Na penumbra da noite, olhos carregados de nuvens, encontro oculto um convite a descobrir o sentido da chuva em mim. O piano toca baixinho a melodia dedilhada nas batidas do coração. Raios cortam o céu, fazem um espetáculo acontecer. Tomada pelo assombro diante do espetáculo da vida sinto essa sensação quase esquecida... Gravo na retina a imagem do céu, que cai sobre minha face no meio da escuridão. Soberana a natureza manifesta sua grandeza. Recorda-me a pequenez e a fragilidade da vida humana e ainda assim, a vida humana encarnada por Deus...
Durmo no embalo dessa torrente de águas que envolve meus sonhos. Aconchegada a cobertas e travesseiros entrego-me. O inconsciente, esse mundo desconhecido, então se abre à graça. Não sei, mas sinto: é aí que acontecem os milagres que já não posso ver. É nesse lugar que Deus afasta nuvens pesadas, carregadas de tantas preocupações e passeia tranquilo por entre os fios de meus cabelos. Ventos impetuosos abrem portas e janelas no meu interior. Suas mãos num delicado gesto derramam sem pressa, o bálsamo perfumado sobre as cicatrizes endurecidas. Sou banhada como a chuva em terra seca, embalada como um recém nascido. Suavemente sinto o sopro sobre os meus sonhos sufocados. Respiro profundamente e solto-me dos travesseiros... Liberdade chega sorrateira no toque de seus lábios a cobrir de beijos enternecidos os meus, seus, desejos em mim. Seus pés tocam com intimidade o chão da minh'alma e as franjas de sua veste varrem carinhosamente tudo que preciso esquecer. Então Ele sorri pra mim num rosto de criança fazendo alegre a menina dos meus olhos.
O tempo, amigo, lá não existe. Os raios de sabedoria vão formando mandalas de vida brincando com a luz na escuridão... e os medos, esses que falam mansinho o dia todo ao pé do ouvido, esses saem voando ao som dos trovões. Assim que eles saem a chuva mansa vem então testemunhar, o amor eterno de meus pais que me visitam só para lembrar: meu lugar de filha em seus corações para sempre vai estar.
Acordo desejando lá permanecer... mas a chuva mansa se transforma numa melodia alegre anunciando o novo dia. Agora posso sentir o assombro e a surpresa pela vida renascida em mim. Descubro o sentido de ter nascido assim... em meio a chuvas, no tempo da espera da vinda, da esperança! Reconheço-me toda Advento, a espera do que já se realiza no meu interior: o natal, o Deus conosco Emanuel.
No meu aniversário é esse o presente que eu desejo: que cada ser humano, em sua fragilidade tão divina, sinta o assombro pela vida renascida a cada dia, na presença do Amor encarnado em seus corações em forma de esperança que encharca de sentido o existir.
Lilian Carvalho
BH - 18.12.2016
«Ide aprender o que quer dizer “misericórdia quero, e não sacrifícios”» (Mateus 9, 13). Assim Jesus se dirigia aos homens religiosos do seu tempo que o censuravam porque se sentava à mesa com publicanos e pecadores. Ele, com efeito, veio «não para os justos, mas para os pecadores». E sobre este «aprender a misericórdia» o papa Francisco quis configurar o jubileu que se encerrou no domingo: não uma rejeição daquilo que é bem e daquilo que é mal em absoluto, não uma relativização da gravidade de certos comportamentos, mas a convicção evangélica de que, para usar as palavras do papa João XXIII na abertura do Vaticano II, «no tempo presente a Igreja prefere usar o remédio da misericórdia em vez de pegar nas armas do rigor; pensa que se deve ir ao encontro das necessidades contemporâneas, expondo mais claramente o valor do seu ensinamento, em vez de condenar».
Não fez outra coisa o papa Francisco durante este ano senão evidenciar algumas das «necessidades contemporâneas» a que a Igreja deveria responder com o remédio da misericórdia para curar os doentes ou aliviar-lhes o sofrimento, não para contentar os justos que não carecem de conversão. E esta, naturalmente, é uma tarefa que não se pode esgotar num ano, não se pode deter nos umbrais das portas das catedrais, agora simbolicamente a nível litúrgico infelizmente “encerradas”: trata-se, efetivamente, de “aprender” uma arte, “aprender” o que quer dizer usar misericórdia nas nossas relações no interior da Igreja e na companhia dos homens.
O âmbito que suscitou maior ênfase foi o da vida familiar: infelizmente da exortação pós-sinodal “Amoris laetitia” foram explorados só poucos parágrafos e algumas notas relativas à possibilidade ou não de acesso aos sacramentos da parte dos divorciados recasados, enquanto se negligenciou a solicitude pastoral que atravessa o conjunto do texto e abraça os muitos aspetos de alegria e de sofrimento ligados à vida concreta de milhões de famílias nas realidades sociais e culturais mais díspares.
É nesta ótica autenticamente global que o papa recordou vigorosamente que usar misericórdia não significa calar as realidades que ferem os seres humanos e a sua dignidade: as guerras e a fome, antes de tudo, que semeiam morte e obrigam milhões de pessoas a fugir em condições desesperadas da sua terra e, depois de terem ultrapassado territórios e mares de morte, a encontrarem muros de recusa da parte de quem não sabe abrir o coração e a casa ao pobre que bate à porta.
Mas também a superação das injustiças econômicas estruturais é obra de misericórdia: garantir “terra, casa e trabalho” a cada ser humano significa salvaguardar-lhe a dignidade mais profunda, dignidade que nenhuma lei ou sociedade podem negar, nem sequer a quem está na prisão. Neste sentido, o papa Francisco não hesitou em estigmatizar o mercado quando percorre caminhos desumanos ou mortíferos – como no caso dos traficantes de armas – ou a própria justiça humana quando por um crime, ainda que brutal, prevê a pena de morte evidente ou a “oculta” da prisão perpétua.
Misericórdia, recordou-nos o papa durante este jubileu, é também revisitar as divisões históricas entre os cristãos para regressarem juntos ao Evangelho e juntos caminharem para a unidade querida por Jesus para os seus discípulos.
Nos últimos dias alguns tentaram fazer um balanço deste ano jubilar a nível turístico e econômico para a cidade de Roma, mas torna-se impossível elaborar a nível mundial o único balanço que conta para quem leva a peito o Evangelho: o da conversão das consciências e da mudança de comportamentos por parte de quem se professa cristão. Sem dúvida que a centralidade do Evangelho manifestada e afirmada de muitos modos e em diversas ocasiões sacudiu e até escandalizou quantos estão mais preocupados pela religião do que pela mensagem de Jesus Cristo. Neste sentido, se a hostilidade para com o papa Francisco se manifestou ou cresceu é por causa do seu arrojo no mostrar e pregar a misericórdia.
É certo que não basta um ano para “aprender” o que quer dizer misericórdia e agir em consequência, mas o papa Francisco quis recordar que sobre ela se mede para os cristãos a fidelidade ao Evangelho e para todos a possibilidade de percorrer caminhos de humanização.
Enzo Bianchi
Prior do Mosteiro de Bose, Itália
Trad: Rui Jorge Martins
Publicado em 25.11.2016 no SNPC
O mês de outubro convoca-nos para uma reflexão maior sobre o que é ser missionário. Mas não se pode esquecer que missionariedade é compromisso de todos os dias de nossa vida. Jesus, ao se encarnar no mundo dos pobres, recebeu do Espírito Santo sua missão: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para que dê a Boa-Notícia aos pobres; enviou-me para anunciar a liberdade aos cativos e a visão aos cegos, para por em liberdade os oprimidos e para proclamar o ano da graça do Senhor" Lc 4,181-19).
A Igreja de Jesus Cristo sempre foi e continua sendo chamada a ser missionária. Desde o início ela se colocou no seguimento de Jesus atendendo o seu pedido: "Ide a todas as nações e pregai o evangelho" (Mt 28,19). Ao colocar em prática a sua missionariedade, esta propicia o encontro com o outro e realiza um resgate da beleza que existe dentro de cada um. Isto acontece por causa do anúncio da Pessoa de Jesus Cristo gerador de relacionamentos que provocam vários tipos de sentimentos e possibilitam descobertas de valores e carismas.
A cada um de nós o Espírito Santo nos chama à responsabilidade para com o mundo, com a missão de salvá-lo. E salvá-lo de todas as formas de pecado: egoísmo, injustiça, opressão, discriminação, pobreza, riqueza. Em Jesus , os pobres continuam os destinatários da ação de Deus. Ação que é sempre uma re-ação aos clamores do povo e uma re-ação libertadora/salvífica. Nesse sentido, testemunhar a vida de Jesus através do anúncio e da ação é ser testemunha do Reino de Deus.
Jesus, essa pessoa fascinante
Quem é Jesus e como se encontrar com ele? Jesus é o mestre que nos convida a inovar. Ele manifesta seu dom carismático de congregar e agir junto a outras pessoas. Foi um verdadeiro líder capaz de interagir e convocar para a missão a mulher e os últimos. Apresentou-se como um mestre controvertido, profético, surpreendente. Para ele o pequeno era o maior, e o último, o primeiro.
