A Comissão Episcopal para Animação Bíblico-Catequética realizará de 14 a 18 de novembro de 2018, em Indaiatuba (Itaici-SP), a 4ª Semana Brasileira de Catequese.
Tema: 4ª Semana Brasileira de Catequese a serviço da Iniciação à Vida Cristã.
Lema: “Nós ouvimos e sabemos que Ele é o Salvador do mundo” (Jo 4,42)
Objetivo geral:
- Compreender a catequese de inspiração catecumenal a serviço da iniciação à vida Cristã, buscando novos caminhos para a transmissão da fé, no contexto atual.
Objetivos específicos:
- Refletir sobre a condição humana, a busca de sentido e a crise de fé na contemporaneidade;
- Apresentar a iniciação à vida cristã como eixo articulador da ação evangelizadora, a serviço da qual está a catequese (CNBB, Doc. 107, 76);
- Compreender o querigma e a mistagogia como caminho de renovação da comunidade e da formação do discípulo missionário de Jesus Cristo;
- Partilhar experiências significativas da catequese a serviço da iniciação à vida cristã dos regionais.
A 4ª Semana Brasileira de Catequese é uma oportunidade de reafirmar nosso empenho e compromisso no serviço à Iniciação à Vida Cristã, como um itinerário para formar discípulos missionários de Jesus Cristo numa comunidade querigmática, mistagógica e missionária.
Resiliência é a capacidade humana para assumir, ressignificar e superar traumas e grandes sofrimentos da vida. As experiências com órfãos, crianças maltratadas, vítimas de guerras ou catástrofes naturais permitiram constatar que as pessoas que passaram por feridas profundas na vida podem, graças à sua capacidade de resiliência, encontrar um novo sentido para sua existência e olhar para sua própria história com mais realismo e gratidão.
A resiliência, embora seja uma aptidão acessível a todos, ela não é uma receita pronta para a felicidade ou uma espécie de vacina mágica contra o sofrimento, é antes uma habilidade interior que precisa de treino e, mais do que esforço pessoal, de três pilares: espiritualidade, autotranscendência e o apoio de um tutor de resiliência.
Para os estudiosos da resiliência, cultivar a espiritualidade e a dimensão interior é uma das coisas mais importantes para superar o sofrimento e dar-lhe um novo significado.
A autotranscendência é outra característica fundamental. O sofredor precisa ter coragem de reerguer-se de sua dor e projetar-se para fora de si mesmo. Em outras palavras, ele precisa voltar a querer viver e a sonhar, não sonhos egoístas, mas coletivos e cheios de compaixão pela dor do outro.
Todo aquele que passou por grandes dificuldades e sofrimentos na vida precisa, de alguma maneira, encontrar alguém a quem confiar suas angústias e suas dores, ou seja, um TUTOR DE RESILIÊNCIA. Biblicamente falando, todo sofredor necessita encontrar, no momento de seu sofrimento, um “Bom Samaritano”, alguém capaz de acolher com ternura TODOS aqueles que sofrem, especialmente os que sofrem em silêncio, os que escondem sua dor no mistério do próprio olhar.
Neste sentido, o CATEQUISTA deve tornar-se um tutor de resiliência, um especialista em humanidades e afetos. Para isso, ele precisa – mais do que falar de Jesus e do amor de Deus – ter os mesmos sentimentos dele, como ensina São Paulo.
Para que o catequista se torne um tutor de resiliência, ele precisa ter VIDA INTERIOR, SENSIBILIDADE e COMPAIXÃO, tanto pela dor do próximo quanto pela humanidade que ainda geme em dores de parto. Sem estas três dimensões, o catequista pode ser um excelente orador, alguém que fala de Deus com entusiasmo, mas que não consegue torná-lo próximo de seus ouvintes, alguém que aprendeu a falar coisas belas de Jesus, mas que nunca se abriu às sutilezas de seu amor.
O tutor de resiliência é, portanto, todo ser humano capaz de sensibilizar-se diante da dor de seu semelhante e, em seguida, “ajudar a sarar”. O catequista, assim como o tutor de resiliência, diante das feridas do próximo deve tornar-se um curador, ainda que seja, muitas vezes, um “curador ferido”.
Francisco Galvão, religioso paulino, formado em teologia,
mestrando em comunicação social e autor do livro “O Cultivo Espiritual em tempos de conectividade”, lançamento Paulus, 2018.
Apesar de ter nascido na Ilha de Tenerife, no arquipélago das Canárias, na Espanha, padre José de Anchieta ficou conhecido como o “apóstolo do Brasil” por sua atuação no País. Chegou ao Brasil em julho de 1553, com outros seis jesuítas e, em menos de um ano, dominava o tupi com perfeição. Ao longo dos 43 anos em que viveu no Brasil, participou da fundação de escolas, cidades e igrejas.
Anchieta não só trabalhou como catequista, mas também tornou-se dramaturgo, poeta, gramático, linguista e historiador. Vale ressaltar que foi o autor da primeira gramática brasileira.
Em janeiro de 1554, participou da missa de inauguração do Colégio de São Paulo de Piratininga, hoje Pateo do Collegio, local que deu origem à cidade de São Paulo.
Entre as características marcantes da atuação de Anchieta estão a disseminação dos preceitos cristãos utilizando particularidades locais e, assim como os demais jesuítas, a oposição ferrenha aos abusos cometidos pelos colonizadores portugueses contra os indígenas.
Em 1563, com o apoio dos franceses, a tribo dos Tamoios rebelou-se contra a colonização portuguesa. Anchieta e Pe. Manuel da Nóbrega, chefe da primeira missão jesuíta no Brasil, viajaram à aldeia de Iperoig (atual cidade de Ubatuba, litoral norte de São Paulo) visando conter a revolta. Anchieta ofereceu-se como refém, enquanto Manuel da Nóbrega partiu para negociar a paz. Durante o cativeiro, que durou cinco meses, Anchieta fez, então, uma promessa a Nossa Senhora: dedicaria o mais belo poema em sua homenagem se conseguisse sair casto do cativeiro (era costume entre os índios oferecer mulheres aos prisioneiros antes de sua morte). Com versos escritos na areia, ele deu vida ao Poema à Virgem.
Em 1566, Anchieta foi ordenado sacerdote. Três anos depois, fundou o povoado de Reritiba, atual Anchieta, no Espírito Santo. E, em 1577, foi nomeado Provincial da Companhia de Jesus no Brasil, função que exerceu até 1585. Em 1595, Anchieta retirou-se para Reritiba, onde permaneceu até seu falecimento, aos 63 anos de idade, em 9 de junho de 1597.
A assinatura do decreto de canonização do Apóstolo do Brasil ocorreu 417 anos depois de sua morte, no dia 24 de abril de 2014, pelo papa Francisco, em Roma. No relatório final dos postuladores sobre a vida do jesuíta, um documento de 488 páginas, há o registro de 5.350 histórias de pessoas que alcançaram graças rezando a José de Anchieta.
Anchieta é um modelo de catequista e evangelizador, pois fez uma catequese levando em conta a cultura(o jeito de ser e viver) das pessoas. Escreveu teatro, poemas, que eram usados para transmitir a fé aos habitantes desse país. Foi canonizado pelo Papa Francisco em 03 de abril de 2014.
Foi declarado em setembro de 2014, Padroeiro dos catequistas do Brasil pela Congregação para o culto Divino e a Disciplina dos sacramentos da Santa Sé.
(texto adaptado do portal jesuítasbrasil.com)
Início da travessia
(indicações para um aprofundamento básico do novo catequista)
Propomos a seguir um itinerário, ou seja, um caminho com conteúdos essenciais para uma formação inicial com o novo catequista. O grupo de catequista pode oferecer esse “tesouro”: a formação. Pode também buscar ajuda ou unir-se a outras paróquias, mas cada vez mais é urgente dar condições ao novo catequista de assumir com consciência e preparo metodológico a iniciação à vida cristã de crianças, jovens e adultos.
As indicações de conteúdos feitas a seguir contemplam o “ser”, o “saber” e o “saber fazer” do catequista. Em cada conteúdo sugerido você encontrará os tópicos a serem desenvolvidos.
Ser do Catequista
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A beleza de ser catequista
- Quem é você que quer ser catequista? Porque você veio?
- A Igreja é a grande catequista e necessita de catequistas.
- Catequistas que testemunham a beleza de ser catequista e que possam partilhar: O que tem de fascinante na vida de catequista? O que tem de atraente na catequese? Porque a catequese me “reteve” tantos anos? E porque espero nela terminar os meus dias?
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Ser catequista é experimentar e revelar a beleza da vida e da fé
Na sociedade atual, o catequista:
- Encontra sentido de viver no seguimento de Jesus (em Jesus descobre sentido pra viver em meio às inúmeras seduções do mundo de hoje).
- Experimenta o amor de Deus revelado em Jesus Cristo na comunidade cristã.
- Experimenta a amizade, a beleza da vida em comunhão, na convivência com outros catequistas e catequizandos.
- Empenha sua vida na missão de anunciar o quanto Deus nos ama (a Igreja em saída supõe levar em conta as periferias existenciais e geográficas).
- Sente-se incompleto e busca crescer continuadamente (crescer como pessoa, como cristão, como catequista, alimentando-se de uma mística e espiritualidade da descoberta de Deus no cotidiano, deixando-se guiar pelo Espírito de Deus).
Saber do catequista
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Educar a fé é uma arte
- A catequese é a arte de provocar o encontro pessoal com Jesus e iniciar no seu seguimento, na comunidade de fé (iniciar é “encarinhar” o iniciando pela pessoa de Jesus numa relação de amor).
- A catequese é a arte de proporcionar o amadurecimento da fé e da vida (não se chega à maturidade da fé de um dia para outro. Há um processo de maturação, para que ela venha a penetrar as dimensões do ser humano e para que a pessoa descubra e viva as suas múltiplas faces. A fé é confiança, é conhecimento, é reconhecimento, é prática, é entrega, é amor).
- A catequese é arte de gerar comunidades de discípulos missionários (a iniciação é conversão ao modo de vida do grupo que se passa a integrar (a Igreja). Significa aprender a viver a partir da tradição desse grupo. A fé agrega a comunidade).
- A catequese é a arte de gerar cristãos comprometidos com a causa do Reino, empenhados na transformação da realidade, sendo sal, luz e fermento no meio do mundo.
