Num encontro com catequistas uma jovem me fez a seguinte pergunta: o que afinal é a catequese? Para que existe catequese na Igreja?
E percebi que a dúvida não era somente dela. Havia catequistas já bem "antigas" que pareciam um tanto perplexas com a questão colocada. E me olharam esperando a resposta.
A catequese, dizendo de maneira mais simples, existe para anunciar o amor de Deus revelado em Jesus Cristo. A catequese não é outra coisa senão o anúncio da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Para muitos catequistas o anúncio de Jesus Cristo ainda não é o centro do itinerário catequético. Na lista de conteúdos com crianças, por exemplo, encontramos longa lista de temas como sacramentos, mandamentos, profetas etc. Não que não sejam importantes, mas para o anúncio de Jesus é destinado dois ou três temas. O itinerário catequético tem como objetivo anunciar o nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus. Ele é o centro da vida cristã.
Não podemos perder de vista que hoje a maioria dos catequizandos não conhecem, não tem intimidade com Jesus Cristo. Daí a importância de dedicar um longo percurso para levar o catequizando a conhecer e amar Jesus Cristo.
O Papa Francisco assim formulou o primeiro e principal anúncio da catequese:
“Jesus Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer, libertar”. (EG 160-168)
É o primeiro anúncio no sentido de anúncio principal, diz o Papa. A ele deve-se sempre voltar durante o aprofundamento da fé na catequese, de diferentes maneiras. E diz ainda: “Não se deve pensar que, na catequese, o querigma é deixado de lado em favor de uma formação supostamente mais “sólida”. Nada há de mais sólido, mais profundo, mais seguro, mais consistente e mais sábio que esse anúncio” (EG 165).
O Catequista é essa pessoa que experimentou o amor de Deus em sua vida, apaixonou-se por Jesus Cristo e deseja colocar sua vida a serviço do anúncio desse amor apaixonado de Deus por nós. Ser catequista é anunciar incansavelmente que Deus nos ama, que Deus espera por nosso amor, que Deus veio ao nosso encontro em Jesus Cristo.
Ser catequista é testemunhar a beleza de ser amado por Deus, de ser capaz de confiar nesse Amor.
Lucimara Trevizan
No coração da vocação da Igreja no mundo está a proclamação do Reino de Deus inaugurado em Jesus, o Senhor crucificado e ressuscitado. E, na missão de proclamar a Palavra, são os desafios que nos alertam para a renovada reafirmação da identidade cultural nos diversos lugares, especialmente quando se observa a pluralidade das práticas religiosas. Esses ambientes exigem do evangelizador capacidade para estabelecer um relacionamento de diálogo com outras pessoas no sentido de discernir as insondáveis riquezas de Deus e a maneira como ele lida com a humanidade. É preciso ter a clareza de que o Espírito de Deus atua constantemente em de maneiras e formas que vão além do entendimento humano e nos lugares em que menos se espera.
Nesse sentido o catequista se encontra diante de importantes paradigmas em suas missão: encarnar o evangelho no âmbito de cada cultura, viver em comunidade, testemunhar e dialogar, ou seja, testemunhar a própria fé, mas entendendo as várias formas pelas quais Deus cumpre seus propósitos.
Deus é o anfitrião da salvação e a salvação pertence a Ele. A nós, cabe participar desse projeto divino. Nós não oferecemos a salvação, mas damos testemunho dela. Não decidimos quem será salvo, pois isso compete À Providência Divina. Nossa tarefa missionária é proclamar a Palavra de Deus, que nos capacita para discernir os sinais do cumprimento dos propósitos de Deus. Abrimo-nos, assim, a uma cultura de diálogo e solidariedade, mas sempre atentos para reconhecer as limitações humanas e da linguagem que tornam impossível esgotar o mistério da salvação que Deus oferece à humanidade. A salvação é uma “hospitalidade” eterna de Deus. Foi Ele que decidiu fazer de nós um povo portador da sua promessa. O próprio Deus nos escolheu para sermos seus servos, não de forma facultativa, mas como dever de justiça, de justiça divina, porque Deus é justo.
A questão do diálogo
A realidade plural em que vivemos, das diversas formas de pensar e viver a fé, nos convoca para o diálogo, sem que isso implique a perda da própria identidade. Pois, quando somos conhecedores da nossa própria tradição religiosa, conhecemos as identificações como valores, normas, ideias, modelos, heróis, nos quais a pessoa, e a comunidade se reconhecem e trabalham as questões de fé, esse reconhecer-se nessa realidade propicia o reconhecer-se com o outro e nesse reconhecimento de si mesmo e do outro, passa a existir a possibilidade do diálogo com benefícios para aqueles que se abrem ao outro. Isto porque ao abrir-se ao diálogo com o outro, sendo conhecedor de sua tradição, da revelação do amor de Deus à humanidade e tendo feito sua escolha histórica de fé sem excluir a sua presença transcendente em outras tradições religiosas, ou até mesmo, nas diversas práticas e crenças, o diálogo abre perspectivas para aprender com o outro, amplia sua identidade que se coloca em constante construção.
Descobrir os mistérios da pessoa de Jesus e o mistério do Reino
Toda essa nossa conversa sobre identidade pessoal, comunitária e diálogo possível nas diversas formas de vivência da fé tem sentido quando nos reportamos para o sentido e significação de ser iniciado na fé. Essa reflexão irá nos ajudar quando tomamos a consciência de que descobrir os mistérios do Reino de Deus, assumir os compromissos do caminho que nos propõe Jesus, viver a mística da moral cristã, tudo isso são realidades muito exigentes, e sem um verdadeiro processo de iniciação não se alcança seu verdadeiro sentido.
O processo de evangelização ao qual somos chamados a viver e levar em missão para as crianças, jovens e adultos, e até mesmo para as pessoas que, embora tenham recebido os sacramentos de iniciação, não foram evangelizados na experiência vivencial do mistério, exige de nós um envolvimento maior com a formação de cristãos que assumam de fato o projeto do Reino e uma revalorização dos itinerários que percorremos na tentativa de contribuir com uma participação maior das pessoas no mistério da fé cristã que gere identidade pessoal e que seja integrada num estilo evangélico de vida.
O valor do mistério de Cristo e da Igreja, explicados nas catequeses e experimentados nas celebrações necessitam de ser hoje explicados dentro de uma vivência marcada pelo rito através das catequeses mistagógicas, vivenciais. Estas experiências marcam a pessoa por inteiro e possibilita maior interiorização.
A iniciação não é uma invenção cristã. Ela está na raiz de muitas religiões na antiguidade e, mais ainda, na raiz de quase todas as culturas. Antes de ser uma realidade religiosa, é uma realidade antropológica. Daí a dificuldade que se tem da vivência do mistério, pois por ser uma realidade antropológica, o ser humano necessita de se deixar abrir ao mistério, criar suas identidades, mas sabedor da existência de um Deus que transcende, que vai além das nossas compreensões, que nos exigem diálogos que podem ser entre eu comigo mesmo, eu e Deus, eu e a natureza, eu e o outro. O diálogo ajuda no enfrentamento dos desafios que nos interpelam, atrai, questionam nossas certezas, coloca medo, mas nos possibilitam o ir além e ampliar a profundidade do mistério no qual somos inseridos, o mistério da nossa fé.
Neuza Silveira de Souza
Comissão bíblico-catequética do Regional Leste 2 da CNBB
26.10.2018
Todos nós podemos reconhecer os perigos que o papa vê na cultura de hoje. No quarto capítulo da sua exortação apostólica "Gaudete et exsultate" (Alegrai-vos e exultai), sobre o chamamento à santidade, Francisco elenca «a ansiedade nervosa e violenta que nos dispersa e enfraquece; o negativismo e a tristeza; a acédia cômoda, consumista e egoísta; o individualismo e tantas formas de falsa espiritualidade sem encontro com Deus que reinam no mercado religioso atual».
Em resposta, o papa dá-nos as cinco grandes expressões de amor a Deus e ao próximo que considera de particular importância à luz dos perigos presentes na cultura de hoje.
Perseverança, paciência e mansidão
Em resposta a esses perigos, o papa diz que é preciso «permanecer centrado, firme em Deus que ama e sustenta». É isso que nos dá a força interior para perseverar, não apenas nos altos e baixos da vida, mas também em face das «agressões dos outros, as suas infidelidades e defeitos».
A força interior que vem de saber que Deus nos ama, «o testemunho de santidade, no nosso mundo acelerado, volúvel e agressivo, é feito de paciência e constância no bem».
Citando a carta de Paulo aos Romanos, ele exorta a não retribuir o mal pelo mal, a não buscar vingança e a não ser vencido pelo mal, mas sim a «vencer o mal com o bem».
Ele chega a repreender os meios de comunicação católicos ao sublinhar que mesmo dentro deles «é possível ultrapassar os limites, tolerando-se a difamação e a calúnia e parecendo excluir qualquer ética e respeito pela fama alheia». E prossegue: «É impressionante como, às vezes, pretendendo defender outros mandamentos, se ignora completamente o oitavo, "não levantar falsos testemunhos", e destrói-se sem piedade a imagem alheia».
Por outro lado, «o santo não gasta as suas energias a lamentar-se dos erros alheios, é capaz de guardar silêncio sobre os defeitos dos seus irmãos e evita a violência verbal que destrói e maltrata, porque não se julga digno de ser duro com os outros, mas considera-os superiores a si próprio».
Só através da humildade se alcança a santidade: «Se não fores capaz de suportar e oferecer a Deus algumas humilhações, não és humilde nem estás no caminho da santidade». Neste sentido, «a humilhação faz-te semelhante a Jesus, é parte ineludível da imitação de Jesus».
Francisco elogia aqueles que, diante das «humilhações diárias», se «calam para salvar a sua família, ou evitam falar bem de si mesmos e preferem louvar os outros em vez de se gloriar, escolhem as tarefas menos vistosas e às vezes até preferem suportar algo de injusto para o oferecer ao Senhor».
Ao mesmo tempo, «uma pessoa, precisamente porque está liberta do egocentrismo, pode ter a coragem de discutir amavelmente, reclamar justiça ou defender os fracos diante dos poderosos, mesmo que isso traga consequências negativas para a sua imagem».
Alegria e sentido de humor
Os santos são alegres e cheios de bom humor, segundo Francisco, não são tímidos, rabugentos, amargos ou melancólicos. Citando S. Tomás de Aquino, escreve ele, «do amor de caridade, segue-se necessariamente a alegria. Pois quem ama sempre se alegra na união com o amado. (...) Daí que a consequência da caridade seja a alegria». A alegria sobrenatural vem de saber que somos infinitamente amados.
Ele contrasta essa alegria espiritual com a falsa alegria oferecida pela cultura consumista de hoje. «O consumismo só atravanca o coração; pode proporcionar prazeres ocasionais e passageiros, mas não alegria.» A alegria vem de dar e amar. «Concentrando-nos sobretudo nas nossas próprias necessidades, condenamo-nos a viver com pouca alegria.»
