Ser catequista é ser encantador de gente, como Jesus foi. Ser encantador de gente se aprimora com o tempo e talvez seja uma das coisas mais lindas do Catequista: ser capaz de “abrir os olhos” das pessoas para a vida, para si mesmas, para o sagrado mistério do mundo e de Deus.
É uma delícia ser catequista, mesmo em meio a dor, sofrimento, dúvidas e decepções. Por isso, o catequista precisa ser declarado Feliz ou Bem-Aventurado:
Bem-aventurado o catequista que se sente chamado, no fundo do fundo de si mesmo, para essa missão. Foi capaz de ouvir a voz amorosa de Deus que o convida a ser companheiro na tarefa de construir um mundo novo.
Bem-aventurado o catequista que se descobre incompleto e, por isso, se coloca a caminho, em busca de formação, de reflexões, de conversas, de partilhas de experiências. É capaz de perder noites de sono, de dedicar dias inteiros a estudar, a ler bons livros, porque sabe que a educação da fé é uma arte que precisa de muita dedicação.
Bem-aventurado o catequista que se esforça para participar do seu grupo de catequistas porque acredita que o trabalho em conjunto é capaz de remover obstáculos e criar coisas novas. Sabe que a amizade é o encantador tempero da caminhada e da vida.
Bem-aventurado o catequista que, mesmo sem recursos disponíveis, aprendeu a ser criativo, sobretudo na arte de ser amigo dos catequizandos e soube inventar lugares e meios para anunciar a beleza de ser cristão e viver em comunidade.
Bem-aventurado o teimoso catequista que não desiste diante de desafios que aparecem na Igreja, na comunidade, no grupo de catequistas, no trabalho com os catequizandos. É capaz de "chorar as mágoas”, sem endurecer o coração. Tem o dom de se alegrar imensamente com as pequeninas conquistas e passos dados.
Bem-aventurado o catequista que descobriu a internet e as redes sociais como lugar de evangelização. Percebeu que Deus se revela em todo lugar. Está atento às novas linguagens e tem na música, na arte, no cinema, na poesia, formas privilegiadas para a transmissão da fé no mundo de hoje.
Bem-aventurado o catequista que percebeu que, sem a Beleza a experiência cristã e a catequese permanecem incompletas, porque Deus é Beleza, esplendor e espanto. A educação da fé provoca admiração, sobressaltos de infinito, paixão pelo Absoluto, uma inexplicável emoção que nos derruba nos caminhos de Damasco, que são os de todas as vidas e nos faz novos e inquietos.
Bem-aventurado o catequista que, apaixonado pela Palavra de Deus, descobriu na experiência de seguir Jesus Cristo a alegria de viver e, por isso, anuncia a Fé na Vida. Procura ser íntegro, justo, solidário, verdadeiro, de bem com a vida, comprometido com a comunidade de fé.
(Na foto: Pe. Konings SJ, Pe. Gopegui SJ, D. Aloísio Vitral, Inês Broshuis, Pe. Gruen SDB)
Bem-aventurados os catequistas que foram e são capazes de inspirar a caminhada, agregar pessoas, vislumbrar novos horizontes para a catequese neste país. Souberam prever ou apontar desafios e saídas em momentos de crise e escuridão. Conseguiram manter acesa a chama da alegria, apesar dos dramas que surgem no cumprimento da missão.
Não se trata de ser perfeito, mas consciente da sua imperfeição, o catequista é Feliz porque ama e se deixa surpreender pelo amor de Deus.
Lucimara Trevizan
Coordenadora da Comissão de Catequese do Regional Leste 2
“Se vocês tiverem fé do tamanho de uma semente de mostarda...” (Mt 17, 20)
Quando o ser humano vive afastado do mistério da Criação do grande mistério da vida e da morte, da vertigem do Infinito, “perde o melhor da festa”: passa pela vida como um turista tolo que devora quilômetros, de olho no mapa, sem “olhar” para a paisagem.
