Celebração para o Dia do Catequista 2020
Catequista, servo da ação do Espírito Santo (DC 113)
1. Ritos Iniciais
-Providenciar uma flor e uma vela para cada catequista.
- As crianças, adolescentes ou adultos entram com as flores e colocam no vaso.
- Os catequistas entram na procissão de entrada, atrás da cruz processional.
- Se quiserem, podem entrar todos com a camiseta da IVC identificando as etapas (Batismo, confirmação e eucaristia).
- Colocar o círio pascal próximo da Mesa da Palavra.
Motivação inicial. Queridos irmãos e irmãs, aqui estamos para celebrar a Eucaristia, Memorial da fé cristã. Juntos fazemos memória da Páscoa de Jesus Cristo. Na alegria e no seguimento a Jesus Cristo, celebramos hoje o dia do Catequista. São muitos homens e mulheres que se dedicam com muita paixão e zelo pela catequese. Somos agradecidos por todos aqueles que aceitaram o convite de fazer ecoar a Palavra de Deus nos corações de crianças, adolescente, jovens e adultos de nossa comunidade. Estamos crescendo no processo de Iniciação à Vida Cristã e no caminho discipular. Com alegria acolhemos os catequistas de todas as etapas, cantando...
Canto: Eis-aqui, Senhor!
Segue a liturgia do dia
2. Profissão de fé:
O catequista é um cristão que recebe o chamado particular de Deus que, acolhido na fé, o capacita ao serviço da transmissão da fé e à tarefa de iniciar à vida cristã. As causas imediatas para que um catequista seja chamado a servir a Palavra de Deus são muito variadas, mas são todas mediações das quais Deus, por meio da Igreja, se serve para chamar a seu serviço. Por esse chamado, o catequista é feito partícipe da missão de Jesus de introduzir os discípulos em sua relação filial com o Pai. O verdadeiro protagonista, porém, de toda autêntica catequese é o Espírito Santo que, mediante uma profunda união que o catequista nutre com Jesus Cristo, faz eficazes os esforços humanos na atividade catequética. Essa atividade se realiza no seio da Igreja: o catequista é testemunha de sua Tradição viva e mediador que facilita a inserção dos novos discípulos de Cristo em seu Corpo eclesial (DC 112).
Motivação: Aproximem-se os catequistas de Iniciação à Vida Cristã (Batismo, Confirmação e Eucaristia) para juntos renovar as promessas batismais como dom e serviço à missão da Igreja.
Catequistas colocam-se de pé, diante do altar e recebem a vela.
Presidente: Irmãos e Irmãs, o Batismo nos faz cristãos, e, por meio dele, nascemos para a Igreja, nossa mãe. Somos família de Deus. Reunidos em comunidade, queremos hoje renovar as promessas do Batismo como catequistas a serviço da Iniciação à Vida Cristã. Convidamos os catequistas para acenderem a vela no círio pascal, sinal do Cristo ressuscitado que vive entre nós.
Canta-se um refrão apropriado enquanto se acendem as velas (Ó luz do Senhor...)
Presidente: Irmãos e irmãs, pelo mistério pascal, fomos, no Batismo, sepultados com Cristo para vivermos com ele uma vida nova. Por isso, renovemos as promessas do nosso Batismo, por meio das quais já renunciamos ao mal e prometemos servir a Deus em sua Igreja.
Presidente: Para viver na liberdade dos filhos de Deus, renunciais ao pecado?
Todos: Renuncio.
Presidente: Para viver como irmãos e irmãs, renunciais a tudo o que possa desunir, para que o pecado não domine sobre vós?
Todos: Renuncio.
Presidente: Para seguir Jesus Cristo, renunciais ao demônio, autor e princípio do pecado?
Todos: Renuncio.
Presidente: Credes em Deus, Pai todo-poderoso, criador do Céu e da Terra?
Todos: Creio.
Presidente: Credes em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, que nasceu da Virgem Maria, padeceu e foi sepultado, ressuscitou dos mortos e subiu Céu?
Todos: Creio.
Presidente: Credes no Espírito Santo, na santa Igreja Católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressureição dos mortos e na vida eterna?
Todos: Creio.
Presidente: Esta é a nossa fé. Esta é a fé da Igreja. Dela recebemos através dos nossos pais e nos gloriamos de professar, em Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Todos: Amém!
Apagam-se as velas, e retornem aos bancos.
Preces da comunidade
3. Liturgia Eucarística
Catequistas levam ao altar o cibório com partículas e as galhetas com vinho e água.
4. Ritos Finais
Após a Oração da Comunhão, cada catequista recebe uma flor (ou outro símbolo).
Uma Mãe ou um Casal: Neste dia em que celebramos a vocação do catequista, nossa comunidade muito se alegra em poder contar com a missão de tantos mulheres e homens que se dedicam com amor nos processos de educação da fé de nossos filhos. Queridos catequistas, recebam das famílias e da nossa comunidade, o nosso abraço fraternal, apoio e orações. Que o vosso olhar seja fixo em Jesus Cristo, pois Ele vos olhou com amor e vos chamou para a missão de catequizar.
Enquanto as crianças ou jovens entregam as flores para os catequistas de IVC, pode-se cantar:
Canto: Tu és a razão da jornada ... (ou outro a escolha)
5. Benção final
Presidente: O Senhor esteja convosco.
Todos: Ele está no meio de nós!
Presidente: Senhor, Pai de amor e bondade, derramai vossa benção paterna sobre estes vossos catequistas que em nome da Igreja forma novos discípulos em comunidades missionárias. Concedei-lhes luz, coragem e alegria para viver e anunciar a mensagem do Evangelho de Jesus Cristo, realizando na Igreja e no mundo, a salvação. Por Cristo, Nosso Senhor.
Todos: Amém!
Presidente: E vós todos aqui reunidos, abençoe-vos o Deus todo poderoso, Pai e Filho, e Espírito Santo.
Todos: Amém!
Fonte: Comissão Bíblico-Catequética nacional in: www.catequesedobrasil.org.br
Querido catequista, anunciar Jesus Cristo, fazer ecoar sua Palavra no coração dos irmãos e irmãs, é nossa vocação e missão. Ao experimentar o encontro com o Mestre de Nazaré, inspirado pelo Espírito Santo, o catequista vislumbra sua vocação e sente o desejo de levar as pessoas a viverem essa grande graça e maravilhosa experiência, que dá sentido a nossas vidas.
Anunciar é comunicar Jesus Cristo. Uma catequese evangelizadora não existe sem o anúncio explicito de Jesus Cristo e seu Reino de Amor. Jesus fez isso, pois anunciou a Boa Nova do Evangelho!
Você, catequista pode se perguntar: Como Jesus anunciava o Reino e catequizava? Qual era seu método? São os Evangelhos que nos dão a resposta a essas perguntas. Eles são a fonte de onde jorra a riqueza do jeito de Jesus catequizar. E assim, o catequista e a comunidade se inspiram para catequizar com o olhar, com o acolhimento, com a compreensão, do jeito que Jesus o fazia. Jesus desejou uma evangelização libertadora. Seu olhar, de singular ternura, era direcionado para as necessidades de seus discípulos e de todo o povo. A pedagogia do olhar é a que alcança o outro, e Jesus a realizava chamando para estar com ele, acolhendo a novidade do outro, sua singularidade e sua constante construção. O olhar de Jesus é o olhar da misericórdia que ternamente se aproxima e confia. Seu olhar se estendia aos braços, que abraçavam com ternura e afeto!
As ações de Jesus eram o complemento daquilo que ele ensinava. Por isso, Ele podia dizer ‘aprendei de mim’ (Mt 11,29); sendo fiel à vontade do Pai, podia aclamar-se ‘Caminho, Verdade e Vida’ (Jo 14,6). Jesus prezava com amor intenso a pessoa humana, por isso sua vida foi vivida na entrega total até o fim: às crianças, carinhosa predileção ( cf. Mt 18, 3.5); às mulheres o devido valor, numa sociedade que não lhes davam direitos; aos leprosos o toque que os curava . Por isso ele semeava o Reino com firme ternura e beleza, nos cenários de sua terra, às margens do mar da Galileia, nos montes e planícies, contando histórias simples dos costumes e tradições de seu povo.
A vida de Jesus é a inspiração para o catequista realizar sua vocação, fruto de um começo de profundo amor. Como Jesus se deixou inspirar pelo Espirito de Deus, que orientou sua missão, também você, catequista, permita o Espirito moldar sua vida. Ao colocar seu pé e coração no caminho do discipulado-missionário de Jesus, o catequista torna-se um semeador do Reino. É de Deus que nos vem esse desejo de semeadura.
A você, catequista, celebrando seu Dia nesse agosto de “pandemia”, desejo fartas sementes a serem semeadas, para gerarem frutos saborosos de cuidado, zelo e amor para com os catequizandos. Você, catequista é um espectador da beleza, e traz dentro de si, sementes em potencial de fé, esperança e amor, pura Graça! Busque com criatividade, maneiras de se aproximar de seus catequizandos. Que este tempo tão diferente e difícil, seja também de fartura: de escuta, de diálogo, de oração, visitas pelos meios de comunicação e, outras tantas formas que o Senhor Jesus sopre ao seu ouvido e coração!
A experiência de Jesus é um eterno aprendizado. Papa Francisco diz que o catequista “é aquele que guarda e alimenta a memória de Deus; guarda-a em si mesmo e sabe despertá-la nos outros. É belo isto: fazer memória de Deus”. No seu dia, amado catequista, é belo recordar sua missão e parabenizá-lo por ouvir o chamado de Jesus, guardar suas histórias e anunciá-la depressa de mãos dadas com o Mestre de Nazaré!
Rita de Cássia Pereira Rezende
O que me encanta é Jesus que se maravilha com o Pai. Uma coisa belíssima: o Mestre de Nazaré surpreende-se por um Deus sempre mais fantasioso e inventivo aos seus olhos, que surpreende todos, até o seu Filho.
O que aconteceu? O Evangelho tinha acabado de referir um período de insucessos e problemas: João Batista é preso, Jesus é contestado abertamente por representantes do templo, as povoações em redor do largo, após a primeira onda de entusiasmo e de milagres, afastaram-se.
E eis que, naquele ambiente de derrota, abre-se diante de Jesus uma brecha inesperada, uma reviravolta repentina que o enche de alegria (Mateus 11,25-30): Pai, bendigo-te, dou-te graças, agradeço-te, porque te revelaste aos pequenos.
O lugar vazio dos grandes preenchem-no os pequenos: pescadores, pobres, doentes, viúvas, crianças, publicanos, os preferidos de Deus. Jesus não o esperaria, e admira-se com a novidade; a maravilha invade-o, sente-se feliz.
