A catequese inicia à vida litúrgica: “Jesus explicava para os discípulos todas as passagens da Escritura que falavam a respeito dele” (Lc 24,27)

É na caminhada com os discípulos que Jesus tem a oportunidade de aquecer-lhes o coração, explicando-lhes as Escrituras e o modo como o Mistério Pascal a elas se vincula. Ele, Palavra viva, fala com os seus de tal maneira a descerrar-lhes as vendas dos olhos, conduzindo-os à mesa da refeição e da experiência plena da sua ressurreição. Isso nos faz pensar o quanto nossa experiência litúrgica ainda carece de autêntica iniciação, o que pode ser oferecido, em grande parte, pela catequese. São inúmeros os documentos da Igreja que ressaltam essa necessária interação entre as dimensões litúrgica e bíblico-catequética.

 

O que os documentos da Igreja falam sobre Catequese e Liturgia

O Decreto Christus Dominus, sobre a ação pastoral dos bispos, pede aos pastores que se preocupem que “a instrução catequética, que tem por fim tornar viva, explícita e operosa a fé ilustrada pela doutrina, seja administrada com diligente cuidado quer às crianças e adolescentes, quer aos jovens e mesmo adulto s(...). Esta instrução se baseie na Sagrada Escritura, na Tradição, na Liturgia, no Magistério e na vida da Igreja” (14,1043). O texto conciliar recomenda ainda insistentemente um método apropriado às necessidades dos tempos (cf. CD 13,1040).

Foi a Declaração sobre a Educação Cristã, intitulada Gravissimum Educationis, que mais claramente definiu o objetivo da catequese, ao afirmar que ela “ilumina e fortifica a fé, nutre a vida segundo o espírito de Cristo, leva a uma participação consciente e ativa no mistério litúrgico e desperta para a atividade apostólica” (4,1509).

A Exortação Apostólica Catechesi Tradendae (A catequese em nosso tempo), em 1979, escrita pelo papa João Paulo II, aponta seguramente a necessária e intrínseca ligação entre catequese e liturgia, quando diz, de forma explícita: “A catequese está intrinsecamente ligada com toda a ação litúrgica e sacramental, porque é nos Sacramentos, e sobretudo na Eucaristia, que Cristo Jesus age em plenitude para a transformação dos homens.(...) A catequese leva necessariamente aos sacramentos da fé. Por outro lado, uma autêntica prática dos Sacramentos tem forçosamente um aspecto catequético. Por outras palavras, a vida sacramental se empobrece e bem depressa se torna um ritualismo oco, se ela não estiver fundada num conhecimento sério do que significam os sacramentos. E a catequese intelectualiza-se, se não haurir vida numa prática sacramental” (CT 23).

 O Documento Catequese Renovada, traz dois preciosos números que merecem destaque por refletir a importante interação entre catequese e liturgia. No número 89, lê-se: “Não só pela riqueza de seu conteúdo bíblico, mas pela sua natureza de síntese e cume de toda a vida cristã, a Liturgia é fonte inesgotável de Catequese. Nela se encontram a ação santificadora de Deus e a expressão orante da fé da comunidade. As celebrações litúrgicas, com a riqueza de suas palavras e ações, mensagens e sinais, podem ser consideradas uma ‘catequese em ato’. Mas, por sua vez, para serem bem compreendidas e participadas, as celebrações litúrgicas ou sacramentais exigem uma catequese de preparação ou iniciação”. E o número posterior acrescenta: “A Liturgia, com sua peculiar organização do tempo (domingos, períodos litúrgicos como Advento, Natal, Quaresma, Páscoa etc.) pode e deve ser ocasião privilegiada de catequese, abrindo novas perspectivas para o crescimento da fé, através das orações, reflexão, imitação dos santos, e descoberta não só intelectual, mas também sensível e estética dos valores e das expressões da vida cristã” (CR 90). 

(continua nas edições seguintes)

Pe. Vanildo Paiva

Especialista em Catequese e Liturgia



[1] Esse texto foi originalmente publicado na Revista Brasileira de Catequese no. 129