Ter fé é encarar de frente o mistério. A fé é um “encantamento”, “mergulho” confiante no infinito Amor de Deus, que aos poucos se manifesta nas coisas simples da vida a quem decide acolhê-lo com amor. Fé e encantamento andam sempre juntos.
Ter fé não é ter certeza absoluta; é estar aberto aos desafios que a vida apresenta em confronto com nossa consciência e com a Palavra de Deus. Não existem respostas prontas. A fé provoca questionamentos, perguntas, apresenta pistas, convida à ampla reflexão, ao profundo mergulho no mais íntimo de si, para que, pela experiência, encontre as próprias respostas.
A experiência bíblica de Deus se caracteriza pela constante purificação e atitude de busca. A Bíblia apresenta a experiência de um povo que sente sede de Deus, busca a Sua Face, é peregrino, acredita, se revolta, fabrica ídolos...Mas, no trajeto de sua caminhada, experimenta que Deus é o Deus da vida, da alegria, da festa... É o Deus do relacionamento e da intimidade; o Deus LIVRE para homens livres que constroem a própria história; o Deus presente na história como LIBERTADOR.
A fé é, pois, caminhada, movimento de abertura para o Pai, admirando-se e encantando-se com as novas descobertas e com os “mistérios” que se encontram dentro da pessoa e ao seu redor. FÉ é viver em “terra de andanças”, “saber armar a tenda”... Sair da própria segurança, da comodidade do que é conhecido... É “entrar” em uma terra nova, em um mundo (interior e exterior) que se abrirá na medida de nossa resposta.
Texto Bíblico: Heb. 11,1-40. A FÉ é como que possuir antecipadamente aquilo que se espera; ela engaja minha existência naquilo que não é visível e palpável, mas tão real que atrai o mais profundo do meu ser.
Pe. Adroaldo Palaoro sj
Coordenador do Centro de Espiritualidade Inaciana - CEI
(In: Revista de Espiritualidade Inaciana, nº 91 – março 2013)
Achamos importante lembrar ao Catequista o sentido do Tríduo Pascal:
O Lava-pés: “Ensina-me a amar...” Não sabemos amar, muito menos amar até o fim. Quem nos ensina é Jesus. Para os judeus a páscoa é celebração da memória de sua história e identidade. Jesus, celebrando a Páscoa com seus doze discípulos, fez da páscoa o memorial de sua passagem, sua missão da parte de Deus e sua volta ao Pai, através do dom de sua vida na cruz. Fez da páscoa o memorial de seu amor até o fim. Jesus quis dizer mais ainda. Tomando a atitude de escravo, ele aponta para sua morte na cruz, morte de escravo. A cruz é o verdadeiro “serviço de escravo” que Jesus nos presta e pelo qual ele nos liberta. Não devemos ter medo de nos comprometer com quem morre por amor de nós!
Jesus lavou os pés dos discípulos para lhes dar um exemplo de serviço na humildade e no amor radical, que o levou a dar a vida por eles. Também nós devemos servir uns aos outros e dar nossa vida pelos irmãos. Para isso, não basta lavar, na cerimônia, uns pés que já foram anteriormente bem lavados. Trata-se de tornar-nos escravos daqueles que trataríamos como escravos. É uma subversão.
A Ceia Pascal: A páscoa Judaica não cai no mesmo dia que a nossa. Jesus consumiu com os discípulos, a páscoa judaica e no início dessa refeição, lavou os pés de seus discípulos, em sinal de exemplo do dom da própria vida. O Evangelista João nem menciona o momento da Eucaristia, porque a Eucaristia significa comunhão com Jesus, e esta comunhão se expressa maravilhosamente pelo gesto do lava-pés: deixar-se lavar por Jesus, aceitar que Jesus seja nosso servo, que não só lava nossos pés, mas dá sua vida por nós. Por isso, queremos servir nossos irmãos... O lava-pés é a Eucaristia na vida!