Descobre o agir de Deus, como antes sabia descobrir, na profundidade de cada pessoa, angústias e esperanças, e para elas sabia inventar como resposta palavras e gestos de vida, que o amor nos faz chamar “milagres”.
Revelaste estas coisas aos pequenos… de que coisas se trata? Um pequeno, uma criança, depressa compreende o essencial: se alguém lhe quer bem ou não. No fundo, é este o segredo simples da vida. Não há outro, mais profundo.
Os pequenos, os pecadores, os últimos da fila, as periferias do mundo compreenderam que Jesus veio trazer a revolução da ternura: vós valeis mais do que muitos pássaros, disse-o no outro domingo, tendes o ninho nas suas mãos. Vinde a mim, vós todos que estais cansados e oprimidos, e Eu vos darei alívio.
Deus não é difícil: está ao lado de quem soçobra, leva aquele pão de amor de que necessita todo o coração humano cansado… E todo o coração está cansado.
Vinde, dar-vos-ei alívio. E não vos vou já apresentar um novo catecismo, regras superiores, mas o conforto do viver. Duas mãos nas quais apoiar a vida cansada e retomar o fôlego da coragem. O meu jugo é suave, e o meu peso é leve: palavras que são música, boa notícia.
Jesus veio para eliminar a velha imagem de Deus. Não mais um dedo acusador apontado contra nós, mas dois braços abertos. Veio para tornar leve e fresca a religião, a tirar-nos pesos das costas e a dar-nos as asas de uma fé que liberta. Jesus é um libertador de energias criativas, e por isso é amado pelos pequenos e oprimidos da Terra.
Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, isto é, aprendei do meu coração, da minha maneira de amar delicada e indómita. Dele aprendemos o alfabeto da vida; na escola do coração, a sabedoria do viver.
A publicação de um Diretório para a Catequese representa um acontecimento feliz para a vida da Igreja. Com efeito, pode constituir um desafio positivo para todos os que se dedicam ao grande empenho da catequese, uma vez que permite experimentar a dinâmica do movimento catequético que sempre teve uma presença significativa na vida da comunidade cristã. O Diretório para a Catequese é um documento da Santa Sé oferecido a toda a Igreja. Necessitou de muito tempo e trabalho, e chega até nós como conclusão de uma vasta consulta internacional. Hoje é apresentada a edição oficial em língua italiana. No entanto, já estão prontas as traduções em espanhol (edição para a América Latina e para a Espanha), português (edição para o Brasil e para Portugal), inglês (edição para os EUA e para o Reino Unido), francês e polaco. Dirige-se em primeiro lugar aos Bispos, primeiros catequistas entre o Povo de Deus, na medida em que são os primeiros responsáveis pela transmissão da fé (cf. n. 114). Juntamente com eles são envolvidas as Conferências episcopais, com as respetivas Comissões para a catequese, para partilhar e elaborar um desejável projeto nacional que apoie o caminho de cada diocese (cf. n. 413). No entanto, os mais diretamente envolvidos no uso do Diretório são os sacerdotes, os diáconos, as pessoas consagradas e os milhões de catequistas que, todos os dias, desempenham o seu ministério com gratuidade, esforço e esperança nas diferentes comunidades. A dedicação com que trabalham, sobretudo num momento de transição cultural como este, é sinal palpável de quanto o encontro com o Senhor pode transformar um catequista num genuíno evangelizador.
Desde o Concílio Vaticano II, este que apresentamos hoje é o terceiro Diretório. O primeiro de 1971, Diretório catequístico geral, e o segundo de 1997, Diretório geral da catequese, marcaram estes últimos cinquenta anos de história da catequese. Estes textos desempenharam um papel primordial. Constituíram uma ajuda importante para levar o caminho catequético a dar um passo decisivo, sobretudo através da renovação da metodologia e da instância pedagógica. O processo de inculturação que caracteriza de modo particular a catequese e que, sobretudo nos nossos dias, obriga a ter uma atenção bastante particular exigiu a composição de um novo Diretório.
A Igreja está diante de um grande desafio que se concentra na nova cultura com a qual se vai encontrando, a cultura digital. Centrar a atenção num fenómeno que se impõe como global obriga todos os que têm responsabilidade da formação a evitar subterfúgios. Diversamente do passado, quando a cultura estava limitada ao contexto geográfico, a cultura digital tem um valor que sente os efeitos da globalização em curso e determina o seu desenvolvimento. Os instrumentos criados nesta década são a manifestação de uma transformação radical dos comportamentos que incidem sobretudo na formação da identidade pessoal e nas relações interpessoais. A velocidade com que se modifica a linguagem, e com ela também as relações comportamentais, deixa vislumbrar um novo modelo de comunicação e de formação que toca inevitavelmente também a Igreja no complexo mundo da educação. A presença das várias expressões eclesiais no vasto mundo da internet constitui certamente um facto positivo, mas a cultura digital vai muito para além disso. Ela toca a raiz da questão antropológica decisiva em qualquer contexto formativo, como o da verdade e da liberdade. O próprio facto de colocar esta problemática impõe que se verifique a adequação da proposta formativa, venha donde vier. Ela torna-se, no entanto, um confronto imprescindível para a Igreja, em virtude da sua “competência” sobre o homem e a sua pretensão de verdade.
Talvez esta premissa fosse suficiente para demonstrar a necessidade de um novo Diretório para a catequese. Na época digital, vinte anos são comparáveis, sem exagero, a pelo menos meio século. Daqui resultou a exigência de redigir um Diretório que tivesse em conta, com grande realismo, a novidade que se apresenta, na tentativa de propor uma leitura dessa mesma novidade que envolvesse a catequese. É por este motivo que o Diretório apresenta não apenas as problemáticas inerentes à cultura digital, mas sugere também os percursos a realizar para que a catequese se torne uma proposta que encontra o interlocutor que seja capaz de a compreender e de ver como se adequa ao seu mundo.
No entanto, existe uma razão mais de ordem teológica e eclesial que convenceu a redigir este Diretório. O convite a viver cada vez mais a dimensão sinodal não pode deixar esquecer os últimos Sínodos que a Igreja viveu. Em 2005 o Sínodo sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja; em 2008, A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja; em 2015, A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo; em 2018, Os jovens, a fé e o discernimento vocacional. Como se pode observar, em todas estas assembleias, repetem-se algumas constantes que tocam de perto o tema da evangelização e da catequese, o que se pode verificar pelos documentos que se lhes seguiram. De modo mais particular é forçoso referir-nos a dois acontecimentos que, de forma complementar, marcam a história desta última década no que se refere à catequese: o Sínodo sobre a Nova evangelização e a transmissão da fé, em 2012, com a consequente Exortação apostólica do Papa Francisco Evangelii gaudium, e o vigésimo quinto aniversário da publicação do Catecismo da Igreja Católica, ambos tocando diretamente a competência do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização.
A evangelização ocupa o primeiro lugar na vida da Igreja e no magistério quotidiano do Papa Francisco. Não poderia ser de outro modo. A evangelização é a tarefa que o Senhor Ressuscitado confiou à sua Igreja para ser no mundo de cada tempo o anúncio fiel do seu Evangelho. Prescindir deste pressuposto equivaleria a transformar a comunidade cristã numa das muitas associações beneméritas, orgulhosa dos seus dois mil anos de história, mas não a Igreja de Cristo. A perspetiva do Papa Francisco, nomeadamente, está em forte continuidade com os ensinamentos de São Paulo VI na Evangelii nuntiandi, de 1975. Os dois não fazem outra coisa que não seja referir-se à riqueza que brotou do Vaticano II que, no que se refere à catequese, encontrou na Catechesi tradendae (1979) de São João Paulo II o seu ponto central.
Portanto, a catequese deve estar intimamente unida à obra de evangelização e não pode prescindir dela. Precisa de assumir em si as características próprias da evangelização, sem cair na tentação de se substituir a ela ou de querer impor à evangelização os seus pressupostos pedagógicos. Nesta relação, o primado pertence à evangelização e não à catequese. Isto permite compreender por que razão, à luz da Evangelii gaudium, este Diretório se qualifica por sustentar uma “catequese querigmática”.
O coração da catequese é o anúncio da pessoa de Jesus Cristo, que ultrapassa os limites de espaço e de tempo para se apresentar a cada geração como a novidade oferecida para alcançar o sentido da vida. Nesta perspetiva, é indicada uma nota fundamental de que a catequese deve apropriar-se: a misericórdia. O querigma é anúncio da misericórdia do Pai que vai ao encontro do pecador, não mais considerado como um excluído, mas como convidado privilegiado ao banquete da salvação que consiste no perdão dos pecados. Se quisermos, é neste contexto que ganha força a experiência do catecumenato como experiência do perdão oferecido e da consequente vida nova de comunhão com Deus.
No entanto, a centralidade do querigma deve ser recebida em sentido qualitativo e não temporal. Efetivamente, requer que esteja presente em todas as fases da catequese e de todas as catequeses. É o “primeiro anúncio” que é feito sempre, porque Cristo é o único necessário. A fé não é algo de óbvio que se recupera nos momentos de necessidade, mas é um ato de liberdade que compromete toda a vida. Portanto, o Diretório assume a centralidade do querigma que se exprime em sentido trinitário como compromisso de toda a Igreja. A catequese, tal como é expressa pelo Diretório, caracteriza-se por esta dimensão e pelas implicações que confere à vida das pessoas. Neste horizonte, toda a catequese adquire um valor peculiar que se exprime no aprofundamento constante da mensagem evangélica. Enfim, a catequese tem a finalidade de fazer alcançar o conhecimento do amor cristão que leva aqueles que o acolheram a tornarem-se discípulos evangelizadores.
O Diretório desdobra-se tocando várias temáticas que não fazem outra coisa que não seja remeter para o objetivo de fundo. Uma primeira dimensão é a mistagogia que é apresentada através de dois elementos complementares entre si: antes de mais, uma renovada valorização dos sinais litúrgicos da iniciação cristã; depois, o amadurecimento progressivo do processo formativo em que é envolvida toda a comunidade. A mistagogia é um caminho privilegiado a seguir, mas não é facultativo no percurso catequético, permanece como um momento obrigatório, uma vez que insere cada vez mais no mistério acreditado e celebrado. É a consciência do primado do mistério que leva a catequese a não isolar o querigma do seu contexto natural. O próprio anúncio da fé é sempre anúncio do mistério do amor de Deus que se faz homem pela nossa salvação. A resposta não pode evitar o facto de acolher em si o mistério de Cristo que permite iluminar o mistério da própria experiência pessoal (cf. GS 22).
