25 de março de 2020 – Festa da Anunciação:“E o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós”. 

Hoje, assisti pela TV Vatican News, papa Francisco presidindo a Celebração Eucarística. Que grande graça celebrar com o pastor maior de nossa Igreja. A TV colocou a capelinha singela da Casa de Santa Marta, dentro de nossa casa. E ali,  pude ver de perto o olhar, as mãos, os gestos de nosso Papa.

Quanta unção! Quanta espiritualidade emana do Santo Padre! Verdadeiro homem de Deus!A serenidade é sua marca. Harmoniozamente, sua oração emana de seu corpo, sua mente,  alma e sentidos todos.

Chamou-me ainda a atenção quando Francisco proclamou o Santo Evangelho. Com tranquilidade as Palavras de Lucas foram derramadas para dentro de nossa sala. Diante do “livro santo” Francisco comunga da Palavra. A comunhão/Palavra de Salvação tocam seu olhar e coração de maneira corporalmente visível.

Silêncio profundo...olhos fechados mas abertos ao Mistério de Deus.

Pensei: Que delícia! Vou ouvir sua homilia. Diante da TV, a conversa do papa será comigo, sozinha em minha sala.

Ele começa: “Lucas viveu com Maria, portanto ninguém melhor que ele para contar sua história. Narrar esse instante da visita do Anjo Gabriel à Virgem Maria. É este o Mistério de um Deus que veio nos visitar. Encarnou-se e fez morada entre nós.

Novo silêncio.... Francisco silencia com os sentidos. Reza, reverenciando o Mistério. Diante dEle nenhuma palavra a proferir...diante dEle  a adoração!

A mais linda homilia que vivi!

O que aprender dessa experiência, querido catequista?  Fico pensando na poesia de Clarice Lispector que diz: “Ouve-me, ouve meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso”.  Francisco ensina-nos, que diante do Mistério o silêncio diz o que não conseguimos expressar com palavras. É necessário captar a beleza nele está escondida. O Mistério se mistura na vida. Experiência concreta é captar o sentido que o Mistério tem em nossa existência.

Fazer catequese é também, querido catequista, descobrir um jeito novo de viver as situações corriqueiras, tornando-as plenas do Mistério de Deus! Como viver assim? Lembrar sempre que Deus amou-nos primeiro. E isso, o papa nos ensinou ao dizer-nos que devemos “Primeirar” com os nossos sentidos, procurando  olhar a fé com o coração, escutar bem de perto tudo que foi criado, saborear a doçura de ser humano, sentir com a pele tatuada de bons desejos, sentir o cheiro da infância, adolescência, juventude e adultez de nossos catequizandos. Sentir o cheiro de Jesus! E qual é o cheiro de Jesus?

A vida que Jesus viveu tem cheiros que impregnam as memórias do coração! As histórias parabólicas que contou, tiradas da vida cotidiana de sua cultura rural; as andanças por tantos caminhos que caminhou,  e as palavras que proclamou; as curas que realizou nos encontros tão plenos de amor e misericórdia. Jesus recuperou-nos e levou-nos ao Pai.

Certamente é este o grande segredo, querido catequista, partilhar experiências que vivemos no dia a dia, em sintonia com o estilo de amor delicado e forte vivido por Jesus. Jesus, o maior catequista, comunicava-se com os discípulos e com todos que o seguiam, através de recursos que trazia dentro de Si. Era pela palavra, pelo silêncio, pelas metáforas, pela imagem e tantos outros sinais que anunciava o Reino e fazia discípulos.

Aprender de Jesus a sua pedagogia, é nossa missão e o jeito de fazer catequese. E em tempo tão adverso de pandemia, Francisco vem nos ensinar a simplicidade de anunciar Jesus. Não podemos realizar os encontros com nossos catequizandos em nossas comunidades. Estamos vivendo a quarentena tão necessária à vida. Então, vamos nos reinventar, fazendo uso da linguagem midiática e da sintonia com aqueles que estão sob nossos cuidados, para que cresçam na fé, esperança e amor.

Rita de Cássia Rezende

Pouso Alegre-MG - 25.03.2020