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Jesus é a fonte de toda beleza (EG 164-167)
- A beleza é o amor de Deus revelado: Jesus Cristo.
- O nascimento de Jesus já revela a opção concreta de Deus por nós. É uma opção pelo humano, pelo simples, pelo pobre...
- Jesus nos revela a beleza do amor de Deus no cuidado com as pessoas, na amizade, no acolhimento, na partilha, na fraternidade, na defesa da vida...
- Jesus dá a vida por aqueles que ama. A beleza se manifesta no rosto do Filho do Homem na cruz, a revelação do infinito amor de Deus...
- A beleza se revela na morte e ressurreição de Jesus, prova de que a morte não tem a última palavra e que o amor vence a morte...
- A catequese está a serviço do anúncio principal (querigma).
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A beleza da Palavra
- A Palavra de Deus é fonte da catequese (a Palavra de Deus faz experimentar e contemplar Deus na vida cotidiana).
- Deus se revela na vida, nos acontecimentos, na natureza, na comunidade e na Bíblia.
- A Bíblia narra a aliança de amor de Deus com o povo (apresentar o livro da Bíblia. Na formação inicial não é possível fazer um aprofundamento bíblico).
- A Bíblia possui uma linguagem simbólica e poética.
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A mensagem cristã nas diferentes etapas da vida
- A iniciação mistagógica é anúncio da Palavra, mas leva em conta o processo de crescimento da pessoa (abordar as diferentes etapas do crescimento e amadurecimento humano). (EG 166)
- O conteúdo da catequese, ou seja, a mensagem que a catequese anuncia, precisa ser adaptada a cada fase da vida da vida do catequizando (apresentar qual é o conteúdo da catequese em cada etapa, ou seja, qual é o anúncio essencial em cada idade, destacando o perfil da geração NET).
Saber Fazer
Como comunicar a mensagem cristã
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Catequese é um caminho onde se experimenta Deus
- O jeito de Jesus catequizar (Jesus catequista).
- A catequese tem uma metodologia, um jeito específico de educar na fé.
- A interação fé e vida faz parte de todo o processo de iniciar à fé.
- Elementos da metodologia catequética: participação, símbolos, pessoa do catequista, linguagem, formação de grupo, personalização etc...
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O Encontro de catequese é lugar de experiência de vida e fé
- Passos do encontro catequético.
- Como preparar o encontro catequético.
- Recursos para o encontro catequético.
(texto extraído e adaptado do subsídio “Níveis do processo formativo de catequistas” do Regional Leste 2 da CNBB)
Sugestão de livros que podem ajudar na Formação básica dos novos catequistas:
- Semeadores da Palavra. Formação de catequistas iniciantes - Editora Vozes
- Ser Catequista –Vocação, Encontro, Missão – Pe. Assis Moser e Pe. André Biernaski - Editora Vozes
- Textos e artigos do site catequese Hoje
- Textos e artigos do site www.catequesedobrasil.org.br
- Elementos de didática na catequese – Solange Maria do Carmo – Paulus Editora
- Coleção -Psicopedagogia catequética – Eduardo Calandro e Jordélio Siles Ledo – Paulus Editora
- Quem é o catequizando – Pe. Paulo Gil – Editora Vozes
- Ministério do Catequista. Elementos básicos para a formação – Pe. Humberto Robson de Carvalho - Paulus Editora
- O Belo, o Lúdico e o Místico na catequese – Subsídio da Catequese do Regional Leste 2
Lucimara Trevizan
Equipe do Catequese Hoje
O pedido por formação de catequistas é o grande grito das coordenações de catequese e catequistas. Verifica-se uma grande sede de formação. Mas, constata-se também que a formação oferecida por paróquias é fragmentada, não se pensa um processo formativo. Os temas propostos são “soltos”. É bom ter temas de atualização, mas é preciso pensar um projeto de formação de catequistas que contemple os diferentes níveis de formação.
Espanta o alto índice de rotatividade dos catequistas. Muitos desistem porque não foram orientados suficientemente para a missão que assumiram. O desânimo aparece diante de pequenos desafios. Outros descobrem que não possuem vocação, isso já desempenhando o trabalho catequético com crianças ou jovens e adultos.
Há dois anos a comissão bíblico-catequética do Regional Leste 2 realizou uma pesquisa e constatou que 70% das paróquias do Estado de Minas e Espírito Santo não oferecem formação inicial para os novos catequistas. Na análise feita, essa é a grande causa da rotatividade de catequistas.
A formação de catequistas é processo de travessia, de deixar de ser de um jeito para ir se fazendo melhor como pessoa, como cristão e como catequista. E ser catequista é um peregrinar, estar sempre em busca, querer ir além.
É muito importante a formação inicial que uma paróquia e comunidade precisa oferecer ao novo catequista. Ela é um processo de encantamento inicial pela missão de catequista, tão importante para nos sustentar na caminhada.
Alguns objetivos da formação inicial de novos catequistas:
- “Abrir o apetite” para a missão de ser educador da fé;
- Descobrir a beleza de ser catequista e a catequese como caminho onde se experimenta Deus;
- Proporcionar uma iniciação do novo catequista ao seguimento de Jesus;
- Orientar sobre o uso da Bíblia na catequese;
- Oferecer orientações metodológicas concretas sobre o “Encontro de Catequese”, para que consiga realizar encontros catequéticos mais vivenciais, orantes, celebrativos, criativos.
- Conhecer as principais características dos catequizandos nas diferentes idades.
- Orientar sobre o conteúdo da catequese com crianças, jovens e adultos.
Outras indicações importantes sobre a Formação inicial do catequista:
- É imprescindível e muito importante a formação inicial dos catequistas. A paróquia precisa assumir e investir nesta formação. Disso depende o futuro da catequese e a chance de envolver novas pessoas na catequese.
- A coordenação paroquial de catequese e o pároco são os responsáveis por essa formação. Se houver dificuldade, é possível organizar essa formação em conjunto com outras paróquias.
- Pensar em como convidar novos catequistas. Pedir ajuda e indicação ao grupo de catequistas, ao padre, ao conselho de pastoral. Fazer o convite pessoalmente.
- A formação pode ser feita: encontros semanais (durante quatro meses), encontros de dia inteiro (uma vez por mês ao longo do ano) e outras modalidades de acordo com a possibilidade local.
- Valorizar cada catequista iniciante, acolher com ternura e carinho, assumindo suas situações vida (sofrimentos, fragilidades, medos, conquistas, alegrias).
- Levar em conta as imagens de Deus que o catequista traz e ajudar a descobrir o Deus de Jesus Cristo.
- Cuidar dos momentos orantes em cada encontro e da metodologia, zelando para que a formação não se reduza a aulas.
- Proporcionar momentos de lazer, de convivência, de festa.
- Envolver a comunidade nesse processo, pedindo ajuda, orações.
- Convidar catequistas mais experientes para acompanhar como “padrinhos/madrinhas” um pequeno grupo de novos catequistas. Ao longo da formação, será importante a escuta, a partilha, a animação, o testemunho.
O papa Francisco ao visitar uma paróquia de Roma (em 12.03.2017), fez um agradecimento aos catequistas: «O que seria a Igreja sem vós? Vós sois pilares na vida de uma paróquia, na vida de uma diocese. Não se pode conceber uma diocese, uma paróquia, sem catequistas. E isto desde os primeiros tempos, desde o tempo após a ressurreição de Jesus: havia as mulheres que ajudavam os amigos e faziam de catequistas. É uma vocação belíssima. É uma vocação belíssima. Não é fácil ser catequista, porque o catequista não só deve ensinar "coisas", deve ensinar atitudes, deve ensinar valores, muitas coisas, como se vive. É um trabalho difícil. Agradeço-vos muito, catequistas, pelo vosso trabalho. Muito obrigado. Obrigado».
(no próximo artigo faremos indicações do conteúdo da formação inicial do catequista)
Lucimara Trevizan
Comissão Bíblico-Catequética do Regional Leste 2
A capacidade de nos compadecermos é o que confere à vida o seu significado mais profundo. (Paulo Casais)
É fácil ser religioso, difícil é ser espiritual. A vida religiosa requer que sejamos apenas para o outro; a vida espiritual requer que sejamos compassivos para com o outro.
Para sermos profundamente espirituais e completamente compassivos, devemos recordar que a pessoa necessitada é apenas outra versão de nós mesmos, com a qual talvez ainda tenhamos de travar conhecimento na vida, mas que um dia se revelará.
O mundo não se cura a si próprio. Isso só um coração compassivo pode fazer.
A compaixão lubrifica a astronomia da condição humana. Faz-nos entrar em contato uns com os outros, revela a luz em cada um e dilata-a a ponto de o mundo brilhar com um novo tipo de compreensão, com um tipo melhor de comunidade humana.
O conhecimento faz muito pouco pela vida. É a compaixão que a torna possível de ser vivida, que lhe transmite o tipo de visão que nos dá a todos uma razão para estarmos vivos.
Nenhum de nós está aqui só para si mesmo. Essa é a lição mais importante da vida. A compaixão, para ser real, deve ser universal, não seletiva. Eu não posso declarar que sou compassivo se deixo alguém fora das fronteiras da minha compaixão. Só se o meu coração for suficientemente amplo poderei esperar que venha ser maior do que a minha própria agendazinha pessoal. Então terei alguma coisa pela qual valerá a pena viver, dar-me, sofrer, para sempre. Então, eu próprio serei um dom para o resto da humanidade.
Joan Chittister
In: O sopro da vida interior
Nós escolhemos as nossas alegrias e os nossos desgostos
muito antes de os experimentarmos.
(Gibran Khalil Gibran)
Esperamos com demasiada frequência que a alegria venha a nós, quando a verdade é que a alegria é algo por cuja criação devemos assumir a responsabilidade, não só em nosso favor, mas também em favor dos outros. A beleza da alegria é que, tal como um vitral, através do qual a luz se decompõe em miríade de cores, essa nos permite ver como a vida é boa, mesmo quando parece não o ser. A alegria não é um acontecimento, é a atitude que uma pessoa saudável adota em cada situação da vida: trabalho, família, vida social, e até em momentos de tensão pessoal. Fala de esperança e de abertura, de possibilidades fascinantes e da convicção profunda de que aquilo que nos é dado na vida é-nos dado para nosso próprio bem.