A última ceia foi uma ceia da páscoa judaica. Jesus quis celebrar essa ceia, mas ao mesmo tempo a transformou, colocando-se livremente como escravo dos seus irmãos! E fez disso a sua “passagem” para junto de Deus! Esta passagem de Jesus se manifesta na ressurreição. Celebramos Jesus na imagem do cordeiro pascal do A.T., cujo sangue preservou os hebreus do castigo que Deus fez descer sobre os egípcios para que deixassem ir os israelitas. Jesus dá um novo sentido. Mas, continuamos celebrando o nosso Cordeiro pascal, cujo sangue (existência) nos salva; este, porém, não foi sacrificado como um animal sem inteligência, mas porque quis livremente servir-nos no amor até o fim.
A “Páscoa” do messias e do seu povo. Uma das leituras da Vigília Pascal lembra o significado da Páscoa no A.T: a passagem do Senhor Deus para libertar seu povo, arrancando-o das mãos dos egípcios e fazendo-o passar pelo Mar Vermelho a pé enxuto. Para os cristãos, Páscoa é a comemoração da passagem de Jesus, da morte à glória. Deus mostrou-se mais forte que os inimigos de seu plano de amor, que mataram o Messias. O amor venceu, e ressurgiu imortal. O Messias vai agora à frente de seu povo, na “Galileia”, lugar onde se encontram os discípulos. Glorioso, o Ressuscitado conduz novamente os seus fiéis, como ensina o evangelho da Vigília Pascal.
Também nós temos de realizar nossa passagem. No início da Igreja, a noite pascal era a noite em que se administrava o batismo. O batismo significa a nossa “travessia no Mar Vermelho”, a nossa descida com Cristo no sepulcro, para com ele voltar à vida nova, tornando-nos novas criaturas, mortas para o pecado, mas vivendo para Deus, em Cristo. Na Vigília Pascal renovamos nosso compromisso batismal. Morremos e ressuscitamos com Cristo. Essa renovação do compromisso batismal é o “selo” que confirma nossa conversão empreendida na quaresma. A alegria da Páscoa não será por causa do coelhinho e dos presentes que o comércio avidamente nos forneceu. Será a alegria de quem passou da morte para a vida, trilhando os passos de Jesus.
(KONINGS, Johan. Liturgia Dominical. Mistério de Cristo e formação dos fiéis (Anos A –B – C). Petrópolis: Vozes, 2003, pág. 98-99 - adaptação)
Equipe do Catequese Hoje
O cuidado com a Espiritualidade do Catequista se faz prioridade. É a Espiritualidade que mantém acesa a chama do Amor-Encontro com Deus e da Missão do Catequista. Sem espiritualidade o cansaço, o desânimo, o ativismo, tomam conta.
O que é Espiritualidade?
Será importante explicitar aqui, brevemente, o que é a Espiritualidade. A Espiritualidade é o oxigênio do coração. É viver segundo o Espírito. É uma maneira determinada de viver a globalidade da vida, com seus afazeres, dificuldades, objetivos e desafios, orientando-a pela luz da nossa fé cristã. Espiritualidade é nossa dimensão divina em tudo o que é humano.
Numa bela definição, Pe. Adroaldo Palaoro sj, nos diz: “É a espiritualidade que reacende desejos e sonhos, que desperta energias em direção ao algo “mais”; é a espiritualidade que faz descobrir, escondida no cotidiano, a presença amorosa do Deus Pai-Mãe que nos envolve; é a espiritualidade que projeta a vida a cada instante, abre espaço à ação do Espírito, nos faz ser criativos e ousados em tudo o que fazemos e dá sentido e inspiração a cada ação humana, por mais simples que seja; é a espiritualidade que nos desperta e nos faz descobrir que nossa vida cotidiana guarda segredos, novidades, surpresas... que podem dar novo sentido e brilho à vida.
