A catequese inicia à vida litúrgica: “Jesus explicava para os discípulos todas as passagens da Escritura que falavam a respeito dele” (Lc 24,27)
É na caminhada com os discípulos que Jesus tem a oportunidade de aquecer-lhes o coração, explicando-lhes as Escrituras e o modo como o Mistério Pascal a elas se vincula. Ele, Palavra viva, fala com os seus de tal maneira a descerrar-lhes as vendas dos olhos, conduzindo-os à mesa da refeição e da experiência plena da sua ressurreição. Isso nos faz pensar o quanto nossa experiência litúrgica ainda carece de autêntica iniciação, o que pode ser oferecido, em grande parte, pela catequese. São inúmeros os documentos da Igreja que ressaltam essa necessária interação entre as dimensões litúrgica e bíblico-catequética.
O que os documentos da Igreja falam sobre Catequese e Liturgia
O Decreto Christus Dominus, sobre a ação pastoral dos bispos, pede aos pastores que se preocupem que “a instrução catequética, que tem por fim tornar viva, explícita e operosa a fé ilustrada pela doutrina, seja administrada com diligente cuidado quer às crianças e adolescentes, quer aos jovens e mesmo adulto s(...). Esta instrução se baseie na Sagrada Escritura, na Tradição, na Liturgia, no Magistério e na vida da Igreja” (14,1043). O texto conciliar recomenda ainda insistentemente um método apropriado às necessidades dos tempos (cf. CD 13,1040).
Foi a Declaração sobre a Educação Cristã, intitulada Gravissimum Educationis, que mais claramente definiu o objetivo da catequese, ao afirmar que ela “ilumina e fortifica a fé, nutre a vida segundo o espírito de Cristo, leva a uma participação consciente e ativa no mistério litúrgico e desperta para a atividade apostólica” (4,1509).
A Exortação Apostólica Catechesi Tradendae (A catequese em nosso tempo), em 1979, escrita pelo papa João Paulo II, aponta seguramente a necessária e intrínseca ligação entre catequese e liturgia, quando diz, de forma explícita: “A catequese está intrinsecamente ligada com toda a ação litúrgica e sacramental, porque é nos Sacramentos, e sobretudo na Eucaristia, que Cristo Jesus age em plenitude para a transformação dos homens.(...) A catequese leva necessariamente aos sacramentos da fé. Por outro lado, uma autêntica prática dos Sacramentos tem forçosamente um aspecto catequético. Por outras palavras, a vida sacramental se empobrece e bem depressa se torna um ritualismo oco, se ela não estiver fundada num conhecimento sério do que significam os sacramentos. E a catequese intelectualiza-se, se não haurir vida numa prática sacramental” (CT 23).
O Documento Catequese Renovada, traz dois preciosos números que merecem destaque por refletir a importante interação entre catequese e liturgia. No número 89, lê-se: “Não só pela riqueza de seu conteúdo bíblico, mas pela sua natureza de síntese e cume de toda a vida cristã, a Liturgia é fonte inesgotável de Catequese. Nela se encontram a ação santificadora de Deus e a expressão orante da fé da comunidade. As celebrações litúrgicas, com a riqueza de suas palavras e ações, mensagens e sinais, podem ser consideradas uma ‘catequese em ato’. Mas, por sua vez, para serem bem compreendidas e participadas, as celebrações litúrgicas ou sacramentais exigem uma catequese de preparação ou iniciação”. E o número posterior acrescenta: “A Liturgia, com sua peculiar organização do tempo (domingos, períodos litúrgicos como Advento, Natal, Quaresma, Páscoa etc.) pode e deve ser ocasião privilegiada de catequese, abrindo novas perspectivas para o crescimento da fé, através das orações, reflexão, imitação dos santos, e descoberta não só intelectual, mas também sensível e estética dos valores e das expressões da vida cristã” (CR 90).
(continua nas edições seguintes)
Pe. Vanildo Paiva
Especialista em Catequese e Liturgia
Liturgia e Iniciação à Vida Cristã[1] (I)
“O que vocês estão conversando pelo caminho?” (Lc 24,17)
A 3.ª Semana Brasileira de Catequese propôs um rico e aprofundado diálogo a respeito de uma catequese como iniciação cristã, isto é, que auxilie eficazmente no processo de iniciação de cada catequizando à experiência de Jesus Cristo, especialmente na vida comunitária e eclesial. Por todo canto do país fez ecoar palavras que expressam experiências significativas, expectativas, temores, anseios e, sobretudo, o sonho de uma catequese liberta do peso das prescrições e cristalizações doutrinárias e de cunho simplesmente sacramentalista.
A imagem do caminho é paradigmática nesse momento fecundo vivido pela Igreja e, especialmente, pelos catequistas de nosso Brasil. Aliás, essa imagem sempre se prestou, na história, para falar da iniciativa divina de aproximar-se da realidade de seu povo para propor-lhe amorosamente a salvação (cf. Ex 3,18; Dt 8,2; Jó 23,11; Sl 119,1; Is 2,3; Jr 7,3). Jesus é o Deus caminheiro, que “armou sua tenda no meio de nós” (cf. Jo 1,14) para falar-nos bem de perto como um amigo fala com outro amigo, tornando-se Ele próprio caminho para o Pai: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 14,6).