A alegria cristã, argumenta Francisco, é normalmente «acompanhada pelo sentido do humor». De facto, «o mau humor não é um sinal de santidade».
Ousadia e ardor
A santidade requer ousadia e ardor, «impulso evangelizador que deixa uma marca neste mundo». Francisco observa que a compaixão de Jesus fez com saísse fortemente de si mesmo «a fim de anunciar, mandar em missão, enviar a curar e libertar». Francisco adverte contra estar paralisado «pelo medo e o calculismo».
Esse medo pode manifestar-se de várias maneiras: «Individualismo, espiritualismo, confinamento em mundos pequenos, dependência, instalação, repetição de esquemas preestabelecidos, dogmatismo, nostalgia, pessimismo, refúgio nas normas».
Francisco diz que há um caminho para sair desse medo: «Deus é sempre novidade, que nos impele a partir sem cessar e a mover-nos para ir mais além do conhecido, rumo às periferias e aos confins. Leva-nos aonde se encontra a humanidade mais ferida e aonde os seres humanos, sob a aparência da superficialidade e do conformismo, continuam à procura de resposta para a questão do sentido da vida».
«Deus não tem medo! Não tem medo! Ultrapassa sempre os nossos esquemas e não lhe metem medo as periferias. Ele próprio fez-se periferia.»
Na comunidade
Francisco não acredita em santos solitários. Em vez disso, «a santificação é um caminho comunitário, que se deve fazer dois a dois». Cada comunidade é chamada a criar um «espaço iluminado por Deus para experimentar a presença oculta do Senhor ressuscitado».
«Partilhar a Palavra e celebrar juntos a Eucaristia torna-nos mais irmãos e vai-nos transformando pouco a pouco em comunidade santa e missionária.»
A comunidade, diz ele, também é composta de pequenas coisas quotidianas. «A comunidade, que guarda os pequenos detalhes do amor e na qual os membros cuidam uns dos outros e formam um espaço aberto e evangelizador, é lugar da presença do Ressuscitado que a vai santificando segundo o projeto do Pai.»
Em oração constante
Finalmente, Francisco diz que «a santidade é feita de abertura habitual à transcendência, que se expressa na oração e na adoração», mas essa oração não se trata «necessariamente de longos períodos ou de sentimentos intensos». Ele cita Santa Teresa de Ávila, que disse que a oração é «uma relação íntima de amizade, permanecendo muitas vezes a sós com quem sabemos que nos ama». Esta oração «não é apenas para poucos privilegiados, mas para todos».
Pergunta-nos o papa: «Tens momentos em que te colocas na sua presença em silêncio, permaneces com Ele sem pressa, e te deixas olhar por Ele? Deixas que o seu fogo inflame o teu coração? Se não permites que Jesus alimente nele o calor do amor e da ternura, não terás fogo».
Francisco encoraja a leitura orante das Escrituras. Citando os bispos da Índia, assinala que «a devoção à Palavra de Deus não é apenas uma dentre muitas devoções, uma coisa bela mas facultativa. Pertence ao coração e à própria identidade da vida cristã».
«O encontro com Jesus nas Escrituras conduz-nos à Eucaristia», escreve ele. Na Eucaristia, «o único Absoluto recebe a maior adoração que se Lhe possa tributar neste mundo, porque é o próprio Cristo que se oferece. E, quando o recebemos na Comunhão, renovamos a nossa aliança com Ele e consentimos-lhe que realize cada vez mais a sua obra transformadora».
Paciência, alegria, ousadia, comunidade e oração: cinco expressões de amor que levam à verdadeira santidade.
In National Catholic Reporter
Trad.: SNPC
Publicano em 6.06.2018
Caríssimos e caríssimas catequistas, bom dia!
Desejei muito compartilhar pessoalmente com vocês este momento importante em que se encontram reunidos para refletir sobre a segunda parte do Catecismo da Igreja Católica, que trata de conteúdos importantes e básicos para a Igreja e para cada cristão, a vida sacramental, a ação litúrgica e seu impacto sobre a catequese. Mons. Fisichella me informou que vocês são muitos, cerca de 1.500 catequistas e que vieram de 48 países diferentes, em muitos casos acompanhados de vossos bispos, que saúdo cordialmente. Obrigado pela presença! Obrigado pelo entusiasmo com que vivem o “ser” catequistas na Igreja e para a Igreja.
Lembro com prazer o primeiro encontro que tive com vocês no Ano da Fé, em 2013, e como lhes pedi para “ser catequistas, não trabalharcomo catequistas”. Isto não! Eu trabalho como catequista porque gosto de ensinar. Mas, se você não é catequista, não vale a pena! Não será fecundo, não será fecunda! Catequista é uma vocação: ser catequista, esta é a vocação, não trabalhar como catequista. Prestem atenção! Não disse apresentar-se como catequistas, mas sê-lo, porque envolve a vida. Leva-se ao encontro com Jesus com as palavras, com a vida, com o testemunho”.
Hoje me encontro em Vilnius, para a viagem apostólica nos Países Bálticos, que foi programado há tempos. Aproveito destes instrumentos eficazes da tecnologia para estar com vocês e dirigir-lhes alguns pensamentos que considero importantes, a fim de que a vocação para ser catequistas assuma cada vez mais uma forma de serviço, realizado na comunidade cristã, e que precisa ser reconhecido como um verdadeiro e genuíno ministério da Igreja, do qual temos especial necessidade.
Penso sempre o catequista como aquele que se colocou a serviço da Palavra de Deus, que cotidianamente se alimenta dela para poder comunicá-la aos outros com eficácia e credibilidade. O catequista sabe que esta Palavra é «viva» (Hb 4,12) porque é a regra da fé da Igreja (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Dei Verbum, 21; Lumen gentium, 15). O catequista, consequentemente, não pode se esquecer, sobretudo, hoje, num contexto de indiferença religiosa, que a sua palavra é sempre um primeiro anúncio. Pensem bem nisso: neste mundo, nesta área de tanta indiferença, a palavra de vocês será sempre um primeiro anúncio, que chega a tocar o coração e a mente de tantas pessoas que esperam encontrar Cristo. Mesmo que não saibam, mas estão à espera. E quando digo primeiro anúncio, não o entendo somente em sentido temporal. Certamente, isto é importante, mas não é sempre assim. Primeiro anúncio equivale a ressaltar que Jesus Cristo morto e ressuscitado por amor ao Pai, dá o seu perdão a todos sem distinção de pessoas, se apenas abrirem seu coração para se deixarem converter! Muitas vezes não percebemos a força da graça que, até mesmo por meio de nossas palavras, toca em profundidade os nossos interlocutores e os plasma para permitir-lhes descobrir o amor de Deus. O catequista não é um professor que dá uma aula. A catequese não é uma aula; a catequese é a comunicação de uma experiência e o testemunho de uma fé que abrasa os corações, porque desperta o desejo de encontrar Cristo. Este anúncio feito de vários modos e com diferentes linguagens é sempre o “primeiro” que o catequista é chamado a realizar!
Por favor, na comunicação da fé, não caiam na tentação de desvirtuar a ordem com a qual a Igreja desde sempre anunciou e apresentou o kerigma, e que encontra guarida na estrutura do próprio Catecismo. Não se pode, por exemplo, antepor a lei, mesmo aquela moral, ao anúncio tangível do amor e da misericórdia de Deus. Não podemos esquecer as palavras de Jesus: “Não vim para condenar, mas para perdoar...” (cf. Jo 3,17; 12,47). Do mesmo modo, não se pode presumir impor uma verdade da fé, prescindindo do chamado à liberdade que esta comporta. Quem faz a experiência do encontro como Senhor encontra-se sempre como a samaritana que tem o desejo de beber uma água que não se exaure, mas ao mesmo tempo corre depressa aos habitantes do povoado para fazê-los vir até Jesus (cf. Jo 4,1-30). E’ necessário que o catequista compreenda, portanto, o grande desafio que se apresenta de educar à fé, em primeiro lugar, os que têm uma identidade cristã fraca e, por isso, têm necessidade de proximidade, de acolhida, de paciência e de amizade. Somente assim a catequese se torna promoção da vida cristã, sustento na formação global dos crentes e incentivo a serem discípulos missionários..
Uma catequese, que pretende ser fecunda e em harmonia com o conjunto da vida cristã, encontra na liturgia e nos sacramentos a sua linfa vital. A iniciação cristã exige que nas nossas comunidades se realize sempre mais um itinerário catequético que ajude a experimentar o encontro com o Senhor, o crescimento no seu conhecimento e o amor pelo seu seguimento. A mistagogia oferece oportunidades muito significativas para realizar este itinerário com coragem e decisão, favorecendo a saída de uma fase estéril da catequese, que muitas vezes afasta sobretudo os nossos jovens, porque não encontram o frescor da proposta cristã e a incidência na vida deles. O mistério que a Igreja celebra encontra a sua expressão mais bela e coerente na liturgia. Não nos esqueçamos de, com a nossa catequese, levar a acolher a contemporaneidade de Cristo. Na vida sacramental, de fato, que encontra seu cume na santa Eucaristia, Cristo se faz contemporâneo da sua Igreja: acompanha-a nos acontecimentos da sua história e jamais se afasta da sua Esposa. É ele que se faz vizinho e próximo de quantos o recebem no seu Corpo e no seu Sangue, e os torna instrumento de perdão, testemunhas da caridade para os que sofrem e participantes ativos no criar a solidariedade entre os homens e os povos. Como seria útil para a Igreja se nossas catequeses fossem marcadas em fazer acolher e viver a presença de Cristo que age e realiza a nossa salvação, permitindo-nos experimentar, desde agora, a beleza da vida de comunhão com o mistério de Deus Pai, Filho e Espírito Santo!
Faço votos para que vivam estes dias com intensidade, para levar depois para vossas comunidades a riqueza do quanto viveram neste encontro internacional. Acompanho-os com minha bênção e, por favor, não se esqueçam de rezar por mim. Obrigado.
Papa Francisco
Mensagem aos participantes do II Congresso Internacional de Catequese
Roma, 22 de setembro de 2018.
(Tradução: Marlene Maria Silva)
imagem: site do Vaticano 2020
Ser catequista é uma experiência tão antiga quanto a Igreja. É alguém chamado a conhecer Jesus Cristo, amá-lo e levar sua mensagem a todos por meio do testemunho de vida.
A alegria de ser catequista brota quando a pessoa se sente verdadeiramente inserida na vida da Igreja, sempre em busca de conhecimento e experiências que possam contribuir para o amadurecimento da fé de todos os irmãos. O Catequista desenvolve um bonito trabalho, apaixonante, mas exigente porque precisa testemunhar aquilo que fala. Na sua missão de atrair pessoas para o seguimento de Jesus e fazer experiência do amor de Deus, ele se torna uma pessoa encarregada para ser sinal-instrumento eficaz, para transmitir, com a própria vida e pela Palavra, a Boa Nova do Reino de Deus que se revelou plenamente em Jesus Cristo.
