. Saboreia o pequeno-almoço que te deixei para aconchegares o estômago - não tenhas pressa. Mesmo que saias a correr de casa deixa tudo arrumado e despede-te das pessoas com quem partilhas o teu lar – preciso que lhes dês o teu carinho. Olha com atenção para quem passe por ti na rua - algumas levam sorrisos que te quero mandar, alguma velhinha pode precisar da tua ajuda. Posso fazer-te uma surpresa com um momento de beleza ou um encontro inesperado. Por isso, quando passares pelo jardim aprecia as flores que lá plantei. Aproveita os espaços abertos para contemplar as nuvens no céu. Não resmungues com os teus colegas. Ajuda aquele mais tímido – tenho reparado que anda atrapalhado com alguma coisa. Ri-te sempre que possas – gosto muito das tuas gargalhadas – mas não sejas preguiçoso e cumpre com os teus deveres – estás a prestar um grande serviço à sociedade com o que fazes. Quando fores pela rua pára um bocadinho a apreciar o vento que passa nas árvores. Telefona ao teu avô mesmo que te falte tempo e paciência – ele está a precisar de atenção – e manda aquele mail à tua Avó – ela já está ligada à net, não tens desculpa! Confio em ti para cuidar dos mais pequenos e dos mais frágeis. Mesmo que não dês nada ao mendigo, não lhe furtes o olhar - ele é um irmão teu. Recolhe as roupas que já não usas e dá-as a quem precise. Ajuda na limpeza da casa e, por favor, arruma o teu quarto! Vai pedir desculpa àquela pessoa que está magoada contigo. Perdoa a quem tiveres de perdoar - se não o fizeres és o primeiro a sofrer com isso. Agradece a amizade ao teu melhor amigo. Vai visitar aquela pessoa que está no hospital. Deixa-te de manias e pede ajuda sempre que precisares. Não te deixes levar pelo pessimismo - contagia antes os outros com o teu optimismo. Não percas a oportunidade de dar um abraço. E à noite, antes de te deitares, deixa-te maravilhar com a lua e as estrelas que deixei no céu para tornar a noite mais bonita. Ao fim de um dia assim, é impossível que não te lembres de mim. Mesmo assim, se não te lembrares, eu não desisto. Aconchega-te na cama e dorme bem – eu fico a guardar o teu sono à espera do nascer do sol, desejoso de repetir a dádiva de um novo dia.
 
E então? Depois do reboliço das festas de Natal e de Ano Novo, estarás preparado para este outro Natal que te quero oferecer? Posso nascer no teu coração no quotidiano, na vida comum do dia-a-dia? Posso confiar-te o cuidado destas pessoas? Já fazes parte da minha história mas quero muito fazer parte da tua. Desejoso que chegue o Ano Novo, despeço-me com um abraço deste Pai que te ama [assinatura legível, em forma de coração].
 
João Delicado