O caminho trilhado pelos catequistas
Falar do caminho trilhado pela catequese é recordar o testemunho vigoroso de tantos homens e mulheres que, ao longo de toda a história do Cristianismo, sinalizaram para os valores do Reino e conduziram, consigo, inúmeras pessoas à experiência de Jesus Cristo como Senhor e Salvador. É trazer à memória os santos e mártires deste continente sofrido, que aqui fecundaram a terra com seu sangue, de cuja semeadura colhemos preciosos frutos! É falar de tantos catequistas que, em cada época, deram o melhor de si, para que Jesus fosse mais conhecido, amado e seguido. Falar do caminho é, ainda, abrir os olhos para reconhecer a presença libertadora de Jesus Cristo que caminha conosco, ouve nossos clamores, conhece nossas angústias e também nossas esperanças e, especialmente, nos aponta o rumo a seguir, sempre que novas questões desafiam nossa ação evangelizadora e pastoral.
É Ele quem nos pergunta hoje, como naquele dia perguntou aos dois discípulos que caminhavam desolados, fugindo para Emaús: “O que vocês estão conversando pelo caminho?” (Lc 24,17). É Ele quem nos convida a olhar para sua prática e a reaprender seu jeito especial de catequizar. É Ele quem nos ensina a acolher com alegria esse processo que aquece o coração de nossa Igreja, hoje, ao voltar prioritariamente seu olhar para os adultos que, ao longo do caminho de fé, encontram-se sedentos de Deus e, muitas vezes, desorientados diante de tantas encruzilhadas! É Ele, enfim, que bate às portas do nosso coração e chama-nos à Ceia para que o conheçamos melhor: "Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo" (Ap 3,20).
Uma conversa sobre o caminho da Iniciação Cristã
Ao longo de algumas edições, conversaremos sobre o caminho da Iniciação Cristã, tendo como companheiro de caminhada Jesus Ressuscitado, assim como aconteceu naquela caminhada de Emaús. Especialmente trataremos da relação estreita entre catequese e liturgia nesse processo de iniciação de nosso povo ao discipulado de Jesus, Caminho, Verdade e Vida (cf Lc 24; Jo 14,6).
Pe. Vanildo Paiva
Especialista em Catequese e Liturgia
05. 09. 2013
1. Uma pluralidade de sinais e uma só finalidade
De acordo com o Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, os três sacramentos da Iniciação - a saber: Batismo, Eucaristia e Crisma -, devem ser celebrados por ocasião do Tríduo Pascal, mais parecisamente na Vigília do Sábado Santo, no último ano de preparação do catecúmeno. No entanto, na nossa diversidade de experiências de catequese com adultos, nem sempre se faz desse modo. Seja no seu conjunto, ou separadamente, são celebrações muito ricas de sinais e significados, todos eles apontando para um só fim: possibilitar ao catequizando vivenciar de modo mais concreto e eficaz a graça de Deus, o seu amor que traz a vida e a salvação! Desse modo, os sinais batismais (cruz, água, luz, óleos sagrados,cor branca, o “creio”, o “nome”, o rito do “Éfeta”), crismais (imposição de mãos, óleo, luz) e os sinais eucarísticos (pão e vinho) evidenciam ao (neo) cristão o quanto ele é amado por Deus, chamado a viver a alegria da vida nova.
2. Os sinais e seus significados
Ainda que brevemente, vale a pena recordar os sentidos que normalmente são atribuídos aos símbolos e gestos mais característicos dos sacramentos de Iniciação, mas sem esquecer que todo símbolo, pela sua própria natureza, é aberto a uma pluralidade de sentidos e significações, dependendo do modo como é utilizado, da cultura e da sensibilidade daqueles que dele fazem uso.
- Recitação do Símbolo (“Credo”ou “creio em Deus Pai...”): Resumo da fé da Igreja, aprofundado durante a catequese. Recitado em comunidade, mostra o patrimônio comum a que todos os cristãos têm acesso e assumem seguir com fidelidade;
- Rito do Éfeta (palavra que significa “Abre-te!”): ao ter os seus ouvidos e lábios tocados pelo polegar do presidente do rito, o candidato à vida cristã é chamado a perceber a necessidade da graça para ouvir e professar a Palavra de Deus a fim de alcançar a salvação;
- Escolha do nome cristão: Em alguns casos, faz-se a opção por um nome ligado à Bíblia ou história do cristianismo, e seu significado é explicado na hora da celebração;
- Unções: tanto a unção com o óleo dos Catecúmenos quanto aquelas feitas com o óleo do Crisma visam a comunicar ao novo cristão os dons divinos, a força de Deus, a graça do Espírito Santo;
- Água: símbolo necessário no Batismo, a água traz o sentido da vida nova, da graça de Deus que possibilita à pessoa morrer para o pecado (como no dilúvio) e renascer para a vida divina;
- Luz: As velas usadas nos sacramentos e outras celebrações conduzem o cristão à experiência da luz divina, dos efeitos da ressurreição de Cristo em sua vida e do compromisso de manter acesa, ao longo de toda a vida, a chama testemunhal da fé;
- Imposição das mãos: o presidente da Crisma faz o gesto de impor as mãos sobre todos os confirmandos, na fidelidade ao gesto bíblico de comunicar a força do Espírito para a missão;
- Pão e Vinho: ao receber o Pão e o Vinho consagrados na Eucaristia, o cristão se apropria da própria vida do Cristo e se compromete a viver a comunhão com Ele e com a comunidade, também oferecendo a sua vida em sinal de compromisso com o projeto de Deus.