É um modo de “ler” e interpretar a mensagem que cada experiência de vida pode nos comunicar. Essa dimensão espiritual se revela pela capacidade de diálogo consigo mesmo e com o próprio coração, se traduz pelo amor, pela sensibilidade, pela compaixão, pela escuta do outro, pela responsabilidade e pelo cuidado como atitude fundamental”.
Espiritualidade consiste primariamente não na recitação piedosa e humilde de determinados exercícios devocionais religiosos..., mas num modo de se posicionar na vida e ver todas as coisas. Olhar o mundo com os olhos do coração, ver o sagrado mistério da realidade... Então, espiritualidade não é momentos de oração, é a definição mais capenga. Nem se reduz a sacramento, retiro, silêncio...
Espiritualidade é o cultivo das coisas do Espírito. A palavra espiritualidade vem de espírito. Na Bíblia, “Espírito” quer dizer vida, movimento, força, presença, sopro, ardor. Espírito é a força que leva a agir. Espiritualidade é uma força que nos anima, inspira. Ela vem de dentro de nós e nos impulsiona para a ação. Na vida do Cristão, esta força é o Espírito Santo. Ele acende em nós o fogo do amor: amor a Deus, amor aos irmãos, amor a Catequese. E o amor nos faz atuar, agir.
Quem experimenta o encontro com Deus-Amor deseja estar com Ele. A oração é a conversa mais particular e íntima com Deus, que realimenta e fornece combustível para a dinâmica do encontro permanente com Ele e da leitura da sua presença na vida. Pondo diante de Deus o que somos e vivemos, ele nos ajuda a ver mais claramente, a identificar seu apelo nos chamados sinais dos tempos, que estão aí na nossa história pessoal e na sociedade. A oração mais do que palavras é estar com Deus. Como diz Santa Tereza é “querer estar a sós com aquele que sabemos que nos ama”.
Sem espiritualidade a catequese perde o rumo
Sem o cultivo da Espiritualidade é muito difícil a catequese caminhar bem. As coisas se transformam em rotina, o desânimo vai minando o trabalho, os conflitos tumultuam o grupo. Sem Espiritualidade as pessoas vão ficando endurecidas, descrentes, desgastadas. A Espiritualidade mantém viva o “porquê” e o “para que” somos catequistas. A causa (a paixão por Jesus e pelo Reino de Deus) nos mantém no caminho do seguimento e da paixão pela educação da fé da comunidade cristã.
Quem cultiva a espiritualidade, sente-se habitado por uma Presença, que irradia ternura e amor, mesmo em meio à maior dor. Tem entusiasmo porque sabe que carrega Deus dentro de si. Mesmo com desafios, dores, sofrimentos, um catequista assim sabe-se a caminho e um eterno aprendiz do Amor.
Algumas ações possíveis para o cultivo da Espiritualidade:
- Pode ser preciso realizar algum tipo de formação sobre Espiritualidade (o que é e o que não é; o que é experiência de Deus; a oração cristã...). Mas, é importante ter presente que um curso sobre Espiritualidade não irá resolver o cultivo da Espiritualidade do grupo de catequistas.
- Iniciar todas as reuniões com o grupo de catequistas (da paróquia, da comunidade) com um belo tempo de oração-celebração. Para isso, é importante preparar com antecedência o ambiente e a celebração. O “Catequese Hoje” tem postado belas sugestões em “Tempo da Delicadeza”.
- Organizar Manhãs ou Tardes de Espiritualidade, de maneira bem catequética, cuidando da centralidade da Palavra de Deus. Cuidar para ter espaço de silêncio e oração pessoal. É possível convidar alguém para ajudar na reflexão, mas cuidado para não transformar tudo em palestra e lição de moral. Seria bom se fosse planejado uma vez por semestre, pelo menos.
- Organizar retiros (um dia, um final de semana) com o grupo de catequista. O catequista precisa sair da rotina diária, ter espaço para saborear o encontro com Deus e consigo mesmo. Retiro não é curso ou palestra. Podemos pedir ajuda de algum pregador. Pode ser agendado uma vez ao ano. Quem experimenta o gosto bom de um retiro não irá fugir dele.
