Catequese não é só um discurso para instruir os que ouvem, é um contato pessoal onde catequista e catequizandos partilham experiências e vão crescendo juntos. É claro que, para ser catequista, a pessoa tem que estar bem preparada, comprometida com Jesus, familiarizada com as Escrituras, a liturgia, a vida da Igreja e as necessidades da humanidade que Deus ama como bom Pai. Nunca se pode dizer que alguém já completou sua formação de catequista, da mesma forma que não se pode admitir que uma pessoa já tem tanta experiência de vida que nem precisa aprender mais nada.
Há muitas formas de aprender que trazem consequências para a nossa catequese. Temos que estudar a Bíblia, conhecer as orientações da Igreja, crescer na oração, desenvolver uma espiritualidade cada vez mais profunda, ligando Deus e a vida. Isso não é só uma obrigação que nos leva a ser catequistas melhores. Aprender, em todas as áreas construtivas, capazes de nos tornar melhores, é uma das aventuras mais emocionantes da vida. Ninguém precisa nos recompensar por isso porque, mesmo antes de comunicar o que aprendemos, já estamos ganhando. Acontece aí algo mais ou menos parecido com o que os judeus costumam dizer sobre a familiaridade com a Lei do Antigo Testamento (que chamam de Torah): A maior recompensa por cumprir a Torah é cumprir a Torah.
Mas não aprendemos só estudando, lendo, meditando, orando, procurando os que são considerados “mais instruídos”. Podemos aprender também bastante conhecendo e ouvindo nossos catequizandos e outras pessoas a quem estamos ensinando algo. Pessoas bem simples podem ter uma visão de vida capaz de nos esclarecer e, se soubermos ouvi-las, podemos aprender e até corrigir nosso modo de ensinar. Quando penso nisso, lembro logo duas situações vividas ao longo do meu trabalho catequético.
Uma aconteceu bem no começo. Eu falava dos dias da criação com muito sensacionalismo. Mandava a criançada fechar os olhos e abri-los quando eu lia a frase: Faça-se a luz. Falava da criação da vida como se vegetais e animais tivessem brotado do nada, só a partir da voz de Deus. Um dia, um garotinho de 8 anos me disse, com uma carinha desanimada: Que pena que Deus não faz mais essas coisas... Então me contou que tinha plantado e regado no quintal um caroço de abacate porque gostava da fruta e queria comer mais. A mãe lhe disse que não adiantava fazer isso porque a árvore levaria anos para crescer e ele não estaria mais ali quando os abacates surgissem. Então ele concluiu: Se fossem abacates feitos por Deus, do jeito que você ensina, eu já estaria comendo eles hoje... Percebi, então, que o meu jeito de falar de falar da criação estava apresentando Deus “ausente” do mundo cotidiano natural. A partir desse dia, falei da criação de modo diferente. Passei a levar as crianças para ver a natureza “normal” e juntos agradecíamos a Deus pelo mundo maravilhoso que Ele nos deu. Percebi também que, muitas vezes, nos livros que tratam da “Bíblia para crianças” , havia interpretações bíblicas que atrapalhavam mais do que ajudavam porque apresentavam tudo ao pé da letra e iriam ser rejeitadas quando as crianças crescessem.
Outro episódio marcante aconteceu bem mais tarde, quando eu trabalhava com adultos de muito pouca escolaridade numa comunidade pobre. Eu estava estudando com eles um documento da CNBB e, como não conheciam bem o que era isso, eu apresentava cada declaração do texto iniciando assim a frase: A Igreja do Brasil disse... Então um senhor me perguntou: Ó dona, eu moro no Fumal, que fica em Luziânia, que fica em Goiás, que fica no Brasil... Então, que Igreja do Brasil é essa que não é eu? Parei, pensei no que ele estava me ensinando, pedi desculpas pelo meu modo de falar, expliquei que o documento fora escrito pelos bispos para toda a Igreja do Brasil, na qual, é claro, eles todos estavam incluídos. Depois disso, cada vez que precisava explicar alguma coisa, em qualquer comunidade, passei a ouvir primeiro como as pessoas se sentiam diante de assunto a ser tratado e a indagar como entendiam o que eu estava dizendo. E compreendi que também tinha muito a aprender com a experiência de vida de cada pessoa a quem eu me dirigia.
Percebendo essa possibilidade de aprender e ensinar , vivida com todos que estão ao nosso redor, vamos enriquecer nossa experiência de vida e nossos relacionamentos. Um catequizando que se sente ouvido e valorizado vai participar da catequese com muito mais entusiasmo, alegria e vontade de crescer. E nós também vamos crescer junto com ele entendo melhor a vida a cada dia e agradecendo a Deus pelas pessoas que têm algo a partilhar conosco. Catequese é um serviço de mão dupla: falamos e ouvimos, damos e recebemos, ensinamos e aprendemos, acolhemos e somos acolhidos, ajudamos e somos ajudados, conhecemos e nos damos a conhecer, oferecemos e recebemos bons exemplos. Louvado seja Deus que nos chamou a uma missão tão gratificante!...
Therezinha Motta Lima da Cruz
foi assessora nacional de catequese e é autora de vários livros de catequese e ensino religioso