Pe. Vanildo Paiva
Especialista em Catequese e Liturgia
15. 08. 2013
A importância da Palavra no itinerário catequético
A Palavra de Deus, escrita na Bíblia e na vida, precisa ocupar um lugar de destaque na catequese de Iniciação, pois o seu conhecimento e a sua meditação ajudam o iniciando a perceber a história de salvação que continua hoje e a presença constante do Deus na vida na sua história pessoal, com força de libertação. Inseridos na mais antiga e rica tradição cristã, cabe-nos salientar a importância da Palavra de Deus como despertadora da fé e mobilizadora de conversão: "Logo, a fé provém da pregação e a pregação se exerce em razão da palavra de Cristo” (Rm 10,17). Uma catequese reducionista e uma preocupação extremada com as espécies eucarísticas são responsáveis pela pouco atenção à Palavra, não reparando na veneração equiparada que o Concílio Vaticano II destacou entre as duas modalidades da mesma e única presença do Cristo, Pão do Céu a alimentar os fiéis. (Cf. DV n. 21; VD n. 55-56).
Os ritos da Palavra ao longo do processo
No processo da Iniciação Cristã, a Bíblia ocupa lugar de destaque. O Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA) propõe um “encontro” com a Palavra de Deus já no Rito de Entrada da pessoa no catecumenato. Após a apresentação do nome de cada catequizando e da assinalação com o sinal da cruz, faz-se a liturgia da Palavra, na qual a Bíblia é entregue a cada um deles. A cerimônia é simples, mas carregada de sentido e simbolismo. Primeiramente, o presidente da celebração faz uma exortação sobre a dignidade da Palavra de Deus, que é anunciada e ouvida na assembleia litúrgica. Em seguida, sugere-se uma entrada e incensação do livro da Palavra de Deus, cujos textos serão em seguida proclamados e aprofundados na homilia. Encerra-se esse momento com a Entrega do Livro e a oração da comunidade. Durante a entrega, a cada um dos catequizandos o presidente diz: “Recebe o livro da Palavra de Deus. Que ela seja luz para a tua vida!”. É importante lembrar, ainda, que em todas as outras celebrações a Palavra de Deus também está presente como luz a iluminar o caminho e fonte de discernimento para a caminhada daquele que aprofunda sua adesão a Jesus e a seu projeto de vida, na comunidade cristã e no mundo.
Palavra é bem mais do um símbolo litúrgico
As comunidades que não usam o RICA também são convidadas a marcar todo o processo catequético com a Palavra, ritualizada e proclamada. Para isso, é importante destacar a mesa da Palavra nas celebrações, e ajudar os catequizandos a ler e compreender o essencial da revelação de Deus contida nas Escrituras. Deseja-se, com isso, mostrar aos catequizandos que somos a “Igreja da Palavra e do Pão”. É importante criar neles uma atitude de veneração pela Palavra do Senhor, postura de respeito e reconhecimento do seu valor. Aos catequistas vale aqui enfatizar que a Palavra de Deus, sobretudo na Liturgia, não se reduz a um símbolo como tantos outros, mas é o próprio Senhor falando ao seu povo, revelando “seus planos de amor” e convidando a uma resposta consciente e amadurecida ao seu projeto de vida.
Pe. Vanildo Paiva
Especialista em Catequese e Liturgia
01. 08. 2013
Na edição passada, começamos a falar das bênçãos no processo catecumenal, seu significado e importância. Fazem parte dos chamados “sacramentais” que. Segundo o que nos diz a Constituição “Sacrossanto Concílio”, documento do Concílio Vaticano II que trata da Liturgia, são “sinais sagrados, pelos quais, à imitação dos Sacramentos, são significados efeitos principalmente espirituais, obtidos pela impetração da Igreja. Pelos sacramentais os homens se dispõem a receber o efeito principal dos sacramentos, e são santificadas as diversas circunstâncias da vida” (61).
Há uma série de bênçãos que podem ser feitas pelos catequistas ou outros leigos qualificados para isto (cf. SC 79). Inclusive o gesto de estender a mão sobre os catequizandos pode ser feito, acompanhado sempre de uma oração (RICA 119). Essas bênçãos podem ser dadas no final de uma celebração da Palavra, no final do encontro catequético ou mesmo em particular, quando for oportuno.
O Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA) traz algumas fórmulas de bênçãos, para que se escolha aquela que for mais adequada ao momento celebrado. A maioria delas pede a Deus que venha em socorro dos catequizandos que se preparam para o Batismo e demais sacramentos de Iniciação Cristã, confirmando neles a adesão a Jesus Cristo e concedendo-lhes as graças e forças necessárias para a perseverança no caminho iniciado, como nos exemplos que se seguem:
Deus, que libertastes do erro o mundo pela vinda de Jesus Cristo, vosso Filho único, ouvi-nos e concedei a vossos catecúmenos entendimento, perfeição, fé inabalável e seguro conhecimento da verdade, para que, crescendo em virtude cada dia, possam no tempo oportuno receber o Batismo para a remissão dos pecados e glorificar conosco o vosso nome. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.