O catequista é chamado a ser testemunha do mistério
É importante observar que o Novo Testamento nos transmite mais ações de testemunho do que atividade missionária, sobretudo o Evangelho segundo São João. O testemunho consiste principalmente no anúncio querigmático, na proclamação direta e pública do desígnio de Deus de salvar tudo em Jesus. Segundo o livro dos Atos dos Apóstolos, além da pregação, há outra forma de evangelização, a saber, o testemunho de vida. Tanto a pregação quanto o anúncio são mediações para a caminhada de conversão.
Podemos experimentar essas mediações partindo dos relatos que provém da origem da prática batismal dos primeiros cristãos que procede do batismo de João. Ele proclamou e praticou um batismo em sinal de conversão, para o perdão dos pecados (Mt 1,4; Lc 3,3). Batizar-se, segundo o rito de João Batista, equivale a “ser submerso” ou morrer; o batismo ou a imersão já era usado no judaísmo como símbolo de uma mudança decisiva na vida, tanto religiosa como civil. Jesus, ao ser batizado por João, com uma particularidade: não confessou seus pecados (Mc 1,9), nem teve que converter-se (Jo 1,5), ele tomou consciência de sua missão na sociedade injusta de seu tempo e trouxe um significado novo, a saber, libertar os homens e mulheres de toda opressão.
Assim, o batismo cristão significa o compromisso de acabar com a injustiça e construir uma sociedade justa, para o que Deus concede o Espírito Santo, pois de acordo com a prática cristã mais primitiva, herdada por João Batista e reinterpretada por Jesus, o batismo é obra do Espírito de Cristo, em cujo nome é celebrado. Batizar-se significa identificar-se com a causa de Jesus, optar pelo sentido da vida dada por Cristo. Implica em compromisso de vida.
A experiência que leva ao mergulho do Mistério
Jesus é o primeiro iniciador da fé e o Catequista um continuador de Jesus nesse processo. A evangelização pretende comunicar a fé aos que não possuem ou a possuem insuficientemente, isto é, os que não creem ou não creem plenamente. A fé é da ordem do transcendente, não se comunica apenas com palavras. Torna-se necessário que a vida da testemunha seja o que diz. A pessoa é cristã a partir da experiência, da expressão de sua espiritualidade, ou seja, o cristão é visto, não pelo seu discurso, mas pela vida humana que emana do seu ser de um modo peculiar, à luz e exigências do evangelho.
Ao falar em experiência, utilizamos de um bom conceito expresso por Leonaldo Boff, no seu livro “Jesus Cristo libertador”. Ele diz que a experiência é a ciência ou o conhecimento (ciência) que o ser humano adquire quando sai de si (ex) e procura compreender um objeto por todos os lados (peri). Movimento de saída de si para perceber a realidade a partir de outro ponto de vista, de vários lados, e, sobretudo, aprender com o novo que está sendo contemplado. A experiência vai além do vivenciar, pois além de viver o ato em si, a experiência indica uma reflexão no ato do viver gerando nova consciência sobre o fenômeno vivido, isto é, provoca novas compreensões, novo jeito de viver.
Nesse sentido, pode-se dizer que há experiência humana quando há relação conosco mesmos, com os outros e com o mundo, participação real do sujeito num acontecimento. A experiência humana aprofundada pode ser caminho de evangelização. Assim, falar de experiência religiosa no processo evangelizador, é uma forma de o ser humano mergulhar na infinitude transcendental. Trata-se de uma experiência do sagrado, ou seja, a percepção da presença do sagrado no universo humano. É uma experiência de medo ou de atração diante do mistério. Pode-se dizer que as pessoas, diante do medo ou diante dos momentos felizes, momentos de realizações, elas se aproximam do sagrado.
Mas, para além da experiência religiosa está a experiência do mistério transcendente (Deus). Uma bela definição dessa experiência está nas palavras do professor Henrique C. de Lima Vaz, em seus escritos de filosofia 1, que a classifica como sendo a experiência do sentido radical. Trata-se de uma experiência única, particular, e ao mesmo tempo, revigora a vida de quem a realiza. Ela possibilita que o ato do viver seja construído, permanentemente e com sentido no cotidiano do dia-a-dia do existir. Assim, a pessoa que consegue contemplar os acontecimentos da vida e retirar deles um sentido ao existir realiza a experiência de Deus.
Falar das formas de fazer experiências nos chama a atenção para perceber como se realiza nossas próprias experiências na caminhada com Cristo. Perceber como vai se formando a mentalidade cristã e traduzindo-a em comportamento evangélico: desprendimento de si mesmo, entrega aos outros, compromisso social, expressão das crenças profundas e na participação em certos gestos sacramentais que se relacionam com o sentido da vida. A vida cristã é impossível sem o “sair de si” de estar em comunidade. Esta tem seu fundamento na palavra de Deus, vive um processo de conversão, está encarnada na realidade do mundo, celebra a salvação de Deus, testemunha sua própria fé e se reconhece como autêntica comunhão.
Diante da missão de evangelizar, de fazer ecoar a Palavra de Deus, o Catequista é chamado para ser encantador de pessoas por Jesus, o catequista precisa ser aquela pessoa que vive, ama e reflete seu ato de viver transformando-o em experiência que dá sentido à vida; uma pessoa de maturidade humana e de equilíbrio psicológico; pessoa de espiritualidade, que deseja crescer na santidade; que alimenta sua vida na força do Espírito Santo, para transmitir a mensagem com coragem, entusiasmo e ardor a Palavra de Deus. Que toda catequista possa renovar sua vocação e permanecer fiel na transmissão da mensagem dos ensinamentos de Jesus Cristo.
Neuza Silveira de Souza
Comissão Bíblico-Catequética do Regional Leste 2
Senhor Jesus, nosso Salvador e amigo.
Tuas palavras soam e ressoam aos ouvidos de muitos discípulos teus.
Muito mais, és Tu a Palavra que nos pronuncia o amor de Deus.
A tua voz queremos ouvir, ao teu chamado acolher, ao teu mandato obedecer.
Outrora chamaste os discípulos; hoje chamas a nós.
Outrora ensinaste as multidões; hoje pedes que te apresentemos a quem precisa de ti.
Nas margens do lago tiveste compaixão; hoje pedes que nos compadeçamos.
Desde a montanha enviaste teus discípulos; também hoje queres que façamos discípulos teus.
Senhor, são justamente estes os motivos e os anseios da nossa Semana de Catequese.
Que teu Espírito nos infunda a paz e a força de perceber tua presença.
Que Ele nos conceda a Alegria do Evangelho que queremos acolher, que queremos partilhar, que queremos transmitir.
Vem participar, Senhor, da nossa 4ª Semana Brasileira de Catequese.
Vem nos falar, vem nos inspirar, vem em socorro à nossa fé.
Tudo isso a ti pedimos porque temos um grande sonho:
Que nossa Catequese, e nossos catequistas aproximem de ti todos a quem nos enviaste.
Amém.
O símbolo visual da 4ª Semana Brasileira de Catequese, que tem como inspiração o texto bíblico: “Nós ouvimos e sabemos que ele é o Salvador do mundo” (Jo 4,42), é constituído por uma cruz central, sinal de nossa salvação, sinal do amor de Jesus que nos amou até o fim. A cruz refere-se à morte de Jesus e também à sua ressurreição. A cruz é símbolo do estilo de vida que Cristo ensinou e que agora, somos convidados a assumir, do caminho pascal, de morte e ressurreição, que Cristo percorreu e que agora somos chamados a percorrer: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mt 16,24).É com o sinal da cruz que os catecúmenos são acolhidos na iniciação cristã.
Do lado esquerdo um pequeno traço nos lembra o lado transpassado de Cristo: “Pendente da cruz, do seu coração aberto pela lança fez correr sangue e água” (RICA 215). O sangue e água são identificados pela Tradição da Igreja como os dois sacramentos principais: Eucaristia e Batismo. O lado aberto de Cristo morto na cruz também evoca a nossa imersão batismal na paixão e morte do Senhor. Do seio de Jesus elevado e glorificado no mistério da morte e ressurreição, flui a água viva, símbolo do dom do Espírito Santo. O Batismo confere aos fiéis o dom do Espírito Santo e os tornam portadores e templos do Espírito.
O espiral que se forma nas cores vermelha e azul, símbolo do sangue e da água, remete-nos a caminhada que iniciamos todos nós, a partir da fé em Jesus Cristo e da sua Igreja, que nasceu do seu lado aberto, assim como nova Eva do lado do novo Adão. É símbolo da caminhada dos simpatizantes, catecúmenos, eleitos, neófitos... de todo Cristão. O espiral em sentido anti-horário, representando o Kairós de Deus, “o tempo oportuno”, pelo qual somos regidos, amadurecemos e crescemos, ano após ano, de domingo a domingo, de páscoa em páscoa, até a páscoa definitiva. As pegadas aí impressas mostram que a nossa fé não é circular, mas espiral, como no ano litúrgico. A cada ano concluído, não paramos no mesmo lugar, amadurecemos no seguimento, não somos mais os mesmos, subimos um degrau.
Assim, a logotipo da 4ª SBC em sua simplicidade e profundidade, quer nos ajudar a refletir e a resgatar a essência de nossa fé e o fundamento da Iniciação à Vida Cristã, que deve unir experiência e anúncio, fé e vida num itinerário capaz de nos transformar em discípulos missionários de Jesus Cristo.
Comissão Episcopal Pastoral para Animação Bíblico-Catequética
A Comissão Episcopal para Animação Bíblico-Catequética realizará de 14 a 18 de novembro de 2018, em Indaiatuba (Itaici-SP), a 4ª Semana Brasileira de Catequese.
Tema: 4ª Semana Brasileira de Catequese a serviço da Iniciação à Vida Cristã.
Lema: “Nós ouvimos e sabemos que Ele é o Salvador do mundo” (Jo 4,42)
Objetivo geral:
- Compreender a catequese de inspiração catecumenal a serviço da iniciação à vida Cristã, buscando novos caminhos para a transmissão da fé, no contexto atual.
Objetivos específicos:
- Refletir sobre a condição humana, a busca de sentido e a crise de fé na contemporaneidade;
- Apresentar a iniciação à vida cristã como eixo articulador da ação evangelizadora, a serviço da qual está a catequese (CNBB, Doc. 107, 76);
- Compreender o querigma e a mistagogia como caminho de renovação da comunidade e da formação do discípulo missionário de Jesus Cristo;
- Partilhar experiências significativas da catequese a serviço da iniciação à vida cristã dos regionais.
A 4ª Semana Brasileira de Catequese é uma oportunidade de reafirmar nosso empenho e compromisso no serviço à Iniciação à Vida Cristã, como um itinerário para formar discípulos missionários de Jesus Cristo numa comunidade querigmática, mistagógica e missionária.
Resiliência é a capacidade humana para assumir, ressignificar e superar traumas e grandes sofrimentos da vida. As experiências com órfãos, crianças maltratadas, vítimas de guerras ou catástrofes naturais permitiram constatar que as pessoas que passaram por feridas profundas na vida podem, graças à sua capacidade de resiliência, encontrar um novo sentido para sua existência e olhar para sua própria história com mais realismo e gratidão.