Uma característica ulterior de novidade do Diretório é a ligação entre evangelização e catecumenato nas suas várias aceções (cf. n. 62). É urgente levar a cabo a “conversão pastoral” para libertar a catequese de algumas armadilhas que impedem a sua eficácia. O primeiro pode ser identificado no esquema escolar, segundo o qual a catequese de iniciação cristã é vivida no paradigma da escola. A catequista substitui a professora, a sala da escola dá lugar à sala de catequese, o calendário escolar é idêntico ao da catequese… O segundo é a mentalidade segundo a qual a catequese é feita em vista da receção de um sacramento. É óbvio que, quando a iniciação tiver terminado, se venha a criar um vazio para a catequese. Um terceiro é a instrumentalização do sacramento por parte da pastoral, pelo que os tempos do sacramento da Confirmação são estabelecidos pela estratégia pastoral de não perder o pequeno rebanho de jovens que ficou na paróquia e não pelo significado que o sacramento possui em si mesmo na economia da vida cristã.
O Papa Francisco escreveu que “anunciar Cristo significa mostrar que crer n’Ele e segui-Lo não é algo apenas verdadeiro e justo, mas também belo, capaz de preencher a vida de um novo esplendor e de uma alegria profunda, mesmo no meio das provações. Nesta perspetiva, todas as expressões de verdadeira beleza podem ser reconhecidas como uma vereda que ajuda a encontrar-se com o Senhor Jesus … Torna-se necessário que a formação na via pulchritudinis esteja inserida na transmissão da fé” (EG 167). Uma nota de particular valor inovador para a catequese pode ser expressa pela via da beleza sobretudo para permitir conhecer o grande património de arte, literatura e música que cada Igreja local possui. Neste sentido, compreende-se por que razão o Diretório colocou a via da beleza como uma das “fontes” da catequese (cf. nn. 106-109).
Uma última dimensão oferecida pelo Diretório está no facto de ajudar a inserir-se progressivamente no mistério da fé. Esta conotação não pode ser delegada apenas a uma dimensão da fé ou da catequese. A teologia explora o mistério revelado com os instrumentos da razão. A liturgia celebra e evoca o mistério com a vida sacramental. A caridade reconhece o mistério do irmão que estende a mão. Na mesma linha, a catequese leva progressivamente a acolher e viver globalmente o mistério na existência quotidiana. O Diretório assume esta visão, quando pede que se exprima uma catequese que saiba encarregar-se de manter unido o mistério, embora articulando-o nas diversas fases de expressão. O mistério, quando é captado na sua realidade profunda, exige o silêncio. Uma verdadeira catequese nunca terá a tentação de dizer tudo sobre o mistério de Deus. Pelo contrário, deverá introduzir à vida da contemplação do mistério, fazendo do silêncio a sua conquista.
Portanto, o Diretório apresenta a catequese querigmática não como uma teoria abstrata, mas como um instrumento com forte valor existencial. Esta catequese tem o seu ponto de força no encontro que permite que se experimente a presença de Deus na vida de cada um. Um Deus próximo que ama e que segue as vicissitudes da nossa história porque a encarnação do Filho o compromete diretamente. A catequese deve envolver cada pessoa, catequista e catequizando, no facto de experimentar esta presença e de se sentir envolvido na obra da misericórdia. Enfim, uma catequese deste tipo permite descobrir que a fé é realmente o encontro com uma pessoa, ainda antes de ser uma proposta moral, e que o cristianismo não é uma religião do passado, mas um acontecimento do presente. Uma experiência como esta favorece a compreensão da liberdade pessoal, porque é fruto da descoberta de uma verdade que nos torna livres (cf. Jo 8,31).
A catequese que dá o primado ao querigma está nos antípodas de qualquer imposição, nem que fosse a de uma evidência sem qualquer possibilidade de fuga. Com efeito, a escolha de fé, ainda antes de considerar os conteúdos aos quais aderir com o assentimento de cada um, é um ato de liberdade, na medida em que se descobre que se é amado. Neste âmbito, é bom que se considere com atenção o que propõe o Diretório acerca da importância do ato de fé na sua dupla articulação (cf. n. 18). Durante demasiado tempo a catequese centrou os seus esforços em dar a conhecer os conteúdos da fé e na pedagogia com a qual os devia transmitir, descurando infelizmente o momento mais determinante que é o ato de cada um escolher a fé e dar o seu assentimento.
Fazemos votos de que este novo Diretório para a Catequese possa servir verdadeiramente de ajuda e de apoio à renovação da catequese no processo único de evangelização que, desde há dois mil anos, a Igreja não se cansa de realizar, para que o mundo possa encontrar Jesus de Nazaré, o Filho de Deus feito homem para nossa salvação.
Mons. Rino Fisichella
[00812-PO.01] [Texto original: Italiano]
Boletim da Sala de Imprensa do Vaticano 25.06.2020
NOVO DIRETÓRIO DE CATEQUESE: ATUALIZANDO O EVANGELHO
Após o "Diretório Catequético Geral" de 1971 e o "Diretório Geral de Catequese" de 1997, é publicado hoje o novo "Diretório de Catequese", elaborado pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. O documento foi aprovado pelo Papa Francisco, em 23 de março de 2020, memorial litúrgico de São Turíbio de Mogrovejo que, no século XVI, deu um forte impulso à evangelização e à catequese
A peculiaridade do novo Diretório é o estreito vínculo entre evangelização e catequese, que sublinha a união entre o primeiro anúncio e o amadurecimento da fé, à luz da cultura do encontro. Essa peculiaridade - explica ele - é mais necessária diante de dois desafios para a Igreja na era contemporânea: a cultura digital e a globalização da cultura. Em mais de 300 páginas, divididas em 3 partes e 12 capítulos, o texto lembra que toda pessoa batizada é um discípulo missionário e que esforços e responsabilidades são urgentemente necessários para encontrar novas linguagens com as quais comunicar a fé. Três são os princípios básicos com quais se pode agir: o testemunho, porque "a Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração"; misericórdia, a catequese autêntica que torna credível a proclamação da fé e diálogo, livre e gratuito, que não obriga, mas que, a partir do amor, contribui para a paz. Dessa forma - explica o Diretório - a catequese ajuda os cristãos a dar pleno sentido à sua existência.
A formação dos catequistas
Em sua primeira parte, intitulada "A catequese na missão evangelizadora da Igreja", o texto se concentra, em particular, na formação dos catequistas: para que eles sejam testemunhas credíveis da fé, devem " ser catequistas antes mesmo de fazer os catequistas "e, portanto, terão que trabalhar com gratuidade, dedicação, coerência, segundo uma espiritualidade missionária que os afaste do "esforço pastoral estéril" e do individualismo. Professores, educadores, testemunhas e catequistas devem acompanhar a liberdade dos outros com humildade e respeito. Ao mesmo tempo, será necessário "estar vigilante para garantir que todas as pessoas, especialmente menores e pessoas vulneráveis, tenham proteção absoluta garantida contra qualquer forma de abuso". Os catequistas também são convidados a adotar um "estilo de comunhão" e a serem criativos no uso de ferramentas e linguagens.
A linguagem da catequese: narração, arte, música
O desafio da linguagem está presente, em particular, na segunda parte do Diretório, intitulada "O processo de catequese". Numerosas modalidades expressivas mencionadas, a partir da narração, definida como "um modelo comunicativo profundo e eficaz", pois são capazes de entrelaçar, de modo fecundo, a história de Jesus, a fé e a vida dos homens. Depois, é importante a arte que, por meio da contemplação da beleza, permite fazer a experiência do encontro com Deus, enquanto que a música, especialmente a música sacra, instila no espírito humano o desejo pelo infinito.
Catequese na vida das pessoas: a importância da família
Quando a catequese se torna concreta na vida das pessoas é que emerge claramente a importância da família: um sujeito ativo de evangelização e um lugar natural para viver a fé de maneira simples e espontânea. Oferece, de fato, uma educação cristã “que mais testemunha do que ensina”, por um estilo humilde e compassivo. Diante de situações irregulares e de novos cenários familiares presentes na sociedade contemporânea, nos quais há um esvaziamento do significado transcendente da família, a Igreja pede que se acompanhe na fé, com proximidade, escuta e compreensão, numa ótica de cuidado, respeito e solicitude, para devolver a todos a confiança e a esperança e superar a solidão e a discriminação. A catequese também será projetada de acordo com as faixas etárias de seus destinatários: crianças, jovens, adultos, idosos. Mas, embora diversificada nas linguagens, deve ter um estilo único: o de acompanhamento, que torna os catequistas testemunhas credíveis, convictos e comprometidos, discretos mas presentes, capazes de valorizar as qualidades de cada fiel e de fazê-lo se sentir acolhido e reconhecido dentro da comunidade cristã.
"Cultura de inclusão" e acolhimento de deficientes e migrantes
Hospitalidade e reconhecimento são as palavras-chave que devem acompanhar também a catequese com as pessoas com deficiência: diante do constrangimento e do medo que podem despertar, porque lembram a dor e a morte, será importante responder com uma "cultura de inclusão" que vença a “da exclusão”. As pessoas com deficiência são, de fato, testemunhas das verdades essenciais da vida humana, como a vulnerabilidade e a fragilidade, devendo, portanto, ser aceitas como um grande dom, enquanto suas famílias merecem "respeito e admiração". Outra categoria específica mencionada pelo Diretório é dos migrantes que, longe de sua terra natal, podem sofrer uma crise de fé: para eles também, a catequese terá que se concentrar em acolhida, confiança e solidariedade, a fim de que sejam sustentados na luta contra os preconceitos e aos graves perigos em que possam sucumbir, como o tráfico de seres humanos.
A prisão, "autêntica terra missionária"; a opção preferencial pelos pobres
O documento, ainda, olha para as prisões como uma "autêntica terra de missão": para os presos, a catequese será o anúncio da salvação em Cristo, perdão e libertação, juntamente com uma escuta atenta que mostra o rosto materno da Igreja. Entre as categorias mais marginalizadas, a Igreja não esquece os pobres: a opção preferencial por eles seja também "atenção espiritual" - pede o Diretório - lembrando o primado da caridade e a importância de um dinamismo missionário que, no encontro com o mais necessitado, realize o encontro com Cristo. "A Igreja também - recomenda o texto - é chamada a experimentar a pobreza como abandono total a Deus, sem confiar nos meios mundanos". Nesse contexto, a catequese deve educar para a pobreza evangélica, promover a cultura da fraternidade e fomentar nos fiéis a indignação pelas situações de miséria e injustiça. Além disso, nas proximidades do Dia Mundial dos Pobres, a reflexão catequética deve ser acompanhada de "um compromisso concreto e direto, com sinais tangíveis de atenção aos pobres e marginalizados".