A pessoa espiritualmente madura confia na presença de um Deus te amor que fará com que esse momento, seja ele de que tipo for, amadureça na alma. É através da lente da alegria que devemos aprender a olhar para tudo na vida. Tudo isso é bom, mas nem sempre o reconhecemos, quando acontece.
Para sermos pessoas verdadeiramente santas, devemos deixar de pensar na alegria como um acidente da natureza e começar a fazer dela uma prioridade. “Lembra-te sempre que a alegria não é acidental na tua busca espiritual. É vital”, ensinava Nachman de Breslov.
E os antigos recordam-nos: “Não há santos tristes”. Nunca confundas santidade com rigidez, morbidez ou mau humor. Esses provem da preocupação com o ego, não de uma qualquer percepção da presença de Deus.
Joan Chittister
In "Os tempos do coração", ed. Paulinas de Portugal
Ser catequista é uma vocação de serviço na Igreja. Sua vocação se encontra espalhada em meio a toda ação da comunidade. É um dom que recebemos do Senhor e com alegria o transmitimos. O dom que o Pai nos oferece em Cristo é o amor mais real que se possa imaginar. Nós o recebemos como um chamado de Deus para transmitir o que o Senhor anunciou, o seu primeiro anúncio, ou querigma, o dom que mudou a nossa vida. Por isso, somos chamados a levar o anúncio a todas as pessoas para que ele também possa causar transformações em suas vidas.
A vocação do catequista tem sua raiz inserida na vocação cristã. No Batismo e na Crisma recebemos o compromisso de colaborar no anúncio da Palavra de Deus, segundo as nossas condições. Somos Chamados por Deus para o anúncio da sua Palavra, para ser testemunha dos valores do seu Reino e para sermos os porta-vozes da sua mensagem. É viver e anunciar a boa-nova do amor do Senhor: «Jesus ama-te verdadeiramente, tal como és.”
A missão do catequista se transforma em um caminhar constante, um itinerário que vai se fazendo a partir de Cristo e com Cristo, deixando que Ele se torne o centro de nossa vida, que nos faça arder o coração com seu olhar atento e perspicaz, um olhar que nos convida a sair de nós mesmos e nos fazermos próximos dos outros.
Parece um caminho difícil. Precisamos de coragem para entrar no barco da vida e ir em busca do extraordinário que acontece em meio à simplicidade do nosso cotidiano. Muitas vezes, no ritmo frenético que caminhamos, com experiências cada vez maiores das exigências que nos cercam, acabamos por não dar atenção àquelas realidades que nos educam para uma visão mais ampla da vida.
Nas várias fases de nossas vidas estamos a nos perguntar: quem somos, o que nos faz realmente feliz, o que faço da minha vida?Como estou para Deus? São perguntas da nossa existência e das nossas razões que norteiam nossas escolhas. Estamos sempre a procura de Deus. Somos suas criaturas. Seu desejo está inscrito em nossos corações. Somos sempre atraídos a Ele e por Ele. Para entender a Ele e a seus sinais, necessitamos da fé. E a cada experiência da vida nos leva em direção a Ele. Somos conduzidos em direção ao mistério da fé.
Percorrendo o itinerário no mar da vida, damo-nos conta de que o que estamos fazendo na vida diz respeito ao modo como Jesus viveu. Vivemos o que herdamos dele e das primeiras comunidades que bem souberam apreender o seu modo de vida. Crer no Ressuscitado é um processo que pode durar anos. A fé em Cristo vai despertando em nosso coração de forma frágil e humilde. Precisamos de tempo.
O catequista, ao ser chamado a fazer ecoar a Palavra de Deus, vai junto com Cristo e se doa dando o seu testemunho que é sustentado pela certeza do amor do Cristo que se dispõe a nos doar, a fim de nutrir o crescimento espiritual de outras pessoas e de nós mesmos. Vamos juntos fazer a experiência de Deus. É ela a matéria-prima da nossa prática catequética.
Não há um conteúdo que seja mais importantes. Cada conteúdo da fé torna-se perfeito, quando ele se mantém ligado ao centro que é Jesus Cristo; quando ele se apresenta permeado pelo anúncio pascal; mas se, pelo contrário, se isolar, perde sentido e força.
No dia a dia vamos deixando nossa vocação despertar e se transparecer. Pode ser através do gosto pela catequese, busca de criatividade para melhorar os encontros catequéticos; esperança de melhorar a nossa sociedade; motivação para obter uma crescente formação e a consciência de ser enviado em nome da Igreja. Vamos porque sempre tem e terá alguém esperando.
Vamos catequizar! Catequizar é aproximar, escutar, estar junto, participar é sofrer e alegrar com alguém ou para alguém. Este alguém pode ser a criança, o jovem, o adulto, o velho, o enfermo, o menor carente, ou uma pessoa que necessita de nossa atenção. Vamos caminhar e se deixar encontrar com Jesus Cristo. No encontro pessoal faremos a experiência de conviver com alguém que nos pode ajudar a conhecer-nos com mais verdade, despertando o que há de melhor em nós. Ele nos pode levar ao essencial, nos convida a reorientar tudo para uma vida mais digna, mais generosa, mais humana.
Catequistas, procuremos abastecermos nas fontes do Cristo crendo nEle, seguindo-o e fazendo-se um continuador de sua obra, participando da sua vida em comunidade. Continuemos nossa jornada alimentados pela fé e pela esperança. Parabéns a todos os/as catequistas pelo nosso dia, que celebramos no dia 27 de agosto.
Valorizemo-nos! Não deixemos a palavra de Deus morrer afogada no poço do medo, da insegurança, do comodismo. Sejamos criativos sem medo de sair dos próprios esquemas. Sejamos profetas, porta-vozes de Deus
Neuza Silveira de Souza
Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de BH
Mensagem do Santo Padre Francisco
aos participantes do Simpósio Internacional de Catequética
[11-14 DE JULHO DE 2017, BUENOS AIRES]
A Sua Excelência Mons. Ramón Alfredo Dus,
Arcebispo de Resistência,
Presidente da Comissão Episcopal de Catequese e Pastoral Bíblica
Querido irmão:
Uma cordial saudação ao senhor e a todos que participarão nos diversos encontros de formação que a Comissão Episcopal de Catequese e Pastoral Bíblia organizou.
São Francisco de Assis, quando um de seus seguidores insistia para que ele o ensinasse a pregar, respondeu-lhe assim: «Irmão, quando visitamos aos enfermos, ajudamos às crianças e damos comida aos pobres já estamos pregando». Nesta bela lição encerra-se a vocação e a missão do catequista.
Em primeiro lugar, a catequese não é «trabalho» ou uma tarefa externa à pessoa do catequista, mas se “é” catequista e toda a vida gira em torno desta missão. De fato, «ser» catequista é uma vocação de serviço na Igreja, o que se recebeu como dom do Senhor deve, por sua vez, ser transmitido, e é por isso que o catequista deve voltar constantemente àquele primeiro anúncio ou «kerygma», que é o dom que mudou sua vida. É o anúncio fundamental que deve ressoar sempre na vida do cristão e, ainda mais, na vida naquele que foi chamado a anunciar e ensinar a fé. «Nada há mais sólido, mais profundo, mais seguro, mais denso e mais sábio que esse anúncio» (Evangelii Gaudium, 165). Este anúncio deve acompanhar a fé que já está presente na religiosidade do nosso povo. É necessário cuidar de todo o potencial de piedade e amor que envolve a religiosidade popular para que se transmitam não só os conteúdos da fé, mas para que também se crie uma verdadeira escola de formação em que se cultive o dom da fé que se recebeu, de modo que os atos e as palavras manifestem a graça de ser discípulos de Jesus.
O catequista caminha a partir de Cristo e com Cristo. Não é uma pessoa que parte de suas próprias ideias e gostos, mas que se deixa olhar por ele, por este olhar que faz o coração arder. Quanto mais Jesus se tornar o centro de nossa vida, tanto mais nos faz sair de nós mesmos, nos descentraliza e nos torna próximos dos outros. Esse dinamismo do amor é como o movimento do coração: «sístole e diástole»; concentra-se para se encontrar com o Senhor e, imediatamente se abre, saindo de si por amor, para dar testemunho de Jesus e falar de Jesus, pregar Jesus. Ele mesmo nos dá o exemplo: retirava-se para rezar ao Pai e, imediatamente, saía ao encontro dos famintos e sedentos de Deus, para curá-los e salvá-los. Daqui nasce a importância da catequese «mistagógica» que é o encontro constante com a Palavra e com os sacramentos e não algo meramente ocasional antes da celebração dos sacramentos da iniciação cristã. A vida cristã é um processo de crescimento e de integração de todas as dimensões da pessoa num caminho comunitário de escuta e de resposta (cf. Evangelii Gaudium, 166).
Além disso, o catequista é criativo; busca diferentes meios e formas para anunciar a Cristo. É bonito crer em Jesus, porque ele é «o caminho, e a verdade e a vida» (Jo 14, 6) que plenifica nossa existência de gozo e de alegria. Esta busca em fazer Jesus conhecido como suma beleza nos leva a encontrar novos sinais e formas para a transmissão da fé. Os meios podem ser diferentes, mas o importante é ter presente o estilo de Jesus, que se adaptava às pessoas que tinha diante dele para aproximá-las do amor de Deus. É necessário saber «mudar», adaptar-se, para fazer a mensagem mais próxima, mesmo sendo sempre a mesma, porque Deus não muda, mas renova todas as coisas nele. Na busca criativa de fazer Jesus conhecido não devemos sentir medo porque ele nos precede nesta missão. Ele já está no homem de hoje, e ali nos espera.
Queridos catequistas, agradeço-vos pelo que fazeis, mas sobretudo, porque caminhais com o povo de Deus. Encorajo-vos a ser alegres mensageiros, guardiães do bem e da beleza que brilham na vida fiel do discípulo missionário.
Que Jesus vos abençoe e a Virgem santa, verdadeira «educadora da fé», vos proteja.
E, por favor, não se esqueçam de rezar por mim.
Vaticano, 5 de julho de 2017
Francisco
imagem: site do Vaticano 2020
Nunca se insistiu tanto na formação da pessoa do catequista como nos tempos atuais, caracterizados não somente por”tempos de mudanças”, mas também por mudança de tempo. Várias são as iniciativas realizadas pela Igreja ante às realidades apresentadas como desafios e sinais das mudanças históricas e culturais, que exigem formas novas, métodos próprios e expressões diferenciadas do mesmo conteúdo evangélico.