Olhai, Senhor, os vossos servos e servas que obedecem ao vosso santo nome e inclinam a cabeça diante de vós: ajudai-os a praticar todo o bem e inflamai seus corações para que, lembrando-se das vossas ações e mandamentos, se apressem com alegria em vos servir em tudo. Por Cristo nosso Senhor. Amém!
Assim, fica mais sensível ao catequizando a constante presença de Deus, que vai confirmando cada passo, cada decisão, cada atitude sua, alcançando a firme confiança da Igreja de que “quase todo acontecimento da vida seja santificado pela graça divina” (SC 61).
Pe. Vanildo Paiva
Especialista em Catequese e Liturgia
15.07.2013
Em número anterior lembramos que os exorcismos e bênçãos fazem parte, frequentemente, dos ritos do chamado “catecumenato” – modelo catequético-litúrgico de iniciação à vida cristã dos primeiros séculos da Igreja, retomado, com adaptação, para nossos tempos após insistência do Concílio Vaticano II -, mas que também podem compor a caminhada litúrgica de outras metodologias catequéticas de iniciação. Explicamos o sentido dos exorcismos e desta vez queremos tratar das bênçãos.
Pedir a bênção aos pais, avós, tios, padrinhos e padres era costume muito significativo em nossa sociedade até algumas décadas passadas. Algumas regiões do país ainda conservam esse hábito, principalmente em famílias mais tradicionais e religiosas. Infelizmente a sociedade secularizada vem banindo os sinais que lembram e reforçam a presença de Deus em nossas vidas, de tal modo que muitos jovens e crianças hoje já nem entendem mais esse costume. Pedir a bênção, normalmente com as expressões: “dá-me a bênção” ou “a sua bênção”, cuja resposta é “Deus te abençoe”, tem o bonito significado de recomendar alguém aos cuidados de Deus e desejar-lhe todo o bem, numa relação de estima e respeito.
Bendizer, verbo ligado ao substantivo “bênção”, tem o sentido de “dizer bem”, falar bem, ressaltar os feitos maravilhosos de Deus na vida das pessoas. Por isso mesmo, a bênção remete sempre à confiança na providência e na ternura de Deus, que sempre olha seus filhos e filhas com muito carinho e amor.
Em um itinerário catequético de iniciação, recomenda-se que os catequistas celebrem com seus catequizandos a bênção de Deus, como prevê o Ritual de Iniciação Cristã de Adultos(RICA): “Sejam dadas aos catecúmenos as bênçãos que expressam o amor de Deus e a solicitude da Igreja, a fim de que, não possuindo a graça dos sacramentos, recebam da Igreja, coragem, alegria e paz para continuarem o trabalho e a caminhada (n. 102).
A CNBB também organizou um Ritual de Bênçãos que oferece uma diversidade de orações e bênçãos para uso na catequese (cf. números 378-386). Estas bênçãos podem ser dadas pelo padre (algumas pelo próprio catequista) de modo individual ou para todo um grupo. Outra orientação é destacada pelo RICA: “As bênçãos são dadas habitualmente no fim das celebrações da Palavra de Deus; se for oportuno, no fim da reunião catequética e, por motivo especial, a cada catecúmeno em particular” (n. 119).
(continua na próxima edição)
Pe. Vanildo Paiva
Especialista em Catequese e Liturgia
01.07.2013
Dentro da proposta de catecumenato – tempo de cuidado e atenção aos catecúmenos (pessoas que se preparam para os Sacramentos e vida cristã)- há um período de tempo indeterminado que supõe a conversão e o amadurecimento da fé dos candidatos. Esse tempo pode durar vários anos, pois o que mais importa é não é “aprender” uma série de temas propostos em um manual de catequese, mas que os catequizandos deem sinais de autêntica consciência do “ser cristão” e expressem, na vida prática, por meio de atitudes e comportamentos, sua adesão a Jesus e ao seu projeto de vida. Neste tempo eles são iniciados “no mistério da salvação e na prática dos costumes evangélicos” (RICA 98), sobretudo através de ritos que são celebrados em épocas sucessivas, e “introduzidos na vida da fé, da liturgia e da caridade do povo de Deus” (RICA, 98).
Os ritos são sempre sustentados pela Palavra de Deus oportunamente anunciada, de acordo com o tempo litúrgico, com catequese adequada e aplicada à realidade dos catequizandos. As celebrações da Palavra constam quase sempre de um canto, leitura bíblica e salmo, homilia e algum rito conclusivo, como exorcismos e bênçãos. Essas celebrações visam a aprofundar o catecúmeno no mistério de Cristo, levá-lo a conhecer e saborear as várias formas de oração, bem como a introduzir a pessoa na assembleia litúrgica da comunidade.