Diante da realidade na qual encontramos somos chamados a sair do comodismo e, na execução do trabalho missionário contribuir para que aconteça atitudes cristãs, interação fé e vida, dar-se a conhecer Jesus Cristo, para que crianças jovens e adultos vivam dele e com ele uma vida nova, uma vida de amor a Deus e aos outros. Como disse Santo Inácio de Antioquia, no século II: "Viver imitando os bons costumes de Deus".
Nos evangelhos, através das narrativas, podemos nos encontrar com Jesus, o Cristo Ressuscitado. Iniciando com o Evangelho de Marcos, encontramos em Mc 8,27-30 uma pergunta de Jesus a seus discípulos: 'Quem dizem as pessoas que eu sou?" E eles responderam: " Uns dizem João Batista, outros, Elias; outros ainda, um dos profetas". E Jesus perguntou a seus discípulos: "E vós, quem dizeis que eu sou?" Pedro Respondeu: "Tu és o Messias, o Cristo. Esta foi a consciência da comunidade dos discípulos depois da Páscoa.
Percorrendo o caminho dos evangelhos mais um pouco, vamos encontrar lá na comunidade Joanina (Jo 3,1-15)) a proposta de Jesus. Aquela que ele faz a Nicodemos: nascer de novo. Mas como? O primeiro passo é abrir-se ao novo, deixar-se seduzir pelo Espírito que sopra onde quer, quando quer e como quer. Jesus Cristo é o centro da mensagem evangélica no conjunto da história da salvação. É por meio dele, em primeiro lugar, que Deus intervém no mundo e se manifesta a todos: crianças, jovens e adultos.
Levar esta mensagem ao mundo constituiu tarefa de todos os cristãos. Dirigindo um olhar para nossa realidade, cada pessoa pode perceber que a mesma nos impulsiona à mudança, e podemos, sem medo, iniciar a partir de uma abordagem nova diante da realidade, ou ainda retomar o caminho feito pelas primeiras comunidades cristãs, as quais levavam o adulto a aderir a Cristo e se comprometer com Ele através da participação ativa na comunidade e abrir-se ao mundo levando o anúncio de Jesus Cristo.
Como diz o Papa Francisco: "É hora de voltar a "abrir portas e Janelas" para que a Igreja possa retomar o compasso da história e fazer um novo aggiornamento com os novos sinais dos tempos, suscitados pelo Espírito no seio de uma sociedade em profundas transformações (Cf. FRANCISCO renasce a esperança).
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Bíblico-Catequética da Arquidiocese de Belo Horizonte.
JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
JUBILEU DOS CATEQUISTAS
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Na segunda Leitura, o apóstolo Paulo dirige a Timóteo – e a nós também – algumas recomendações que tinha a peito. Entre elas, pede que «guarde o mandamento, sem mancha nem culpa» (1 Tm 6, 14). Fala apenas de um mandamento, parecendo querer fazer com que o nosso olhar se mantenha fixo no que é essencial na fé. De facto, São Paulo não recomenda uma multidão de pontos e aspetos, mas sublinha o centro da fé. Este centro à volta do qual tudo gira, este coração pulsante que a tudo dá vida é o anúncio pascal, o primeiro anúncio: O Senhor Jesus ressuscitou, o Senhor Jesus ama-te, por ti deu a sua vida; ressuscitado e vivo, está ao teu lado e interessa-Se por ti todos os dias. Isto, nunca o devemos esquecer. Neste Jubileu dos Catequistas, pede-se-nos para não nos cansarmos de colocar em primeiro lugar o anúncio principal da fé: o Senhor ressuscitou. Não há conteúdos mais importantes, nada é mais firme e atual. Cada conteúdo da fé torna-se perfeito, se se mantiver ligado a este centro, se for permeado pelo anúncio pascal; mas se, pelo contrário, se isolar, perde sentido e força. Somos chamados continuamente a viver e anunciar a boa-nova do amor do Senhor: «Jesus ama-te verdadeiramente, tal como és. Dá-Lhe lugar: apesar das deceções e feridas da vida, deixa-Lhe a possibilidade de te amar. Não te decepcionará».
O mandamento de que fala São Paulo faz-nos pensar também no mandamento novo de Jesus: «Que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 15, 12). É amando que se anuncia Deus-Amor: não à força de convencer, nunca impondo a verdade nem mesmo obstinando-se em torno de alguma obrigação religiosa ou moral. Anuncia-se Deus, encontrando as pessoas, com atenção à sua história e ao seu caminho. Porque o Senhor não é uma ideia, mas uma Pessoa viva: a sua mensagem comunica-se através do testemunho simples e verdadeiro, da escuta e acolhimento, da alegria que se irradia. Não se fala bem de Jesus, quando nos mostramos tristes; nem se transmite a beleza de Deus limitando-nos a fazer bonitos sermões. O Deus da esperança anuncia-Se vivendo no dia-a-dia o Evangelho da caridade, sem medo de o testemunhar inclusive com novas formas de anúncio.
O Evangelho deste domingo ajuda-nos a compreender o que significa amar, especialmente a evitar alguns riscos. Na parábola, há um homem rico que não se dá conta de Lázaro, um pobre que «jazia ao seu portão» (Lc 16, 20). Na realidade, este rico não faz mal a ninguém, não se diz que é mau; e todavia tem uma enfermidade pior que a de Lázaro, apesar deste estar «coberto de chagas» (ibid.): este rico sofre duma forte cegueira, porque não consegue olhar para além do seu mundo, feito de banquetes e roupa fina. Não vê mais além da porta de sua casa, onde jazia Lázaro, porque não se importa com o que acontece fora. Não vê com os olhos, porque não sente com o coração. No seu coração, entrou a mundanidade que anestesia a alma. A mundanidade é como um «buraco negro» que engole o bem, que apaga o amor, que absorve tudo no próprio eu. Então só se veem as aparências e não nos damos conta dos outros, porque nos tornamos indiferentes a tudo. Quem sofre desta grave cegueira, assume muitas vezes comportamento «estrábicos»: olha com reverência as pessoas famosas, de alto nível, admiradas pelo mundo, e afasta o olhar dos inúmeros Lázaros de hoje, dos pobres e dos doentes, que são os prediletos do Senhor.
Mas o Senhor olha para quem é transcurado e rejeitado pelo mundo. Lázaro é o único personagem, em todas as parábolas de Jesus, a ser designado pelo nome. O seu nome significa «Deus ajuda». Deus não o esquece… Acolhê-lo-á no banquete do seu Reino, juntamente com Abraão, numa rica comunhão de afetos. Ao contrário, na parábola, o homem rico não tem sequer um nome; a sua vida cai esquecida, porque quem vive para si mesmo não faz a história. E um cristão deve fazer a história; deve sair de si mesmo, para fazer a história. Mas quem vive para si mesmo, não faz a história. A insensibilidade de hoje escava abismos intransponíveis para sempre. E hoje caímos nesta doença da indiferença, do egoísmo, da mundanidade.
E há outro detalhe na parábola: um contraste. A vida opulenta deste homem sem nome é descrita com ostentação: nele, carências e direitos, tudo é espalhafatoso. Mesmo na morte, insiste em ser ajudado e pretende os seus interesses. Ao contrário, a pobreza de Lázaro é expressa com grande dignidade: da sua boca não saem lamentações, protestos nem palavras de desprezo. É uma válida lição: como servidores da palavra de Jesus, somos chamados a não ostentar aparência, nem procurar glória; não podemos sequer ser tristes ou lastimosos. Não sejamos profetas da desgraça, que se comprazem em lobrigar perigos ou desvios; não sejamos pessoas que vivem entrincheiradas nos seus ambientes, proferindo juízos amargos sobre a sociedade, sobre a Igreja, sobre tudo e todos, poluindo o mundo de negatividade. O ceticismo lamentoso não se coaduna a quem vive familiarizado com a Palavra de Deus.
Quem anuncia a esperança de Jesus é portador de alegria e vê longe, tem pela frente horizontes, e não um muro que o impede de ver; vê longe porque sabe olhar para além do mal e dos problemas. Ao mesmo tempo, vê bem ao perto, porque está atento ao próximo e às suas necessidades. Hoje o Senhor pede-nos isto: face aos inúmeros Lázaros que vemos, somos chamados a inquietar-nos, a encontrar formas de os atender e ajudar, sem delegar sempre a outras pessoas nem dizer: «Ajudar-te-ei amanhã, hoje não tenho tempo, ajudar-te-ei amanhã». E isto é um pecado. O tempo gasto a socorrer os outros é tempo dado a Jesus, é amor que permanece: é o nosso tesouro no céu, que nos asseguramos aqui na terra.
Concluindo, amados catequistas e queridos irmãos e irmãs, que o Senhor nos dê a graça de sermos renovados cada dia pela alegria do primeiro anúncio: Jesus morreu e ressuscitou, Jesus ama-nos pessoalmente! Que Ele nos dê a força de viver e anunciar o mandamento do amor, vencendo a cegueira da aparência e as tristezas mundanas. Que nos torne sensíveis aos pobres, que não são um apêndice do Evangelho, mas página central, sempre aberta diante de todos.
Praça São Pedro
Domingo, 25 de setembro de 2016
imagem: site do vaticano
Caríssima irmã, caríssimo irmão Catequista.