As exigências da formação do catequista decorrem do sentido da catequese e da função que ela tem no processo de evangelização. A Catequese é um processo permanente de educação da fé das crianças, dos jovens e dos adultos, dentro de um itinerário pedagógico e mistagógico que, numa ação dialógica, vai educando na fé e conduzindo o catequizando para dentro do Mistério Pascal que tem seu centro vital em Jesus Cristo.
O Concílio Vaticano II já falava de formação Permanente sobre os catequistas, pedindo-lhes que fizessem cursos procurando renovar-se para os tempos em mudanças. O Diretório Geral para a Catequese fala de ‘prioridade absoluta’. Ele nos chama a atenção para a organização adequada sobre a formação dos catequistas no que concerne tanto à formação de base quanto à formação permanente. Assim diz o Diretório: “A pastoral catequética diocesana deve dar absoluta prioridade à formação dos catequistas leigos. Deve estar atenta, também, à formação catequética dos presbíteros, tanto nos planos de estudo da formação seminarística quanto no período da formação permanente. Pede-se ao bispo que cuide dessa formação.(cf. DGC, 234).
A formação do catequista tem por finalidade torná-lo apto a transmitir o Evangelho, ou seja, apto à comunicar a mensagem cristã. Assim o objetivo da formação é levar o catequista a saber construir um itinerário eficaz no qual, através das diversas etapas, anuncie Jesus Cristo; faça conhecer a sua vida, enquadrando-a na totalidade da história da salvação; explique o mistério do Filho de Deus, feito homem por nós; ajude o catecúmeno e ou catequizando a identificar-se com Jesus, mediante os sacramentos da iniciação.
Ao falar “explique o mistério do Filho de Deus”, vamos ressaltar aqui que a etimologia do verbo “explicar”, do grego, significa guiar, orientar, encaminhar, conduzir. Assim como Jesus, no caminho de Emaús (Lc 24,27), explica as escrituras aos discípulos, Filipe conduz o etíope ao caminho das Escrituras, explicando-lhe a catequese sobre a morte e ressurreição de Jesus Cristo (cf. At 8,25-40).
Desde os primórdios do cristianismo, o Espírito tem despertado no coração e na mente dos evangelizadores e catequistas o desejo de que a Palavra de Jesus ecoe fortemente na vida e na história da humanidade convocada pelo próprio Senhor a uma experiência profunda d’Ele próprio, Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6).
O anúncio é o despertar da fé, o ensino é o viver da fé. O anúncio é ser inebriado pelo amor de Deus; o ensino é viver o amor de Deus. O anúncio nos leva a Deus, o ensino nos faz ir aos irmãos. Assim, a primeira formação do anúncio é a chamada “formação querigmática” que nos leva a conhecer Jesus Cristo, morto, ressuscitado e glorificado. A partir desse anúncio somos chamados a fazer uma experiência de mudança de vida, graças à fé, seguindo a tradição oral dos primeiros cristãos. É experimentar e viver Jesus vivo como Salvador, Senhor, Messias que dá o Espírito Santo.
Hoje, com a grande evolução e o progresso da concepção sobre a catequese, o valor da experiência de Deus acentua-se ainda mais, do que na tradicional catequese ligada aos conteúdos da fé, ou à doutrina. Esta está em função daquela, ou seja, os conteúdos da fé são importantes, mas a catequese deve estar mais voltada para a Palavra proclamada, anunciada e ensinada, que leva o catecúmeno e/ou o catequizando a experimentar Deus. Trata-se de uma catequese mais existencial, vivencial e mistagógica, de inspiração catecumenal.
A formação catequética continuada, que se renova em seus métodos, exige renovação no perfil do catequista como pedagogo e mistagogo, a exemplo de Jesus. No itinerário a caminho da maturação da fé, o catequista tem dupla missão: transmitir o ensinamento e conduzir o catequizando no mistério da fé. Nesse sentido, o despertar para o discipulado se processa numa interação permanente, em que os evangelizadores, catequistas e catequizandos são “crescentes e aprendentes ” a vida inteira.
Neuza Silveira de Souza – Coordenadora da comissão
Arquidiocesana Bíblico-Catequética de Belo Horizont
As árvores e as pedras ensinar-te-ão aquilo que tu
nunca aprenderás com os mestres.
(Bernardo de Claraval)
Cultivar o apreço pela natureza é aprofundar a nossa própria vida espiritual, aproximarmo-nos mais da criação, ver a nossa própria responsabilidade moral por ela, segundo a forma como tratamos cada hastezinha de erva. Viver em harmonia com a natureza significa estarmos nós próprios mais vivos.
A nossa sincronia com a natureza é demonstrada pelo efeito emocional que essa exerce sobre nós. Quando está escuro, podemos tornar-nos mais taciturnos. Quando a neblina paira sobre as montanhas que nos cercam, quando o nevoeiro nos envolve, também nós nos tornamos mais reflexivos. Quando o sol aquece as pedras, cada nervo cobra vida dentro de nós. Cada mudança da natureza é esta a nos chamar a entrar mais a fundo nos ritmos da vida. É vendo-nos como parte da natureza, e não exteriores a ela, que sincronizamos a alma com os ensinamentos da natureza.
Não podemos controlar a natureza, é ela que nos controla. O único problema é que um mundo moderno e laborioso leva várias gerações a compreendê-lo. Quando destruímos a natureza sem ter em conta as consequências daquilo que estamos fazendo ao futuro, a natureza tem sempre a última palavra. Basta olhar para aquilo que estamos a fazer à Terra, para saber que mudanças precisamos de introduzir na nossa própria vida, se quisermos ser verdadeiros buscadores de Deus.
Caminhando através da natureza, vamos de mãos dadas com Deus, que lhe deu a vida. A única questão é: dar-lhe-emos vida ou morte? Numa das suas visões, Hildegarda de Bingen, mística do século XII, diz acerca da natureza: “Eu sou aquela essência viva e ardente da substância divina... Eu brilho dentro da água e ardo no sol, na lua e nas estrelas”. Oh, quem nos dera viver tempo suficiente e suficientemente bem para chegarmos a ver estas coisas!.
Joan Chittister
In "Os tempos do coração", ed. Paulinas (Portugal)
O CATEQUISTA, O EDUCADOR.
O PASTORALISTA, ARTICULADOR E ANIMADOR DO DIÁLOGO
HOMEM DE DEUS: FIEL DISCÍPULO DE JESUS, A SERVIÇO EXCLUSIVO DA MISSÃO ASSUMIDA
Dom Albano Bortoleto Cavallin[1] é presença permanente entre as pessoas que com ele conviveram, ou que se beneficiaram e ainda lucram de seus empreendimentos pastorais. E que participam, direta ou indiretamente, da grande obra por ele realizada, durante sua trajetória local ou nacional:
no mundo da Evangelização, com ênfase na Catequese;
no universo da Educação, com destaque do Ensino Religioso;
no lócus das Ciências Teológicas, com prioridade das teorias e práticas metodológicas que encaminham ao maior aprofundamento e adesão ao Cristo Palavra e Pão. Duas realidades inseparáveis, com fortalecimento da dimensão trinitária do ensino e da vivência cristã. Prova disto é a organização da Capela em sua residência, para ilustrar e chamar a atenção para ambas as dimensões que devem ser bem trabalhadas, enfatizadas no múnus de ensinar (Cân. 747 ss).
Reuniu e continua agregando pessoas de todos os recantos do país. Conclamou seguidores do Mestre que acreditam: na necessidade de contínua renovação; na permanente fidelidade à missão de evangelizar, catequizar, educar e caminhar juntos, rumo aos ideais de eternidade. Isto de forma participativa, comprometida com a transformação da realidade; sensíveis às necessidades de mudança de paradigmas; aptas a promover a comunhão; e revelar o Pai, concretizando o projeto de Jesus Cristo, Palavra Viva que se faz Pão, Alimento.
Daí a concretização de seu lema episcopal:
INTERPRETABATUR IN SCRIPTURIS (interpretava-lhes nas escrituras)
“Seu nome e seu serviço à Evangelização pela Catequese inclui-se entre as mais vivas e inspiradoras colaborações à história recente da Igreja em nosso país. Entre tantos dons recebidos, o documento Catequese Renovada, que conferiu novas feições ao anúncio da mensagem de Jesus Cristo e educação da fé, é a expressão mais predileta de sua liderança e de sua capacidade de diálogo.” (Peruzzo, 2017)
Para Dom José Antônio Peruzzo,[2] Dom Albano manteve a integridade de quem se entregou a uma causa maior e deu testemunho de fidelidade à missão, com tranquilidade, pois era portador de qualidades inerentes à sua personalidade que “são traços e retratos profundos de quem fez de sua vida um dom acolhido com gratidão a Deus, e um dom oferecido com afeição aos irmãos e aos Catequistas”.
Como desdobramento de seu lema, a Catequese foi a expressão marcante de seu ministério. Integrou a Comissão de Pastoral da CNBB (CEP) na Dimensão Bíblico-Catequética, onde prestou à Igreja no Brasil serviços de grande relevo, de 1984 a 1988, dentre os quais a reflexão, elaboração e divulgação do documento Catequese Renovada, orientações e conteúdo, lançado em 1983. Para operacionalizá-lo criou Grupos de Reflexão e Trabalho, sendo o GRECAT, o pioneiro. O mesmo Grupo, sob a coordenação de dois assessores da CNBB para a dimensão bíblico-catequética, Irmão Israel José Nery e Frei Bernardo Cansi, o auxiliou no planejamento e realização da primeira Semana Brasileira de Catequese, reunindo em Itaici – SP, mais de 500 Catequistas e alguns Catequetas, com substanciosa produção de suas conclusões.
Ainda na CEP, Dom Albano promoveu dois Encontros Nacionais de Catequese, contando sempre com a mesma assessoria nas quais confiou e soube valorizar. Esses e outros eventos deram um novo impulso à catequese no Brasil, incentivando a produção de dezenas de coleções de catequese, contemplando os aspectos apresentados como essenciais numa catequese completa e eficaz para a educação permanente da fé. Os ciclos bíblicos receberam grande incentivo de Dom Albano e de seus assessores.