Por exorcismo aqui não se entende o sentido popularizado e vulgar de “expulsão de demônios”, mas orações em favor dos catequizandos, para que sejam fortalecidos por Deus na caminhada espiritual, e para que possam sempre renunciar ao mal, e, desse modo, alcancem as “bem-aventuranças do Reino de Deus” (RICA 101), como indica essa oração:
“Deus todo-poderoso e eterno, que nos prometestes o Espírito Santo por meio do vosso Filho Unigênito, atendei a oração que vos dirigimos por estes catecúmenos que em vós confiam. Afastai deles todo o espírito do mal, todo o erro e todo o pecado, para que possam tornar-se templos do Espírito Santo. Fazei que a palavra que procede de nossa fé não seja dita em vão, mas confirmai-a com aquele poder e graça com que o vosso Filho Unigênito libertou do mal este mundo. Por Cristo Nosso Senhor. Amém!(RICA 113)
Como é importante valorizar essas orações na catequese, mesmo que não se adote o esquema do Ritual de Iniciação Crista de Adultos (RICA)! Quantas pessoas se sentem mais confortadas e amparadas ao saber que a comunidade reza por elas e as colocam sob a proteção divina, com preces e súplicas em seu favor! A realização comunitária desse rito reforça o sentimento de que a comunidade cristã é feita de irmãos e amigos que se importam com seus (futuros) membros... Recomenda-se que, quando esses exorcismos ou preces forem feitos sem a presença do sacerdote, evite-se o gesto de imposição de mãos sobre o catequizando, gesto esse reservado ao ministro ordenado.
Pe. Vanildo Paiva
Especialista em Catequese e Liturgia
15.06.2013
Na edição anterior, comecei a apresentar alguns elementos importantes para a composição do Ofício Divino a ser usado na catequese. Seguem os outros elementos:
Recordação da vida: os fatos e acontecimentos do dia-a-dia, desde aqueles mais próximos da realidade dos catequizandos (família, bairro, cidade) até os mais distantes, são evocados para que a vida concreta seja rezada, celebrada. São recordados acontecimentos bons e ruins, sinais de alegria e também de tristeza. Afinal, tudo é vida, tudo é conteúdo de oração.
Salmo: elemento essencial do Ofício, um salmo é sempre cantado. De acordo com a possibilidade da assembléia, seja cantado por todos, de preferência em dois coros; outro modo de rezar o salmo é respondendo a um refrão, entre estrofes entoadas por um solista. O salmo também é escolhido de acordo com o tema do dia. O Ofício das Comunidades traz versões bem populares e práticas para a celebração. De acordo com a idade das crianças, preferência seja dada a salmos simplificados, com poucas estrofes e com palavras bem compreensíveis.
Texto bíblico: seguindo o tema proposto para a celebração, um texto bíblico é escolhido e solenemente proclamado. Pode ser precedido por um canto de escuta e aconselha-se que sempre seja seguido de um tempo de silêncio, partilha ou brevíssima reflexão.
Reflexão catequética: para aprofundar o sentido do tema escolhido, aqui é o momento apropriado para um comentário sobre o símbolo litúrgico. Essa reflexão visa a ajudar os catequizandos na compreensão simbólica, o que facilitará imensamente posteriores experiências com esse símbolo, sobretudo na Missa.
Prece, louvor, ação de graças: nesse momento, o grupo é convidado a fazer eco da Palavra e do tema já desenvolvido desde o início da celebração, fazendo orações espontâneas ou previamente preparadas. É interessante concluir esse momento de oração com a oração por excelência, o Pai-Nosso. Bem motivado, esse momento acontece de modo muito bonito, pois as crianças sabem ser muito sinceras e espontâneas!
Oração final e conclusão: uma breve oração e o pedido das bênçãos de Deus encerram o Oficio catequético.
Pe. Vanildo Paiva
Especialista em Catequese e Liturgia
15.04.2013
A importância da celebração eucarística
A celebração Eucarística é, por excelência, a mais completa forma de celebrar a fé e a vida. Se toda a liturgia é ponto de chegada e ponto de partida da vida da Igreja (cf. SC 10), muito mais se pode dizer da Missa. A presença do Ressuscitado é sinal de esperança e coragem, para que vençamos nossa história cotidiana de paixão e vejamos florescer, em nosso meio, os sinais da vida em plenitude. Para a Catequese, a celebração Eucarística tem um sentido muito forte. Na verdade, a catequese inicial tem na Eucaristia uma das suas maiores referências. Ainda que a Eucaristia não seja ponto final da caminhada catequética, mas passagem sempre constante e renovadora, ela ocupa grande parte da atenção e esforços do processo catequético.
Tem sentido “Missa com Crianças”?
Há um antigo documento da CNBB, “Diretório para missas com grupos populares”, número 11, que traz interessantes considerações sobre a Missa com crianças. Lá se lê: “Portanto, os catequistas devem se empenhar nessa tarefa, a fim de que as crianças, conscientes de um certo sentido de Deus e das coisas divinas, experimentem, segundo a idade e o progresso pessoal, os valores inseridos na celebração eucarística, tais como: ação comunitária, acolhimento, capacidade de ouvir, bem como a de pedir perdão, ação de graças, percepção das ações simbólicas, da convivência fraterna e da celebração festiva.”