Os caminhos da Igreja no Brasil assinalam o mês de agosto com uma nobre particularidade. A temática vocacional recebe forte acentuação: dia dos pais, dia do padre, dia do religioso, dia do Catequista. Este previsto para o próximo dia 28.08.
Em nome da CNBB quero servir-me da data para uma palavra permeada de sincero afeto e imensa gratidão. Embora não seja possível ser suficientemente grato a tanta dedicação, com muita simplicidade, apresento-me para uma reflexão agradecida.
Começo chamando-lhe à recordação uma sua experiência pessoal muito singular: lembra quando alguém lhe dirigiu o convite a tornar-se Catequista? Certamente está presente em sua memória a pessoa, as frases e o contexto. Lembra também de sua própria reação? Talvez inquietação, ou dúvidas, ou temor por não se sentir apta(o). É até possível que lhe tenha aflorado a preocupação pela falta de tempo...
Mesmo assim, embora com tantas objeções, Você aceitou. Estou certo que ainda estão bem presentes os motivos que moveram a aceitar... E o Espírito Santo estava lá: movia, suscitava, inquietava. E eis que desde sua liberdade e desde sua capacidade de amar houve um movimento de afeição amorosa pelo Senhor, pela comunidade, pelos “seus” catequizandos.
Hoje, tendo já passado um bom tempo, talvez anos, cabem duas perguntas bastante simples: mais ofereceu ou mais recebeu? Mais aprendeu ou mais ensinou? É verdade que os desânimos por vezes se apresentaram; também sinais de cruz se pronunciaram. Mas quanto crescimento! Quantos sinais da proximidade de Deus! Quantas experiências de fé! É... Catequese é um caminho, um discipulado, um encontro que perdura e atravessa os anos. Mas o Senhor nunca se deixa vencer em generosidade. Quantas graças!!!
Seu sim ajudou a Igreja a ser Evangelizadora; a ser mais Igreja. Sua dedicação de Catequista a(o) faz lembrar-se de que o Senhor Jesus quer ser conhecido mais por seu amor do que por doutrinas. Por isso mesmo o episcopado brasileiro lhe agradece, caríssima(o) Catequista. E neste dia louva o Senhor por seu ministério. Que Deus lhe multiplique em bênçãos a bênção que é Você para a nossa Igreja.
Dom José Antonio Peruzzo
Arcebispo de Curitiba-PR
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética
Ela é uma amiga querida que a catequese e a vida me deram! Fui até ela depois de meses sem vê-la, uma alegria encontrá-la. E o que me disse, no meio da conversa, me fez agora perder o sono. Necessidade de colocar no papel o que me comoveu e alegrou o coração.
Eu a conheci já como catequista de catequista. Pois ela decidiu, depois de se recuperar de um período de dores após uma queda, atender ao pedido de uma catequista que queria formação. Marcou encontros semanais em sua casa e começou a fazer o que sempre fez: preparar catequista. E me contou com brilho nos olhos que isso a alegrou e a refez. E que, além disso, aprende com a catequista que lhe pediu ajuda, pois essa moça, diz ela, tem um olhar atento a tudo e um jeito bom de saborear as coisas.
Impressionante, pensei comigo mesma, olhando para o brilho do olhar dela e para o sorriso no rosto. Enchi o olho d’água e fiquei comovida, sem palavras. Pensei: ela ainda ama a catequese e encontrou aos 93 anos um novo motivo para viver essa vocação e esse amor que a moveu a vida inteira.
E caminhando de volta pra casa olhei para mim mesma e o cansaço do dia se foi. Também achei ridícula minha justa angústia diante da partilha que fiz sobre a alta rotatividade dos catequistas e do fato de que isso impede, em muitos lugares, a catequese de avançar. Pois enquanto tivermos uma catequista que mesmo sem condições físicas, financeiras, materiais, conseguir acreditar na educação da fé e fazer de tudo para melhorar a formação de uma só catequista, a catequese terá futuro, está a salvo.
A maturidade da fé cristã depende de catequistas que sabem da importância da iniciação à fé e ao seguimento de Jesus Cristo. Sem preocupação com o quanto de tempo gastará ou, no caso dessa amiga, até se terá tempo de terminar o processo de formação. O que importa é cuidar do que é o mais importante: a formação de catequista.
Aí está uma razão para viver: ajudar uma catequista crescer na fé, na compreensão de si mesma, no amor a Jesus Cristo e a Igreja, no amor ao catequizando, o que a faz aprender o melhor jeito e linguagem para chegar ao seu coração.
Ah! Que lindo! Amar e Servir com alegria, fazer o que é possível para o bem da catequese. E, ao servir deixar-se modificar pelo outro, aprender. Que maturidade de fé e de amor, que paixão pelo Reino!
Minha amiga não me contou para se exaltar ou para que eu contasse esse fato a alguém. Mas não resisti, transborda em mim o desejo de espalhar experiência tão linda. E a razão pela qual eu faço isso é para animar você a seguir em frente, a dedicar a vida pela causa do Reino, como catequista.
Lembrei-me de outros rostos queridos, de tantas(os) catequistas que encontrei pela vida e reverencio essa gente que resiste e insiste em continuar na catequese apesar de tantos desafios, que se dá generosamente e inventa jeitos novos de cuidar da própria formação. E termino enviando um beijo pra Deus que em sua grande bondade e amor nos chamou a ser catequista, coisa tão linda na sua Igreja.
Lucimara Trevizan
Coordenadora da Comissão Bíblico-Catequética do Leste 2
12.08.2016
Sexta-feira da paixão. Uma manifestação de infecção localizada. À noite já estava hospitalizada, acometida da temida septicemia, aquela tal infecção generalizada. Sábado Santo(26.03.2016), às 16h, Aída vive a sua Páscoa definitiva, passando pela morte.
Uma contabilista de 86 anos, moradora do Santa Efigênia. Melhor identificá-la como servidora da catequese. Serviu durante décadas, várias décadas, muitas décadas à catequese porque sabia o valor da educação da fé. Baixinha, sorridente, enérgica, organizada. Pele cor de canela. Cabelos branquinhos encaracolados, bem curtos. Até a quinta-feira santa à tarde ela trabalhou pela catequese, organizando o arquivo do IRPAC – Instituto Regional de Pastoral Catequética, da CNBB-Leste II. Este Instituto está para completar 30 anos. Durante 30 anos ela prestou serviços – por amor à catequese – ao IRPAC.
É uma história bela. Uma anônima para os grandes. Uma conhecida dos catequistas. Aída fará muita falta. A trajetória dela faz-me pensar na diferença entre o que “faz sucesso” – mundanismo como diz o papa Francisco – tão buscado pela igreja midiática e seus vorazes artistas, ainda que de qualidade sofrível, que a todo instante precisam “explicar” que não são artistas, mas ministros, pastores, evangelizadores... e o que “é bem sucedido”, porque foi realizado com amor ao outro, num percurso de crescimento e amadurecimento da fé. Aída foi bem sucedida, suficiente. Como uma vela diminuía-se para iluminar com a fé cristã.
Alcançou uma quantidade enorme de pessoas, com uma mensagem consistente. Ao invés de gerar alienados compulsivos, saltitantes, educou na fé cristãos comprometidos, testemunhas do evangelho. Ao invés de holofotes, preferiu a chama fumegante, ardente e perseverante.
Aída continua acesa.
Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte
29 de março de 2016
“A terra estava deserta e vazia, as trevas cobriam o abismo...”. Assim começa a narração do Livro do Gênesis, permitindo uma analogia com o atual momento político do Brasil. A política partidária instalou incontestavelmente o caos na sociedade. Está perdida a capacidade para o diálogo que gera consensos e entendimentos. Não paira, absolutamente, o Espírito de Deus no mundo da política. É uma escuridão que fomenta o caos - um “salve-se quem puder” que passa por cima do bem comum como um trator. Não há esperança de que a política partidária consiga, rapidamente, oferecer contribuições para os rumos da nação. A lista de desmandos, escolhas absurdas, interesseiras e manipulações é interminável. Comenta-se, em muitas esferas da sociedade, sobre a expectativa do surgimento de um líder político capaz de gerar agregação e apontar novas direções. Isso parece ser difícil de ocorrer, justamente pelo atual cenário vivido pela política partidária. Quem seria capaz, agora, de reverter essa difícil situação? O mundo da política partidária no Brasil configura-se como um devastador desastre humano à semelhança das incidências horrendas que ferem o meio ambiente.
A deterioração da esfera política e o tratamento inadequado das questões ambientais se desenvolvem a partir da mesma raiz. Aqui vale relembrar as palavras do Papa Francisco, na sua Exortação Apostólica Alegria do Evangelho, quando se refere à nova idolatria do dinheiro. O caos vem dessa idolatria. É inexistente a nobreza de fazer política pelo bem comum, com o objetivo de ajudar a nação a alcançar patamares de civilidade e de funcionamentos que promovam, sem populismos, os seus cidadãos. A falta dessa nobreza é resultado de carência na formação humanística que ilumina intuições, capacita para o bem, muito acima do interesse de enriquecimentos ilícitos. O Papa Francisco afirma que “uma das causas desta situação está na relação estabelecida com o dinheiro porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós e nossas sociedades”. Essa verdade explica os desajustes no tecido da cultura, que delineia a identidade da sociedade e influencia suas direções.