Paróquias, associações e escolas católicas
Na terceira parte, dedicada à "catequese nas Igrejas Particulares", emerge, sobretudo, o papel das paróquias, associações e movimentos eclesiais e das escolas católicas. Das primeiras, definidas como "exemplo de apostolado comunitário", destaca-se a "plasticidade" que as torna capazes de uma catequese criativa, "em escuta" e "em saída” em relação às experiências das pessoas. Das associações e movimentos, por outro lado, é lembrada a "grande capacidade evangelizadora" que os torna uma "riqueza da Igreja", desde que cuidem da formação e da comunhão eclesial. Quanto às escolas católicas, eles são instadas a mudar de escolas-instituições para escolas-comunidades ou comunidades, ou seja, de fé com um projeto educativo baseado nos valores do Evangelho.
Ensino de religião e catequese: distintos, mas complementares
Nesse contexto, um parágrafo à parte é dedicado ao ensino da religião, que - enfatiza - é distinto, mas complementar à catequese, e é caracterizado por dois aspectos: o entrar em relações com outros conhecimentos e saber transformar o conhecimento em sabedoria da vida. "O fator religioso é uma dimensão da existência e não deve ser esquecido", diz o Diretório; portanto, "é direito dos pais e dos alunos" receber uma formação integral que também leve em consideração o ensino da religião. O importante é que isso sempre ocorra através de um diálogo aberto e respeitoso, livre de conflitos ideológicos.
Pluralismo cultural e pluralismo religioso: a relação com o judaísmo e o islã
Um grande capítulo enfoca os diferentes cenários contemporâneos com os quais a catequese deve se confrontar: pluralismo cultural que leva ao tratamento superficial de questões morais; os contextos urbanos difíceis, muitas vezes desumanos, violentos e segregantes; o confronto com os povos indígenas que requer conhecimento adequado para superar os preconceitos; a piedade popular e seu ser, por um lado, um "lugar teológico" e "reserva de fé", mas, por outro, o correr o risco de se abrir para superstições e seitas. Em todos esses ambientes, a catequese é chamada a trazer esperança e dignidade, a superar o anonimato e a promover a proteção ambiental. Setores especiais também são os do ecumenismo e do diálogo inter-religioso com o judaísmo e o islamismo: em relação ao primeiro ponto, o Diretório enfatiza como a catequese deve "despertar o desejo de unidade" entre os cristãos, para ser "um instrumento credível de evangelização". Quanto ao judaísmo, convida-se um diálogo que combata o antissemitismo e promova a paz e a justiça. Diante do fundamentalismo violento que, às vezes, pode se encontrar no Islã, a Igreja pede que evitem generalizações superficiais, promovendo o conhecimento e o encontro com os muçulmanos. De qualquer forma, em um contexto de pluralismo religioso, a catequese deverá "aprofundar e fortalecer a identidade dos crentes", ajudando-os no discernimento e promovendo seu impulso missionário por meio de testemunho, da colaboração e do diálogo "afável e cordial". Quanto ao judaísmo, convida-se um diálogo que combate o antissemitismo e promova a paz e a justiça. Diante do fundamentalismo violento que às vezes se encontra no Islã, a Igreja pede que evitem generalizações superficiais, promovendo o conhecimento e encontro com muçulmanos. De qualquer forma, em um contexto de pluralismo religioso, a catequese deve "aprofundar e fortalecer a identidade dos crentes", ajudando-os a serem discernidos e promovendo seu ímpeto missionário por meio de testemunho, colaboração e diálogo "afável e cordial".
O mundo digital: luzes e sombras
A reflexão do Diretório passa então ao tema digital: primeiro, reitera-se a importância de garantir, na “rede”, uma presença, que testemunhe os valores do Evangelho. Portanto, os catequistas são instados a educar as pessoas sobre o bom uso do digital: em particular, os jovens deverão ser acompanhados, pois o mundo virtual pode ter profundas repercussões no gerenciamento das emoções e na construção da identidade. Hoje, a cultura digital - continua o documento - é percebida como "natural", tanto que mudou a linguagem e as hierarquias de valores em escala global. Rico em aspectos positivos (por exemplo, enriquece as habilidades cognitivas e promove informações independentes para proteger as pessoas mais vulneráveis), ao mesmo tempo em que o mundo digital também possui um "lado sombrio": pode trazer solidão, manipulação, violência, cyberbullying, preconceitos, ódio. Não apenas isso: a narrativa digital é emocional, intuitiva e envolvente, mas é desprovida de análises críticas, acabando por tornar os destinatários simples usuários, em vez de decodificadores de uma mensagem. Sem esquecer a atitude quase "fideísta" que você pode ter em relação, por exemplo, a um mecanismo de pesquisa.
Combater a cultura do instantâneo
Então, o que a catequese pode fazer nesse setor? Educar, antes de tudo, para combater a "cultura do instantâneo", desprovida de hierarquias e perspectivas de valor, fraca na memória e incapaz de distinguir verdade e qualidade. Acima de tudo, os jovens serão acompanhados na busca de uma liberdade interior que os ajude a se diferenciar do "rebanho social". "O desafio da evangelização envolve o da inculturação no continente digital", afirma o Diretório, reiterando a importância de oferecer espaços de experiência de fé autêntica, capazes de fornecer chaves interpretativas para temas fortes, como corporalidade, afetividade, justiça e paz.
Ciência e fé: conflitos aparentes, testemunho de cientistas cristãos
O documento enfoca a ciência e a tecnologia. Reafirmando que devem se orientar para a melhoria das condições de vida e o progresso da família humana, colocando-se assim a serviço da pessoa, ao mesmo tempo em que o Diretório recomenda uma catequese bem preparada e aprofundada que saiba combater uma divulgação científica e tecnológica muitas vezes imprecisa. Por isso, exorta-nos a eliminar preconceitos e ideologias e a esclarecer os aparentes conflitos entre ciência e fé, além de valorizar o testemunho de cientistas cristãos, um exemplo de harmonia e síntese entre os dois. O cientista, de fato, busca a verdade com sinceridade, se inclina à comunicação e ao diálogo, ama a honestidade intelectual e pode, portanto, favorecer a inculturação da fé na ciência.
Bioética: nem tudo o que é tecnicamente possível é moralmente admissível
Uma reflexão, à parte, contudo, deve ser feita para a bioética, partindo do pressuposto de que "nem tudo o que é tecnicamente possível é moralmente admissível". Portanto, será necessário distinguir entre intervenções terapêuticas e manipulações, e prestar atenção à eugenética e às discriminações que ela implica. Quanto à denominação de "gênero", recorde-se que a Igreja acompanha "sempre e em qualquer situação", sem julgar, pessoas que vivem situações complexas e, às vezes, conflitantes. No entanto, "numa perspectiva de fé, a sexualidade não é apenas um dado físico, mas é uma realidade pessoal, um valor confiado à responsabilidade da pessoa", "uma resposta ao chamado original de Deus". Em bioética, portanto, os catequistas precisarão de treinamento específico que parte do princípio da sacralidade e inviolabilidade da vida humana, que contrastam a cultura da morte. Nesse sentido, o Diretório condena a pena de morte, definida como "uma medida desumana que humilha a dignidade da pessoa".
Conversão ecológica, compromisso social e proteção ao emprego
Entre as outras questões abordadas no documento, a referência a uma "profunda conversão ecológica" a ser promovida através de uma catequese atenta à proteção da Criação, inspiradora de uma vida virtuosa, longe do consumismo, porque "a ecologia integral é parte integrante da vida cristã". Há também um forte incentivo a um compromisso social ativo dos católicos, para agirem em favor do bem comum, combatendo as estruturas do pecado com a retidão moral e a abertura ao diálogo. Quanto ao mundo do trabalho, exorta-se a evangelização de acordo com a Doutrina Social da Igreja, com especial atenção à defesa dos direitos dos mais fracos. Finalmente, os dois últimos capítulos do Diretório enfocam os catecismos locais, com as indicações relativas para obter a aprovação da Sé Apostólica, e sobre os organismos a serviço da catequese, entre eles o Sínodo dos Bispos e as Conferências Episcopais.
Fonte: site do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização – 25.06.2020
Artigo de Isabella Piro
Tradução Marlene Maria Silva
O Papa Francisco recordava-nos no discurso que fazia aos catequistas participantes no Congresso Internacional da Catequese durante o Ano da Fé (2013):
“Ser catequista! Não trabalhar como catequista: isso não adianta!(…)Catequista é uma vocação. Ser catequista: é esta a vocação; não trabalhar como catequista. Atenção, que eu não disse fazer de catequista, mas sê-lo, porque compromete a vida”.
“Mas, por favor, não se compreende um catequista que não seja criativo. A criatividade é como que a coluna do ser catequista. Deus é criativo, não se fecha, e por isso nunca é rígido. Deus não é rígido! Acolhe-nos, vem ao nosso encontro, compreende-nos. Para sermos fiéis, para sermos criativos, é preciso saber mudar. Saber mudar. E porque devo mudar? É para me adequar às circunstâncias em que devo anunciar o Evangelho”.
Neste tempo difícil em que nos encontramos, todos nós, catequistas, estamos convidados a viver, mais do que nunca, estas palavras do Papa. Não podemos nos “fazer” de catequistas, pelo menos da maneira habitual; mas isso não é razão para devermos deixar de “ser” catequistas: Somos catequistas, sempre! Chamados a ser criativos!
De fato, porque não podemos nos “fazer” de catequistas, esta situação oferece-nos uma grande oportunidade para experimentar o que significa “ser” catequistas. Aqui ficam então algumas sugestões para estes tempos de Coronavírus:
1.Reza pelas crianças e adolescentes da catequese, pelos seus familiares, pelos outros catequistas e por todas as outras pessoas da paróquia.
2.Faça contato (por chamada telefônica ou videochamada, chats, mensagens, WhatsApp…) os pais dos catequizandos e interessa-te por eles e pelas suas famílias.
3.Pergunta se podes fazer alguma coisa por eles ou pelos seus filhos: ajudá-los com as compras, as tarefas, os trabalhos escolares das crianças ou adolescentes…
4.Dá os parabéns aos teus catequizandos nos aniversários (e podes até fazê-lo também no dia dos santos com os seus nomes), ou torna-te presente para festejar qualquer acontecimento, mas sempre através de meios digitais ou telefone para a comunicação.
5.Oferece-te para ajudar os pais a continuar com a catequese em família e em casa(onde for possível): indica-lhes o tema em que se encontravam os filhos, envia-lhes algum material que utilizas para a catequese semanal e ajuda-os a familiarizar-se com eles e com a sua utilização. Nosso site fez também várias sugestões. É só você conferir neste link.
Confira também o site: www.jesuscristoemcasa.com que contém encontros catequéticos com crianças em família, os pais poderão baixar o material disponível.
6.Propõe aos pais em cada semana a tua colaboração para a realização da catequese familiar, através de mensagens de voz, vídeos, chats ou videoconferências com as crianças ou adolescentes; ou explicando como podem realizá-la. Veja sugestões aqui em nosso site neste link.