A resiliência, embora seja uma aptidão acessível a todos, ela não é uma receita pronta para a felicidade ou uma espécie de vacina mágica contra o sofrimento, é antes uma habilidade interior que precisa de treino e, mais do que esforço pessoal, de três pilares: espiritualidade, autotranscendência e o apoio de um tutor de resiliência.
Para os estudiosos da resiliência, cultivar a espiritualidade e a dimensão interior é uma das coisas mais importantes para superar o sofrimento e dar-lhe um novo significado.
A autotranscendência é outra característica fundamental. O sofredor precisa ter coragem de reerguer-se de sua dor e projetar-se para fora de si mesmo. Em outras palavras, ele precisa voltar a querer viver e a sonhar, não sonhos egoístas, mas coletivos e cheios de compaixão pela dor do outro.
Todo aquele que passou por grandes dificuldades e sofrimentos na vida precisa, de alguma maneira, encontrar alguém a quem confiar suas angústias e suas dores, ou seja, um TUTOR DE RESILIÊNCIA. Biblicamente falando, todo sofredor necessita encontrar, no momento de seu sofrimento, um “Bom Samaritano”, alguém capaz de acolher com ternura TODOS aqueles que sofrem, especialmente os que sofrem em silêncio, os que escondem sua dor no mistério do próprio olhar.
Neste sentido, o CATEQUISTA deve tornar-se um tutor de resiliência, um especialista em humanidades e afetos. Para isso, ele precisa – mais do que falar de Jesus e do amor de Deus – ter os mesmos sentimentos dele, como ensina São Paulo.
Para que o catequista se torne um tutor de resiliência, ele precisa ter VIDA INTERIOR, SENSIBILIDADE e COMPAIXÃO, tanto pela dor do próximo quanto pela humanidade que ainda geme em dores de parto. Sem estas três dimensões, o catequista pode ser um excelente orador, alguém que fala de Deus com entusiasmo, mas que não consegue torná-lo próximo de seus ouvintes, alguém que aprendeu a falar coisas belas de Jesus, mas que nunca se abriu às sutilezas de seu amor.
O tutor de resiliência é, portanto, todo ser humano capaz de sensibilizar-se diante da dor de seu semelhante e, em seguida, “ajudar a sarar”. O catequista, assim como o tutor de resiliência, diante das feridas do próximo deve tornar-se um curador, ainda que seja, muitas vezes, um “curador ferido”.
Francisco Galvão, religioso paulino, formado em teologia,
mestrando em comunicação social e autor do livro “O Cultivo Espiritual em tempos de conectividade”, lançamento Paulus, 2018.
Apesar de ter nascido na Ilha de Tenerife, no arquipélago das Canárias, na Espanha, padre José de Anchieta ficou conhecido como o “apóstolo do Brasil” por sua atuação no País. Chegou ao Brasil em julho de 1553, com outros seis jesuítas e, em menos de um ano, dominava o tupi com perfeição. Ao longo dos 43 anos em que viveu no Brasil, participou da fundação de escolas, cidades e igrejas.
Anchieta não só trabalhou como catequista, mas também tornou-se dramaturgo, poeta, gramático, linguista e historiador. Vale ressaltar que foi o autor da primeira gramática brasileira.
Em janeiro de 1554, participou da missa de inauguração do Colégio de São Paulo de Piratininga, hoje Pateo do Collegio, local que deu origem à cidade de São Paulo.
Entre as características marcantes da atuação de Anchieta estão a disseminação dos preceitos cristãos utilizando particularidades locais e, assim como os demais jesuítas, a oposição ferrenha aos abusos cometidos pelos colonizadores portugueses contra os indígenas.
Em 1563, com o apoio dos franceses, a tribo dos Tamoios rebelou-se contra a colonização portuguesa. Anchieta e Pe. Manuel da Nóbrega, chefe da primeira missão jesuíta no Brasil, viajaram à aldeia de Iperoig (atual cidade de Ubatuba, litoral norte de São Paulo) visando conter a revolta. Anchieta ofereceu-se como refém, enquanto Manuel da Nóbrega partiu para negociar a paz. Durante o cativeiro, que durou cinco meses, Anchieta fez, então, uma promessa a Nossa Senhora: dedicaria o mais belo poema em sua homenagem se conseguisse sair casto do cativeiro (era costume entre os índios oferecer mulheres aos prisioneiros antes de sua morte). Com versos escritos na areia, ele deu vida ao Poema à Virgem.
Em 1566, Anchieta foi ordenado sacerdote. Três anos depois, fundou o povoado de Reritiba, atual Anchieta, no Espírito Santo. E, em 1577, foi nomeado Provincial da Companhia de Jesus no Brasil, função que exerceu até 1585. Em 1595, Anchieta retirou-se para Reritiba, onde permaneceu até seu falecimento, aos 63 anos de idade, em 9 de junho de 1597.
A assinatura do decreto de canonização do Apóstolo do Brasil ocorreu 417 anos depois de sua morte, no dia 24 de abril de 2014, pelo papa Francisco, em Roma. No relatório final dos postuladores sobre a vida do jesuíta, um documento de 488 páginas, há o registro de 5.350 histórias de pessoas que alcançaram graças rezando a José de Anchieta.
Anchieta é um modelo de catequista e evangelizador, pois fez uma catequese levando em conta a cultura(o jeito de ser e viver) das pessoas. Escreveu teatro, poemas, que eram usados para transmitir a fé aos habitantes desse país. Foi canonizado pelo Papa Francisco em 03 de abril de 2014.
Foi declarado em setembro de 2014, Padroeiro dos catequistas do Brasil pela Congregação para o culto Divino e a Disciplina dos sacramentos da Santa Sé.
(texto adaptado do portal jesuítasbrasil.com)
Início da travessia
(indicações para um aprofundamento básico do novo catequista)
Propomos a seguir um itinerário, ou seja, um caminho com conteúdos essenciais para uma formação inicial com o novo catequista. O grupo de catequista pode oferecer esse “tesouro”: a formação. Pode também buscar ajuda ou unir-se a outras paróquias, mas cada vez mais é urgente dar condições ao novo catequista de assumir com consciência e preparo metodológico a iniciação à vida cristã de crianças, jovens e adultos.
As indicações de conteúdos feitas a seguir contemplam o “ser”, o “saber” e o “saber fazer” do catequista. Em cada conteúdo sugerido você encontrará os tópicos a serem desenvolvidos.
Ser do Catequista
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A beleza de ser catequista
- Quem é você que quer ser catequista? Porque você veio?
- A Igreja é a grande catequista e necessita de catequistas.
- Catequistas que testemunham a beleza de ser catequista e que possam partilhar: O que tem de fascinante na vida de catequista? O que tem de atraente na catequese? Porque a catequese me “reteve” tantos anos? E porque espero nela terminar os meus dias?
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Ser catequista é experimentar e revelar a beleza da vida e da fé
Na sociedade atual, o catequista:
- Encontra sentido de viver no seguimento de Jesus (em Jesus descobre sentido pra viver em meio às inúmeras seduções do mundo de hoje).
- Experimenta o amor de Deus revelado em Jesus Cristo na comunidade cristã.
- Experimenta a amizade, a beleza da vida em comunhão, na convivência com outros catequistas e catequizandos.
- Empenha sua vida na missão de anunciar o quanto Deus nos ama (a Igreja em saída supõe levar em conta as periferias existenciais e geográficas).
- Sente-se incompleto e busca crescer continuadamente (crescer como pessoa, como cristão, como catequista, alimentando-se de uma mística e espiritualidade da descoberta de Deus no cotidiano, deixando-se guiar pelo Espírito de Deus).
Saber do catequista
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Educar a fé é uma arte
- A catequese é a arte de provocar o encontro pessoal com Jesus e iniciar no seu seguimento, na comunidade de fé (iniciar é “encarinhar” o iniciando pela pessoa de Jesus numa relação de amor).
- A catequese é a arte de proporcionar o amadurecimento da fé e da vida (não se chega à maturidade da fé de um dia para outro. Há um processo de maturação, para que ela venha a penetrar as dimensões do ser humano e para que a pessoa descubra e viva as suas múltiplas faces. A fé é confiança, é conhecimento, é reconhecimento, é prática, é entrega, é amor).
- A catequese é arte de gerar comunidades de discípulos missionários (a iniciação é conversão ao modo de vida do grupo que se passa a integrar (a Igreja). Significa aprender a viver a partir da tradição desse grupo. A fé agrega a comunidade).
- A catequese é a arte de gerar cristãos comprometidos com a causa do Reino, empenhados na transformação da realidade, sendo sal, luz e fermento no meio do mundo.
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Jesus é a fonte de toda beleza (EG 164-167)
- A beleza é o amor de Deus revelado: Jesus Cristo.
- O nascimento de Jesus já revela a opção concreta de Deus por nós. É uma opção pelo humano, pelo simples, pelo pobre...
- Jesus nos revela a beleza do amor de Deus no cuidado com as pessoas, na amizade, no acolhimento, na partilha, na fraternidade, na defesa da vida...
- Jesus dá a vida por aqueles que ama. A beleza se manifesta no rosto do Filho do Homem na cruz, a revelação do infinito amor de Deus...
- A beleza se revela na morte e ressurreição de Jesus, prova de que a morte não tem a última palavra e que o amor vence a morte...
- A catequese está a serviço do anúncio principal (querigma).
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A beleza da Palavra
- A Palavra de Deus é fonte da catequese (a Palavra de Deus faz experimentar e contemplar Deus na vida cotidiana).
- Deus se revela na vida, nos acontecimentos, na natureza, na comunidade e na Bíblia.
- A Bíblia narra a aliança de amor de Deus com o povo (apresentar o livro da Bíblia. Na formação inicial não é possível fazer um aprofundamento bíblico).
- A Bíblia possui uma linguagem simbólica e poética.
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A mensagem cristã nas diferentes etapas da vida
- A iniciação mistagógica é anúncio da Palavra, mas leva em conta o processo de crescimento da pessoa (abordar as diferentes etapas do crescimento e amadurecimento humano). (EG 166)
- O conteúdo da catequese, ou seja, a mensagem que a catequese anuncia, precisa ser adaptada a cada fase da vida da vida do catequizando (apresentar qual é o conteúdo da catequese em cada etapa, ou seja, qual é o anúncio essencial em cada idade, destacando o perfil da geração NET).
Saber Fazer
Como comunicar a mensagem cristã
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Catequese é um caminho onde se experimenta Deus
- O jeito de Jesus catequizar (Jesus catequista).
- A catequese tem uma metodologia, um jeito específico de educar na fé.
- A interação fé e vida faz parte de todo o processo de iniciar à fé.
- Elementos da metodologia catequética: participação, símbolos, pessoa do catequista, linguagem, formação de grupo, personalização etc...
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O Encontro de catequese é lugar de experiência de vida e fé
- Passos do encontro catequético.
- Como preparar o encontro catequético.
- Recursos para o encontro catequético.