O Papa Francisco oferece a chave de interpretação desse caos instalado que produz, por exemplo, a crise financeira que pesa sobre os ombros de todos. A base da desordem é a negação da primazia do ser humano. Esse colapso antropológico tem muitas feições. Descompassa relações, articulações de grupos e segmentos na sustentação de uma sociedade que deve se mover no horizonte da justiça e da solidariedade. É triste constatar o que ocorre na política partidária. O desejo de ocupar cargos públicos não vem acompanhado do sentido cidadão mais profundo de ajudar decisivamente na construção de uma sociedade solidária e justa. Trata-se de interesse doentio pelo dinheiro, para alimentar ilusórias sensações de poder e segurança. Uma ambição que produz essa economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano.
Ora, a idolatria do dinheiro é perigosa, gera ilusões e desgasta o mais nobre sentido da política, que é promover o bem comum. Essa idolatria é tão terrível que faz crescer, de modo generalizado, a sensação de que não há mais tempo para fazer o que é necessário. Isto fica explícito nas muitas lamentações e ladainhas exaustivamente propaladas. O interesse mesmo é ganhar sempre mais, produzir menos. Nada de sacrifícios e esforços para alcançar o bem de todos. Uma luz precisa brilhar para iluminar essas trevas. E de onde ela pode vir? Em primeiro lugar, da corresponsabilidade e seriedade cidadã de cada indivíduo. Sistemicamente, essa luz pode e precisa brilhar com o fortalecimento, em seriedade e audácia, dos diferentes segmentos da sociedade - empresarial, religioso, judiciário, acadêmico e intelectual, artístico e outros mais. Cada setor, pela seriedade e honestidade, tem o dever de dissipar as trevas que preenchem o abismo onde está inserida a sociedade brasileira. Que venha de todas as pessoas e grupos, pelo compromisso com o bem, a justiça e a verdade, essa a luz que tem a força para resgatar o país do caos.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
In: Opinião e notícias
18/03/2016
A partir de 1964, com abrangência nacional, vem sendo realizado no Brasil a Campanha da Fraternidade, completando 52 edições neste ano de 2016. Para cada campanha é escolhido um tema e um lema, segundo as exigências relacionadas com as necessidades mais urgentes da população. É espaço de diálogo, reflexão e conscientização sobre a temática apresentada.
A que foi preparada para este ano tem como tema, “Casa Comum, nossa responsabilidade”. O lema vem do profeta Amós 5,24: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”. É um alerta para nos fazer sair da acomodação e assumir os desafios da vida moderna como sujeitos. Criar consciência de que a terra, a casa comum de todos nós, pode ser diferente.
A Campanha tem por finalidade primeira criar esperança de que a vida das pessoas pode ser muito melhor. As práticas brutais e de ofensa à natureza também podem ser mudadas. Mesmo numa nação de tanta migração, a qualidade de vida pode ser diferente sem transferência de lugar. O mais importante é a mudança nas atitudes pessoais referentes ao tratamento das coisas públicas e da natureza.
Reclamamos de muita coisa. Mas o que é dito deve coincidir com nossa prática, fazendo, de nossa parte, o que é possível realizar. É feio jogar a culpa das coisas não assumidas nos outros. Aliás, isto é muito fácil, mas não ajuda na preservação da casa comum. É como ter fé em Deus, mas não colocar em prática as exigências da vida cristã, principalmente a realização da caridade com o próximo.
A duplicidade de comportamento desabona a autenticidade da vida humana. De um lado, ficar cobrando tarefas e, de outro, não cumprir os próprios deveres. São situações que não conferem com a dignidade cidadã e, muito menos, cristã. Na responsabilidade ecológica da casa comum, na visão do papa Francisco, ninguém fica de fora e todos participam dos sofrimentos e alegrias advindos daí.
A referência principal da Campanha da Fraternidade deste ano é o “saneamento básico”, fazendo parte de seu objetivo geral. Para isso ser realidade, dependemos de políticas públicas para garantir a integridade da casa comum hodierna e para o futuro. Ainda é tempo de reagir e agir, não deixando para depois o que deve ser feito hoje. O mundo está ameaçado pela prática predatória.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba-MG
Quando as crianças se dão conta - e dão-se conta muito depressa - que o Papai Noel não existe, falam disso entre elas, mas diante dos adultos fingem que não o sabem ainda durante algum tempo, porque percebem que isso lhes dá prazer. O Papai Noel é uma crença extremamente efêmera que se torna numa representação cultural ou familiar tácita, apenas isso. Não admira que muitos se interroguem sobre a razão da persistência da sua figura quando, grandes ou pequenos, muito poucos acreditam verdadeiramente nela. O Papai Noel seria então uma imposição meramente comercial, um ícone vazio, um símbolo gasto e esgotado que não tem nada mais a dizer? Provavelmente sim, se pensarmos na banalização massiva que assistimos ano após ano.
Em todo o caso, vale a pena sondar esta estranheza que faz com que os pais continuem a atribuir a uma outra entidade - uma entidade gráfica e pitoresca como o Papai Noel - os dons que eles mesmos compram para os próprios filhos. Seria lógico pensar que faria mais sentido que o presente fosse ligado ao seu rosto, um rosto bem conhecido, que transmite confiança e afeto, um rosto que reforça o contexto habitual da criança. O dom é, em vez disso, atribuído a uma entidade anônima, desconhecida, que aparece anualmente e de modo fugaz, sem uma relação personalizada com aqueles que oferecem os dons. Mas é precisamente este fato que nos induz a refletir sobre aquilo que se ativa no ato de dar e de receber. Que significa dar? Quem é o agente do dom? De quem recebemos aquilo que nos é dado? É aqui que se decide o sentido submerso do Papai Noel.
Sublinhemos, antes de mais, que o Papai Noel não deixa de ser um pai. Ou, melhor, o pai de um pai, um avô, se tivermos em consideração a sua idade, a sua barba branca, o seu humor tilintante e redondo, a sua bondade um pouco extravagante. Trata-se, no fundo, de um predecessor, de alguém que não representa apenas o instante atual mas quanto nos é transmitido de geração em geração, aquilo que os nossos pais nos dão porque o receberam antes dos seus pais e assim por diante.
O Papai Noel alarga os restritos metros quadrados da família contemporânea e estende os laços, testemunhando também tudo aquilo que se recebe dos outros, e não só dos pais, não só daqueles que constituem o quadro normal da vida. Deste modo, ele une cada criança a todas as crianças do mundo na expectativa e no entusiasmo pelo dom, sem o qual a vida nada seria. O dom, não o esqueçamos, é muito diferente do circuito frio, tão sonâmbulo e voraz, da troca e do comércio, mesmo se hoje parece totalmente sequestrado por essas lógicas.
O que é que de mais precioso podemos dar aos outros que a nossa atenção criativa, o nosso cuidado, o nosso tempo, a nossa fidelidade ao que cada um, em cada instante, é? O dom gera dom, mas não no sentido da gramática mercantil que procura o proveito próprio mais do que a experiência autêntica da oferta de um presente.
O citadíssimo "do ut des" (dou-te para que me dês) é um mote que trai a beleza do dom, o qual pode ser unicamente uma expressão de amor sem cálculo nem medida. Por isso é urgente resistir à pressão comercial que enche o saco do Papai Noel de coisas, coisas e mais coisas, que têm o único efeito de neutralizar a relação, de perpetuar de modo camuflado a indiferença e a distância, em vez de construir uma presença calorosa, disponível, confiante na nossa humanidade diante da humanidade dos outros.
Por isso, quando nós, adultos, nos sentamos junto às crianças, mesmo àquelas que ainda não sabem escrever, para as ajudar a redigir a sua cartinha ao Papai Noel, é importante que tenhamos bem claro dentro de nós a oportunidade e o sentido que naquele momento estão em jogo. Precisamos de reaprender a arte do dom.
José Tolentino Mendonça
In "Avvenire"
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 19.12.2015 no SNPC
«Naquele tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José, que era descendente de David. O nome da Virgem era Maria.
Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo».
Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela.
Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus.
Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim».
Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?». O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível».
Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra». (Lucas 1, 26-38)
O Evangelho de Lucas desenvolve a narrativa do anúncio a Maria como o zoom de uma câmara de cinema: parte da imensidão dos céus, restringe progressivamente o olhar até uma pequena povoação, depois a uma casa, ao primeiro plano de uma jovem entre muitas, ocupada nas suas atividades e nos seus pensamentos.
O anjo Gabriel veio até ela. É belo pensar que Deus te acaricia, te toca na tua vida diária, na tua casa. Fá-lo num dia de festa, no tempo das lágrimas ou quando dizes a quem amas as palavras mais belas que conheces.
A primeira palavra do anjo não é uma simples saudação, dentro vibra aquela coisa boa e rara que todos os dias procuramos: a alegria: regozija-te, rejubila, sê feliz. Não pede: reza, ajoelha-te, faz isto ou aquilo. Mas simplesmente: abre-te à alegria como uma porta se abre ao sol. Deus aproxima-se e aperta-te num abraço, vem e traz uma promessa de felicidade.