Dom Albano iniciou um tempo novo para a educação no Brasil, estando este setor sob seus cuidados na Comissão de Pastoral da CNBB, incluindo o Ensino Religioso (ER). Esta disciplina passou a ocupar um lugar de destaque, pois coincidentemente, em 1984 é divulgado o novo Código de Direito Canônico, cujo cânon 804 trata do ensino religioso na rede pública. Ao mesmo tempo, teve início ao processo de abertura política no Brasil, sendo constituída a Comissão “Afonso Arinos” que elaborou o anteprojeto da nova Carta, preparatório da Assembleia Nacional Constituinte. O Ensino Religioso entrou na pauta das discussões desde o referido anteprojeto. Posteriormente disciplina passou a ser alvo de interesse em todas as regiões do país, uma vez constante dos Projetos já consolidados e debatidos na referida Assembleia, durante os anos de 1986 a 1988.
Com igual dedicação, Dom Albano envidou esforços, constituiu, em 1985, o Grupo Nacional de Reflexão sobre o Ensino Religioso (GRERE) que, também, sob a coordenação dos dois assessores da catequese e do Pe. Irineu Brand, além de dezenas de reuniões, organizou e realizou dois Encontros Nacionais de Ensino Religioso (5º e 6º ENER), em Brasília, durante a Assembléia Nacional Constituinte. Completou estas atividades com um encontro de deputados na sede da CNBB em Brasília, várias reuniões no Congresso Nacional e dezenas de visitas aos parlamentares para refletir sobre a garantia do ER na Carta Magna.
Animou o movimento nacional de professores e coordenadores do Ensino Religioso nas Secretarias de Educação dos Estados e alguns municípios sede de Capitais. Deste movimento surgiram os abaixo-assinados, sendo o Ensino Religioso a segunda maior emenda popular a entrar no Congresso Nacional, com setenta e oito mil assinaturas, seguindo as normas pré-estabelecidas. O artigo 210, § 1º da Constituição Federal que garante o ER, no momento, resultou desta mobilização. Ao mesmo tempo, foi dada oportunidade aos professores, de participar pela primeira vez de um evento desta natureza. Estava sendo formada a consciência política, da plena cidadania.
Para auxiliar a sociedade brasileira - especificamente os parlamentares - o GRERE, ouvindo os professores, elaborou e divulgou, durante a Assembleia Constituinte, os Estudos nº 49 da CNBB[3], trazendo a história e algumas reflexões sobre esta área de conhecimento no Brasil, durante sucessivas fases do processo civilizatório brasileiro.
É importante destacar que Dom Albano Cavallin soube manter todas as velas acesas. Para ele um setor pastoral ou educacional não era mais importante do que outro. Deu testemunho de dedicação e atenção a todos, com igual competência e disponibilidade.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) manifesta seu pesar pelo falecimento de dom Albano Bortoletto Cavallin, arcebispo emérito de Londrina (PR), aos 86 anos, ocorrido na quarta-feira, dia 1º de fevereiro de 2017, após um procedimento cirúrgico.
Tivemos o privilégio de visitar, em 2014, a esse ilustre educador, em sua residência em Londrina. E de gravar uma entrevista com ele sobre o ER, utilizada três meses depois no 3º Encontro Nacional dos Bispos referenciais do ER nos Regionais da CNBB (3º ENBRER). A Biblioteca Virtual do ER irá ao ar com a 2ª edição, trazendo entre outros este vídeo.
A Dom Albano Bortoletto Cavallin, a homenagem, a gratidão e o reconhecimento por sua atuação benfeitora de todos(as) os(as) Catequistas e Educadores(as) do Brasil.
Anísia de Paulo Figueiredo
Autora de vários títulos de Catequese e Ensino Religioso.
Atuou como consultora da CNBB, a convite de Dom Albano, durante a Assembléia Nacional Constituinte, na função de pesquisadora
e redatora principal dos Estudos da CNBB nº 49, com total apoio da Arquidiocese de Diamantina - MG.
[1] Dom Albano Bortoleto Cavallin nasceu em Lapa - PR, aos 25 de abril de 1930. Faleceu no dia 1º de fevereiro de 2017, após uma cirurgia. Sua ordenação presbiteral se deu em 06 de dezembro de 1953. Ordenação episcopal em 28 de agosto de 1973. Funções que exerceu: vigário cooperador da catedral de Curitiba - PR; pároco, diretor espiritual do Seminário Maior Rainha dos Apóstolos; coordenador de Pastoral e subsecretário do regional Sul 2 da CNBB; professor no Studium Theologicum em Curitiba; bispo auxiliar na arquidiocese de Curitiba; bispo da diocese de Guarapuava (PR); de 1992 até 2006, arcebispo de Londrina-PR.
[2] Arcebispo de Curitiba (PR) e atual presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
[3] Os Estudos nº 49 da CNBB é um documento histórico que registra, pela primeira vez, a História do Ensino Religioso no Brasil. De sua divulgação em diante, foi dado início a uma reflexão mais ampla sobre o ER na legislação de ensino. O mesmo apresenta os desafios que ainda permanecem; esses desafios dificultam a compreensão e aplicação da matéria do sistema escolar da rede oficial de ensino, aberto aos cidadãos e cidadãs de qualquer crença, ou indiferentes, ou declaradamente ateus.
Num recente programa de rádio, o escritor norte-americano Jack Hitt contou uma história sobre como explicar o Natal à sua filha de quatro anos. Um dia, quando ela lhe perguntou sobre o que era essa festa, ele falou-lhe do nascimento de Jesus, o que aguçou a sua curiosidade. Compraram-lhe uma Bíblia para crianças e ela aprendeu sobre o nascimento de Jesus e os seus ensinamentos, incluindo a antiquada expressão «faz aos outros como gostarias que te fizessem».
Noutro dia, passaram de carro por uma grande igreja com um enorme crucifixo no exterior. «Quem é aquele?», perguntou ela. Hitt percebeu que nunca tinha falado à filha dessa parte da história. «Então respondi-lhe alguma coisa como "oh, bem, é Jesus. E eu esqueci-me de te dizer o final. Ele entrou em conflito com o governo romano», recordou Hitt na emissão.
«Esta mensagem que Ele tinha foi tão radical e perturbadora para as autoridades do tempo, que elas tiveram de o matar. Elas chegaram à conclusão de que Ele tinha de morrer. A sua mensagem era muito problemática», explicou o escritor à criança.
Algumas semanas após aquele Natal, a escola pré-primária fechou por causa do feriado dedicado a Martin Luther King Jr., e Hitt levou a filha a almoçar. Na mesa do restaurante estava o suplemento artístico do jornal local, que tinha um grande desenho de Luther King feito por uma criança. «Quem é este?», interrogou ela.
Ele respondeu que King tinha sido um pregador que havia afirmado que «deves tratar todos da mesma forma, sem olhar à aparência». Ela ficou a pensar naquelas palavras por alguns momentos. «Então foi o que Jesus disse», respondeu. Hitt afirmou que nunca tinha pensado nisso daquela maneira, mas sim, tem muito a ver com a frase «faz aos outros...».
A criança voltou a ficar pensativa por instantes, depois olhou para o pai e interrogou: «Também o mataram?».
Esta história andou às voltas na minha cabeça a 26 de dezembro, a festa de Santo Estêvão, o primeiro mártir cristão. Os novos brinquedos da nossa filha continuavam dispersos por toda a sala de estar, o quarto dela, a entrada. As imagens do Menino Jesus descansavam pacificamente na meia dúzia de presépios espalhados pela casa. E a Igreja celebrava um jovem do primeiro século que foi apedrejado por causa do que acreditava e fez. É uma justaposição dissonante. Segue até ao extremo a mensagem de amor e paz revelada na manjedoura e pode ser que acabes numa cruz ou na varanda de um hotel.
Nunca vi uma imagem mais poderosa sobre esta verdade do que a fotografia que povoou a internet nos dias a seguir ao Natal: crentes amontoados na secção frontal da catedral maronita católica em Alepo, tendo atrás de si a grande nave da igreja totalmente bombardeada.
A palavra "mártir" significa testemunha, e estas testemunhas sírias deixaram-me estupefacto. As suas vidas do dia a dia tornam-nas pessoalmente mais íntimas com a história de Santo Estêvão do que a maioria de nós alguma vez será. Ainda assim, confrontadas com uma violência inimaginável, apareceram para adorar juntas o Príncipe da Paz. Apareceram. Apareceram.
Eu, quanto a mim, passei os olhos pela seleção de cânticos da nossa Missa do Galo. Tenho evitado olhar diretamente para os olhos da maior parte dos sem-abrigo que vejo nas ruas em redor do meu escritório. Muitas vezes, demasiadas vezes, não estou a aparecer.
«Digo-vos uma coisa», afirmou o papa Francisco no dia de Santo Estêvão. Na sua habitual forma direta, pareceu-me que estava a falar precisamente para mim e para os meus confortáveis companheiros cristãos: «Os mártires de hoje são muitos mais em relação aos dos primeiros séculos [da Igreja]. Quando lemos a história dos primeiros séculos, aqui, em Roma, lemos tanta crueldade com os cristãos; eu digo-vos: hoje existe a mesma crueldade, em número superior».
«Hoje queremos pensar neles que sofrem perseguições, e estar próximos deles com o nosso afeto, a nossa oração e também com o nosso pranto», continuou ele. «Não obstante as provas e os perigos, eles testemunham com coragem a sua pertença a Cristo e vivem o Evangelho comprometendo-se a favor dos últimos, dos mais esquecidos, fazendo o bem a todos sem distinção; testemunham assim a caridade na verdade.»
Eis aqui alguma inspiração para uma resolução de Ano Novo que valha a pena. Pertencer a Jesus. Viver o Evangelho. Favorecer os últimos e os esquecidos. Fazer o bem a todos sem distinção. Extrair energia da coragem de Martin Luther King, dos cristãos de Alepo e de Santo Estêvão. Por outras palavras: ser uma testemunha, por amor de Deus.
Mike Jordan Laskey
In "National Catholic Reporter"
Trad. / adapt.: Rui Jorge Martins
Publicado em 03.01.2017 no SNPC
Durante séculos os primeiros cristãos festejaram como festa das festas a Páscoa da ressurreição de Jesus o primeiro dia da semana judaica, para eles tornado “dia do Senhor”, e não sabemos se em algumas comunidades do Mediterrâneo se recordava o nascimento de Jesus com uma festa particular.