- Cuidar especialmente da Acolhida dos catequistas, catequizandos, famílias. Isto é parte integrante do cultivo de uma Espiritualidade da Comunhão.
- Desenvolver o cuidado com cada catequista e também catequizando, percebendo cada um como uma delicada obra de arte de Deus. Escutar as pessoas, ser sensível ao que estão passando.
- É necessário aprender a “gastar tempo” diante do Senhor e de sua Palavra. Podemos cultivar a espiritualidade através de pequenas coisas:
a) A oração ao amanhecer e ao dormir;
b) A leitura cotidiana de trechos da Bíblia,
c) Leitura Orante da Bíblia;
d) Ofício divino das comunidades;
e) A contemplação e a adoração silenciosa ao Santíssimo;
f) Os momentos de silêncio interior para escutar os apelos de Deus;
g) A escuta de músicas, orações ou reflexões de um CD de meditação;
h) A participação na Celebração Eucarística;
i) E outros;
Temos que ter o cuidado para não cair na rotina de usar somente as orações “decoradas” ou simplesmente lidas. É importante rezar a vida e rezar com a vida, trazendo para o nosso interior, portanto, a realidade em que vivemos. Perceber a presença e atuação de Deus na vida, no mundo.
- A oração em comum alimenta em todos a comunhão na vivência em comunidade. A Celebração Eucarística é a que mais expressa e realiza a comunhão com Deus e com os irmãos. Mas a Espiritualidade da Comunidade não se reduz à participação na missa. Toda a vida do cristão deve ser um culto agradável a Deus.
Lucimara Trevizan
Comissão Regional Bíblico-Catequética do Leste 2
O Ano da Fé teve início dia 11 de outubro e se encerrará dia 24 de novembro de 2013. O Papa Bento XVI na Exortação Apostólica Porta Fidei, em que proclama o Ano da Fé, diz os objetivos: “Queremos uma conversão a Deus cada vez mais completa, para fortalecer a nossa fé n’Ele e para anuncia-lo com alegria ao homem do nosso tempo”. A Renovação da Fé deve ser prioridade!
Em síntese, o que devemos guardar sobre o Ano da Fé:
1. É também um ano para celebrar:
-50 anos do Concílio Vaticano II (1962 a 1965).
-20 anos do Catecismo da Igreja Católica (1992).
-Assembleia Sinodal sobre a Nova Evangelização (que está sendo realizada em Roma neste mês).
2. Finalidades do Ano da Fé:
-Renovação da Igreja.
-Nova Evangelização.
3. Algumas ações fundamentais:
-Refletir (aprofundar o conteúdo da fé).
-Confessar a fé (confissão pública e individual do CREDO).
-Celebrar a fé (na Liturgia).
-Testemunhar a fé (caridade).
4. Os meios e instrumentos para realizar essa tarefa
a) O Catecismo da Igreja Católica (que contém a síntese ou conteúdo da fé).
b) A “história da fé” (memória dos homens e mulheres que testemunharam a fé ontem e hoje).
c) Testemunho da caridade, porque a fé sem obras é morta.
Algumas ações durante o Ano da Fé:
1. Rever a Formação dos Catequistas
- Em que cremos?
- Por que cremos?
É preciso e possível proporcionar espaços de formação sobre o CREDO e sobre a Trindade. O Catecismo da Igreja Católica pode ser a fonte de inspiração. Também a Palavra de Deus que é a grande fonte da catequese. Mais do que a doutrina, a Palavra “amacia” o coração.
Também é importante reforçar a formação básica dos novos catequistas. Sem formação a catequese perde seu vigor. Sem a verdadeira orientação sobre o núcleo da Fé cristã, o catequista costuma “encher” os encontros catequéticos de coisas que não são essenciais a fé, ao seguimento de Jesus Cristo. Daí a importância de reforçarmos a formação dos catequistas.