A comunhão eucarística ocupa posição relevante dentro da celebração da Missa. É uma das maneiras privilegiadas da presença do próprio Senhor na vida de seu povo (cf. SC 07), venerada e amada pela Igreja desde seu início. É a ceia do Senhor, memória daquela noite santa em que o próprio Jesus deixou o seu Corpo e seu Sangue como alimento, sob as espécies do pão e do vinho.
O mesmo Deus, que se dá em alimento no mistério do Pão e do Vinho consagrados, também se oferece em alimento na sua Palavra, que antecede e prepara a comunhão eucarística, na unidade das duas “mesas”. A constituição conciliar sobre a Palavra de Deus, Dei Verbum, já proclamava: “A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, da mesma forma como o próprio Corpo do Senhor, já que, principalmente na Sagrada Liturgia, sem cessar toma da mesa, tanto da Palavra de Deus quanto do Corpo do Cristo, o pão da vida, e o distribui aos fiéis” (21).
Sendo assim, a Missa com Crianças tem mais sentido e é realmente uma iniciação à Eucaristia se conta com boa participação daquelas crianças que já fizeram a sua Primeira Eucaristia, e também com a presença de adultos que comungam. O exemplo de amor e devoção à Eucaristia é assimilado na co-participação das crianças na mesma assembléia litúrgica, ainda que não participem do Pão e do Vinho consagrados. Todos, no entanto, são alimentados pela Palavra, assim como tantos que estão excluídos do Sacramento da Eucaristia são exortados à escuta da Palavra na celebração da Missa (cf. Encíclica Familiaris Consortio, 84).
Isso não dispensa, pelo contrário, incentiva outras modalidades de celebração, com alguns elementos comuns à própria Missa. Sobretudo a escuta da Palavra deverá marcar esses encontros celebrativos, além de símbolos que ajudem na oração e conduzam à participação mais plena e consciente da Missa (cf. SC 11) e à vivência do ano litúrgico (cf. SC 102).
Pe. Vanildo Paiva
Especialista em Catequese e Liturgia
Na edição anterior, trazíamos os seguintes questionamentos a respeito da celebração do Sacramento da Reconciliação: será que há alternativas quanto à celebração desse importante sacramento? O que podemos fazer para deixá-lo menos “sofrível” por parte de nossos catequizandos e de nossos padres?
Valorizar o Sacramento da Reconciliação em si mesmo
Um primeiro passo necessário é valorizar o Sacramento da Reconciliação em si mesmo, tirando-o da sombra do Sacramento da Eucaristia. Isso exige um longo trabalho da conscientização, não somente dos catequizandos, mas de todo cristão, de que o Sacramento da Penitência tem sua eficácia e frutos próprios, mesmo sem a Eucaristia. Explicando melhor: costumamos vincular necessariamente um ao outro, quando passamos a idéia de que “temos que fazer a confissão para comungar”, como se ouve sempre, inclusive na catequese. Assim, passa-se a ideia de que o Sacramento da Reconciliação só existe por causa da comunhão eucarística. No entanto, se a comunhão eucarística tem como condição a comunhão plena com Deus e com os irmãos - o que a confissão sacramental pode garantir - é fato que o Sacramento da Reconciliação também pode e deve ser buscado, mesmo se a pessoa ainda não participa da comunhão eucarística.
Os frutos do Sacramento da Reconciliação
Mas, quais seriam esses frutos próprios do Sacramento da Reconciliação? Certamente, ele é muito mais que um “descarrego” de pecados. É um exercício de conversão contínua, um exame permanente de nossas posturas e comportamentos, que leva a uma vida cada vez mais sintonizada com o projeto de Deus. O convite à reconciliação faz crescer a consciência do quanto ferimos a amizade, o amor e a comunhão com Deus, sobretudo quando falhamos no amor ao nosso semelhante. A vivência desse sacramento liberta para uma vida mais feliz, equilibra a relação com Deus, que passa a ser pautada pelo amor, e não pelo medo. Faz-nos perceber o quanto somos frágeis e também o quanto isso não nos torna menores diante de Deus, mas nos impulsiona a uma superação constante das próprias limitações.
Quem frequentemente busca a confissão, sem escrúpulos e sem temores descabidos, vai descobrindo lentamente a sábia pedagogia de Deus, que nos conduz ao seu amor, entre tropeços e quedas tão comuns ao nosso ser criatural. Refina a visão crítica de si mesmo, ao mesmo tempo que aprende a ser tolerante consigo e com o próximo. Sobretudo, insere sua vida no mistério salvífico da cruz do Senhor, que a todos resgata na sua imensa misericórdia.
Pe. Vanildo Paiva
Especialista em Catequese e Liturgia
Aumentam, dia após dia, as dificuldades relativas à vivência do Sacramento da Reconciliação (confissão ou penitência). O crescimento de uma concepção individualista de responsabilidade pessoal, a imagem de Deus que está introjetada por certos tipos de catequese, o afrouxamento ou quase extinção da noção de pecado por parte de setores da sociedade, o deslocamento da religião cada vez mais para o foro íntimo e privado, certa crise de autoridade e credibilidade que se abate sobre a Igreja enquanto instituição, além de sérias dificuldades históricas já vividas pela teologia penitencial, são algumas das causas que geram resistência e questionamentos quanto a esse sacramento.