No século IV, após o edito de Constantino e a liberdade de culto concedida aos crentes em Cristo, ocorre a cristianização de uma festa pagã introduzida pouco antes pelo imperador Aureliano (c. 270) e celebrada em Roma como festa do “Sol invictus”, do “Sol vencedor”, que nesse dia começa a alongar o seu tempo de luz sobre a Terra.
Para os cristãos, Jesus o Senhor era «o Sol de Justiça» cantado por Malaquias, era «a Luz do Mundo» proclamada pelo Evangelho. Eis então que no ocidente o renascimento do “Sol invictus” pagão foi cristianizado mediante a festa do Natal, da Natividade de Jesus Cristo. Paralelamente, no oriente (Egito e Síria), onde o solstício de inverno se assinalava a 6 de janeiro, assume-se essa data para celebrar a Epifania como festa da manifestação da vinda do Filho de Deus à nossa humanidade.
Esta é a origem da nossa festa, que desde sempre teve no seu centro o Evangelho do nascimento de Jesus segundo Lucas (2, 1-14). Na missa da noite, celebrada no coração das trevas, refulge uma grande luz: Jesus, dado à luz por Maria em Belém.
Esta narrativa não é uma fábula, ainda que pareça escrita para as crianças, que significativamente a recordam para toda a vida, mas é uma página do Evangelho, uma noa notícia. Por isso Lucas quer antes de mais situar esse acontecimento na grande história do Mediterrâneo, marcada pelo domínio do Império Romano.
César Augusto decide contar os habitantes de todas as terras conquistadas por Roma: para tal ordena um recenseamento, executado na terra de Israel por Quirínio, governador da Síria. José obedece a esta ordem e, juntamente com a mulher, Maria, deixa a sua cidade de Nazaré para se dirigir a Belém, na Judeia, no sul da Terra Santa, onde tinha tido origem a casa e a descendência de David, o Messias, o ungido do Senhor, o rei de Israel.
Enquanto este casal se encontra em Belém, numa condição precária e de pobreza, não tendo encontrado lugar na estalagem, numa pequena construção, somente um abrigo no campo, Maria, que está grávida, dá à luz o seu filho primogénito, a ela anunciado por revelação como gerado pelo Espírito de Deus, um Filho que só Deus podia dar a toda a humanidade.
Aqui já está uma forte contraposição, que caraterizará toda a vida deste recém-nascido. Quem domina o mundo é Augusto – chamado “Divus”, “Deus”; “Sotér”, “Salvador”; “Kýrios”, “Senhor” –, mas o verdadeiro Salvador e Senhor é um seu súbdito, um bebé nascido numa situação pobre, para o qual desde logo parece não haver lugar neste mundo.
Conhecemos todos bem o ícone da Natividade: uma cabana ou uma gruta, e Maria que deita o seu filho numa manjedoura, com José ao lado, testemunha e guardador daquele mistério no qual é envolvido e ao qual presta pontualmente obediência. Tudo acontece na noite, no silêncio, na condição humaníssima de uma mãe que dá à luz um filho. Ninguém conhece aquele casal, ninguém o acolhe, ninguém se dá conta de nada.
Mas eis que Deus envia um seu mensageiro aos pastores que se encontram nas colinas que circundam Belém, para levantar o véu sobre aquele acontecimento: «Um anjo do Senhor apresentou-se a eles e a Glória do Senhor envolveu-os em luz». Os pastores são gente desprezada, marginalizada, que nem sequer são considerados dignos de ir ao templo para encontrar o Senhor. Mas é precisamente a estes últimos da sociedade da Judeia que é dirigido o anúncio, a boa notícia por excelência, que é alegria para todo o Israel, para todo o povo de Deus. Pela sua condição de pobres e últimos, os pastores são os primeiros destinatários por direito desta boa notícia:
«Hoje, na cidade de David, do Messias, nasceu para vós um Salvador, que é o Messias, Senhor».
Neste anúncio colhemos como que uma antecipação da boa notícia pascal: Jesus é o “Kýrios”, o Salvador. Não Augusto, que se vangloriava desse título, mas um menino recém-nascido recebe esse mesmo título da parte de Deus. Assim acontece a revelação aos pequenos, aos últimos, da qual são excluídos quantos acreditavam ser destinatários de direito: sacerdotes, peritos da Lei, crentes militantes convencidos de serem só eles os verdadeiros filhos de Abraão.
Aos pastores é dado também um sinal, uma indicação para que possam ver e compreender: nada de extraordinário ou de divino mas, de novo, uma realidade humaníssimas: «Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas, deitado numa manjedoura». Realidade simples e humilde, sem ornamentos, sem “extraordinário”.
E todavia este anúncio é dado por um coro incontável de criaturas invisíveis, numa espécie de liturgia cósmica, essa liturgia do céu que não conseguimos ver nem escutar mas que enche o universo e canta a santidade e a glória de Deus, isto é, proclama quem e como Deus ama. Com efeito, o que nesse canto coral é revelado é a vontade de Deus: «Deus tem peso (“kabod”, glória), Deus age no mundo mesmo sendo Santo e está no mais alto dos céus, Deus dá a paz à humanidade que Ele ama».
Eis a boa notícia do Natal: Deus ama-nos de tal modo que quis ser um de nós, entre nós, igual a nós, um homem como nós.
Enzo Bianchi
In Monastero di Bose
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 22.12.2016
Na penumbra da noite, olhos carregados de nuvens, encontro oculto um convite a descobrir o sentido da chuva em mim. O piano toca baixinho a melodia dedilhada nas batidas do coração. Raios cortam o céu, fazem um espetáculo acontecer. Tomada pelo assombro diante do espetáculo da vida sinto essa sensação quase esquecida... Gravo na retina a imagem do céu, que cai sobre minha face no meio da escuridão. Soberana a natureza manifesta sua grandeza. Recorda-me a pequenez e a fragilidade da vida humana e ainda assim, a vida humana encarnada por Deus...
Durmo no embalo dessa torrente de águas que envolve meus sonhos. Aconchegada a cobertas e travesseiros entrego-me. O inconsciente, esse mundo desconhecido, então se abre à graça. Não sei, mas sinto: é aí que acontecem os milagres que já não posso ver. É nesse lugar que Deus afasta nuvens pesadas, carregadas de tantas preocupações e passeia tranquilo por entre os fios de meus cabelos. Ventos impetuosos abrem portas e janelas no meu interior. Suas mãos num delicado gesto derramam sem pressa, o bálsamo perfumado sobre as cicatrizes endurecidas. Sou banhada como a chuva em terra seca, embalada como um recém nascido. Suavemente sinto o sopro sobre os meus sonhos sufocados. Respiro profundamente e solto-me dos travesseiros... Liberdade chega sorrateira no toque de seus lábios a cobrir de beijos enternecidos os meus, seus, desejos em mim. Seus pés tocam com intimidade o chão da minh'alma e as franjas de sua veste varrem carinhosamente tudo que preciso esquecer. Então Ele sorri pra mim num rosto de criança fazendo alegre a menina dos meus olhos.
O tempo, amigo, lá não existe. Os raios de sabedoria vão formando mandalas de vida brincando com a luz na escuridão... e os medos, esses que falam mansinho o dia todo ao pé do ouvido, esses saem voando ao som dos trovões. Assim que eles saem a chuva mansa vem então testemunhar, o amor eterno de meus pais que me visitam só para lembrar: meu lugar de filha em seus corações para sempre vai estar.
Acordo desejando lá permanecer... mas a chuva mansa se transforma numa melodia alegre anunciando o novo dia. Agora posso sentir o assombro e a surpresa pela vida renascida em mim. Descubro o sentido de ter nascido assim... em meio a chuvas, no tempo da espera da vinda, da esperança! Reconheço-me toda Advento, a espera do que já se realiza no meu interior: o natal, o Deus conosco Emanuel.
No meu aniversário é esse o presente que eu desejo: que cada ser humano, em sua fragilidade tão divina, sinta o assombro pela vida renascida a cada dia, na presença do Amor encarnado em seus corações em forma de esperança que encharca de sentido o existir.
Lilian Carvalho
BH - 18.12.2016
«Ide aprender o que quer dizer “misericórdia quero, e não sacrifícios”» (Mateus 9, 13). Assim Jesus se dirigia aos homens religiosos do seu tempo que o censuravam porque se sentava à mesa com publicanos e pecadores. Ele, com efeito, veio «não para os justos, mas para os pecadores». E sobre este «aprender a misericórdia» o papa Francisco quis configurar o jubileu que se encerrou no domingo: não uma rejeição daquilo que é bem e daquilo que é mal em absoluto, não uma relativização da gravidade de certos comportamentos, mas a convicção evangélica de que, para usar as palavras do papa João XXIII na abertura do Vaticano II, «no tempo presente a Igreja prefere usar o remédio da misericórdia em vez de pegar nas armas do rigor; pensa que se deve ir ao encontro das necessidades contemporâneas, expondo mais claramente o valor do seu ensinamento, em vez de condenar».
Não fez outra coisa o papa Francisco durante este ano senão evidenciar algumas das «necessidades contemporâneas» a que a Igreja deveria responder com o remédio da misericórdia para curar os doentes ou aliviar-lhes o sofrimento, não para contentar os justos que não carecem de conversão. E esta, naturalmente, é uma tarefa que não se pode esgotar num ano, não se pode deter nos umbrais das portas das catedrais, agora simbolicamente a nível litúrgico infelizmente “encerradas”: trata-se, efetivamente, de “aprender” uma arte, “aprender” o que quer dizer usar misericórdia nas nossas relações no interior da Igreja e na companhia dos homens.
O âmbito que suscitou maior ênfase foi o da vida familiar: infelizmente da exortação pós-sinodal “Amoris laetitia” foram explorados só poucos parágrafos e algumas notas relativas à possibilidade ou não de acesso aos sacramentos da parte dos divorciados recasados, enquanto se negligenciou a solicitude pastoral que atravessa o conjunto do texto e abraça os muitos aspetos de alegria e de sofrimento ligados à vida concreta de milhões de famílias nas realidades sociais e culturais mais díspares.