A segunda palavra do anjo revela o porquê da alegria: és cheia de graça. Um termo novo, nunca ressoado na Bíblia ou nas sinagogas, literalmente inaudito, de tal maneira que perturba Maria: és repleta de Deus, que se inclinou sobre ti, enamorou-se de tu, deu-se a ti e dele transbordas. O seu nome é: amada para sempre. Ternamente, livremente, sem arrependimento amada.
Cheia de graça chama-a o anjo, Imaculada di-la o povo cristão. E é a mesma coisa. Não está cheia de graça porque disse "sim" a Deus, mas porque Deus disse "sim" a ela, antes ainda da sua resposta. E di-lo a cada um de nós: cada qual cheio de graça, todos amados como somos, por aquilo que somos; bons e menos bons, cada qual amado para sempre, pequenos ou grandes cada um repleto de céu.
A primeira palavra de Maria não é um sim, mas uma pergunta: como é possível? Está diante de Deus com toda a sua dignidade humana, com a sua maturidade de mulher, com a sua necessidade de entender. Uma a inteligência e depois pronuncia o seu sim, que então tem o poder de um sim livre e criativo.
Seguramente, como disseram profetas e patriarcas, sou a serva do Senhor. Serva é palavra que nada tem de passivo: serva do rei é a primeira depois do rei, aquela que colabora, que cria juntamente com o Criador.
«A resposta de Maria é uma realidade libertadora, não uma submissão remissiva. É ela pessoalmente a escolher, em autonomia, a pronunciar aquele "sim" corajoso que a contrapõe a todo o seu mundo, que a projeta nos desígnios grandiosos de Deus» (M. Marcolini).
A história de Maria é também a minha e a tua história. Uma vez mais o anjo é enviado à tua casa e diz-te: alegra-te, és cheio de graça! Deus está dentro de ti e cumula a vida de vida.
Ermes Ronchi
In "La Chiesa"
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 07.12.2015 no SNPC
Quando eu era criança, cantava: “Ó Maria, concebida sem pecado original/ Quero amar-vos toda a vida, com ternura filial”. Mas eu não entendia bem o que era este tal pecado, que não me parecia nada original. Afinal, se Adão e Eva fizeram uma coisa errada no passado, o que temos a ver com isso? Depois compreendi que essa música fala de algo atual, que marca a humanidade. Cada um de nós, e toda a comunidade humana, experimentamos o mistério do mal. Quantas vezes a gente quer fazer o bem, ser inteiro nas decisões, perdoar, exercitar a generosidade, lutar para melhorar o mundo... Mas as nossas realizações ficam abaixo dos bons desejos. Vivemos uma divisão interior, uma fragilidade, uma tendência ao mais fácil e imediato.
O dogma da Imaculada afirma que Maria, sendo humana como nós, recebe de Deus uma graça especial, para ser forte diante das tentações do mal, assumir com inteireza suas decisões e ser proativa. E assim ela fez, como nos mostra o evangelho: ouviu a palavra, guardou no coração e frutificou. A graça de Deus, quando atua no ser humano, é sempre uma estrada de duas mãos. De um lado, o Senhor nos oferece sua presença irradiante, que purifica, perdoa, fascina, integra e convoca para a missão. De outro lado, a gente responde, ao viver na fé, na esperança e no amor solidário. Portanto, o dogma da Imaculada não fala somente de um privilégio de Maria, mas sim da vitória da graça de Deus nela. E isso tem enorme valor para toda a humanidade. Mostra que o mais original no ser humano não é o pecado, a mediocridade, as sombras, mas sim o dom de Deus, a criatividade, a luz.
Desde o início Deus nos chama para a comunhão com ele. Assim já experimentaram os profetas: “Antes de saíres do ventre de tua mãe, eu te conhecia, e te consagrei (Jr 1,5)”; “O senhor me chamou desde o ventre materno (Is 49,1)”. Maria, mais do que ninguém, viveu esta inteireza da resposta a Deus: “Um coração que era sim para a vida/ Um coração que era sim para o irmão. Um coração que era sim para Deus, Reino de Deus renovando este chão!”.
Como é bom celebrar a festa da Imaculada no tempo do Advento. Assim, recordamos que Maria foi preparada por Deus para a missão de mãe, educadora e discípula de Jesus. E que ela também se preparou, cultivando o amor e interpretando os Sinais divinos na história do seu povo. Com José, viveu o tempo de espera da gravidez e a alegria do nascimento.
Que Maria imaculada nos prepare para o natal. Que a nossa casa e o nosso coração sejam como o presépio que acolhe o Deus-menino. Belém é aqui e agora. Junto com a multidão de homens e mulheres de toda a Terra nos alegramos porque o Senhor visitou definitivamente este mundo, com uma luz que não conhece o ocaso. Assumiu, com sua encarnação, a nossa bela e frágil história humana. Santificou todos os seres. Por isso, cantamos: “Glória a Deus nas alturas, e paz para a humanidade e cuidado com a Terra!” Amém!
Ir. Afonso Murad
Irmão Marista, teólogo, especialista em Mariologia
In: blog Maria: mãe nossa e companheira na fé - 7/12/2015
Com quatro semanas antecedendo o Natal, o Advento, próprio do Ocidente, tem sua origem desde o século IV.
É um tempo que nos coloca em permanente expectativa da vinda, da manifestação de Deus e de seu Reino em nossa realidade. Abre-nos para o encontro com o Senhor que vem nos acontecimentos da vida, particularmente, no momento celebrativo, comemorando o Senhor que veio e fazendo-nos dar um passo à frente ao encontro do Senhor que virá glorioso, quando seu Reino estiver plenamente estabelecido entre nós.
Essa manifestação se dá em dois aspectos: a manifestação em nossa carne ao nascer, que constitui sua primeira vinda, e sua manifestação gloriosa, no fim dos tempos, sua segunda vinda.
Este duplo sentido determina a organização do Advento: o Advento escatológico, que vai do primeiro domingo do Advento ao dia 16 de dezembro e cuja liturgia nos inflama para a vinda final de Cristo; o Advento natalício, como preparação mais imediata para a festa do Natal, do dia 17 ao dia 24 de dezembro.
Os textos bíblicos propostos para os domingos deste tempo fazem emergir este duplo caráter do Advento. Assim, o primeiro domingo orienta para a vinda final, o segundo e o terceiro chamam atenção para a vinda cotidiana do Senhor; o quarto domingo prepara-nos para o nascimento de Cristo, ao mesmo tempo apresentando seu sentido e sua história.
Também os textos eucológicos (coletas, prefácios...) acentuam as vindas do Senhor, seja na encarnação, seja na parusia, como juiz e senhor, em íntima relação entre si, como expressão de um único mistério: a Vinda do Senhor e seu Reino, já iniciada mas, aguardando sua plena realização, no final dos tempos.(cf. At 1,11)
Recordamos no Advento a grande verdade de que nossa história, com todos os seus dramas, contradições, conquistas e retrocessos é o lugar da atuação salvífica de Deus, para quem nada é impossível: aterrar vales, aplainar montanhas, fazer florir desertos, fazer conviver leões e cordeiros; transformar armas de guerra em instrumentos de trabalho e cultivo de vida.
Pe. Luiz Renato sj
in: blog Arte, Liturgia e Espiritualidade
ADVENTO: “JESUS CRISTO ONTEM, HOJE E SEMPRE!”
Nesse período, conduzidos por grandes figuras bíblicas, como Isaías, João Batista, Maria, José, Isabel, Zacarias... modelos dos pobres que esperam e confiam nas promessas de Deus, entramos em ritmo mais intenso de espera e esperança, de alegre e cuidadosa vigilância, como uma noiva que se enfeita, ansiosa e feliz, para a chegada de seu amado, como um incansável vigia anseia pelo amanhecer, como a terra seca deseja ardentemente a chuva benfazeja para o germinar das sementes.
De modo semelhante ao que ocorreu com Maria, o Espírito nos engravida da Palavra, fazendo crescer em nós uma atitude de humilde expectativa, de fé comprometida com a força escondida da vida, na certeza de um novo parto da salvação em nosso tempo, ainda tão marcado por decepções, desesperanças e incertezas.
Aguardamos a chegada do Senhor, aguçando nossa sensibilidade para perceber os inúmeros sinais que revelam a transparência de Deus em nossa realidade.
Abrindo-nos à contemplação do mistério da encarnação, a liturgia vem ao encontro de nossa busca fundamental. Somos seres de desejo, inacabados, com sonhos de ser sempre mais, grávidos da utopia do Reino. O conjunto das celebrações nos mantém acordados e vigilantes, buscando a perfeição, para que as múltiplas vindas do Senhor hoje nos encontrem humildemente despojados, confiantes e repletos dos frutos da justiça.
A mística do Advento nos move também a cultivar uma atitude nova diante da realidade humana e cósmica, intensifica nosso desejo de felicidade plena, de relações fraternas verdadeiras e duradouras, e fortalece nossa vocação de testemunhas da esperança, superando todo o pessimismo e desencanto que nos possam abater. Um acúmulo de desejos fará apressar a vinda do Reino, com nosso engajamento solidário nas lutas pela defesa da vida, pela transformação do mundo, em que todos sejamos, igualitariamente, livres e felizes.