7.Procura realizar, se for possível, e de acordo com os pais, uma videochamada de grupo para saudar as crianças ou adolescentes e estar um pouco com eles como grupo; para rezarem juntos uma breve oração ou terem um momento de catequese em grupo.
8.Mantém o contato através dos meios digitais e redes sociais com os outros catequistas da paróquia e com o pároco, ou com catequistas de outras paróquias: para se animarem mutuamente e partilharem a vida, perguntarem pelas pessoas conhecidas e interessarem-se pelas suas situações; para compartilharem novos materiais e iniciativas para a catequese nesta situação.
9.Contribui para manter, o calendário das atividades paroquiais de catequese já programadas: reuniões online de catequistas ou encontros online de formação…
10.Não te esqueças de dedicar tempo a ti própria/o como catequista: para continuares a aprofundar a nossa vocação e identidade de catequistas; e, na formação, para cultivares a nossa espiritualidade por meio da oração e da meditação, para fazeres essas leituras de apoio à catequese para as quais nunca temos tempo. Este site tem semanalmente a reflexão espiritual do Evangelho de cada domingo e outras sugestões para o cultivo da Espiritualidade.
11.Visita diferentes sites onde encontrarás informações úteis para este tempo, propostas, atividades e materiais, etc., para realizar a catequese nesta nova modalidade, e também para tua formação (www.catequesedobrasil.org.br e o canal do youtube deste site por exemplo)
NOTA: Este texto que compartilhamos aqui com adaptações, foi elaborado na Espanha para orientar os catequistas no período da pandemia. Poderá servir de ajuda aqui também na conjuntura atual.
Equipe do site
05.06.2020
Nos dias que correm. Perdão. Nos dias que andam (bem lentamente) temos sido mais sugados pelo pessimismo. Antes de toda esta suspensão obrigatória e imposta, vivíamos reféns de um ritmo alucinante. Tudo acontecia demasiado depressa, à velocidade de um cruzeiro primo do Titanic. Agíamos como autênticos donos do mundo, sem ter nada que fosse, realmente, nosso.
Não estávamos felizes. E agora também não estamos.
Não sabíamos gerir o tempo. E agora também não sabemos.
Não tínhamos tempo para o mais importante. E agora também não temos.
Não sabíamos ver o lado bom da vida. E agora também não vemos.
Não atravessávamos zonas que fossem além da zona de conforto. E agora também não atravessamos.
Estamos ao colo do pessimismo. Como estávamos antes. Tudo a correr mal. Tudo é demasiado. O ritmo continua a ser de loucos. O trabalho é em quantidades absurdas e inumanas ou calou-se simplesmente e deixou de existir. Estamos fartos uns dos outros e da nossa versão de perfil online e virtual. Queríamos mais pele. Mais beliscões de alma que nos agarrassem à vida e ao mundo com as unhas e os dentes de antes.
Já chega de nos deixarmos estar neste colo de amarguras e queixumes colecionados. O colo da esperança é mais bonito que este. Mais leve. Mais tranquilo. Mais certo. É da esperança que nascem frutos. Do pessimismo só nascem cardos e espinhos.
É da esperança que surge o essencial. O que está escrito nas entrelinhas. O que está subentendido no sorriso que alguém teima em devolver-nos.
É da esperança que nasce tudo.
Enquanto estamos ao colo do pessimismo não nos permitimos reparar que a vida continua a existir. Há bebés que nascem, saudáveis, no meio de um mundo virado de pernas para o ar. Alheios a tudo, mostram-nos a única coisa que importa:
É da esperança que nasce tudo.
Marta Arrais
In: imissio.net 15.04.2020
25 de março de 2020 – Festa da Anunciação:“E o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós”.
Hoje, assisti pela TV Vatican News, papa Francisco presidindo a Celebração Eucarística. Que grande graça celebrar com o pastor maior de nossa Igreja. A TV colocou a capelinha singela da Casa de Santa Marta, dentro de nossa casa. E ali, pude ver de perto o olhar, as mãos, os gestos de nosso Papa.
Quanta unção! Quanta espiritualidade emana do Santo Padre! Verdadeiro homem de Deus!A serenidade é sua marca. Harmoniozamente, sua oração emana de seu corpo, sua mente, alma e sentidos todos.
Chamou-me ainda a atenção quando Francisco proclamou o Santo Evangelho. Com tranquilidade as Palavras de Lucas foram derramadas para dentro de nossa sala. Diante do “livro santo” Francisco comunga da Palavra. A comunhão/Palavra de Salvação tocam seu olhar e coração de maneira corporalmente visível.
Silêncio profundo...olhos fechados mas abertos ao Mistério de Deus.
Pensei: Que delícia! Vou ouvir sua homilia. Diante da TV, a conversa do papa será comigo, sozinha em minha sala.
Ele começa: “Lucas viveu com Maria, portanto ninguém melhor que ele para contar sua história. Narrar esse instante da visita do Anjo Gabriel à Virgem Maria. É este o Mistério de um Deus que veio nos visitar. Encarnou-se e fez morada entre nós.
Novo silêncio.... Francisco silencia com os sentidos. Reza, reverenciando o Mistério. Diante dEle nenhuma palavra a proferir...diante dEle a adoração!
A mais linda homilia que vivi!
O que aprender dessa experiência, querido catequista? Fico pensando na poesia de Clarice Lispector que diz: “Ouve-me, ouve meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso”. Francisco ensina-nos, que diante do Mistério o silêncio diz o que não conseguimos expressar com palavras. É necessário captar a beleza nele está escondida. O Mistério se mistura na vida. Experiência concreta é captar o sentido que o Mistério tem em nossa existência.
Fazer catequese é também, querido catequista, descobrir um jeito novo de viver as situações corriqueiras, tornando-as plenas do Mistério de Deus! Como viver assim? Lembrar sempre que Deus amou-nos primeiro. E isso, o papa nos ensinou ao dizer-nos que devemos “Primeirar” com os nossos sentidos, procurando olhar a fé com o coração, escutar bem de perto tudo que foi criado, saborear a doçura de ser humano, sentir com a pele tatuada de bons desejos, sentir o cheiro da infância, adolescência, juventude e adultez de nossos catequizandos. Sentir o cheiro de Jesus! E qual é o cheiro de Jesus?
A vida que Jesus viveu tem cheiros que impregnam as memórias do coração! As histórias parabólicas que contou, tiradas da vida cotidiana de sua cultura rural; as andanças por tantos caminhos que caminhou, e as palavras que proclamou; as curas que realizou nos encontros tão plenos de amor e misericórdia. Jesus recuperou-nos e levou-nos ao Pai.
Certamente é este o grande segredo, querido catequista, partilhar experiências que vivemos no dia a dia, em sintonia com o estilo de amor delicado e forte vivido por Jesus. Jesus, o maior catequista, comunicava-se com os discípulos e com todos que o seguiam, através de recursos que trazia dentro de Si. Era pela palavra, pelo silêncio, pelas metáforas, pela imagem e tantos outros sinais que anunciava o Reino e fazia discípulos.
Aprender de Jesus a sua pedagogia, é nossa missão e o jeito de fazer catequese. E em tempo tão adverso de pandemia, Francisco vem nos ensinar a simplicidade de anunciar Jesus. Não podemos realizar os encontros com nossos catequizandos em nossas comunidades. Estamos vivendo a quarentena tão necessária à vida. Então, vamos nos reinventar, fazendo uso da linguagem midiática e da sintonia com aqueles que estão sob nossos cuidados, para que cresçam na fé, esperança e amor.
Rita de Cássia Rezende
Pouso Alegre-MG - 25.03.2020
Por que Ir. Mary veio?
“Porventura o mais fecundo a perguntar, quando nossos amigos morrem, não é: ‘Por que é que eles partiram?’. O que levaremos o resto da vida para responder, sempre em total gratidão, é antes: ‘Por que é que eles vieram?’” (José Tolentino).
Hoje, alguém afirmou; “Ir. Mary foi uma estrela que indicou o caminho para tanta gente”. Pensei: foi para isto mesmo que ela veio!
Do que sei, sua família lhe deu bases humanas e cristãs luminosas: refinada educação, nobreza de caráter, amor à arte, espírito de liderança, determinação, criatividade e um coração de sensibilidade infinita.
A Congregação Religiosa das Missionárias de Jesus Crucificado, cujo carisma é ser presença no meio do povo, na prática da mansidão com doçura e firmeza, intensificou em Mary tal luminosidade. Aproveitou seus talentos, confiou-lhe cargos de responsabilidade e destinou-a à diocese de Osasco. Ali ela brilhou na pastoral e, intensamente, por muitos anos, irradiou luz e apontou caminhos para a catequese de todo o Brasil e além, com inúmeros livros, subsídios e assessorias, sempre preocupada em aliar qualidade e simplicidade.
Se é verdade que “os amigos nos tornam herdeiros”, nós da equipe ECOando somos donos de um tesouro. Partilhamos com os catequistas do Norte ao Sul do Brasil de um legado comum e ainda temos o privilégio de dar continuidade à pupila dos olhos da Mary, a Revista ECOando.
Em 1998, não titubeou em aceitar o convite da Editora Paulus para coordenar um projeto de formação interativa com catequistas - folhetos simples, populares – batizado de ECOando. Mesmo de natureza autônoma e independente, Mary não procurava brilhar sozinha, sabia envolver muitas pessoas na sua ação. Assim, ela nos tornou herdeiras(os).
Vou levar o resto da vida para responder por que Ir. Mary Donzellini veio, tamanha é minha dívida e gratidão para com esta querida amiga, que agora celebra e goza do mistério que sempre, ao longo da vida, fez ecoar com sua vida e ação.
Tenho certeza de que isto acontecerá com muitos e muitas a quem ela “viu, sentiu compaixão e cuidou” com suas atenções, interesse e carinho e contagiou com o vírus do amor e da misericórdia.
Mary, como estrela amiga, desaparecendo aos nossos olhos e se encontrando com a Luz infinita de Deus, interceda por nós e nos fortaleça neste bonito caminho da catequese. Se na sua luz nós pudemos ver a LUZ, continue a nos iluminar, proteger e a nos conduzir à bondade de Deus, porque a luz da sua estrela não está se interrompendo, mas adquirindo pleno brilho.
Com carinho,
Marlene Maria Silva e Equipe ECOando
24 de março de 2020
Catequese não é só um discurso para instruir os que ouvem, é um contato pessoal onde catequista e catequizandos partilham experiências e vão crescendo juntos. É claro que, para ser catequista, a pessoa tem que estar bem preparada, comprometida com Jesus, familiarizada com as Escrituras, a liturgia, a vida da Igreja e as necessidades da humanidade que Deus ama como bom Pai. Nunca se pode dizer que alguém já completou sua formação de catequista, da mesma forma que não se pode admitir que uma pessoa já tem tanta experiência de vida que nem precisa aprender mais nada.