É nesta ótica autenticamente global que o papa recordou vigorosamente que usar misericórdia não significa calar as realidades que ferem os seres humanos e a sua dignidade: as guerras e a fome, antes de tudo, que semeiam morte e obrigam milhões de pessoas a fugir em condições desesperadas da sua terra e, depois de terem ultrapassado territórios e mares de morte, a encontrarem muros de recusa da parte de quem não sabe abrir o coração e a casa ao pobre que bate à porta.
Mas também a superação das injustiças econômicas estruturais é obra de misericórdia: garantir “terra, casa e trabalho” a cada ser humano significa salvaguardar-lhe a dignidade mais profunda, dignidade que nenhuma lei ou sociedade podem negar, nem sequer a quem está na prisão. Neste sentido, o papa Francisco não hesitou em estigmatizar o mercado quando percorre caminhos desumanos ou mortíferos – como no caso dos traficantes de armas – ou a própria justiça humana quando por um crime, ainda que brutal, prevê a pena de morte evidente ou a “oculta” da prisão perpétua.
Misericórdia, recordou-nos o papa durante este jubileu, é também revisitar as divisões históricas entre os cristãos para regressarem juntos ao Evangelho e juntos caminharem para a unidade querida por Jesus para os seus discípulos.
Nos últimos dias alguns tentaram fazer um balanço deste ano jubilar a nível turístico e econômico para a cidade de Roma, mas torna-se impossível elaborar a nível mundial o único balanço que conta para quem leva a peito o Evangelho: o da conversão das consciências e da mudança de comportamentos por parte de quem se professa cristão. Sem dúvida que a centralidade do Evangelho manifestada e afirmada de muitos modos e em diversas ocasiões sacudiu e até escandalizou quantos estão mais preocupados pela religião do que pela mensagem de Jesus Cristo. Neste sentido, se a hostilidade para com o papa Francisco se manifestou ou cresceu é por causa do seu arrojo no mostrar e pregar a misericórdia.
É certo que não basta um ano para “aprender” o que quer dizer misericórdia e agir em consequência, mas o papa Francisco quis recordar que sobre ela se mede para os cristãos a fidelidade ao Evangelho e para todos a possibilidade de percorrer caminhos de humanização.
Enzo Bianchi
Prior do Mosteiro de Bose, Itália
Trad: Rui Jorge Martins
Publicado em 25.11.2016 no SNPC
O mês de outubro convoca-nos para uma reflexão maior sobre o que é ser missionário. Mas não se pode esquecer que missionariedade é compromisso de todos os dias de nossa vida. Jesus, ao se encarnar no mundo dos pobres, recebeu do Espírito Santo sua missão: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para que dê a Boa-Notícia aos pobres; enviou-me para anunciar a liberdade aos cativos e a visão aos cegos, para por em liberdade os oprimidos e para proclamar o ano da graça do Senhor" Lc 4,181-19).
A Igreja de Jesus Cristo sempre foi e continua sendo chamada a ser missionária. Desde o início ela se colocou no seguimento de Jesus atendendo o seu pedido: "Ide a todas as nações e pregai o evangelho" (Mt 28,19). Ao colocar em prática a sua missionariedade, esta propicia o encontro com o outro e realiza um resgate da beleza que existe dentro de cada um. Isto acontece por causa do anúncio da Pessoa de Jesus Cristo gerador de relacionamentos que provocam vários tipos de sentimentos e possibilitam descobertas de valores e carismas.
A cada um de nós o Espírito Santo nos chama à responsabilidade para com o mundo, com a missão de salvá-lo. E salvá-lo de todas as formas de pecado: egoísmo, injustiça, opressão, discriminação, pobreza, riqueza. Em Jesus , os pobres continuam os destinatários da ação de Deus. Ação que é sempre uma re-ação aos clamores do povo e uma re-ação libertadora/salvífica. Nesse sentido, testemunhar a vida de Jesus através do anúncio e da ação é ser testemunha do Reino de Deus.
Jesus, essa pessoa fascinante
Quem é Jesus e como se encontrar com ele? Jesus é o mestre que nos convida a inovar. Ele manifesta seu dom carismático de congregar e agir junto a outras pessoas. Foi um verdadeiro líder capaz de interagir e convocar para a missão a mulher e os últimos. Apresentou-se como um mestre controvertido, profético, surpreendente. Para ele o pequeno era o maior, e o último, o primeiro.
Diante da realidade na qual encontramos somos chamados a sair do comodismo e, na execução do trabalho missionário contribuir para que aconteça atitudes cristãs, interação fé e vida, dar-se a conhecer Jesus Cristo, para que crianças jovens e adultos vivam dele e com ele uma vida nova, uma vida de amor a Deus e aos outros. Como disse Santo Inácio de Antioquia, no século II: "Viver imitando os bons costumes de Deus".
Nos evangelhos, através das narrativas, podemos nos encontrar com Jesus, o Cristo Ressuscitado. Iniciando com o Evangelho de Marcos, encontramos em Mc 8,27-30 uma pergunta de Jesus a seus discípulos: 'Quem dizem as pessoas que eu sou?" E eles responderam: " Uns dizem João Batista, outros, Elias; outros ainda, um dos profetas". E Jesus perguntou a seus discípulos: "E vós, quem dizeis que eu sou?" Pedro Respondeu: "Tu és o Messias, o Cristo. Esta foi a consciência da comunidade dos discípulos depois da Páscoa.
Percorrendo o caminho dos evangelhos mais um pouco, vamos encontrar lá na comunidade Joanina (Jo 3,1-15)) a proposta de Jesus. Aquela que ele faz a Nicodemos: nascer de novo. Mas como? O primeiro passo é abrir-se ao novo, deixar-se seduzir pelo Espírito que sopra onde quer, quando quer e como quer. Jesus Cristo é o centro da mensagem evangélica no conjunto da história da salvação. É por meio dele, em primeiro lugar, que Deus intervém no mundo e se manifesta a todos: crianças, jovens e adultos.
Levar esta mensagem ao mundo constituiu tarefa de todos os cristãos. Dirigindo um olhar para nossa realidade, cada pessoa pode perceber que a mesma nos impulsiona à mudança, e podemos, sem medo, iniciar a partir de uma abordagem nova diante da realidade, ou ainda retomar o caminho feito pelas primeiras comunidades cristãs, as quais levavam o adulto a aderir a Cristo e se comprometer com Ele através da participação ativa na comunidade e abrir-se ao mundo levando o anúncio de Jesus Cristo.
Como diz o Papa Francisco: "É hora de voltar a "abrir portas e Janelas" para que a Igreja possa retomar o compasso da história e fazer um novo aggiornamento com os novos sinais dos tempos, suscitados pelo Espírito no seio de uma sociedade em profundas transformações (Cf. FRANCISCO renasce a esperança).
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Bíblico-Catequética da Arquidiocese de Belo Horizonte.
JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
JUBILEU DOS CATEQUISTAS
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Na segunda Leitura, o apóstolo Paulo dirige a Timóteo – e a nós também – algumas recomendações que tinha a peito. Entre elas, pede que «guarde o mandamento, sem mancha nem culpa» (1 Tm 6, 14). Fala apenas de um mandamento, parecendo querer fazer com que o nosso olhar se mantenha fixo no que é essencial na fé. De facto, São Paulo não recomenda uma multidão de pontos e aspetos, mas sublinha o centro da fé. Este centro à volta do qual tudo gira, este coração pulsante que a tudo dá vida é o anúncio pascal, o primeiro anúncio: O Senhor Jesus ressuscitou, o Senhor Jesus ama-te, por ti deu a sua vida; ressuscitado e vivo, está ao teu lado e interessa-Se por ti todos os dias. Isto, nunca o devemos esquecer. Neste Jubileu dos Catequistas, pede-se-nos para não nos cansarmos de colocar em primeiro lugar o anúncio principal da fé: o Senhor ressuscitou. Não há conteúdos mais importantes, nada é mais firme e atual. Cada conteúdo da fé torna-se perfeito, se se mantiver ligado a este centro, se for permeado pelo anúncio pascal; mas se, pelo contrário, se isolar, perde sentido e força. Somos chamados continuamente a viver e anunciar a boa-nova do amor do Senhor: «Jesus ama-te verdadeiramente, tal como és. Dá-Lhe lugar: apesar das deceções e feridas da vida, deixa-Lhe a possibilidade de te amar. Não te decepcionará».
O mandamento de que fala São Paulo faz-nos pensar também no mandamento novo de Jesus: «Que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 15, 12). É amando que se anuncia Deus-Amor: não à força de convencer, nunca impondo a verdade nem mesmo obstinando-se em torno de alguma obrigação religiosa ou moral. Anuncia-se Deus, encontrando as pessoas, com atenção à sua história e ao seu caminho. Porque o Senhor não é uma ideia, mas uma Pessoa viva: a sua mensagem comunica-se através do testemunho simples e verdadeiro, da escuta e acolhimento, da alegria que se irradia. Não se fala bem de Jesus, quando nos mostramos tristes; nem se transmite a beleza de Deus limitando-nos a fazer bonitos sermões. O Deus da esperança anuncia-Se vivendo no dia-a-dia o Evangelho da caridade, sem medo de o testemunhar inclusive com novas formas de anúncio.
O Evangelho deste domingo ajuda-nos a compreender o que significa amar, especialmente a evitar alguns riscos. Na parábola, há um homem rico que não se dá conta de Lázaro, um pobre que «jazia ao seu portão» (Lc 16, 20). Na realidade, este rico não faz mal a ninguém, não se diz que é mau; e todavia tem uma enfermidade pior que a de Lázaro, apesar deste estar «coberto de chagas» (ibid.): este rico sofre duma forte cegueira, porque não consegue olhar para além do seu mundo, feito de banquetes e roupa fina. Não vê mais além da porta de sua casa, onde jazia Lázaro, porque não se importa com o que acontece fora. Não vê com os olhos, porque não sente com o coração. No seu coração, entrou a mundanidade que anestesia a alma. A mundanidade é como um «buraco negro» que engole o bem, que apaga o amor, que absorve tudo no próprio eu. Então só se veem as aparências e não nos damos conta dos outros, porque nos tornamos indiferentes a tudo. Quem sofre desta grave cegueira, assume muitas vezes comportamento «estrábicos»: olha com reverência as pessoas famosas, de alto nível, admiradas pelo mundo, e afasta o olhar dos inúmeros Lázaros de hoje, dos pobres e dos doentes, que são os prediletos do Senhor.