Neste tempo, em que a religião do mercado faz das festas natalinas, o grande sacramento do lucro, somos convidados a proclamar profeticamente que o Senhor está chegando como libertador. Seus sinais se manifestam diariamente, nas lutas dos pobres e de todos os que com eles se fazem solidários na busca de melhores condições de vida, de dignidade humana, de paz universal e de preservação da natureza.
Não só nós, cristãos, mas toda a humanidade e a criação inteira estão em clima de Advento, de ansiosa espera. Aguardam a manifestação cada vez mais visível do Reino de Deus em que “justiça e paz se abracem”, todos os povos culturas desabrochem felizes e reconciliados e toda “a terra se abra ao amor”.
Toda a celebração cristã é uma contínua vinda do Senhor a nossa vida pessoal, a nossa comunidade e a nossa história. Ele vem ao nosso encontro no presente e no futuro, como veio no passado. Ele é caminheiro fiel na grande peregrinação que fazemos rumo à casa do Pai. Ele é o Emanuel, o Deus-conosco com quem descobrimos sempre de novo quem somos, o que queremos e para onde vamos.
Pe. Luiz Renato sj
in: Bolg Arte, Liturgia e Espiritualidade
Podem tornar-se instantes de graça todos os instantes da vida? Ou, pelo contrário, não: há instantes límpidos, incomparáveis, de que não conhecemos as regras, e só estas são portadores da possibilidade de sentido e redenção para a vida?
Não fiz sondagens, mas direi sem muitas hesitações que a maior parte de nós tende para esta segunda hipótese. A vida normal goza de má imprensão, sobre ela recai um imutável descrédito, como se vivêssemos a descobrir que o que nos falta está noutro lado.
Olhamos os dias, o curso dos seus instantes reputados como sem história, estranhamento seguros de que deles não virá o que procuramos. Seduz-nos muito mais o extraordinário: pensamos que, no fundo, a felicidade depende da experiência não habitual, descontínua, de uma visita esporádica, de um lampejo que não se detém.
Se tivéssemos de assinalar, entre as práticas artísticas, um exemplo desta sensibilidade dominante, poderíamos citar as fotografias (extraordinárias, ainda para mais) de Henri Cartier-Bresson.
Na introdução ao primeiro livro de imagens que publicou, ele propõe uma tese precisa sobre o que chamava «o instante decisivo». Hoje é impossível pensar na sua fotografia e, em certo sentido, no que é a fotografia em geral, sem revisitar esse texto que o tempo tornou cada vez mais influente.
O ponto de partida de Cartier-Bresson é uma epígrafe extraída dos volumes de memórias do cardeal de Retz: «Não há nada neste mundo que não tenha um momento decisivo». E o que diz, em síntese? Que quando o olhar do fotógrafo considera o mundo, sabe que exercita um poder: pode modificar perspectivas, colocar a máquina fotográfica próxima ou afastada do sujeito, realçar um detalhe ou recompor a realidade.
Mas ao fotógrafo ocorre também dar-se conta de que estão reunidos todos os elementos para uma excelente fotografia, e todavia ainda falta alguma coisa, e não sabe o quê. Até que acontece alguma coisa de imprevisto a atravessar a cena. O fotógrafo põe-se então a acompanhar o movimento por trás da sua máquina e espera, espera, espera.
Quando, por fim, carrega no botão, sente confusamente que captou algo. Mais tarde, no laboratório, revelando aquele material, dá-se conta de que o que captou era o instante decisivo. Fixou o instante sem o qual aquela imagem seria banal, não possuiria a mesma forma, intensidade, pulsão, mistério e vida.
Por isso, a atividade do fotógrafo e do artista pode apenas consistir numa espera aberta ao momento extraordinário. Será também assim para nós? Será que é isto que talvez suceda no labor interno que desenvolvemos, na vida espiritual que se ativa em nós?
Os ingredientes estão lá todos, mas ainda não é suficiente. O quotidiano é opaco, demasiado preso àquilo que conhecemos, que nos é familiar. «De Nazaré pode vir alguma coisa de bom?» (João 1, 46), perguntamos incessantemente. Consumimo-nos na espera difusa daquilo que virá, preferimos sempre o distante ao próximo, o futuro ao presente, e tornamos a existência uma ficção de si própria.
Mas se não é agora, é quando? Se a graça não atravessa precisamente estes instantes cinzentos e contraditórios, esta montanha de emoções dispersas, este movimento que nos parece demasiado concreto, demasiado denso, demasiado obtuso, dificilmente a graça se manifestará de outra forma.
Também aqui o caso de Henri Cartier-Bresson nos pode ajudar de novo. Porque a sua história é, no fim de contas, mais complexa. A curadora de uma grande mostra sobre a sua obra trouxe à luz elementos novos relativos ao seu modo de trabalhar, até então desconhecidos.
Aquilo que a sua investigação nos mostrou é que, mais do que um «instante decisivo», trata-se com mais verdade de uma «escolha decisiva», pois o fotógrafo fazia vários disparos da mesma cena, por vezes em grande número, mas escolhia só um e eliminava os outros.
O instante decisivo não é, então, um momento exterior irrepetível, nem essa epifania que encontra espaço num fugitivo piscar de olhos: é um instante, qualquer instante, que eu faço tornar decisivo, por nele investir deliberadamente a minha esperança.
José Tolentino Mendonça
In "Avvenire"
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 27.09.2015 no SNPC
O papa acentuou este sábado, em Filadélfia, a necessidade de os leigos e, em particular, as mulheres, serem encorajados a uma participação mais ativa da Igreja, tendo citado a pergunta que o papa Leão XIII dirigiu a Santa Catarina Drexel: «E tu, que farás?».
«Sabemos que o futuro da Igreja, numa sociedade em rápida mudança, exigirá – e já agora o exige – um compromisso cada vez mais ativo por parte dos leigos», afirmou Francisco na missa, a que presidiu, com o clero, religiosos e religiosas do estado norte-americano da Pensilvânia.
As palavras endereçadas a Santa Catarina Drexel (1858-1955, canonizada em 2000 por S. João Paulo II), oriunda de Filadélfia, recordaram-lhe que «cada cristão recebeu, em virtude do Batismo, uma missão», sublinhou o papa.
«"E tu, que farás?" É significativo que estas palavras do papa já idoso tivessem sido dirigidas a uma mulher leiga», apontou Francisco, acrescentando que «um dos grandes desafios que a Igreja tem pela frente» é «promover, em todos os fiéis, o sentido de responsabilidade pessoal pela missão».
Esta tarefa «exige criatividade para se adaptar às situações em mudança, para levar avante a herança do passado, não primariamente mantendo estruturas e as instituições que também são úteis, mas acima de tudo estando disponíveis para as possibilidades que o Espírito abre».
O propósito de integrar mais os leigos na missão da Igreja não significa, segundo o papa, que o clero venha a «transcurar a autoridade espiritual» que lhe foi confiada, «mas discernir e usar sabiamente os múltiplos dons que o Espírito concede à Igreja».
«De forma particular, significa valorizar a contribuição imensa que as mulheres, leigas e consagradas, deram e continuam a oferecer na vida das nossas comunidades», apontou Francisco.
O questionamento que Leão XIII lançou a Santa Catarina Drexel impeliu-a «a pensar no trabalho imenso que havia para realizar e a dar-se conta de que também ela era chamada a fazer a sua parte».
«Quantos jovens, nas nossas paróquias e escolas, têm os mesmos ideais elevados, generosidade de espírito e amor a Cristo e à Igreja! Perguntemo-nos: somos nós capazes de os pôr à prova? Somos capazes de os guiar e ajudar a fazer a sua parte?», perguntou o papa ao clero e religiosos.
Um dos muitos campos de ação da Igreja em que a contribuição de voluntários leigos é imprescindível consiste no apoio a pessoas detidas; Francisco, que como arcebispo de Buenos Aires era visitante frequente de prisões, encontrou-se este domingo, em Filadélfia, com reclusos do Instituto Correcional de Curran-Fromhold.
«[Cristo] vem ao nosso encontro para nos calçar de novo com a dignidade dos filhos de Deus. Quer ajudar-nos a recompor o nosso andar, retomar o nosso caminho, recuperar a nossa esperança, restituir-nos a fé e a confiança. Quer que regressemos às estradas da vida, sentindo que temos uma missão; que este tempo de reclusão nunca foi sinônimo de expulsão», declarou.
Depois de afirmar que é «penoso» constatar como por vezes «se geram sistemas prisionais que não procuram curar as chagas, curar as feridas, criar novas oportunidades», o papa acentuou que o período na prisão «só pode ter um objetivo: estender a mão para retomar o caminho, estender a mão para que ajude à reintegração social».
«Todos temos alguma coisa de que ser limpos, purificados. Que a consciência disto nos desperte para a solidariedade, para nos apoiarmos e procurarmos o melhor para os outros», assinalou Francisco.
Também neste domingo, último dia da visita aos EUA, o papa reuniu-se, à margem do programa da visita previamente divulgado, com três mulheres e dois homens que foram abusados sexualmente quando eram crianças.