(texto extraído e adaptado do subsídio “Níveis do processo formativo de catequistas” do Regional Leste 2 da CNBB)
Sugestão de livros que podem ajudar na Formação básica dos novos catequistas:
- Semeadores da Palavra. Formação de catequistas iniciantes - Editora Vozes
- Ser Catequista –Vocação, Encontro, Missão – Pe. Assis Moser e Pe. André Biernaski - Editora Vozes
- Textos e artigos do site catequese Hoje
- Textos e artigos do site www.catequesedobrasil.org.br
- Elementos de didática na catequese – Solange Maria do Carmo – Paulus Editora
- Coleção -Psicopedagogia catequética – Eduardo Calandro e Jordélio Siles Ledo – Paulus Editora
- Quem é o catequizando – Pe. Paulo Gil – Editora Vozes
- Ministério do Catequista. Elementos básicos para a formação – Pe. Humberto Robson de Carvalho - Paulus Editora
- O Belo, o Lúdico e o Místico na catequese – Subsídio da Catequese do Regional Leste 2
Lucimara Trevizan
Equipe do Catequese Hoje
O pedido por formação de catequistas é o grande grito das coordenações de catequese e catequistas. Verifica-se uma grande sede de formação. Mas, constata-se também que a formação oferecida por paróquias é fragmentada, não se pensa um processo formativo. Os temas propostos são “soltos”. É bom ter temas de atualização, mas é preciso pensar um projeto de formação de catequistas que contemple os diferentes níveis de formação.
Espanta o alto índice de rotatividade dos catequistas. Muitos desistem porque não foram orientados suficientemente para a missão que assumiram. O desânimo aparece diante de pequenos desafios. Outros descobrem que não possuem vocação, isso já desempenhando o trabalho catequético com crianças ou jovens e adultos.
Há dois anos a comissão bíblico-catequética do Regional Leste 2 realizou uma pesquisa e constatou que 70% das paróquias do Estado de Minas e Espírito Santo não oferecem formação inicial para os novos catequistas. Na análise feita, essa é a grande causa da rotatividade de catequistas.
A formação de catequistas é processo de travessia, de deixar de ser de um jeito para ir se fazendo melhor como pessoa, como cristão e como catequista. E ser catequista é um peregrinar, estar sempre em busca, querer ir além.
É muito importante a formação inicial que uma paróquia e comunidade precisa oferecer ao novo catequista. Ela é um processo de encantamento inicial pela missão de catequista, tão importante para nos sustentar na caminhada.
Alguns objetivos da formação inicial de novos catequistas:
- “Abrir o apetite” para a missão de ser educador da fé;
- Descobrir a beleza de ser catequista e a catequese como caminho onde se experimenta Deus;
- Proporcionar uma iniciação do novo catequista ao seguimento de Jesus;
- Orientar sobre o uso da Bíblia na catequese;
- Oferecer orientações metodológicas concretas sobre o “Encontro de Catequese”, para que consiga realizar encontros catequéticos mais vivenciais, orantes, celebrativos, criativos.
- Conhecer as principais características dos catequizandos nas diferentes idades.
- Orientar sobre o conteúdo da catequese com crianças, jovens e adultos.
Outras indicações importantes sobre a Formação inicial do catequista:
- É imprescindível e muito importante a formação inicial dos catequistas. A paróquia precisa assumir e investir nesta formação. Disso depende o futuro da catequese e a chance de envolver novas pessoas na catequese.
- A coordenação paroquial de catequese e o pároco são os responsáveis por essa formação. Se houver dificuldade, é possível organizar essa formação em conjunto com outras paróquias.
- Pensar em como convidar novos catequistas. Pedir ajuda e indicação ao grupo de catequistas, ao padre, ao conselho de pastoral. Fazer o convite pessoalmente.
- A formação pode ser feita: encontros semanais (durante quatro meses), encontros de dia inteiro (uma vez por mês ao longo do ano) e outras modalidades de acordo com a possibilidade local.
- Valorizar cada catequista iniciante, acolher com ternura e carinho, assumindo suas situações vida (sofrimentos, fragilidades, medos, conquistas, alegrias).
- Levar em conta as imagens de Deus que o catequista traz e ajudar a descobrir o Deus de Jesus Cristo.
- Cuidar dos momentos orantes em cada encontro e da metodologia, zelando para que a formação não se reduza a aulas.
- Proporcionar momentos de lazer, de convivência, de festa.
- Envolver a comunidade nesse processo, pedindo ajuda, orações.
- Convidar catequistas mais experientes para acompanhar como “padrinhos/madrinhas” um pequeno grupo de novos catequistas. Ao longo da formação, será importante a escuta, a partilha, a animação, o testemunho.
O papa Francisco ao visitar uma paróquia de Roma (em 12.03.2017), fez um agradecimento aos catequistas: «O que seria a Igreja sem vós? Vós sois pilares na vida de uma paróquia, na vida de uma diocese. Não se pode conceber uma diocese, uma paróquia, sem catequistas. E isto desde os primeiros tempos, desde o tempo após a ressurreição de Jesus: havia as mulheres que ajudavam os amigos e faziam de catequistas. É uma vocação belíssima. É uma vocação belíssima. Não é fácil ser catequista, porque o catequista não só deve ensinar "coisas", deve ensinar atitudes, deve ensinar valores, muitas coisas, como se vive. É um trabalho difícil. Agradeço-vos muito, catequistas, pelo vosso trabalho. Muito obrigado. Obrigado».
(no próximo artigo faremos indicações do conteúdo da formação inicial do catequista)
Lucimara Trevizan
Comissão Bíblico-Catequética do Regional Leste 2
A capacidade de nos compadecermos é o que confere à vida o seu significado mais profundo. (Paulo Casais)
É fácil ser religioso, difícil é ser espiritual. A vida religiosa requer que sejamos apenas para o outro; a vida espiritual requer que sejamos compassivos para com o outro.
Para sermos profundamente espirituais e completamente compassivos, devemos recordar que a pessoa necessitada é apenas outra versão de nós mesmos, com a qual talvez ainda tenhamos de travar conhecimento na vida, mas que um dia se revelará.
O mundo não se cura a si próprio. Isso só um coração compassivo pode fazer.
A compaixão lubrifica a astronomia da condição humana. Faz-nos entrar em contato uns com os outros, revela a luz em cada um e dilata-a a ponto de o mundo brilhar com um novo tipo de compreensão, com um tipo melhor de comunidade humana.
O conhecimento faz muito pouco pela vida. É a compaixão que a torna possível de ser vivida, que lhe transmite o tipo de visão que nos dá a todos uma razão para estarmos vivos.
Nenhum de nós está aqui só para si mesmo. Essa é a lição mais importante da vida. A compaixão, para ser real, deve ser universal, não seletiva. Eu não posso declarar que sou compassivo se deixo alguém fora das fronteiras da minha compaixão. Só se o meu coração for suficientemente amplo poderei esperar que venha ser maior do que a minha própria agendazinha pessoal. Então terei alguma coisa pela qual valerá a pena viver, dar-me, sofrer, para sempre. Então, eu próprio serei um dom para o resto da humanidade.
Joan Chittister
In: O sopro da vida interior
Nós escolhemos as nossas alegrias e os nossos desgostos
muito antes de os experimentarmos.
(Gibran Khalil Gibran)
Esperamos com demasiada frequência que a alegria venha a nós, quando a verdade é que a alegria é algo por cuja criação devemos assumir a responsabilidade, não só em nosso favor, mas também em favor dos outros. A beleza da alegria é que, tal como um vitral, através do qual a luz se decompõe em miríade de cores, essa nos permite ver como a vida é boa, mesmo quando parece não o ser. A alegria não é um acontecimento, é a atitude que uma pessoa saudável adota em cada situação da vida: trabalho, família, vida social, e até em momentos de tensão pessoal. Fala de esperança e de abertura, de possibilidades fascinantes e da convicção profunda de que aquilo que nos é dado na vida é-nos dado para nosso próprio bem.
A pessoa espiritualmente madura confia na presença de um Deus te amor que fará com que esse momento, seja ele de que tipo for, amadureça na alma. É através da lente da alegria que devemos aprender a olhar para tudo na vida. Tudo isso é bom, mas nem sempre o reconhecemos, quando acontece.
Para sermos pessoas verdadeiramente santas, devemos deixar de pensar na alegria como um acidente da natureza e começar a fazer dela uma prioridade. “Lembra-te sempre que a alegria não é acidental na tua busca espiritual. É vital”, ensinava Nachman de Breslov.
E os antigos recordam-nos: “Não há santos tristes”. Nunca confundas santidade com rigidez, morbidez ou mau humor. Esses provem da preocupação com o ego, não de uma qualquer percepção da presença de Deus.
Joan Chittister
In "Os tempos do coração", ed. Paulinas de Portugal
Ser catequista é uma vocação de serviço na Igreja. Sua vocação se encontra espalhada em meio a toda ação da comunidade. É um dom que recebemos do Senhor e com alegria o transmitimos. O dom que o Pai nos oferece em Cristo é o amor mais real que se possa imaginar. Nós o recebemos como um chamado de Deus para transmitir o que o Senhor anunciou, o seu primeiro anúncio, ou querigma, o dom que mudou a nossa vida. Por isso, somos chamados a levar o anúncio a todas as pessoas para que ele também possa causar transformações em suas vidas.
A vocação do catequista tem sua raiz inserida na vocação cristã. No Batismo e na Crisma recebemos o compromisso de colaborar no anúncio da Palavra de Deus, segundo as nossas condições. Somos Chamados por Deus para o anúncio da sua Palavra, para ser testemunha dos valores do seu Reino e para sermos os porta-vozes da sua mensagem. É viver e anunciar a boa-nova do amor do Senhor: «Jesus ama-te verdadeiramente, tal como és.”
A missão do catequista se transforma em um caminhar constante, um itinerário que vai se fazendo a partir de Cristo e com Cristo, deixando que Ele se torne o centro de nossa vida, que nos faça arder o coração com seu olhar atento e perspicaz, um olhar que nos convida a sair de nós mesmos e nos fazermos próximos dos outros.
Parece um caminho difícil. Precisamos de coragem para entrar no barco da vida e ir em busca do extraordinário que acontece em meio à simplicidade do nosso cotidiano. Muitas vezes, no ritmo frenético que caminhamos, com experiências cada vez maiores das exigências que nos cercam, acabamos por não dar atenção àquelas realidades que nos educam para uma visão mais ampla da vida.
Nas várias fases de nossas vidas estamos a nos perguntar: quem somos, o que nos faz realmente feliz, o que faço da minha vida?Como estou para Deus? São perguntas da nossa existência e das nossas razões que norteiam nossas escolhas. Estamos sempre a procura de Deus. Somos suas criaturas. Seu desejo está inscrito em nossos corações. Somos sempre atraídos a Ele e por Ele. Para entender a Ele e a seus sinais, necessitamos da fé. E a cada experiência da vida nos leva em direção a Ele. Somos conduzidos em direção ao mistério da fé.