2. Cuidar da Espiritualidade do Catequista
Mais do que nunca será importante oferecer espaço de cultivo da intimidade com Deus. É possível pensar em manhãs, tardes ou dias de Espiritualidade (uma vez por semestre, pelo menos). Quem sabe até, um final de semana de retiro com o grupo de catequista.
Sem o cultivo da intimidade com o Amado, a vida vai perdendo o sabor, a catequese perde sua razão de ser. É a espiritualidade que mantem acesa a chama do Amor e a missão.
3. Rever o Conteúdo da Catequese
Será importante rever o conteúdo da catequese que está sendo feita com crianças, jovens e adultos. Se o grupo usa um manual (livro) como instrumento, também deve ser avaliado. Há muitos “roteiros” ou “temas” dos encontros catequéticos que acentuam algum aspecto da história da salvação e não privilegia a vida de Jesus, por exemplo. Muitos manuais levam um ano para “contar” a história do povo de Jesus e há poucos temas sobre Jesus... Outros catequistas comunicam sua religiosidade pessoal (devoção) e não o essencial que é Jesus Cristo.
É preciso analisar, estudar o que é essencial a ser comunicado pela catequese, assim não perdemos tempo com o que é assessório. O Centro da Catequese é Jesus Cristo e sua mensagem: o Reino de Deus.
“Apresentar a pessoa de Jesus, sem maquiagem e fundamentalismos, como sentido máximo para a vida, muito além da Instituição, é fundamental! Proporcionar o encontro com Ele e a experiência do seu amor...Isso exige uma catequese mais “enxuta”, voltada para o essencial, despojada de tantos conteúdos e temas que podem ser compreendidos ao longo de toda a vida cristã”. Pe. Vanildo Paiva
Continuaremos a refletir sobre o catequista e o ano da fé nesta seção.
Lucimara Trevizan
Coordenadora da Comissão Bíblico-Catequética do Leste 2
15.10.2012
Imagem: pexels.com
Bendita a sede
por arrancar nossos olhos
da pedra.
Bendita a sede
por ensinar-nos a pureza
da água.
Bendita a sede
por congregar-nos em torno
da fonte.
(Orides Fontela)
Não é por acaso que começo essa conversa com um poema. Como sempre acontece, nele podemos fazer muitos itinerários e eu espero e desejo que cada um de nós possa fazer o seu. Eu lhes proporei alguns, nesse caminho que eu considero uma possibilidade de humanização, e por isso mesmo, desdobrável e múltiplo. Lembro-lhes que aqui também não se trata de uma crítica literária.
A autora repete três vezes uma bênção. E ela bendiz a sede. Curioso que ela nos lembre isso. Porque bem dizer a sede? Habitualmente somos convidados a evitar o desconforto da sede, um estado de privação. Minha boca está seca. Preciso urgentemente de água. Então, porque bendizer a sede?
A sede é o reconhecimento de que somos humanos, que estamos em estado permanente de construção da nossa humanidade. Não estamos prontos em nenhuma instância. Somos seres a caminho. Qual é a nossa sede? Sede de humanidade, sede de humanização.
E o que nos torna humanos são os nossos afetos. Somos afetados pela vida que nos constitui. A nossa imersão no tempo e no espaço da qual emergimos fazendo poesia, contando as nossas histórias. Temos sede de contarmos as nossas experiências de alegria e de dor. Basta pensarmos nas histórias e canções que nos ensinaram do amor e da coragem de existir.
Bendita a sede por arrancar os nossos olhos da pedra.
É um verbo forte: arrancar. A sede arranca os nossos olhos da tentação da saciedade. Temos uma tendência irresistível para a mesmice, para ficarmos instalados na nossa própria compreensão da realidade, agarrados às nossas verdades pré-concebidas para não sermos despertados do sono que nos aliena de nós mesmos, dos outros e do mundo. Surpreendidos pela sede, somos des-instalados e lançados para uma existência que nos transcende, abertos a outras possibilidades para além daquelas conhecidas.
