A novidade parece perturbadora. Angustia ao coração como algo assustador e gerador de inseguranças. Facilmente tendemos a manutenção, ao conservadorismo, para não se sentir instável. Assim, transmitimos repetidamente as experiências, os ritos, as interpretações, a vida. Ousar na mudança chega a ser muito inquietante e dói. Mudar dói muito! Foi assim com os judeus que se converteram ao cristianismo. Romper com tradições diante de uma proposta revolucionária e altamente transformadora não era nada fácil. Abrir os horizontes para novos focos, ressignificações, releituras: pedia coragem demais.
No começo da caminhada cristã, para facilitar a aceitação da novidade que Jesus nos havia apresentado, foi necessário “Construir Jesus”. Uma espécie de jornada adaptativa ou itinerário formativo que pudesse, passo a passo, garantir um amadurecimento da proposta de modo menos agressivo e bem experimentado. O caminho não era fácil. Tratava-se de mudança de pensamento, de modo de ver, viver, sentir, celebrar, seguir. Tudo com outro olhar!
Não passava mais pelo simples hábito, pelo cumprimento da lei, pela simples normatividade. Jesus trouxera novo sentido e pedia que a ação fizesse sentido para corresponder ao projeto do Pai. A princípio, Ele é perspectivado pela tradição do primeiro testamento, associado às múltiplas manifestações de Deus na história do judaísmo e de suas categorias e personagens. Esse movimento, ou construção, ganha a credibilidade e manifesta, assim, Salvação de Deus. Logo, o que Ele diz deve ser escutado, ainda que provocando uma perturbadora novidade.
O tempo foi passando e as renovações das instituições que se inspiram nos ensinamentos de Jesus, ainda hoje seguem se adaptando e amadurecendo sua abertura às mudanças de tempo e aos tempos de mudanças. Sobretudo os que estão em profunda e íntima sincronicidade com o Mestre, notam como é desafiador viver a novidade do plano de pleno amor que Ele nos oferece. Por isso, muitas vezes recuamos, esperamos, adaptamos, resignificamos sem medo. Somos apenas colaboradores da construção de Jesus em cada tempo da história. O que vemos é “Ele, erguendo as mãos, os abençoava, e separando-se deles, sendo levado aos céu” (Lc. 24 – 50,51). A voz passiva, “levado aos céus”, mostra que o agente dessa obra é Deus. Somos construtores, abençoados por Ele!
Pe. Evandro Alves Bastos
28.05.2019