Em se tratando da sua celebração litúrgica, quase sempre ela é reduzida a um encontro pessoal do penitente com seu confessor, o padre, a não ser as raras celebrações comunitárias da Reconciliação. Ainda que suas modalidades de celebração não modifiquem nem comprometam sua validade, não há sombra de dúvidas que, quando celebrada comunitariamente, aparecem, de modo mais claro, suas dimensões de vida nova, cura, libertação, renovação da vida cristã, alegria pela misericórdia divina, louvor, festa, gratidão pelo amor de Cristo manifesto até o extremo da cruz, etc.
Por ser um sacramento cercado de tabus e questionamentos, não obstante sua beleza e rico sentido espiritual e vivencial, muitas vezes ele é celebrado num clima de medo e nervosismo, sobretudo quando da primeira vez, quase sempre às vésperas da Primeira Eucaristia. É comum, em nossas comunidades, vermos crianças aflitas, nas longas filas, à espera da sua primeira confissão, decorando o “ato de contrição” e contando nos dedos os pecados, um a um, inúmeras vezes, para não deixarem nenhum para trás!
Espera-se que, com o tempo e a prática, a participação nesse sacramento seja feita de modo mais tranquilo e frutuoso, sem as afetações próprias das primeiras experiências, até porque um primeiro contato com o confessor, sinal e mediador da bondade e da providência de Deus, pode ser um excelente estímulo para a valorização dessa experiência de cura, como a caracteriza a Igreja.
Será que há alternativas quanto à celebração desse importante sacramento? O que podemos fazer para deixá-lo menos “sofrível” por parte de nossos catequizandos e de nossos padres?
Pe. Vanildo Paiva
Especialista em Catequese e Liturgia
A questão da idade da pessoa a ser crismada tem ocupado boa parte dos debates a respeito do sacramento da Crisma. Sabemos que este sacramento estava (e está!) intimamente ligado aos sacramentos do Batismo e da Eucaristia e eram ministrados de uma vez só, na celebração da Vigília Pascal, no tempo do Catecumenato (séc. I ao V d.C., aproximadamente). Constituem um bloco ao qual chamamos de Sacramentos da Iniciação Cristã. Historicamente, estes sacramentos foram se separando uns dos outros, ficando o batismo quase que somente para crianças recém-nascidas, a Eucaristia para aqueles que têm o “uso da razão” e o sacramento da Crisma até hoje não encontrou ainda o seu lugar, sendo ministrado ora a crianças, ora a adolescentes ou adultos.
Atualmente ele coincide com a adolescência em quase todas as dioceses. No entanto, as mudanças do perfil do adolescente na sociedade pós-moderna, o fenômeno do “alargamento” dessa fase que hoje começa muito cedo e se estende até acima dos vinte anos, bem como as constantes decepções dos catequistas com seus crismandos, têm despertado sérias reflexões. Se o sacramento da crisma é teologicamente definido como sacramento da maturidade cristã, se uma carga de responsabilidades e decisões pesam sobre o crismando, se ele é chamado a fazer uma opção de fé clara, consciente e definitiva pela construção do Reino de Deus no mundo onde vive, certamente essas exigências não poderão coincidir com o período tumultuado da adolescência, tempo de buscas, descobertas, experiências, indefinições!...
Por ser tão significativo na vida do cristão e pelo seu aspecto essencialmente comunitário, o sacramento da Crisma merece ser celebrado numa grande festa litúrgica, com a presença de maior número possível de cristãos. É muito preocupante uma tendência anti-comunitária que está virando modo em algumas comunidades que simplesmente “dispensam” o povo da Missa no dia da Crisma para que os jovens crismandos, pais e padrinhos se acomodem melhor dentro do templo! Soluções mais pastorais são urgentes, que realmente ressaltem o caráter eclesial, ministerial e comunitário desse Sacramento.
A presença do bispo, que preside a celebração - a não ser que ele delegue esse ofício a algum padre - é uma marca importante para a vida da comunidade e dos próprios crismandos. Ela visa manifestar a unidade do povo de Deus e a variedade dos serviços, na Igreja e no mundo. É o momento em que o pastor recorda aos seus filhos, em tom paternal e amigo, sua responsabilidade de construtores do Reino de Deus, sempre guiados pelo Espírito do Ressuscitado, origem da missão.
Para que esse contato, tão importante para o bispo e para seu povo, não seja somente decorativo, é necessário resolver o problema do grande número de crismandos concentrados numa só celebração. Celebrar com grupos menores, em suas próprias comunidades, demanda maior atenção e tempo do bispo, mas dá à celebração um caráter mais personalizado e familiar. A celebração flui com muito mais tranquilidade, sem aquele esquema quase mecânico e frio, muitas vezes percebido em Missas onde catequizandos, familiares e demais participantes se acotovelam para “assistirem” ao rito tão raro e tradicional na história das nossas comunidades.
Pe. Vanildo Paiva
Especialista em Catequese e Liturgia
O Sacramento da Confirmação ou Crisma é definido como sacramento da maturidade cristã ou confirmação dos compromissos batismais. Deveria coincidir com um estágio adiantado de consciência do “ser cristão” e das responsabilidades que são inerentes a ele. É um sacramento que impulsiona ao testemunho da fé no mundo, na sociedade, ao mesmo tempo em que o exige para a sua realização. A plenitude dos dons do Espírito não é dada somente para o crescimento pessoal do cristão, mas, e principalmente, para o serviço aos outros e a coerência com o projeto de Jesus.