Há muitas formas de aprender que trazem consequências para a nossa catequese. Temos que estudar a Bíblia, conhecer as orientações da Igreja, crescer na oração, desenvolver uma espiritualidade cada vez mais profunda, ligando Deus e a vida. Isso não é só uma obrigação que nos leva a ser catequistas melhores. Aprender, em todas as áreas construtivas, capazes de nos tornar melhores, é uma das aventuras mais emocionantes da vida. Ninguém precisa nos recompensar por isso porque, mesmo antes de comunicar o que aprendemos, já estamos ganhando. Acontece aí algo mais ou menos parecido com o que os judeus costumam dizer sobre a familiaridade com a Lei do Antigo Testamento (que chamam de Torah): A maior recompensa por cumprir a Torah é cumprir a Torah.
Mas não aprendemos só estudando, lendo, meditando, orando, procurando os que são considerados “mais instruídos”. Podemos aprender também bastante conhecendo e ouvindo nossos catequizandos e outras pessoas a quem estamos ensinando algo. Pessoas bem simples podem ter uma visão de vida capaz de nos esclarecer e, se soubermos ouvi-las, podemos aprender e até corrigir nosso modo de ensinar. Quando penso nisso, lembro logo duas situações vividas ao longo do meu trabalho catequético.
Uma aconteceu bem no começo. Eu falava dos dias da criação com muito sensacionalismo. Mandava a criançada fechar os olhos e abri-los quando eu lia a frase: Faça-se a luz. Falava da criação da vida como se vegetais e animais tivessem brotado do nada, só a partir da voz de Deus. Um dia, um garotinho de 8 anos me disse, com uma carinha desanimada: Que pena que Deus não faz mais essas coisas... Então me contou que tinha plantado e regado no quintal um caroço de abacate porque gostava da fruta e queria comer mais. A mãe lhe disse que não adiantava fazer isso porque a árvore levaria anos para crescer e ele não estaria mais ali quando os abacates surgissem. Então ele concluiu: Se fossem abacates feitos por Deus, do jeito que você ensina, eu já estaria comendo eles hoje... Percebi, então, que o meu jeito de falar de falar da criação estava apresentando Deus “ausente” do mundo cotidiano natural. A partir desse dia, falei da criação de modo diferente. Passei a levar as crianças para ver a natureza “normal” e juntos agradecíamos a Deus pelo mundo maravilhoso que Ele nos deu. Percebi também que, muitas vezes, nos livros que tratam da “Bíblia para crianças” , havia interpretações bíblicas que atrapalhavam mais do que ajudavam porque apresentavam tudo ao pé da letra e iriam ser rejeitadas quando as crianças crescessem.
Outro episódio marcante aconteceu bem mais tarde, quando eu trabalhava com adultos de muito pouca escolaridade numa comunidade pobre. Eu estava estudando com eles um documento da CNBB e, como não conheciam bem o que era isso, eu apresentava cada declaração do texto iniciando assim a frase: A Igreja do Brasil disse... Então um senhor me perguntou: Ó dona, eu moro no Fumal, que fica em Luziânia, que fica em Goiás, que fica no Brasil... Então, que Igreja do Brasil é essa que não é eu? Parei, pensei no que ele estava me ensinando, pedi desculpas pelo meu modo de falar, expliquei que o documento fora escrito pelos bispos para toda a Igreja do Brasil, na qual, é claro, eles todos estavam incluídos. Depois disso, cada vez que precisava explicar alguma coisa, em qualquer comunidade, passei a ouvir primeiro como as pessoas se sentiam diante de assunto a ser tratado e a indagar como entendiam o que eu estava dizendo. E compreendi que também tinha muito a aprender com a experiência de vida de cada pessoa a quem eu me dirigia.
Percebendo essa possibilidade de aprender e ensinar , vivida com todos que estão ao nosso redor, vamos enriquecer nossa experiência de vida e nossos relacionamentos. Um catequizando que se sente ouvido e valorizado vai participar da catequese com muito mais entusiasmo, alegria e vontade de crescer. E nós também vamos crescer junto com ele entendo melhor a vida a cada dia e agradecendo a Deus pelas pessoas que têm algo a partilhar conosco. Catequese é um serviço de mão dupla: falamos e ouvimos, damos e recebemos, ensinamos e aprendemos, acolhemos e somos acolhidos, ajudamos e somos ajudados, conhecemos e nos damos a conhecer, oferecemos e recebemos bons exemplos. Louvado seja Deus que nos chamou a uma missão tão gratificante!...
Therezinha Motta Lima da Cruz
foi assessora nacional de catequese e é autora de vários livros de catequese e ensino religioso
Catequista não é simplesmente alguém que tem uma função na Igreja, é uma identidade que marca a personalidade de quem nisso se envolve. Não é apenas algo que fazemos, é uma característica da pessoa que somos. Por isso, tem a ver com todos os momentos da nossa caminhada e não apenas com aqueles horários em que estamos “fazendo catequese”. Vai ser catequista quem se apaixona pela dimensão de ensinar e aprender dentro da experiência do encontro permanente com Jesus e da alegre sensação de ser Igreja. Com essa característica começamos a nos preparar para ser a imagem e a voz da Igreja. Jesus se apresentou como o Caminho, a Verdade e a Vida. Mergulhados nele vamos mostrar esse Caminho, comunicar essa Verdade, para que nós e os outros nos sintamos a serviço da Vida que realmente Deus quer para nós.
Isso, é claro, exige uma permanente preparação, não só em termos de conhecimento, mas também de experiência de vida e participação na Igreja. Pensando assim, podemos lembrar uma cena bem comunicativa, que encontramos em Atos dos Apóstolos 8,26-40: o encontro de Filipe com o eunuco etíope que queria entender a Palavra de Deus exposta num texto do livro de Isaías. O etíope tinha peregrinado até Jerusalém e vinha sentado no seu carro lendo a Escritura. Filipe, impulsionado pelo Espírito, vai até ele e pergunta: Compreendes o que estás lendo? O outro responde também com uma pergunta: Como poderia se ninguém me orienta? E aí Filipe sobe no carro e vai ajudando o etíope a entender que em Jesus se realizava o que ali se anunciou, a ponto de deixá-lo decidido a ser cristão e querendo ser batizado com firmeza de convicção. Filipe conseguiu fazer isso porque vivia intensamente a experiência de ter colocado Jesus em sua vida, de ser orientado pelo Espírito Santo e de fazer parte do início do que hoje chamamos Igreja.
Hoje temos muitas pessoas que ouvem falar de certas partes da Palavra de Deus, ou de práticas religiosas mas não entendem de fato o que isso significa porque “ninguém os orienta”. Filipe conseguiu orientar o etíope, fez com que ele mudasse de vida. Mas só deu conta dessa tarefa porque estava bem preparado: conhecia a Escritura, vivia a experiência de ter Jesus em sua vida e se via como parte do cristianismo nascente.
Catequista é alguém com capacidade de apresentar Jesus, não só como um conhecimento teórico e histórico, mas como algo que vai fazer diferença na vida das pessoas, porque já fez diferença na sua. Para isso, é claro, tem que conhecer a história e os ensinamentos de Jesus. Mas isso não basta porque ser cristão não é só saber o que é a tal “história da salvação” centrada em Jesus. O saber se torna parte da formação de quem é catequista quando interfere em suas escolhas, faz parte da sua vida e constrói na pessoa uma verdadeira identidade moldada pelo seguimento de Jesus.
Jesus deu aos discípulos a missão de levar adiante a Boa Nova que ele anunciou e viveu. Fez deles seus representantes no meio de tantos povos que não o tinham conhecido pessoalmente mas que agora podiam colocá-lo como fonte de suas vidas e levar adiante o que ele veio trazer. Era a Igreja nascendo. E foi a Igreja que espalhou no mundo a mensagem e a presença de Jesus. Hoje ser catequista exige o empenho de ser Igreja. Isso não é só estar no templo, participar de celebrações, ter alguma tarefa pastoral. É se perceber como sinal vivo dessa grande comunidade encarregada de comunicar Jesus.
E agora, tantos séculos depois, temos situações diferentes que precisam ser iluminadas com a mensagem do Evangelho, temos pessoas que precisam descobrir na vida de Jesus o amor inesgotável de Deus, que veio viver e sofrer por nós e quer ver todos os seus filhos vivendo bem numa grande família solidária.
Comunicar e estimular isso é a missão da Igreja e, consequentemente, da catequese. Quem é catequista fala em nome da Igreja. E aí alguns poderiam fazer uma pergunta no estilo daquela que o etíope fez a Filipe: Como vou falar em nome da Igreja se nem sei o que ela quer que eu diga? Conhecer a Bíblia é fundamental, mas até ai temos que ouvir o que a Igreja diz porque esse livro não é assim tão fácil de entender e a Igreja nos dá muitas orientações para uma leitura adequada da Escritura. Mas será que conhecemos essas orientações? Que tal procurar sempre conhecer os documentos da Igreja que falam sobre isso?
Se vamos falar em nome da Igreja temos que saber também o que ela diz sobre sua própria missão (e, é claro, sobre a catequese), como é o rosto que ela quer ter. Seria grave dizer em nome da Igreja o contrário que do que ela está querendo ver anunciado. Somos a voz e o rosto da Igreja . Então temos que saber o que ela ensina sobre o mundo, sobre o diálogo inter-religioso e ecumênico, sobre a liturgia, sobre a leitura bíblica, sobre a missão, sobre a justiça social, sobre nosso papel de catequistas... e muito mais. São muitos os documentos da Igreja? É verdade. Mas à medida que os conhecemos vamos alicerçando nossa identidade de catequistas e exercendo nosso ministério com mais firmeza e fidelidade.
Como anda sua intimidade com os documentos da Igreja? O documento 107 da CNBB, sobre Iniciação á Vida Cristã, traz boas reflexões e orientações para a catequese. As cartas do papa também são importantes, como a Gaudete et Exsultate, bem recente. Outro documnto fundamentl é A interpretação da Bíblia na Igreja. Se você ainda não leu esses e outros testemunhos da voz da Igreja, que tal começar? O etíope disse que precisava de orientação... E nós? Com certeza vale a pena...
Therezinha Motta Lima da Cruz
Catequéta, autora de vários livros de catequese e ensino religioso.
02.03.2020
MINHA CATEQUISTA
Fabrício Carpinejar (18/12/2009)
Intelectual traz o ateísmo como pré-requisito. Confiar em Deus é sinônimo de ingenuidade, de burrice, de falta de conhecimento histórico.