Mas o Senhor olha para quem é transcurado e rejeitado pelo mundo. Lázaro é o único personagem, em todas as parábolas de Jesus, a ser designado pelo nome. O seu nome significa «Deus ajuda». Deus não o esquece… Acolhê-lo-á no banquete do seu Reino, juntamente com Abraão, numa rica comunhão de afetos. Ao contrário, na parábola, o homem rico não tem sequer um nome; a sua vida cai esquecida, porque quem vive para si mesmo não faz a história. E um cristão deve fazer a história; deve sair de si mesmo, para fazer a história. Mas quem vive para si mesmo, não faz a história. A insensibilidade de hoje escava abismos intransponíveis para sempre. E hoje caímos nesta doença da indiferença, do egoísmo, da mundanidade.
E há outro detalhe na parábola: um contraste. A vida opulenta deste homem sem nome é descrita com ostentação: nele, carências e direitos, tudo é espalhafatoso. Mesmo na morte, insiste em ser ajudado e pretende os seus interesses. Ao contrário, a pobreza de Lázaro é expressa com grande dignidade: da sua boca não saem lamentações, protestos nem palavras de desprezo. É uma válida lição: como servidores da palavra de Jesus, somos chamados a não ostentar aparência, nem procurar glória; não podemos sequer ser tristes ou lastimosos. Não sejamos profetas da desgraça, que se comprazem em lobrigar perigos ou desvios; não sejamos pessoas que vivem entrincheiradas nos seus ambientes, proferindo juízos amargos sobre a sociedade, sobre a Igreja, sobre tudo e todos, poluindo o mundo de negatividade. O ceticismo lamentoso não se coaduna a quem vive familiarizado com a Palavra de Deus.
Quem anuncia a esperança de Jesus é portador de alegria e vê longe, tem pela frente horizontes, e não um muro que o impede de ver; vê longe porque sabe olhar para além do mal e dos problemas. Ao mesmo tempo, vê bem ao perto, porque está atento ao próximo e às suas necessidades. Hoje o Senhor pede-nos isto: face aos inúmeros Lázaros que vemos, somos chamados a inquietar-nos, a encontrar formas de os atender e ajudar, sem delegar sempre a outras pessoas nem dizer: «Ajudar-te-ei amanhã, hoje não tenho tempo, ajudar-te-ei amanhã». E isto é um pecado. O tempo gasto a socorrer os outros é tempo dado a Jesus, é amor que permanece: é o nosso tesouro no céu, que nos asseguramos aqui na terra.
Concluindo, amados catequistas e queridos irmãos e irmãs, que o Senhor nos dê a graça de sermos renovados cada dia pela alegria do primeiro anúncio: Jesus morreu e ressuscitou, Jesus ama-nos pessoalmente! Que Ele nos dê a força de viver e anunciar o mandamento do amor, vencendo a cegueira da aparência e as tristezas mundanas. Que nos torne sensíveis aos pobres, que não são um apêndice do Evangelho, mas página central, sempre aberta diante de todos.
Praça São Pedro
Domingo, 25 de setembro de 2016
imagem: site do vaticano
Caríssima irmã, caríssimo irmão Catequista.
Os caminhos da Igreja no Brasil assinalam o mês de agosto com uma nobre particularidade. A temática vocacional recebe forte acentuação: dia dos pais, dia do padre, dia do religioso, dia do Catequista. Este previsto para o próximo dia 28.08.
Em nome da CNBB quero servir-me da data para uma palavra permeada de sincero afeto e imensa gratidão. Embora não seja possível ser suficientemente grato a tanta dedicação, com muita simplicidade, apresento-me para uma reflexão agradecida.
Começo chamando-lhe à recordação uma sua experiência pessoal muito singular: lembra quando alguém lhe dirigiu o convite a tornar-se Catequista? Certamente está presente em sua memória a pessoa, as frases e o contexto. Lembra também de sua própria reação? Talvez inquietação, ou dúvidas, ou temor por não se sentir apta(o). É até possível que lhe tenha aflorado a preocupação pela falta de tempo...
Mesmo assim, embora com tantas objeções, Você aceitou. Estou certo que ainda estão bem presentes os motivos que moveram a aceitar... E o Espírito Santo estava lá: movia, suscitava, inquietava. E eis que desde sua liberdade e desde sua capacidade de amar houve um movimento de afeição amorosa pelo Senhor, pela comunidade, pelos “seus” catequizandos.
Hoje, tendo já passado um bom tempo, talvez anos, cabem duas perguntas bastante simples: mais ofereceu ou mais recebeu? Mais aprendeu ou mais ensinou? É verdade que os desânimos por vezes se apresentaram; também sinais de cruz se pronunciaram. Mas quanto crescimento! Quantos sinais da proximidade de Deus! Quantas experiências de fé! É... Catequese é um caminho, um discipulado, um encontro que perdura e atravessa os anos. Mas o Senhor nunca se deixa vencer em generosidade. Quantas graças!!!
Seu sim ajudou a Igreja a ser Evangelizadora; a ser mais Igreja. Sua dedicação de Catequista a(o) faz lembrar-se de que o Senhor Jesus quer ser conhecido mais por seu amor do que por doutrinas. Por isso mesmo o episcopado brasileiro lhe agradece, caríssima(o) Catequista. E neste dia louva o Senhor por seu ministério. Que Deus lhe multiplique em bênçãos a bênção que é Você para a nossa Igreja.
Dom José Antonio Peruzzo
Arcebispo de Curitiba-PR
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética
Ela é uma amiga querida que a catequese e a vida me deram! Fui até ela depois de meses sem vê-la, uma alegria encontrá-la. E o que me disse, no meio da conversa, me fez agora perder o sono. Necessidade de colocar no papel o que me comoveu e alegrou o coração.
Eu a conheci já como catequista de catequista. Pois ela decidiu, depois de se recuperar de um período de dores após uma queda, atender ao pedido de uma catequista que queria formação. Marcou encontros semanais em sua casa e começou a fazer o que sempre fez: preparar catequista. E me contou com brilho nos olhos que isso a alegrou e a refez. E que, além disso, aprende com a catequista que lhe pediu ajuda, pois essa moça, diz ela, tem um olhar atento a tudo e um jeito bom de saborear as coisas.
Impressionante, pensei comigo mesma, olhando para o brilho do olhar dela e para o sorriso no rosto. Enchi o olho d’água e fiquei comovida, sem palavras. Pensei: ela ainda ama a catequese e encontrou aos 93 anos um novo motivo para viver essa vocação e esse amor que a moveu a vida inteira.
E caminhando de volta pra casa olhei para mim mesma e o cansaço do dia se foi. Também achei ridícula minha justa angústia diante da partilha que fiz sobre a alta rotatividade dos catequistas e do fato de que isso impede, em muitos lugares, a catequese de avançar. Pois enquanto tivermos uma catequista que mesmo sem condições físicas, financeiras, materiais, conseguir acreditar na educação da fé e fazer de tudo para melhorar a formação de uma só catequista, a catequese terá futuro, está a salvo.
A maturidade da fé cristã depende de catequistas que sabem da importância da iniciação à fé e ao seguimento de Jesus Cristo. Sem preocupação com o quanto de tempo gastará ou, no caso dessa amiga, até se terá tempo de terminar o processo de formação. O que importa é cuidar do que é o mais importante: a formação de catequista.
Aí está uma razão para viver: ajudar uma catequista crescer na fé, na compreensão de si mesma, no amor a Jesus Cristo e a Igreja, no amor ao catequizando, o que a faz aprender o melhor jeito e linguagem para chegar ao seu coração.
Ah! Que lindo! Amar e Servir com alegria, fazer o que é possível para o bem da catequese. E, ao servir deixar-se modificar pelo outro, aprender. Que maturidade de fé e de amor, que paixão pelo Reino!
Minha amiga não me contou para se exaltar ou para que eu contasse esse fato a alguém. Mas não resisti, transborda em mim o desejo de espalhar experiência tão linda. E a razão pela qual eu faço isso é para animar você a seguir em frente, a dedicar a vida pela causa do Reino, como catequista.
Lembrei-me de outros rostos queridos, de tantas(os) catequistas que encontrei pela vida e reverencio essa gente que resiste e insiste em continuar na catequese apesar de tantos desafios, que se dá generosamente e inventa jeitos novos de cuidar da própria formação. E termino enviando um beijo pra Deus que em sua grande bondade e amor nos chamou a ser catequista, coisa tão linda na sua Igreja.
Lucimara Trevizan
Coordenadora da Comissão Bíblico-Catequética do Leste 2
12.08.2016
Sexta-feira da paixão. Uma manifestação de infecção localizada. À noite já estava hospitalizada, acometida da temida septicemia, aquela tal infecção generalizada. Sábado Santo(26.03.2016), às 16h, Aída vive a sua Páscoa definitiva, passando pela morte.
Uma contabilista de 86 anos, moradora do Santa Efigênia. Melhor identificá-la como servidora da catequese. Serviu durante décadas, várias décadas, muitas décadas à catequese porque sabia o valor da educação da fé. Baixinha, sorridente, enérgica, organizada. Pele cor de canela. Cabelos branquinhos encaracolados, bem curtos. Até a quinta-feira santa à tarde ela trabalhou pela catequese, organizando o arquivo do IRPAC – Instituto Regional de Pastoral Catequética, da CNBB-Leste II. Este Instituto está para completar 30 anos. Durante 30 anos ela prestou serviços – por amor à catequese – ao IRPAC.
É uma história bela. Uma anônima para os grandes. Uma conhecida dos catequistas. Aída fará muita falta. A trajetória dela faz-me pensar na diferença entre o que “faz sucesso” – mundanismo como diz o papa Francisco – tão buscado pela igreja midiática e seus vorazes artistas, ainda que de qualidade sofrível, que a todo instante precisam “explicar” que não são artistas, mas ministros, pastores, evangelizadores... e o que “é bem sucedido”, porque foi realizado com amor ao outro, num percurso de crescimento e amadurecimento da fé. Aída foi bem sucedida, suficiente. Como uma vela diminuía-se para iluminar com a fé cristã.
Alcançou uma quantidade enorme de pessoas, com uma mensagem consistente. Ao invés de gerar alienados compulsivos, saltitantes, educou na fé cristãos comprometidos, testemunhas do evangelho. Ao invés de holofotes, preferiu a chama fumegante, ardente e perseverante.
Aída continua acesa.
Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte
29 de março de 2016
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