A sede, o estado de inacabamento próprio do que é humano, movimenta o nosso olhar para além da pedra. Com muita facilidade nos desumanizamos, perdemos o nosso jeito de aprendiz, deixando de reconhecer a eterna novidade do mundo.
Bendita a sede por ensinar-nos a pureza da água.
Só a sede nos dá a conhecer a água. Só o nosso olhar, arrancado da pedra, é capaz de nos ensinar que a vida tem um sabor, que a vida pede saboreá-la. O sentido da vida nós o captamos através dos cinco sentidos. Saborear supõe paciência. As pessoas sábias são aquelas que saboreiam o gosto do viver. Aí voltam as histórias. Elas nos contam ‘o sabor das massas e das maçãs’ que o Almir Sater canta em ‘Tocando em frente’. É na lembrança do sabor da água fresca que podemos bendizer a sede que volta e nos arranca da nossa aridez.
Bendita a sede por congregar-nos em torno da fonte.
O que nos congrega é sempre maior do que a gente mesmo. Ouvir a quem nos chama. Sem a sede ficamos surdos para os chamados, cegos para o reconhecimento das fontes. É preciso espiritualizar a nossa vida cotidiana, porque ela tem uma dimensão muito maior do que aquela que nos aponta a necessidade. Não somos necessidade pura em nenhum momento da nossa existência. O que nos congrega em torno da fonte é a sede de humanidade que nos sustenta no caminho.
Num texto inspirado, o Pe. Adolfo Nicolas, superior da Companhia de Jesus (jesuítas), sugere três dimensões importantes para a vida de uma comunidade profética. Um outro modo de bendizer a nossa sede:
Profundidade: para que não nos percamos na superficialidade ou na mesmice (arrancar os nossos olhos da pedra). Jesus nos pede para entrarmos no tempo de Deus. A contemplação cultiva processos lentos e profundos.
Criatividade: para entrarmos nos mundos novos e responder de maneira adequada (saborear a pureza da água). Jesus exposto e encarnado. Ele é o abraço de Deus, acessível a todos os nossos sentidos. Quando O contemplamos, os nossos sentidos se convertem.
Espiritualidade: é a vida no Espírito que leva à transformação (congregar-nos em torno da fonte). Na contemplação, Deus não impõe, mas propõe, oferecendo opções de vida. E nos acompanha nesse caminho.
Na formação de catequistas, em todo processo de educação da fé, na vida cristã, nossa missão é a de despertar a sede, como Jesus fazia.
Fátima Fenati
Psicanalista e membro da Equipe do Centro Loyola-BH
15.09.2012
“... Diariamente, todos juntos frequentavam o Templo e nas casas partiam o pão, tomando alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E a cada dia o Senhor acrescentava à comunidade outraspessoasqueiamaceitando a salvação”. At 2, 46-47
Há uma variedade de imagens sobre felicidade no facebook, todas são curtidas, comentadas e compartilhadas. Nelas a mensagem é reduzida a três palavras: DEUS, FAMÍLIA E AMIGOS. Sempre que nos lembramos de alguma experiência de grande alegria, na maioria das vezes, ela está vinculada ao encontro com família e/ou amigos. São momentos que alimentam, fortalecem e motivam nossa caminhada. Os que “curtem, comentam e compartilham” possuem a mesma opinião: essas três dimensões do relacionamento humano são preciosas e essenciais para alcançar a tão sonhada felicidade.
Tais experiências não se restringem ao grupo, contagiam quem está ao redor. Quem não faz parte do grupo também é “afetado”, fica admirado, tem desejo de passar pela mesma experiência, vontade de fazer parte do grupo. Na catequese precisamos vivenciar essa certeza: somos a grande Família de Deus e nós, como irmãos e irmãs, formamos o Corpo de Cristo. A convivência no grupo de catequista é a de uma grande Família de irmãos, é experiência de Felicidade!