Como bem sabemos, esse sacramento nasceu integrado ao Batismo e à Eucaristia e só historicamente se separou deles. Como os demais, ele também sofreu um desgaste de compreensão, ficando, não raras vezes, bem deslocado do contexto sacramental e, especialmente, da vida do cristão. Na prática atual, apesar de tantos esclarecimentos e conscientização, ainda muitos não compreendem seu significado, e ele acaba sendo equiparado a uma “Pós-graduação” na caminhada catequética, da qual a Primeira Eucaristia é “Formatura”.
Quando alguém pode ser crismado? Assim como afirmamos a respeito da Primeira Eucaristia, também o fazemos sobre a Crisma: o critério prioritário não é a idade, mas sim o grau de maturidade e compromisso do crismando com a vida cristã. O que acontece, no entanto, é que se criou uma quase obrigatoriedade de conferir esse sacramento a adolescentes que fizeram sua Primeira Eucaristia e permanecem na Catequese, quase que exclusivamente para a Crisma. O Diretório Nacional de Catequese, no número194, g, aponta o que se espera do catequizando em processo de formação catequética, principalmente da preparação para a Crisma: “amadurecimento da fé, vinculação com a Igreja particular, engajamento na comunidade, envio missionário, compromisso social e testemunho cristão”.
As consequências de uma Crisma só por tradição ou conveniência, nós as conhecemos muito bem. Quantas e quantas vezes catequistas se sentem frustrados por verem a total dispersão daquele número imenso de adolescentes crismados na comunidade! Simplesmente desaparecem das celebrações litúrgicas, muitas vezes até exigidas como condição para que sejam crismados. O número dos que perseveram em alguma atividade na Igreja é bem pequeno. Se, no dia-a-dia, derem um bom testemunho e assumirem verdadeiramente os valores aprendidos na catequese, ainda terão compensado tantos esforços e insistências de pais e catequistas!
A situação exige mudanças efetivas e corajosas, sob risco de continuarmos um faz-de-conta, o que acaba desgastando todo mundo! Experiências positivas precisam ser mais divulgadas, já que alguns têm conseguido bons resultados com esquemas alternativos. Sobretudo, a questão merece um aprofundamento teológico e pastoral muito sério, a começar daqueles que lideram a caminhada da Igreja, desde os catequistas que, nas comunidades, se dedicam incansavelmente ao trabalho da educação na fé, até os não menos incansáveis bispos e padres. Enquanto o medo de “perder” jovens e um foco por demais sacramentalista se sobrepuserem ao verdadeiro significado da Crisma, continuaremos distantes de toda a riqueza teológica e vivencial desse importante sacramento.
Pe. Vanildo Paiva
Especialista em Catequese e Liturgia e professor do IRPAC
Uma questão que tem rendido desencontros em nossas comunidades está ligada ao local onde a celebração da Primeira Eucaristia deve acontecer. Alguns, simplesmente por questão de status, querem a matriz ou a igreja “mais bonita”; outros defendem a idéia de uma cerimônia reservada, em um local neutro, longe das pessoas que freqüentam normalmente a vida litúrgica da comunidade; outros, ainda, têm boas razões para querer que a celebração aconteça na própria comunidade onde moram as crianças, seja na igreja ou capela, se houver, ou no local onde os membros da comunidade normalmente se reúnem para as suas liturgias.
As duas primeiras posições parecem contrariar, na essência, o que a celebração significa e realiza! A última alternativa aponta para a opção melhor e mais coerente. O templo, ou local do encontro dos irmãos na fé, é um referencial e um sinal sagrado da vida comunitária, seja uma igreja matriz, uma capelinha do bairro ou mesmo um salão. Na verdade, o local é muito mais que “um local”. Seu sentido simbólico transcende qualquer outro atributo, seja estético ou prático, isto é, a beleza do local não é o mais importante para uma comunidade, e sim o quanto, ali, os membros daquela comunidade vivem sua fé e a alimentam, na oração e na unidade. Ele representa a caminhada das pessoas que nela se reúnem e rezam, é ponto de chegada e de partida das mais diversas experiências de fé e de escuta da Palavra, é sede de decisões e de iniciativas em favor do bem comum... E é, sem dúvida nenhuma, o local privilegiado para se realizar a celebração da Primeira Eucaristia, se nele os catequizandos já participaram e participarão de muitas outras celebrações litúrgicas. Status e aparências contradizem o sentido da própria Eucaristia!
Se os catequizandos e familiares estão inseridos na vida de uma comunidade, é mais do que necessário e significativo que esses irmãos na vivência eucarística participem, acolham, apóiem, se entusiasmem e vibrem de satisfação, unindo-se às alegrias dos que são introduzidos na comunhão plena da Igreja. Desse modo, além de ajudar na realização da festa eucarística, toda a comunidade se comprometerá em ser exemplo e incentivo para que os catequizandos continuem perseverantes na participação das celebrações e da vida em comunidade.
Pe. Vanildo Paiva
Especialista em Catequese e Liturgia
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