«As palavras não podem exprimir cabalmente o meu lamento pelo abuso que sofrestes. Vós sois filhos preciosos de Deus que deveriam sempre esperar a nossa proteção, o nosso cuidado e o nosso amor. Lamento profundamente que a vossa inocência tenha sido violada por aqueles em quem confiastes. Em alguns casos a confiança foi traída por membros da vossa própria família, noutros casos por padres que tinham a responsabilidade sagrada pelo cuidado da alma. Em todas as circunstâncias, a traição foi uma terrível violação da dignidade humana», disse Francisco às vítimas, em declaração divulgada pela Rádio Vaticano.
«Para aqueles que foram abusados por um membro do clero, lamento profundamente as vezes que vós ou a vossa família falou do caso para reportar o abuso, mas não vos ouviram ou acreditaram. Por favor, saibam que o Santo Padre ouve-vos e acredita em vós. Lamento profundamente que alguns bispos tenham falhado na sua responsabilidade de proteger as crianças. É muito perturbador saber que, em alguns casos, houve bispos que foram mesmo abusadores. Peço-vos que sigam o caminho da verdade até onde ele conduzir», afirmou.
«Peço-vos humildemente, e a todos os sobreviventes dos abusos, que fiquem connosco, que fiquem com a Igreja, e que juntos, como peregrinos no percurso da fé, possamos encontrar o nosso caminho para o Pai», concluiu Francisco [tradução SNPC].»
No encontro que teve, a seguir, com prelados, Francisco prometeu que «todos os responsáveis pelos abusos sexuais a menores serão punidos», e declarou que sentia «vergonha» que esses crimes.
Missa do Papa com clero, religiosos e religiosas - Filadélfia, 26.9.2015 (publicado no SNPC 27.09.2015)
«Apesar de tantas dificuldades que afligem hoje as nossas famílias, não nos esqueçamos, por favor, disto: as famílias não são um problema, são sobretudo uma oportunidade; uma oportunidade que temos de cuidar, proteger, acompanhar.»
Este foi um dos apelos que o papa lançou às famílias reunidas na catedral de Nossa Senhora da Assunção, em Santiago, no último dia da viagem a Cuba(22/09/2015).
Selecionamos algumas das passagens da intervenção do papa Francisco, com subtítulos acrescentados pela redação da página do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura de Portugal.
O casamento, colheita de uma vida doada
As bodas são momentos especiais na vida de muitos. Para os "mais veteranos", pais, avós, é uma ocasião para recolher o fruto da sementeira. Dá alegria à alma ver os filhos crescerem, conseguindo formar o seu lar. É a oportunidade de verificar, por um instante, que valeu a pena tudo aquilo por que se lutou. Acompanhar os filhos, apoiá-los, incentivá-los para que possam decidir-se a construir a sua vida, a formar a sua família, é um grande desafio para todos os pais.
O casamento, festa da alegria e da esperança
Os recém-casados, por sua vez, encontram-se na alegria. Todo um futuro que começa; tudo tem «sabor» a coisas novas, a esperança. Nas bodas, sempre se une o passado que herdamos e o futuro que nos espera. Sempre se abre a oportunidade de agradecer tudo o que nos permitiu chegar até ao dia de hoje com o mesmo amor que recebemos.
Jesus, presença à (nossa) mesa
É no seio dos nossos lares que Ele [Jesus] incessantemente continua a inserir-Se, e deles continua a fazer parte. É interessante observar como Jesus se manifesta também nos almoços, nos jantares. Comer com diferentes pessoas, visitar casas diferentes foi um lugar que Jesus privilegiou para dar a conhecer o projeto de Deus. Vai à casa dos seus amigos – Lázaro, Marta e Maria -, mas não é seletivo: não lhe importa se são publicanos ou pecadores, como Zaqueu. (...) Bodas, visitas aos lares, jantares: algo de «especial» hão de ter estes momentos na vida das pessoas, para que Jesus prefira manifestar-se aí.
A refeição, hora sagrada
Lembro-me que, na minha diocese anterior, muitas famílias me explicavam que o único momento que tinham para estar juntos era, normalmente, o jantar, à noite, quando se voltava do trabalho e as crianças terminavam os deveres da escola. Era um momento especial de vida familiar. Comentava-se o dia, aquilo que cada um fizera, arrumava-se a casa, guardava-se a roupa, organizavam-se as tarefas principais para os dias seguintes. São momentos em que uma pessoa chega também cansada, e pode acontecer uma ou outra discussão, um ou outro "litígio". Jesus escolhe estes momentos para nos mostrar o amor de Deus, Jesus escolhe estes espaços para entrar nas nossas casas e ajudar-nos a descobrir o Espírito vivo e atuante nas nossas realidades quotidianas.
Família, escola de vida
É em casa onde aprendemos a fraternidade, a solidariedade, o não ser prepotentes. É em casa onde aprendemos a receber e agradecer a vida como uma bênção, e aprendemos que cada um precisa dos outros para seguir em frente. É em casa onde experimentamos o perdão, e somos continuamente convidados a perdoar, a deixarmo-nos transformar. Em casa, não há lugar para "máscaras": somos aquilo que somos e, duma forma ou doutra, somos convidados a procurar o melhor para os outros. Por isso, a comunidade cristã designa as famílias pelo nome de igrejas domésticas, porque é no calor do lar onde a fé permeia cada canto, ilumina cada espaço, constrói comunidade; porque foi em momentos assim que as pessoas começaram a descobrir o amor concreto e operante de Deus.
Sem família, a vida torna-se vazia
Em muitas culturas, hoje em dia, vão desaparecendo estes espaços, vão desaparecendo estes momentos familiares; pouco a pouco, tudo leva a separar-se, a isolar-se; escasseiam os momentos em comum, para estar juntos, para estar em família. Assim não se sabe esperar, não se sabe pedir licença ou desculpa, nem dizer obrigado, porque a casa vai ficando vazia: vazia de relações, vazia de contatos, vazia de encontros. (...) Sem família, sem o calor do lar, a vida torna-se vazia; começam a faltar as redes que nos sustentam na adversidade, alimentam na vida quotidiana e motivam na luta pela prosperidade.
A família ensina a ser para os outros
A família salva-nos de dois fenômenos atuais: a fragmentação (a divisão) e a massificação. Em ambos os casos, as pessoas transformam-se em indivíduos isolados, fáceis de manipular e controlar. Sociedades divididas, quebradas, separadas ou altamente massificadas são consequência da ruptura dos laços familiares, quando se perdem as relações que nos constituem como pessoa, que nos ensinam a ser pessoa. A família é escola da humanidade, que ensina a pôr o coração aberto às necessidades dos outros, a estar atento à vida dos demais. Apesar de tantas dificuldades que afligem hoje as nossas famílias, não nos esqueçamos, por favor, disto: as famílias não são um problema, são, sobretudo, uma oportunidade; uma oportunidade que temos de cuidar, proteger, acompanhar.
Família, centro e futuro de humanidade
Discute-se muito sobre o futuro, sobre o tipo de mundo que queremos deixar aos nossos filhos, que sociedade queremos para eles. Creio que uma das respostas possíveis se encontra pondo o olhar em vós: deixemos um mundo com famílias. É certo que não existe a família perfeita, não existem esposos perfeitos, pais perfeitos nem filhos perfeitos, mas isso não impede que sejam a resposta para o amanhã. Deus incentiva-nos ao amor, e o amor sempre se compromete com as pessoas que ama. Portanto, cuidemos das nossas famílias, verdadeiras escolas do amanhã. Cuidemos das nossas famílias, verdadeiros espaços de liberdade. Cuidemos das nossas famílias, verdadeiros centros de humanidade.
Eucaristia, Pão de Vida das famílias
Não quero concluir sem fazer menção da Eucaristia. Tereis notado que Jesus, como espaço do seu memorial, quis utilizar uma ceia. Escolhe como espaço da sua presença entre nós um momento concreto da vida familiar; um momento vivido e compreensível a todos: a ceia. A Eucaristia é a ceia da família de Jesus, que, de um extremo ao outro da terra, se reúne para escutar a sua Palavra e alimentar-se com o seu Corpo. Jesus é o Pão de Vida das nossas famílias, quer estar sempre presente, alimentando-nos com o seu amor, sustentando-nos com a sua fé, ajudando-nos a caminhar com a sua esperança, para que possamos, em todas as circunstâncias, experimentar que Ele é o verdadeiro Pão do Céu.
Pedir pela Igreja e pelas famílias
Daqui a alguns dias, participarei juntamente com famílias do mundo inteiro no Encontro Mundial das Famílias e, dentro de um mês, no Sínodo dos Bispos, cujo tema é a família. Convido-vos a rezar especialmente por estas duas intenções, para que saibamos todos juntos ajudar-nos a cuidar da família, para que saibamos cada vez mais descobrir o Emanuel, o Deus que vive no meio do seu povo fazendo das famílias a sua morada.
Papa Francisco
Edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 22.09.2015 no SNPC
O apelo a uma Igreja desacomodada e a serviço, a viajar sem mapa rumo à surpresa, a partir ao encontro de quem precisa, a construir pontes e a derrubar muros, marcou a homilia que o papa pronunciou hoje (22.09.2015) em Santiago, Cuba, na missa a que presidiu no santuário da Virgem da Caridade do Cobre, padroeira nacional da ilha caribenha.
