Catequista não é simplesmente alguém que tem uma função na Igreja, é uma identidade que marca a personalidade de quem nisso se envolve. Não é apenas algo que fazemos, é uma característica da pessoa que somos. Por isso, tem a ver com todos os momentos da nossa caminhada e não apenas com aqueles horários em que estamos “fazendo catequese”. Vai ser catequista quem se apaixona pela dimensão de ensinar e aprender dentro da experiência do encontro permanente com Jesus e da alegre sensação de ser Igreja.  Com essa característica começamos a nos preparar para ser a imagem e a voz da Igreja. Jesus se apresentou como o Caminho, a Verdade e a Vida. Mergulhados nele vamos mostrar esse Caminho, comunicar essa Verdade, para que nós e os outros nos sintamos a serviço da Vida que realmente Deus quer para nós.

Isso, é claro, exige uma permanente preparação, não só em termos de conhecimento, mas também de experiência de vida e participação na Igreja. Pensando assim, podemos lembrar uma cena bem comunicativa, que encontramos em Atos dos Apóstolos 8,26-40: o encontro de Filipe com o eunuco etíope que queria entender a Palavra de Deus exposta num texto do livro de Isaías. O etíope tinha peregrinado até Jerusalém e vinha sentado no seu carro lendo a Escritura. Filipe, impulsionado pelo Espírito, vai até ele e pergunta: Compreendes o que estás lendo?  O outro responde também com uma pergunta: Como poderia se ninguém me orienta? E aí Filipe sobe no carro e vai ajudando o etíope a entender que em Jesus se realizava o que ali se anunciou, a ponto de deixá-lo decidido a ser cristão e querendo ser batizado com firmeza de convicção. Filipe conseguiu fazer isso porque vivia intensamente a experiência de ter colocado Jesus em sua vida, de ser orientado pelo Espírito Santo e de fazer parte do início do que hoje chamamos Igreja.

Hoje temos muitas pessoas que ouvem falar de certas partes da Palavra de Deus, ou de práticas religiosas mas não entendem de fato o que isso significa porque “ninguém os orienta”. Filipe conseguiu orientar o etíope, fez com que ele mudasse de vida. Mas só deu conta dessa tarefa porque estava bem preparado: conhecia a Escritura, vivia a experiência de ter Jesus em sua vida e se via como parte do cristianismo nascente.

Catequista é alguém com capacidade de apresentar Jesus, não só como um conhecimento  teórico e histórico, mas como algo que vai fazer diferença na vida das pessoas, porque já fez diferença na sua. Para isso, é claro, tem que conhecer a história e os ensinamentos de Jesus. Mas isso não basta porque ser cristão não é só saber o que é a tal “história da salvação” centrada em Jesus. O saber se torna parte da formação de quem é catequista quando interfere em suas escolhas, faz parte da sua vida e constrói na pessoa uma verdadeira identidade moldada pelo seguimento de Jesus.

Jesus deu aos discípulos a missão de levar adiante a Boa Nova que ele anunciou e viveu. Fez deles seus representantes no meio de tantos povos que não o tinham conhecido pessoalmente mas que agora podiam colocá-lo como fonte de suas vidas e levar adiante o que ele veio trazer. Era a Igreja nascendo. E foi a Igreja que espalhou no mundo a mensagem e a presença de Jesus. Hoje ser catequista exige o empenho de ser Igreja. Isso não é só estar no templo, participar de celebrações, ter alguma tarefa pastoral. É se perceber como sinal vivo dessa grande comunidade encarregada de comunicar Jesus.   

E agora, tantos séculos depois, temos situações diferentes que precisam ser iluminadas com a mensagem do Evangelho, temos pessoas que precisam descobrir na vida de Jesus o amor inesgotável de Deus, que veio viver e sofrer por nós e quer ver todos os seus filhos vivendo bem numa grande família solidária.

Comunicar e estimular isso é a missão da Igreja e, consequentemente, da catequese. Quem é catequista fala em nome da Igreja. E aí alguns poderiam fazer uma pergunta no estilo daquela que o etíope fez a Filipe: Como vou falar em nome da Igreja se nem sei o que ela quer que eu diga? Conhecer a Bíblia é fundamental, mas até ai temos que ouvir o que a Igreja diz porque esse livro não é assim tão fácil de entender e a Igreja nos dá muitas orientações para uma leitura adequada da Escritura. Mas será que conhecemos essas orientações?   Que tal procurar sempre conhecer os documentos da Igreja que falam sobre isso?

Se vamos falar em nome da Igreja temos que saber também o que ela diz sobre sua própria missão (e, é claro, sobre a catequese), como é o rosto que ela quer ter. Seria grave dizer em nome da Igreja o contrário que do que ela está querendo ver anunciado. Somos a voz e o rosto da Igreja . Então temos que saber o que ela ensina sobre o mundo, sobre o diálogo inter-religioso e ecumênico, sobre a liturgia, sobre a leitura bíblica, sobre a missão, sobre a justiça social, sobre nosso papel de catequistas... e muito mais. São muitos os documentos da Igreja? É verdade. Mas à medida que os conhecemos vamos alicerçando nossa identidade de catequistas e exercendo nosso ministério com mais firmeza e fidelidade.

Como anda sua intimidade com os documentos da Igreja? O documento 107 da CNBB, sobre Iniciação á Vida Cristã, traz boas reflexões e orientações para a catequese. As cartas do papa também são importantes, como a Gaudete et Exsultate, bem recente. Outro documnto fundamentl é A interpretação da Bíblia na Igreja.  Se você ainda não leu esses e outros testemunhos da voz da Igreja, que tal começar? O etíope disse que precisava de orientação... E nós? Com certeza vale a pena...

Therezinha Motta Lima da Cruz

Catequéta, autora de vários livros de catequese e ensino religioso.

02.03.2020