Percorrendo o itinerário no mar da vida, damo-nos conta de que o que estamos fazendo na vida diz respeito ao modo como Jesus viveu. Vivemos o que herdamos dele e das primeiras comunidades que bem souberam apreender o seu modo de vida. Crer no Ressuscitado é um processo que pode durar anos. A fé em Cristo vai despertando em nosso coração de forma frágil e humilde. Precisamos de tempo.
O catequista, ao ser chamado a fazer ecoar a Palavra de Deus, vai junto com Cristo e se doa dando o seu testemunho que é sustentado pela certeza do amor do Cristo que se dispõe a nos doar, a fim de nutrir o crescimento espiritual de outras pessoas e de nós mesmos. Vamos juntos fazer a experiência de Deus. É ela a matéria-prima da nossa prática catequética.
Não há um conteúdo que seja mais importantes. Cada conteúdo da fé torna-se perfeito, quando ele se mantém ligado ao centro que é Jesus Cristo; quando ele se apresenta permeado pelo anúncio pascal; mas se, pelo contrário, se isolar, perde sentido e força.
No dia a dia vamos deixando nossa vocação despertar e se transparecer. Pode ser através do gosto pela catequese, busca de criatividade para melhorar os encontros catequéticos; esperança de melhorar a nossa sociedade; motivação para obter uma crescente formação e a consciência de ser enviado em nome da Igreja. Vamos porque sempre tem e terá alguém esperando.
Vamos catequizar! Catequizar é aproximar, escutar, estar junto, participar é sofrer e alegrar com alguém ou para alguém. Este alguém pode ser a criança, o jovem, o adulto, o velho, o enfermo, o menor carente, ou uma pessoa que necessita de nossa atenção. Vamos caminhar e se deixar encontrar com Jesus Cristo. No encontro pessoal faremos a experiência de conviver com alguém que nos pode ajudar a conhecer-nos com mais verdade, despertando o que há de melhor em nós. Ele nos pode levar ao essencial, nos convida a reorientar tudo para uma vida mais digna, mais generosa, mais humana.
Catequistas, procuremos abastecermos nas fontes do Cristo crendo nEle, seguindo-o e fazendo-se um continuador de sua obra, participando da sua vida em comunidade. Continuemos nossa jornada alimentados pela fé e pela esperança. Parabéns a todos os/as catequistas pelo nosso dia, que celebramos no dia 27 de agosto.
Valorizemo-nos! Não deixemos a palavra de Deus morrer afogada no poço do medo, da insegurança, do comodismo. Sejamos criativos sem medo de sair dos próprios esquemas. Sejamos profetas, porta-vozes de Deus
Neuza Silveira de Souza
Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de BH
Mensagem do Santo Padre Francisco
aos participantes do Simpósio Internacional de Catequética
[11-14 DE JULHO DE 2017, BUENOS AIRES]
A Sua Excelência Mons. Ramón Alfredo Dus,
Arcebispo de Resistência,
Presidente da Comissão Episcopal de Catequese e Pastoral Bíblica
Querido irmão:
Uma cordial saudação ao senhor e a todos que participarão nos diversos encontros de formação que a Comissão Episcopal de Catequese e Pastoral Bíblia organizou.
São Francisco de Assis, quando um de seus seguidores insistia para que ele o ensinasse a pregar, respondeu-lhe assim: «Irmão, quando visitamos aos enfermos, ajudamos às crianças e damos comida aos pobres já estamos pregando». Nesta bela lição encerra-se a vocação e a missão do catequista.
Em primeiro lugar, a catequese não é «trabalho» ou uma tarefa externa à pessoa do catequista, mas se “é” catequista e toda a vida gira em torno desta missão. De fato, «ser» catequista é uma vocação de serviço na Igreja, o que se recebeu como dom do Senhor deve, por sua vez, ser transmitido, e é por isso que o catequista deve voltar constantemente àquele primeiro anúncio ou «kerygma», que é o dom que mudou sua vida. É o anúncio fundamental que deve ressoar sempre na vida do cristão e, ainda mais, na vida naquele que foi chamado a anunciar e ensinar a fé. «Nada há mais sólido, mais profundo, mais seguro, mais denso e mais sábio que esse anúncio» (Evangelii Gaudium, 165). Este anúncio deve acompanhar a fé que já está presente na religiosidade do nosso povo. É necessário cuidar de todo o potencial de piedade e amor que envolve a religiosidade popular para que se transmitam não só os conteúdos da fé, mas para que também se crie uma verdadeira escola de formação em que se cultive o dom da fé que se recebeu, de modo que os atos e as palavras manifestem a graça de ser discípulos de Jesus.
O catequista caminha a partir de Cristo e com Cristo. Não é uma pessoa que parte de suas próprias ideias e gostos, mas que se deixa olhar por ele, por este olhar que faz o coração arder. Quanto mais Jesus se tornar o centro de nossa vida, tanto mais nos faz sair de nós mesmos, nos descentraliza e nos torna próximos dos outros. Esse dinamismo do amor é como o movimento do coração: «sístole e diástole»; concentra-se para se encontrar com o Senhor e, imediatamente se abre, saindo de si por amor, para dar testemunho de Jesus e falar de Jesus, pregar Jesus. Ele mesmo nos dá o exemplo: retirava-se para rezar ao Pai e, imediatamente, saía ao encontro dos famintos e sedentos de Deus, para curá-los e salvá-los. Daqui nasce a importância da catequese «mistagógica» que é o encontro constante com a Palavra e com os sacramentos e não algo meramente ocasional antes da celebração dos sacramentos da iniciação cristã. A vida cristã é um processo de crescimento e de integração de todas as dimensões da pessoa num caminho comunitário de escuta e de resposta (cf. Evangelii Gaudium, 166).
Além disso, o catequista é criativo; busca diferentes meios e formas para anunciar a Cristo. É bonito crer em Jesus, porque ele é «o caminho, e a verdade e a vida» (Jo 14, 6) que plenifica nossa existência de gozo e de alegria. Esta busca em fazer Jesus conhecido como suma beleza nos leva a encontrar novos sinais e formas para a transmissão da fé. Os meios podem ser diferentes, mas o importante é ter presente o estilo de Jesus, que se adaptava às pessoas que tinha diante dele para aproximá-las do amor de Deus. É necessário saber «mudar», adaptar-se, para fazer a mensagem mais próxima, mesmo sendo sempre a mesma, porque Deus não muda, mas renova todas as coisas nele. Na busca criativa de fazer Jesus conhecido não devemos sentir medo porque ele nos precede nesta missão. Ele já está no homem de hoje, e ali nos espera.
Queridos catequistas, agradeço-vos pelo que fazeis, mas sobretudo, porque caminhais com o povo de Deus. Encorajo-vos a ser alegres mensageiros, guardiães do bem e da beleza que brilham na vida fiel do discípulo missionário.
Que Jesus vos abençoe e a Virgem santa, verdadeira «educadora da fé», vos proteja.
E, por favor, não se esqueçam de rezar por mim.
Vaticano, 5 de julho de 2017
Francisco
imagem: site do Vaticano 2020
Nunca se insistiu tanto na formação da pessoa do catequista como nos tempos atuais, caracterizados não somente por”tempos de mudanças”, mas também por mudança de tempo. Várias são as iniciativas realizadas pela Igreja ante às realidades apresentadas como desafios e sinais das mudanças históricas e culturais, que exigem formas novas, métodos próprios e expressões diferenciadas do mesmo conteúdo evangélico.
As exigências da formação do catequista decorrem do sentido da catequese e da função que ela tem no processo de evangelização. A Catequese é um processo permanente de educação da fé das crianças, dos jovens e dos adultos, dentro de um itinerário pedagógico e mistagógico que, numa ação dialógica, vai educando na fé e conduzindo o catequizando para dentro do Mistério Pascal que tem seu centro vital em Jesus Cristo.
O Concílio Vaticano II já falava de formação Permanente sobre os catequistas, pedindo-lhes que fizessem cursos procurando renovar-se para os tempos em mudanças. O Diretório Geral para a Catequese fala de ‘prioridade absoluta’. Ele nos chama a atenção para a organização adequada sobre a formação dos catequistas no que concerne tanto à formação de base quanto à formação permanente. Assim diz o Diretório: “A pastoral catequética diocesana deve dar absoluta prioridade à formação dos catequistas leigos. Deve estar atenta, também, à formação catequética dos presbíteros, tanto nos planos de estudo da formação seminarística quanto no período da formação permanente. Pede-se ao bispo que cuide dessa formação.(cf. DGC, 234).
A formação do catequista tem por finalidade torná-lo apto a transmitir o Evangelho, ou seja, apto à comunicar a mensagem cristã. Assim o objetivo da formação é levar o catequista a saber construir um itinerário eficaz no qual, através das diversas etapas, anuncie Jesus Cristo; faça conhecer a sua vida, enquadrando-a na totalidade da história da salvação; explique o mistério do Filho de Deus, feito homem por nós; ajude o catecúmeno e ou catequizando a identificar-se com Jesus, mediante os sacramentos da iniciação.
Ao falar “explique o mistério do Filho de Deus”, vamos ressaltar aqui que a etimologia do verbo “explicar”, do grego, significa guiar, orientar, encaminhar, conduzir. Assim como Jesus, no caminho de Emaús (Lc 24,27), explica as escrituras aos discípulos, Filipe conduz o etíope ao caminho das Escrituras, explicando-lhe a catequese sobre a morte e ressurreição de Jesus Cristo (cf. At 8,25-40).
Desde os primórdios do cristianismo, o Espírito tem despertado no coração e na mente dos evangelizadores e catequistas o desejo de que a Palavra de Jesus ecoe fortemente na vida e na história da humanidade convocada pelo próprio Senhor a uma experiência profunda d’Ele próprio, Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6).
O anúncio é o despertar da fé, o ensino é o viver da fé. O anúncio é ser inebriado pelo amor de Deus; o ensino é viver o amor de Deus. O anúncio nos leva a Deus, o ensino nos faz ir aos irmãos. Assim, a primeira formação do anúncio é a chamada “formação querigmática” que nos leva a conhecer Jesus Cristo, morto, ressuscitado e glorificado. A partir desse anúncio somos chamados a fazer uma experiência de mudança de vida, graças à fé, seguindo a tradição oral dos primeiros cristãos. É experimentar e viver Jesus vivo como Salvador, Senhor, Messias que dá o Espírito Santo.
Hoje, com a grande evolução e o progresso da concepção sobre a catequese, o valor da experiência de Deus acentua-se ainda mais, do que na tradicional catequese ligada aos conteúdos da fé, ou à doutrina. Esta está em função daquela, ou seja, os conteúdos da fé são importantes, mas a catequese deve estar mais voltada para a Palavra proclamada, anunciada e ensinada, que leva o catecúmeno e/ou o catequizando a experimentar Deus. Trata-se de uma catequese mais existencial, vivencial e mistagógica, de inspiração catecumenal.
A formação catequética continuada, que se renova em seus métodos, exige renovação no perfil do catequista como pedagogo e mistagogo, a exemplo de Jesus. No itinerário a caminho da maturação da fé, o catequista tem dupla missão: transmitir o ensinamento e conduzir o catequizando no mistério da fé. Nesse sentido, o despertar para o discipulado se processa numa interação permanente, em que os evangelizadores, catequistas e catequizandos são “crescentes e aprendentes ” a vida inteira.