Parece que estamos sendo enganados, no fundo do poço e nos agarramos no desespero da reza. Entre os amigos incrédulos, é previsível que pintará Darwin na discussão para mostrar que a Bíblia não aconteceu. Concordo que a Bíblia não aconteceu, é uma parábola, ela está acontecendo sempre. Agora, por exemplo.
Eu acredito em Deus, posso perder os leitores antes do sermão. ACREDITO. Porque tive uma catequista, Ester, que acreditou em mim.
Só acredita em Deus quem um dia foi acreditado.
Ester não me obrigou a colocar agulha no coração de Jesus, a purgar confissões de joelhos, não dobrou a culpa pelos meus pecados, não retorquiu minhas distrações, não censurou minha liberdade de ação, não me pediu para não morder a hóstia, nem me coibiu a não pensar bobagens. Ela me aceitou inteiramente, como sou e não sou. Ela me convenceu com uma única virtude (e tinha várias): o senso de humor.
Nunca conheci alguém com tamanha gentileza. Ela falava baixinho e sorria para explicar passagens dos evangelhos. Eu me aproximava para ouvi-la melhor. Ouvir mais o riso do que a voz. Seus olhos se apequenavam, chineses, cordiais, antecipando a gola branca da primeira comunhão.
Não era inquisidora. Não abria inquéritos dos defeitos. Havia uma leveza que não existe no moralista.
Eis o grande problema do moralista: ele não ri. Repare. É azedo, carrancudo, quer nos passar a limpo, não se duvida em nenhum momento, age como um exterminador dos erros, um desfragmentador de disco. Quem não ri não inspira confiança, sugere uma vida mesquinha e ingrata, com as escolhas decididas pelo medo.
E Ester é feliz. Feliz com os filhos e netos. Feliz com as suas amizades. Feliz à toa como um grão de mostarda tingindo o bico de um pássaro. E não disputava para ser mais certa do que uma criança de sete anos. Não me inferiorizava com sua sabedoria e suas metáforas, ela me incluía em sua fé.
Preservo a inocência auditiva daquela época, não duvido do invisível da infância.
No momento em que uma criança diz enxergar fantasmas, duendes, gnomos e amigos imaginários, os pais têm o hábito de duvidar da veracidade, caçar ajuda médica, recorrer à assistência escolar, não dormir jurando que é um problema de personalidade. Além de alegar que essas coisas não existem, questionam o valor da própria imaginação.
O ceticismo adulto desestimula que o pequeno supere as aparências, que enriqueça o cotidiano com mistérios e poesia. Bloqueia a fantasia logo no esplendor de sua espontaneidade, como a provar que somente importa o que é real e o que pode ser comprado.
Evidente que o filho não vai acreditar em Deus, o grave é que não vai acreditar em si.
Fabrício Carpinejar é poeta e escritor.
(nota: este artigo foi publicado em 2009, mas diante do novo texto do Fabrício Carpinejar sobre o falecimento da sua catequista, resolvemos postar aqui também este texto).
ESTER JOSEFA LIBERALI MAGAJEWSKI
Fabrício Carpinejar
Minha catequista morreu, aos 96 anos, em Porto Alegre (RS). Poderia dizer que ela estará com Deus. Mas não seria uma verdade: ela sempre esteve com Deus.
Numa época em que as famílias já não fazem questão de colocar as suas crianças no catecismo e partilhar dos sacramentos da Igreja, eu posso garantir que não seria quem eu sou se não tivesse conhecido Ester.
Tinha sete anos, problemas sérios de dicção, dificuldades de aprendizado, botas ortopédicas com ferro nas pontas, de repente essa senhora mansa e gentil apareceu em minha vida, na igreja São Sebastião, como um anjo de vestido escuro, e entendia tudo o que eu queria dizer. Não precisava repetir nada. Não me sentia estranho, gago, falho em sua presença. Eu fluía, eu existia plenamente. Foi a primeira vez que eu me vi capaz. Capaz de ser eu mesmo.
Ela não pretendia curar a minha tristeza, mas demonstrou o único antídoto que existe para ela: dar companhia. Não me deixou sozinho sofrendo. Nunca mais fui sozinho no sofrimento.
Sua voz envolveu o meu coração, como uma almofada, protegendo-me do bullying. Eu não me desesperava mais, pois ela me explicava a emoção. Emoção explicada para de doer.
Ainda a escuto me esclarecendo que quem parece mais fraco, no fundo, é mais forte, porque não se esconde da sensibilidade. Só chora quem tem coragem de também falar pelos olhos.
Sabe aquelas pessoas que surgem quando a sua confiança está por um fio, um fio solto, e não puxam o tecido para fora, esgarçando ainda mais o conjunto da personalidade, mas o guardam para dentro da roupa? Era ela: Ester Josefa Liberali Magajewski.
Era ela, uma Bíblia andando pelo bairro Petrópolis. Um livro de capa dura com papel de seda por dentro. Firme e forte na aparência, e uma doçura no interior, leve e sorridente na hora de folhear com a ponta dos dedos.
Seu abraço tinha o poder curativo de uma benção. Quando pequeno, eu abraçava o seu ventre. Renascia em seu colo de camomila.
Usava brincos para lembrar de ouvir antes de julgar. Mantinha algum peso nas orelhas de propósito.
Ela entra nesta terça (11/2/2020) na árvore de um caixão, para encher de pássaros o cemitério João XXIII. Todos que a amaram são pássaros (filhos, netos, alunos). Dorme agora ao lado de seu marido Casemiro. De mãos dadas com a sabedoria.
Publicado no jornal Zero Hora, GaúchaZH, 11/02/2020
Fabrício Carpinejar é poeta e escritor.
A fé não me dá certezas. Desde que me lembro acho que nunca me deu nada. Pediu-me sempre que descobrisse e que me deixasse descobrir. Apontou, mas nunca finalizou. Esta sempre foi uma das suas artes: despontar, enamorar e depois deixar que o caminho nos vá revelando que nunca teremos tudo revelado.
A fé não me dá certezas. No máximo vai-me deixando confiar. Dá-me a conhecer que a espera é caminho continuado e confiado numa medida desmedida. Faz-me perceber que não se avança com respostas, mas com perguntas. Permite-me sair de mim. Ir ao encontro e muitas vezes proporcionando desencontros para que me volte a reencontrar e a dirigir, uma e outra vez, ao mesmo destino.
A fé não me dá certezas. Dá-me caminhos novos todos dias. Retira-me a segurança e atira-me ao risco para que arrisque tudo o que tenho. A fé dá-me tudo não possuindo nada e mostra-me que só vejo, verdadeiramente, quando me deixo ser visto sem máscaras, nem medos.
A fé não me dá certezas. Dá-me ruas sem saída e em troca oferece-me um céu sem limite. Leva-me a questionamentos sem fim e mergulha-me no silêncio das minhas noites. Pede-me que entregue a minha vida à loucura do amor. Dando-me mais. Alargando-me por completo e deixando que tudo o que sou e faço seja uma verdadeira oração.
A fé não me dá certezas. Coloca-me no desconforto. Não me permite que deixe de viver. Pede-me sempre mais num descontentamento que me leva a um total comprometimento.
A fé não me dá certezas, mas ofereceu-me o melhor das minhas incertezas: saber que Ele sempre será a minha firmeza!
Emanuel António Dias
In: imissio.net
Passei-lhes ao lado, cuidadosamente, para não me sujar...
Mais abaixo, um homem lá soprava, com a máquina, as folhas que se amontoavam no meio do passeio para alguém de seguida as recolher.
Passei-lhes ao lado, cuidadosamente, para não me sujar...
E pus-me a pensar que também nós, quantas vezes ficamos amontoados em problemas ou chatices que parecem não ter resolução.
Passei-lhes ao lado, cuidadosamente, para não me sujar...
Quem sabe nos falta apenas a coragem de olhar de frente e saber limpar as nossas avenidas e ruas interiores, sem soprar as folhas e deixá-las amontoadas, mas arrumá-las no lugar que lhes pertence.
Não passemos ao lado dos pedaços de vida que nos compete arrumar, bem arrumados.
E assim as nossas avenidas e ruas interiores estarão mais limpas e abertas para que outras vidas passem por nós, mas não passem ao lado.
Cristina Duarte
In: imissio.net 31.10.2019
Não me proponho aqui discutir o dogma da infalibilidade papal, proclamado em 1870 pelo Concílio Vaticano I, nem tampouco avaliar os 264 papas que sucederam ao apóstolo Pedro, escolhido pelo próprio Cristo como primus inter pares, isto é, o primeiro entre os discípulos, com a missão de conduzir a sua Igreja e confirmar na fé os irmãos que, doravante, se uniriam aos demais (cf. Lc 22,32). Lugar de juiz pertence a Deus! No entanto, não é difícil perceber, mesmo numa releitura rápida da história da Igreja que, não obstante a Igreja seja assistida pelo Espírito Santo e nenhum mal possa contra ela (cf. Mt 16,18), o lado humano de seus líderes (e de todo o povo!), vez ou outra, coloca obstáculos à ação de Deus.
Conviver com a vulnerabilidade dos papas sempre foi um desafio para os cristãos e o mundo, o que não significa que não possam ser infalíveis quando se pronunciam ex cathedra ou em comunhão com os demais bispos a respeito da fé e da moral cristã católica (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 891). Faz parte da humildade de um chefe supremo da Igreja reconhecer seus limites e saber que precisa do discernimento do Alto até mais que do que os fiéis, pela grandeza de suas incumbências. É como disse o papa emérito Bento XVI, em julho de 2005, por ocasião do lançamento de seu livro Jesus de Nazaré: “O papa não é um oráculo, é [somente] infalível em situações raríssimas”. Ou mesmo nosso querido papa Francisco, quando um jornalista o questionou o porquê de ele falar muito sobre os pobres, mas relativamente pouco sobre a classe média: “Você está certo. É um erro meu não pensar nisso”, e “você está me falando sobre algo que preciso fazer. Preciso ir mais fundo nisso”. Não é à toa que ele sempre pede ao povo que reze por ele!
O que desejo, no entanto, é chamar a atenção para outro aspecto, talvez mais relevante que os debates sobre privilégios papais: a importância de caminharmos como Igreja e com a Igreja, o que inclui estar com nossos papas. A Igreja, antes de ser uma instituição humana, é um mistério de fé. Nascida do lado aberto do divino Esposo pendente na cruz (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 766), ela permanece no mundo até a sua vinda definitiva como sinal e instrumento a serviço da salvação da humanidade. “Creio a Igreja santa”: é a maneira que o Símbolo dos Apóstolos encontrou para dizer que, mais do que nas obras da instituição, cremos no mistério da Igreja como dom do Alto e assistida pelo Espírito (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 750). Essa Igreja não se reduz à sua hierarquia, mas é a comunidade dos iniciados na fé cristã, Povo de Deus chamado a testemunhar os valores do Evangelho e conduzido por aqueles pastores colocados à sua frente pelo próprio Jesus, o Pastor dos pastores.