«[Deus] faz-nos sair de casa (...) A presença de Deus na nossa vida nunca nos deixa tranquilos, impele-nos sempre a mover-nos. Quando Deus visita, tira-nos sempre para fora de casa: visitados para visitar, encontrados para encontrar, amados para amar», afirmou.
Num país marcado pelos ideais de uma revolução política protagonizada por Fidel Castro e, atualmente, pelo seu irmão, Raúl, o papa apelou à «revolução da ternura».
«Somos convidados a «sair de casa», a ter os olhos e o coração abertos aos outros. A nossa revolução passa pela ternura, pela alegria que sempre se faz proximidade, que sempre se faz compaixão e leva a envolver-nos, para servir, na vida dos outros», vincou.
A crença dos católicos, prosseguiu Francisco, impele a «ir ao encontro dos outros para partilhar alegrias e sofrimentos, esperanças e frustrações»: «A nossa fé tira-nos de casa para visitar o doente, o recluso, quem chora e também quem sabe rir com quem ri, rejubilar com as alegrias dos vizinhos».
«Como Maria, queremos ser uma Igreja que serve, que sai de casa, que sai dos seus templos, das suas sacristias, para acompanhar a vida, sustentar a esperança, ser sinal de unidade. Como Maria, Mãe da Caridade, queremos ser uma Igreja que saia de casa para lançar pontes, abater muros, semear reconciliação», frisou o papa.
Na última missa a que presidiu em Cuba, Francisco realçou que o cristianismo à imagem da mãe de Jesus não se refugia mas dá o corpo: «Uma Igreja que saiba acompanhar todas as situações "grávidas" da nossa gente, comprometidos com a vida, a cultura, a sociedade, não nos escondendo mas caminhando com os nossos irmãos».
«Este é o nosso "cobre" mais precioso, esta é a nossa maior riqueza e o melhor legado que podemos deixar: aprender a sair de casa, como Maria, pelas sendas da visitação. E aprender a rezar com Maria, pois a sua oração é cheia de memória e agradecimento», apontou.
Maria, apontou Francisco, «é a memória viva» de que Deus continua presente na história de cada ser humano: «É a memória perene de que Deus olhou para a humildade do seu povo, socorreu o seu servo como prometera aos nossos pais e à sua descendência para sempre».
Celebração da missa - Santuário de Nossa Senhora da Caridade do Cobre, 22.9.2015
imagem: pexels.com
Aconteceu dos dias 02 a 04 de Setembro de 2015, em Aparecida, o Encontro dos representantes da Catequese no Pontifício Conselho para a Nova Evangelização e os representantes da catequese do Brasil.
Estiveram presentes os representantes da Santa Sé, D. Mons. Octávio Ruiz Arenas secretário do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização (PCPNE), D. Franz-Peter Tebarz-van Elst Delegado para a catequese no PCPNE, Pe. Miguel López Varela e Pe. Alejandro Díaz Garcia, oficiais do PCPNE, além destes tivemos a participação de dois representantes do CELAM, D. Waldemar Passini Dalbello e Pe. Felipe de Jesús de Leon Ojeda. D. José Antonio Peruzzo, Presidente da Comissão Episcopal para a Animação Bíblico Catequética e o Assessor para a mesma comissão o Pe. Antonio Marcos Depizzoli também estavam presentes. Além destes estiveram presentes todos os Bispos Referenciais de Catequese e os devidos Coordenadores de catequese dos 18 Regionais da CNBB.
O encontro tinha como objetivo conhecer a realidade da catequese no Brasil. Dom Octávio e sua equipe ouviu atentamente a apresentação da realidade da catequese de cada regional, tendo assim um panorama dos principais desafios e avanços da catequese, principais projetos em cada região do país.
Foram destacados como avanços, dentre outros, o caminho da Catequese de Iniciação à vida cristã, as linhas de orientação comuns que a CNBB possui para a catequese no Brasil, a enorme produção de subsídios, o forte empenho na formação de catequistas, a acentuada presença da Bíblia no processo catequético do Brasil. Como desafios foram destacados, dentre outros, as enormes distâncias geográficas, a dificuldade financeira, o pouco envolvimento do clero com a catequese, a resistência a uma catequese de iniciação à vida cristã, a enorme rotatividade dos catequistas.
Num segundo momento foram feitas reflexões de alguns importantes temas para a caminhada da catequese, que após serem apresentados pelo Mons. Octávio Ruiz culminavam num debate. Os temas foram: 1) A Catequese a serviço da Iniciação Cristã e dos outros sacramentos; 2) A Catequese a serviço da formação permanente de jovens e adultos; 3) A Catequese e a educação religiosa das crianças e adolescentes nas paróquias e nas escolas; 4) A Formação dos catequistas.
Além destes temas de debate com troca de experiências dos diversos regionais foi feita apresentação das linhas principais do documento “A alegria de iniciar discípulos missionários numa mudança de época. Novas perspectivas para a catequese na América Latina e Caribe”, elaborado pelo CELAM e apresentado pelo Pe. Luiz Alves de Lima, representante da CNBB junto ao CELAM. Outro questionamento feito pelo PCPNE foi sobre a conveniência da instituição do “Ministério do Catequista”.
O grupo presente participou ativamente das reflexões, partilhou experiências, fez indicações para a catequese. No final Dom Octávio agradeceu a presença e participação de todos e se disse feliz com o caminho que a catequese está trilhando no Brasil. Dom Peruzzo agradeceu em nome de todos pelo encontro, pela escuta atenta da realidade da catequese no Brasil.
A equipe da Catequese do Pontifício Conselho para nova Evangelização segue para Lima no Peru(7 a 9 de setembro), onde realiza encontro com as comissões de catequese dos países andinos e do cone sul da América Latina.
setembro/2015
Deixa-te satisfazer pelo Deus da tua vida e faz silêncio. Se a alguém não basta Deus, que outra realidade lhe poderia alguma vez bastar na comunidade, no mundo? Karl Barth foi o maior teólogo protestante do século XX, nascido na cidade suíça de Basileia em 1886 e nela falecido em 1968. Um pároco da diocese de Milão escolheu e enviou-me estas escassas e simples palavras daquele teólogo, extraídas da sua introdução à teologia evangélica, e eu proponho-as para esta meditação dominical.
Seria belo se, pelo menos neste dia festivo, o cristão entrasse na igreja não para pedir alguma coisa, mas apenas para escutar Deus, não para esperar uma graça, mas apenas para louvar a graça divina que se efunde nele e na humanidade, não para encontrar uma solução para os seus problemas, mas apenas para descobrir uma presença.
É fácil ouvir nas palavras de Barth o eco de um célebre canto de Santa Teresa de Ávila, «nada te perturbe, nada te espante, quem a Deus tem nada lhe falta. Só Deus basta. Tudo passa, Deus não muda». Na realidade, nós agarramo-nos a muitas coisas; procuramos encher o nosso espírito com prazeres, emoções, aventuras, presenças. E sempre se intui um vazio, uma fome, uma sede, uma pergunta, uma espera. É este o sinal daquilo que bem exprimia Pascal: «O homem supera infinitamente o homem», isto é, está além de si próprio a última resposta.
P. (Card.) Gianfranco Ravasi
Presidente do Pontifício Conselho da Cultura
In "Avvenire" - 4.09.2013
A Comissão para animação Bíblico-Catequética do Regional Leste 2 (Minas Gerais e Espírito Santo) realiza nos dias os dias 22 a 26 de julho, na Casa de Retiros São José, em Belo Horizonte (MG), o Encontro Regional de Catequese.
O tema abordado neste ano será “A catequese na era digital”. A proposta é refletir sobre a evangelização e educação da fé da geração NET; compreender a internet como lugar de evangelização e como as diversas redes sociais podem contribuir na transmissão da fé. Além disso, a midiatização da religião e seu impacto para a vivência da fé também fazem parte da pauta de discussão.
A programação terá início na quinta-feira, 23, com o tema “A Catequese na era digital. A nova evangelização e geração net”, que será assessorado pela jornalista, especialista nas áreas de Ciberteologia e Cibercultura e mestre em Teologia pela PUC do Rio Grande do Sul, Aline Amaro da Silva. Na sexta-feira, 24, a Ir. Joana Puntel, pós-doutora em Cultura da Comunicação, autoras de vários livros nesta área, irá tratar o tema Midiatização da Religião e Redes sociais e Catequese.
Os dois últimos dias, 25 e 26, serão dedicados a outros temas de atualização catequética. O professor da PUC-Minas e mestre em teologia, Edward Guimarães, irá refletir sobre “As Novas Diretrizes e a catequese” e a equipe de catequese do regional fará apresentação do “Itinerário catequético” publicado pela comissão nacional de catequese.
A expectativa da Comissão para Animação Bíblico-Catequética do Regional Leste 2 é reunir o maior número de lideranças da catequese das (arqui)dioceses de Minas Gerais e Espírito Santo e promover uma reflexão sobre desafios e oportunidades para a catequese na era digital.
O Encontro Regional de Catequese é direcionado a membros das equipes de coordenação diocesanas de catequese, alunos do IRPAC e pessoas com experiência catequética. As inscrições podem ser feitas até o dia 17 de julho com a Coordenação de Catequese da sua (Arqui)diocese.
Outras informações pelo e-mail
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