Neuza Silveira de Souza – Coordenadora da comissão
Arquidiocesana Bíblico-Catequética de Belo Horizont
As árvores e as pedras ensinar-te-ão aquilo que tu
nunca aprenderás com os mestres.
(Bernardo de Claraval)
Cultivar o apreço pela natureza é aprofundar a nossa própria vida espiritual, aproximarmo-nos mais da criação, ver a nossa própria responsabilidade moral por ela, segundo a forma como tratamos cada hastezinha de erva. Viver em harmonia com a natureza significa estarmos nós próprios mais vivos.
A nossa sincronia com a natureza é demonstrada pelo efeito emocional que essa exerce sobre nós. Quando está escuro, podemos tornar-nos mais taciturnos. Quando a neblina paira sobre as montanhas que nos cercam, quando o nevoeiro nos envolve, também nós nos tornamos mais reflexivos. Quando o sol aquece as pedras, cada nervo cobra vida dentro de nós. Cada mudança da natureza é esta a nos chamar a entrar mais a fundo nos ritmos da vida. É vendo-nos como parte da natureza, e não exteriores a ela, que sincronizamos a alma com os ensinamentos da natureza.
Não podemos controlar a natureza, é ela que nos controla. O único problema é que um mundo moderno e laborioso leva várias gerações a compreendê-lo. Quando destruímos a natureza sem ter em conta as consequências daquilo que estamos fazendo ao futuro, a natureza tem sempre a última palavra. Basta olhar para aquilo que estamos a fazer à Terra, para saber que mudanças precisamos de introduzir na nossa própria vida, se quisermos ser verdadeiros buscadores de Deus.
Caminhando através da natureza, vamos de mãos dadas com Deus, que lhe deu a vida. A única questão é: dar-lhe-emos vida ou morte? Numa das suas visões, Hildegarda de Bingen, mística do século XII, diz acerca da natureza: “Eu sou aquela essência viva e ardente da substância divina... Eu brilho dentro da água e ardo no sol, na lua e nas estrelas”. Oh, quem nos dera viver tempo suficiente e suficientemente bem para chegarmos a ver estas coisas!.
Joan Chittister
In "Os tempos do coração", ed. Paulinas (Portugal)
O CATEQUISTA, O EDUCADOR.
O PASTORALISTA, ARTICULADOR E ANIMADOR DO DIÁLOGO
HOMEM DE DEUS: FIEL DISCÍPULO DE JESUS, A SERVIÇO EXCLUSIVO DA MISSÃO ASSUMIDA
Dom Albano Bortoleto Cavallin[1] é presença permanente entre as pessoas que com ele conviveram, ou que se beneficiaram e ainda lucram de seus empreendimentos pastorais. E que participam, direta ou indiretamente, da grande obra por ele realizada, durante sua trajetória local ou nacional:
no mundo da Evangelização, com ênfase na Catequese;
no universo da Educação, com destaque do Ensino Religioso;
no lócus das Ciências Teológicas, com prioridade das teorias e práticas metodológicas que encaminham ao maior aprofundamento e adesão ao Cristo Palavra e Pão. Duas realidades inseparáveis, com fortalecimento da dimensão trinitária do ensino e da vivência cristã. Prova disto é a organização da Capela em sua residência, para ilustrar e chamar a atenção para ambas as dimensões que devem ser bem trabalhadas, enfatizadas no múnus de ensinar (Cân. 747 ss).
Reuniu e continua agregando pessoas de todos os recantos do país. Conclamou seguidores do Mestre que acreditam: na necessidade de contínua renovação; na permanente fidelidade à missão de evangelizar, catequizar, educar e caminhar juntos, rumo aos ideais de eternidade. Isto de forma participativa, comprometida com a transformação da realidade; sensíveis às necessidades de mudança de paradigmas; aptas a promover a comunhão; e revelar o Pai, concretizando o projeto de Jesus Cristo, Palavra Viva que se faz Pão, Alimento.
Daí a concretização de seu lema episcopal:
INTERPRETABATUR IN SCRIPTURIS (interpretava-lhes nas escrituras)
“Seu nome e seu serviço à Evangelização pela Catequese inclui-se entre as mais vivas e inspiradoras colaborações à história recente da Igreja em nosso país. Entre tantos dons recebidos, o documento Catequese Renovada, que conferiu novas feições ao anúncio da mensagem de Jesus Cristo e educação da fé, é a expressão mais predileta de sua liderança e de sua capacidade de diálogo.” (Peruzzo, 2017)
Para Dom José Antônio Peruzzo,[2] Dom Albano manteve a integridade de quem se entregou a uma causa maior e deu testemunho de fidelidade à missão, com tranquilidade, pois era portador de qualidades inerentes à sua personalidade que “são traços e retratos profundos de quem fez de sua vida um dom acolhido com gratidão a Deus, e um dom oferecido com afeição aos irmãos e aos Catequistas”.
Como desdobramento de seu lema, a Catequese foi a expressão marcante de seu ministério. Integrou a Comissão de Pastoral da CNBB (CEP) na Dimensão Bíblico-Catequética, onde prestou à Igreja no Brasil serviços de grande relevo, de 1984 a 1988, dentre os quais a reflexão, elaboração e divulgação do documento Catequese Renovada, orientações e conteúdo, lançado em 1983. Para operacionalizá-lo criou Grupos de Reflexão e Trabalho, sendo o GRECAT, o pioneiro. O mesmo Grupo, sob a coordenação de dois assessores da CNBB para a dimensão bíblico-catequética, Irmão Israel José Nery e Frei Bernardo Cansi, o auxiliou no planejamento e realização da primeira Semana Brasileira de Catequese, reunindo em Itaici – SP, mais de 500 Catequistas e alguns Catequetas, com substanciosa produção de suas conclusões.
Ainda na CEP, Dom Albano promoveu dois Encontros Nacionais de Catequese, contando sempre com a mesma assessoria nas quais confiou e soube valorizar. Esses e outros eventos deram um novo impulso à catequese no Brasil, incentivando a produção de dezenas de coleções de catequese, contemplando os aspectos apresentados como essenciais numa catequese completa e eficaz para a educação permanente da fé. Os ciclos bíblicos receberam grande incentivo de Dom Albano e de seus assessores.
Dom Albano iniciou um tempo novo para a educação no Brasil, estando este setor sob seus cuidados na Comissão de Pastoral da CNBB, incluindo o Ensino Religioso (ER). Esta disciplina passou a ocupar um lugar de destaque, pois coincidentemente, em 1984 é divulgado o novo Código de Direito Canônico, cujo cânon 804 trata do ensino religioso na rede pública. Ao mesmo tempo, teve início ao processo de abertura política no Brasil, sendo constituída a Comissão “Afonso Arinos” que elaborou o anteprojeto da nova Carta, preparatório da Assembleia Nacional Constituinte. O Ensino Religioso entrou na pauta das discussões desde o referido anteprojeto. Posteriormente disciplina passou a ser alvo de interesse em todas as regiões do país, uma vez constante dos Projetos já consolidados e debatidos na referida Assembleia, durante os anos de 1986 a 1988.
Com igual dedicação, Dom Albano envidou esforços, constituiu, em 1985, o Grupo Nacional de Reflexão sobre o Ensino Religioso (GRERE) que, também, sob a coordenação dos dois assessores da catequese e do Pe. Irineu Brand, além de dezenas de reuniões, organizou e realizou dois Encontros Nacionais de Ensino Religioso (5º e 6º ENER), em Brasília, durante a Assembléia Nacional Constituinte. Completou estas atividades com um encontro de deputados na sede da CNBB em Brasília, várias reuniões no Congresso Nacional e dezenas de visitas aos parlamentares para refletir sobre a garantia do ER na Carta Magna.
Animou o movimento nacional de professores e coordenadores do Ensino Religioso nas Secretarias de Educação dos Estados e alguns municípios sede de Capitais. Deste movimento surgiram os abaixo-assinados, sendo o Ensino Religioso a segunda maior emenda popular a entrar no Congresso Nacional, com setenta e oito mil assinaturas, seguindo as normas pré-estabelecidas. O artigo 210, § 1º da Constituição Federal que garante o ER, no momento, resultou desta mobilização. Ao mesmo tempo, foi dada oportunidade aos professores, de participar pela primeira vez de um evento desta natureza. Estava sendo formada a consciência política, da plena cidadania.
Para auxiliar a sociedade brasileira - especificamente os parlamentares - o GRERE, ouvindo os professores, elaborou e divulgou, durante a Assembleia Constituinte, os Estudos nº 49 da CNBB[3], trazendo a história e algumas reflexões sobre esta área de conhecimento no Brasil, durante sucessivas fases do processo civilizatório brasileiro.
É importante destacar que Dom Albano Cavallin soube manter todas as velas acesas. Para ele um setor pastoral ou educacional não era mais importante do que outro. Deu testemunho de dedicação e atenção a todos, com igual competência e disponibilidade.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) manifesta seu pesar pelo falecimento de dom Albano Bortoletto Cavallin, arcebispo emérito de Londrina (PR), aos 86 anos, ocorrido na quarta-feira, dia 1º de fevereiro de 2017, após um procedimento cirúrgico.
Tivemos o privilégio de visitar, em 2014, a esse ilustre educador, em sua residência em Londrina. E de gravar uma entrevista com ele sobre o ER, utilizada três meses depois no 3º Encontro Nacional dos Bispos referenciais do ER nos Regionais da CNBB (3º ENBRER). A Biblioteca Virtual do ER irá ao ar com a 2ª edição, trazendo entre outros este vídeo.
A Dom Albano Bortoletto Cavallin, a homenagem, a gratidão e o reconhecimento por sua atuação benfeitora de todos(as) os(as) Catequistas e Educadores(as) do Brasil.
Anísia de Paulo Figueiredo
Autora de vários títulos de Catequese e Ensino Religioso.
Atuou como consultora da CNBB, a convite de Dom Albano, durante a Assembléia Nacional Constituinte, na função de pesquisadora
e redatora principal dos Estudos da CNBB nº 49, com total apoio da Arquidiocese de Diamantina - MG.
[1] Dom Albano Bortoleto Cavallin nasceu em Lapa - PR, aos 25 de abril de 1930. Faleceu no dia 1º de fevereiro de 2017, após uma cirurgia. Sua ordenação presbiteral se deu em 06 de dezembro de 1953. Ordenação episcopal em 28 de agosto de 1973. Funções que exerceu: vigário cooperador da catedral de Curitiba - PR; pároco, diretor espiritual do Seminário Maior Rainha dos Apóstolos; coordenador de Pastoral e subsecretário do regional Sul 2 da CNBB; professor no Studium Theologicum em Curitiba; bispo auxiliar na arquidiocese de Curitiba; bispo da diocese de Guarapuava (PR); de 1992 até 2006, arcebispo de Londrina-PR.