A caminhada do Povo de Deus nunca foi feita sem sobressaltos. E mais uma vez recorremos à história para recordar o quanto já titubeamos nessa trajetória bimilenar. Assim será até o fim, pois o caminho ainda não é o horizonte nem o mar ainda é o ancoradouro. O Reino definitivo inaugurado pelo Senhor supera em muito a própria Igreja, mas conta com ela para sua chegada a cada coração humano e ao cerne de cada cultura e sociedade, para que ali comece, no passageiro, o que se anuncia como definitivo para além da história. Querer uma Igreja perfeita é perder a noção de que ela é ponte e não porto!
Nesta nossa trajetória, quis o Senhor que tivéssemos à nossa frente as figuras dos papas como sinais a apontar a direção e garantia da unidade do povo em marcha. Como uma só família irmanada no amor do Cristo, um pai (papa) nos é dado como testemunha de fé e memória do Evangelho. Suas palavras e ensinamentos – e, sobretudo, o seu modo de vida! – sempre atentos às demandas de cada época, são para nós indicações preciosas de como viver, no hoje da vida, a Palavra divina que dá a vida e liberta todo ser humano. Estar com os papas, portanto, é estar com a própria Igreja de Jesus Cristo, na tentativa de fidelidade ao seu projeto. É ter diante de nós a autoridade legitimamente constituída, querida por Jesus, a quem devotamos o obséquio do nosso respeito e a sinceridade de nosso amor.
O papa Francisco é o autêntico sucessor de Pedro, como o foram os outros papas. Seu agir, profundamente enraizado nos Evangelhos é, para nós, memória do agir de Jesus Cristo e apelo contínuo à conversão. Seu olhar misericordioso e atento às dores das minorias e aos clamores dos mais pobres e sofredores é a resposta de Deus a uma humanidade marcada pela dor e pela carência de afetos que curam. Suas palavras simples e profundas chegam muito depressa aos corações daqueles aos quais ninguém quer dirigir a voz. Mas seu profetismo também ecoa em nossas consciências adormecidas e mal acostumadas à indiferença pelo ser humano e pela casa comum da criação. Sua denúncia da idolatria – a mesma feita por Jesus – incomoda a todos nós, especialmente àqueles que há muito se renderam ao capital e a seu séquito de ídolos que ferem a dignidade humana. Por isso, ele é perseguido, do mesmo modo que Jesus o foi até à morte escandalosa na cruz, punição definitiva aos rebeldes e agitadores sociais.
Infelizmente, até mesmo católicos acusam-no de “esquerdista”, “comunista”, “progressista” e tantos outros chavões descontextualizados e vorazmente repetidos, os quais, no fundo, encobrem a única e mesma verdade: a vergonha que seus opositores sentem por não darem conta de amar como ele ama, isto é, de amar como Jesus amou! O escândalo que Francisco provoca não é primeiramente contra a ortodoxia (correta doutrina) da Igreja, mas por apresentar uma ortopráxis (correta ação) profundamente evangélica, coisa há muito esquecida pelos que querem defender a “cátedra de Moisés” contra a insurreição do amor que clama que “o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado” (Mc 2,27). Então ele é um santo? Certamente está a caminho, como deveríamos também estar! Ele não erra? Igualmente a seus predecessores e a todos nós, tem suas falhas, das quais não se abstém de reconhecer e de se retratar.
No entanto, Francisco é nosso papa! Gostando ou não gostando do seu estilo, devemos-lhe respeito e amor filial. Ele não tem errado. Mas, se ele errar, erraremos com ele; isso sempre fez parte da história da nossa Igreja, santa e pecadora. E o Espírito sempre mostrou o caminho da restauração! São João Paulo II ou Bento XVI nunca erraram? Obviamente que sim! E estávamos com eles, compreendendo que a fé exige também caminhar na penumbra muitas vezes, como devemos estar com o papa Francisco. Ou será que a nossa presunção de sabermos mais do que o papa (e de quase cem por cento dos bispos católicos do mundo que estão com ele) nos levará à vaidade de nos acharmos os donos da verdade? Afinal, acreditamos ou não que a Igreja é conduzida pelo Espírito Santo, que “sopra onde quer” (Jo 3,8)?
Pe. Vanildo de Paiva
Mestre em Psicologia, especialista em Catequese e Liturgia e professor da Especialização em Catequética da PUC-MG
15.10.2019
Imagem: site do Vaticano
Passamos a vida (e o tempo) à espera. À espera que a sorte mude. À espera que o vento não seja tão frio. À espera que nos devolvam a chamada. À espera que se lembrem que existimos. À espera que nos atendam num balcão, numa fila, numa loja. À espera do amor-para-sempre. À espera da oportunidade que nos mude a vida. À espera do momento certo para começar a fazer tudo como deve ser. À espera que nos peçam desculpas. À espera que nos perdoem. À espera do Verão. Dos dias de sol e do calor a tostar a pele. À espera que a maré desça para não perdermos o pé. À espera que o país fique melhor. À espera que se acabem os dias tristes. À espera que se acabem as dívidas (as financeiras e as outras). À espera que nos apreciem, apenas, por aquilo que somos e não por aquilo que podemos oferecer. À espera no trânsito que não anda. À espera do verde que não cai. À espera da felicidade que os romances mais bonitos nos prometeram. À espera do jantar, no restaurante. À espera que o arroz fique no ponto. À espera que se acabe a fome nos lugares mais sujos e mais recônditos do mundo. À espera. De tudo. De todos. De tanto.
No entanto, enquanto esperamos, podemos aprender lições valiosas: a lição (duríssima) da paciência. A lição da humildade de quem sabe estar no seu lugar e esperar pela sua vez. A lição de deixar acontecer cada coisa na janela do seu tempo. A lição de valorizar o futuro que espreita de mansinho e que não se impõe.
Precisamos muito de aprender a esperar melhor. Com mais alegria. Com mais paciência. Com mais coragem. Ninguém gosta de esperar. É sempre tarde para quem está à espera. E é sempre difícil deixar que o tempo passe sem nos aborrecermos com ele. E com a sua velocidade-tartaruga.
Aprende a esperar, mas aprende, também, o momento certo para deixar de o fazer. Quem decide esperar para sempre deixa de estar à espera e passa a ser refém de uma promessa que pode não se cumprir.
Aprende a esperar. Aprende a esquecer. Aprende a colocar ponto final e a fazer parágrafo.
Estás à espera de quê?
Marta Arrais
In: imissio.net 9.10.2019
Missão não é fácil, não é simples. Missão não se trata de ser forte, trata-se de ser capaz de sermos frágeis. Trata-se de sermos capazes de sermos frágeis e vulneráveis. Trata-se de assumirmos as nossas dores, cicatrizes e defeitos. Trata-se da nossa capacidade de vestirmos, com coragem e com todo o nosso coração, a nossa vulnerabilidade. Mesmo com medo e com insegurança. Mesmo achando que não somos perfeitos e que nunca vamos chegar, que nunca vamos conseguir. Mesmo que todos os outros pensem que vamos desistir, que não vamos aguentar.
Ser missionário é ser inteiro é ser errante e imperfeito. É ser insuficiente para nós e talvez até para os outro mas nunca para Deus. É ser de menos para o mundo mas não para Deus. É ser imperfeito para o mundo mas não para Deus. É reconhecer que Deus precisa de mim na minha imperfeição, vulnerabilidade e fragilidade, que Deus precisa de mim tal e como sou. Deus precisa de mim como humana frágil capaz de tocar a fragilidade, a dor, e o sofrimento do mundo. Deus precisa de mim, de ti e de nós sem medo de arregaçar as mangas e amar sem medida. Deus precisa de nós capazes de amar cada pessoa tal e como é. Precisa que sejamos capazes de nos vermos como humanos e irmãos na dor e no sofrimento. Precisa de nós capazes de reconhecer que o nosso Deus é um Deus ferido. Precisa que nos lembremos sempre de ver na pobreza, nas feridas, nos erros e nas imperfeições caminhos para o amor e para a misericórdia.
Talvez tal como nos diz Jana Stanfield não possamos fazer todo o bem que o mundo precisa mas o mundo precisa de todo o bem que possamos fazer sabendo que cada pedacinho do bem que semeamos faz a diferença na minha, tua e nossa vida. Sabemos que somos nós quem nos salva a nós próprios e aos outros. Sabendo que o destino do mundo, do amor e do bem está nas nossa mãos e na nossa capacidade de nos amarmos uns aos outros. O mundo precisa de seres humanos missionários capazes de amar o mundo tal e como é. O mundo precisa de pessoas capazes de amar cada pessoa na sua vulnerabilidade tal e como é.
Paula Ascenção
In: imissio.net 23.09.2019
O mais certo é cada um e cada uma de nós acordar de manhã e entrar na rotina dos dias, sem muito tempo para pensar como vai e como pode acontecer a nossa vida.
Porém, muitas vezes somos surpreendidos e a vida é moldada por medos que entram dentro de nós sem pedir licença e sem data certa para se retirarem. Alguns, são reflexo do mundo em que vivemos e face a situações semelhantes pensamos que o mesmo nos pode acontecer e aí nasce o medo. Outros, são criações da nossa cabeça, em pensamentos que custam disciplinar. Muitas vezes já nem é das situações reais ou imaginadas por nós que nos escondemos. Escondemo-nos do próprio medo.
A verdade é que o medo pode tolher-nos a vida, desde os reais aos irreais, preenchendo – e muito – o tempo da nossa cabeça e fazendo-nos acreditar que a vida acontecerá de determinada forma, quando, muitas vezes, o seu alinhamento vai noutro sem que queiramos e consigamos ver, mas que no entanto é o mais positivo.
É aqui que entra a fé, essa senhora madura e que nos traz a serenidade necessária para podermos conviver com todos os acontecimento, previstos e não previstos, e tratar com cuidado e sabedoria os rasgões deixados pelos traumas criados pelo medo.
A vida não é isenta de tempestades, mas ainda assim, nestas precisamos de navegar com a firme certeza de que Alguém nos conduz e quer o melhor – só o melhor – para nós. Quanto tempo falta para a tempestade acalmar ou terminar? Não sabemos. Em períodos da vida, muitas vezes umas sucedem-se a outras sem que haja grandes tempos de grande bonança. Ainda assim, é a fé que nos move a remar com confiança e a saber que chegaremos a bom porto. É que esse Alguém que pensamos que nos espera do outro lado da tempestade, já rema connosco. E é a fé o que nos ajuda a colocar todos os acontecimentos em perspectiva.
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