Na convivência em comunidade fraterna cada catequista alimenta sua vida de oração, a escuta da Palavra, a partilha... O grupo é fonte de vida, de esperança, de animação, de diálogo, de fraternidade e de alegria. Nele acontece a formação, a troca, a reflexão, o crescimento. Também a partilha das dificuldades, angústias, cansaço, desesperanças, dúvidas, busca de solução. É no crescente aprendizado no relacionamento entre os integrantes do grupo que este vai amadurecendo e conquistando outras pessoas da comunidade para participar dessa família, desse grupo de amigos. Nele o catequista se sente fortalecido em sua missão.
O relacionamento entre os catequistas vai se construindo a partir de encontros e desencontros. Na transparência, na honestidade, no respeito e cuidado para que o grupo seja uma árvore por todos cultivada, cuidada, para que em todas as estações se viva o inevitável (crescer, florescer, frutificar, desfolhar...). Cada pessoa também passa por “estações”: um inverno rigoroso, triste; um verão ora festivo, revigorador, ora escaldante, que queima qualquer um que se aproxima; um outono sombrio ou silencioso, pensativo, onde as esperanças se renovam; a fé renasce na primavera com festa, alegria, sorrisos.. O que é importante lembrar é que tais estações podem acontecer num mesmo dia, numa mesma semana ou num mesmo momento.
No texto “No “outro” para os outros”, Frei Cláudio Van Balen nos alerta: “...Na relação com o outro, sou revelado a mim. O outro é o portador de minha transcendência. Sem ele(s) ou ela(s), minha insignificância permanece minha prisão; e ‘com’ ele(s) ou ela(s), meu valor se revela, minha potencialidade se desdobra para que minha grandeza se construa, meu círculo se amplie, minha missão se cumpra. Graças ao ‘outro’, configuro meu rosto e ocupo meu lugar neste Universo. O outro é a garantia e o sentido de meu existir.” Nessa experiência vamos nos humanizando e cada vez mais nos aproximando da proposta e ação do próprio Jesus.
Como vai nosso grupo de catequistas? Nós nos encontramos para preparar os encontros, planejamos e avaliamos nossa caminhada? Essa é uma grande oportunidade de formação, ajuda mútua e enriquecimento.
Em nosso cronograma anual há espaço para momentos de espiritualidade e partilha de vida? Estes são momentos de rica experiência da oração e vida partilhada. Guardamos um tempo para lembrar e festejar o aniversário dos catequistas? Para uma visita quando há motivo de festa ou de dor? Com a lista de nomes, endereços, telefone, e-mail, facebook... em mãos, é possível priorizar um tempinho para um prazeroso encontro ou, se impossível na correria do dia a dia, pelo menos ligar, enviar mensagens, recadinhos.
As confraternizações no final de cada semestre são realizadas? Vivenciamos momentos de lazer, passeios, um divertimento comum em grupo? Esses são momentos especialíssimos de oração, partilha e festa: um oferece a casa e todos partilham seus dons para um saboroso café da manhã, lanche, almoço.
São inúmeras as experiências e vivências que podemos partilhar no grupo de catequistas. Quantas alegrias (casamentos, passeios, retiros, almoços, celebrações,...), lágrimas divididas em momentos difíceis (acidentes, doenças, mortes), isso tudo vivido de forma conjunta e intensa. Como foi bom. Foi? Não! É! O grupo se modifica, uns precisam ir por outros caminhos, uns retornam, outros chegam. O que mantém o grupo de catequistas é a abertura ao Criador que possibilita a vida, ao filho que muito amou e ao Espírito que mantém acesa a chama do “amor, fraterno amor”.
“...Nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove...., é o que dá sentido à vida...” Cora Coralina
Ana Angélica Ribeiro
Comissão Regional Bíblico-Catequética do Leste 2
01.08.2012
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