[2] Arcebispo de Curitiba (PR) e atual presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
[3] Os Estudos nº 49 da CNBB é um documento histórico que registra, pela primeira vez, a História do Ensino Religioso no Brasil. De sua divulgação em diante, foi dado início a uma reflexão mais ampla sobre o ER na legislação de ensino. O mesmo apresenta os desafios que ainda permanecem; esses desafios dificultam a compreensão e aplicação da matéria do sistema escolar da rede oficial de ensino, aberto aos cidadãos e cidadãs de qualquer crença, ou indiferentes, ou declaradamente ateus.
Num recente programa de rádio, o escritor norte-americano Jack Hitt contou uma história sobre como explicar o Natal à sua filha de quatro anos. Um dia, quando ela lhe perguntou sobre o que era essa festa, ele falou-lhe do nascimento de Jesus, o que aguçou a sua curiosidade. Compraram-lhe uma Bíblia para crianças e ela aprendeu sobre o nascimento de Jesus e os seus ensinamentos, incluindo a antiquada expressão «faz aos outros como gostarias que te fizessem».
Noutro dia, passaram de carro por uma grande igreja com um enorme crucifixo no exterior. «Quem é aquele?», perguntou ela. Hitt percebeu que nunca tinha falado à filha dessa parte da história. «Então respondi-lhe alguma coisa como "oh, bem, é Jesus. E eu esqueci-me de te dizer o final. Ele entrou em conflito com o governo romano», recordou Hitt na emissão.
«Esta mensagem que Ele tinha foi tão radical e perturbadora para as autoridades do tempo, que elas tiveram de o matar. Elas chegaram à conclusão de que Ele tinha de morrer. A sua mensagem era muito problemática», explicou o escritor à criança.
Algumas semanas após aquele Natal, a escola pré-primária fechou por causa do feriado dedicado a Martin Luther King Jr., e Hitt levou a filha a almoçar. Na mesa do restaurante estava o suplemento artístico do jornal local, que tinha um grande desenho de Luther King feito por uma criança. «Quem é este?», interrogou ela.
Ele respondeu que King tinha sido um pregador que havia afirmado que «deves tratar todos da mesma forma, sem olhar à aparência». Ela ficou a pensar naquelas palavras por alguns momentos. «Então foi o que Jesus disse», respondeu. Hitt afirmou que nunca tinha pensado nisso daquela maneira, mas sim, tem muito a ver com a frase «faz aos outros...».
A criança voltou a ficar pensativa por instantes, depois olhou para o pai e interrogou: «Também o mataram?».
Esta história andou às voltas na minha cabeça a 26 de dezembro, a festa de Santo Estêvão, o primeiro mártir cristão. Os novos brinquedos da nossa filha continuavam dispersos por toda a sala de estar, o quarto dela, a entrada. As imagens do Menino Jesus descansavam pacificamente na meia dúzia de presépios espalhados pela casa. E a Igreja celebrava um jovem do primeiro século que foi apedrejado por causa do que acreditava e fez. É uma justaposição dissonante. Segue até ao extremo a mensagem de amor e paz revelada na manjedoura e pode ser que acabes numa cruz ou na varanda de um hotel.
Nunca vi uma imagem mais poderosa sobre esta verdade do que a fotografia que povoou a internet nos dias a seguir ao Natal: crentes amontoados na secção frontal da catedral maronita católica em Alepo, tendo atrás de si a grande nave da igreja totalmente bombardeada.
A palavra "mártir" significa testemunha, e estas testemunhas sírias deixaram-me estupefacto. As suas vidas do dia a dia tornam-nas pessoalmente mais íntimas com a história de Santo Estêvão do que a maioria de nós alguma vez será. Ainda assim, confrontadas com uma violência inimaginável, apareceram para adorar juntas o Príncipe da Paz. Apareceram. Apareceram.
Eu, quanto a mim, passei os olhos pela seleção de cânticos da nossa Missa do Galo. Tenho evitado olhar diretamente para os olhos da maior parte dos sem-abrigo que vejo nas ruas em redor do meu escritório. Muitas vezes, demasiadas vezes, não estou a aparecer.
«Digo-vos uma coisa», afirmou o papa Francisco no dia de Santo Estêvão. Na sua habitual forma direta, pareceu-me que estava a falar precisamente para mim e para os meus confortáveis companheiros cristãos: «Os mártires de hoje são muitos mais em relação aos dos primeiros séculos [da Igreja]. Quando lemos a história dos primeiros séculos, aqui, em Roma, lemos tanta crueldade com os cristãos; eu digo-vos: hoje existe a mesma crueldade, em número superior».
«Hoje queremos pensar neles que sofrem perseguições, e estar próximos deles com o nosso afeto, a nossa oração e também com o nosso pranto», continuou ele. «Não obstante as provas e os perigos, eles testemunham com coragem a sua pertença a Cristo e vivem o Evangelho comprometendo-se a favor dos últimos, dos mais esquecidos, fazendo o bem a todos sem distinção; testemunham assim a caridade na verdade.»
Eis aqui alguma inspiração para uma resolução de Ano Novo que valha a pena. Pertencer a Jesus. Viver o Evangelho. Favorecer os últimos e os esquecidos. Fazer o bem a todos sem distinção. Extrair energia da coragem de Martin Luther King, dos cristãos de Alepo e de Santo Estêvão. Por outras palavras: ser uma testemunha, por amor de Deus.
Mike Jordan Laskey
In "National Catholic Reporter"
Trad. / adapt.: Rui Jorge Martins
Publicado em 03.01.2017 no SNPC
Durante séculos os primeiros cristãos festejaram como festa das festas a Páscoa da ressurreição de Jesus o primeiro dia da semana judaica, para eles tornado “dia do Senhor”, e não sabemos se em algumas comunidades do Mediterrâneo se recordava o nascimento de Jesus com uma festa particular.
No século IV, após o edito de Constantino e a liberdade de culto concedida aos crentes em Cristo, ocorre a cristianização de uma festa pagã introduzida pouco antes pelo imperador Aureliano (c. 270) e celebrada em Roma como festa do “Sol invictus”, do “Sol vencedor”, que nesse dia começa a alongar o seu tempo de luz sobre a Terra.
Para os cristãos, Jesus o Senhor era «o Sol de Justiça» cantado por Malaquias, era «a Luz do Mundo» proclamada pelo Evangelho. Eis então que no ocidente o renascimento do “Sol invictus” pagão foi cristianizado mediante a festa do Natal, da Natividade de Jesus Cristo. Paralelamente, no oriente (Egito e Síria), onde o solstício de inverno se assinalava a 6 de janeiro, assume-se essa data para celebrar a Epifania como festa da manifestação da vinda do Filho de Deus à nossa humanidade.
Esta é a origem da nossa festa, que desde sempre teve no seu centro o Evangelho do nascimento de Jesus segundo Lucas (2, 1-14). Na missa da noite, celebrada no coração das trevas, refulge uma grande luz: Jesus, dado à luz por Maria em Belém.
Esta narrativa não é uma fábula, ainda que pareça escrita para as crianças, que significativamente a recordam para toda a vida, mas é uma página do Evangelho, uma noa notícia. Por isso Lucas quer antes de mais situar esse acontecimento na grande história do Mediterrâneo, marcada pelo domínio do Império Romano.
César Augusto decide contar os habitantes de todas as terras conquistadas por Roma: para tal ordena um recenseamento, executado na terra de Israel por Quirínio, governador da Síria. José obedece a esta ordem e, juntamente com a mulher, Maria, deixa a sua cidade de Nazaré para se dirigir a Belém, na Judeia, no sul da Terra Santa, onde tinha tido origem a casa e a descendência de David, o Messias, o ungido do Senhor, o rei de Israel.
Enquanto este casal se encontra em Belém, numa condição precária e de pobreza, não tendo encontrado lugar na estalagem, numa pequena construção, somente um abrigo no campo, Maria, que está grávida, dá à luz o seu filho primogénito, a ela anunciado por revelação como gerado pelo Espírito de Deus, um Filho que só Deus podia dar a toda a humanidade.
Aqui já está uma forte contraposição, que caraterizará toda a vida deste recém-nascido. Quem domina o mundo é Augusto – chamado “Divus”, “Deus”; “Sotér”, “Salvador”; “Kýrios”, “Senhor” –, mas o verdadeiro Salvador e Senhor é um seu súbdito, um bebé nascido numa situação pobre, para o qual desde logo parece não haver lugar neste mundo.
Conhecemos todos bem o ícone da Natividade: uma cabana ou uma gruta, e Maria que deita o seu filho numa manjedoura, com José ao lado, testemunha e guardador daquele mistério no qual é envolvido e ao qual presta pontualmente obediência. Tudo acontece na noite, no silêncio, na condição humaníssima de uma mãe que dá à luz um filho. Ninguém conhece aquele casal, ninguém o acolhe, ninguém se dá conta de nada.
Mas eis que Deus envia um seu mensageiro aos pastores que se encontram nas colinas que circundam Belém, para levantar o véu sobre aquele acontecimento: «Um anjo do Senhor apresentou-se a eles e a Glória do Senhor envolveu-os em luz». Os pastores são gente desprezada, marginalizada, que nem sequer são considerados dignos de ir ao templo para encontrar o Senhor. Mas é precisamente a estes últimos da sociedade da Judeia que é dirigido o anúncio, a boa notícia por excelência, que é alegria para todo o Israel, para todo o povo de Deus. Pela sua condição de pobres e últimos, os pastores são os primeiros destinatários por direito desta boa notícia:
«Hoje, na cidade de David, do Messias, nasceu para vós um Salvador, que é o Messias, Senhor».
Neste anúncio colhemos como que uma antecipação da boa notícia pascal: Jesus é o “Kýrios”, o Salvador. Não Augusto, que se vangloriava desse título, mas um menino recém-nascido recebe esse mesmo título da parte de Deus. Assim acontece a revelação aos pequenos, aos últimos, da qual são excluídos quantos acreditavam ser destinatários de direito: sacerdotes, peritos da Lei, crentes militantes convencidos de serem só eles os verdadeiros filhos de Abraão.
Aos pastores é dado também um sinal, uma indicação para que possam ver e compreender: nada de extraordinário ou de divino mas, de novo, uma realidade humaníssimas: «Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas, deitado numa manjedoura». Realidade simples e humilde, sem ornamentos, sem “extraordinário”.
E todavia este anúncio é dado por um coro incontável de criaturas invisíveis, numa espécie de liturgia cósmica, essa liturgia do céu que não conseguimos ver nem escutar mas que enche o universo e canta a santidade e a glória de Deus, isto é, proclama quem e como Deus ama. Com efeito, o que nesse canto coral é revelado é a vontade de Deus: «Deus tem peso (“kabod”, glória), Deus age no mundo mesmo sendo Santo e está no mais alto dos céus, Deus dá a paz à humanidade que Ele ama».
Eis a boa notícia do Natal: Deus ama-nos de tal modo que quis ser um de nós, entre nós, igual a nós, um homem como nós.
Enzo Bianchi
In Monastero di Bose
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 22.12.2016
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