Uma das maneiras de celebrar a catequese é usando um modelo de celebração semelhante à do Ofício Divino. É envolvente, bastante orante e participativo. Mas é importante, antes de tudo, esclarecer o que significa Ofício Divino.

 

O Ofício Divino é herança dos judeus

 

O Ofício Divino é uma herança dos judeus muito bem acolhida pelos cristãos desde o início do Cristianismo. É o método privilegiado de oração dos padres e religiosos desde muito tempo e, após um impulso do Concílio Vaticano II, também muitos leigos, individualmente ou em comunidade, encontraram nele um jeito muito especial de fazer suas orações. Os judeus costumavam fazer a memória do Deus criador e libertador, cantando os Salmos, em algumas horas fixas do dia. Desse modo, renovavam sua fidelidade ao Deus da Aliança e ofereciam a Ele toda a sua vida.  O Salmo 55 faz uma referência clara a esse costume: “De manhã, de noite e ao meio dia oro ao Senhor minha lamentação e Ele escuta a minha voz”(55,17).

 

Jesus, como judeu fiel às tradições do seu povo, conheceu esse costume de orar três vezes ao dia e, certamente, o realizou com muita alegria. Inclusive, recomendou aos discípulos que rezassem permanentemente (cf. Lc 18,1;21.36). Por isso, podemos dizer que essa oração do povo de Deus é a oração do próprio Jesus Cristo, ao qual as primeiras comunidades seguiram fielmente.

 

Por que esse nome: Ofício Divino?

 

O Ofício Divino é mais conhecido como Liturgia das Horas, porque é rezado em determinadas horas do dia, com a finalidade de santificá-lo e consagrar o tempo a Deus, numa total disposição para realizar a sua vontade. Cada dia é visto como uma bênção especial de Deus, e precisa ser bem vivido, numa dimensão de louvor e gratidão. Por isso, pedimos sempre ao Senhor:” ensinai-nos a bem contar nossos dias, para que tenhamos um coração sábio” (Sl 90, 12).

 

O nome “Ofício Divino” surgiu num período da história da Igreja em que ao povo já ficava difícil parar com as suas atividades tantas vezes ao dia, para a oração comunitária (em alguns lugares tornou-se costume rezar até seis vezes ao dia!). A oração da Liturgia das Horas foi ficando restrita aos monges e padres, como um ministério (daí a expressão “ofício”) de orar em nome de toda a Igreja, para que o louvor de Deus não parasse no tempo. Se, por um lado, essa maneira especial de rezar foi se estruturando, se organizando melhor, por outro lado, o povo foi se distanciando desse bonito costume.

 

A reforma do Concílio Vaticano II insistiu no resgate da Liturgia das Horas (cf SC 83-101), sobretudo com a intenção de devolver ao povo essa tradição tão especial que lhe pertencia como oração de todos os fiéis, e não somente do clero ou dos religiosos.

 

No Brasil, o Ofício Divino das Comunidades surgiu como uma maneira criativa, simples e bem inculturada de rezar a Liturgia das Horas. As experiências crescentes das comunidades espalhadas pelo país afora tem legitimado a sua prática e ajudado muito na divulgação desse método importante de oração. Quando as comunidades entoam os salmos, escutam a Palavra e a confrontam com os fatos da vida, meditam e oram – sobretudo em pequenos grupos – elas alimentam sua fé e se encorajam para o testemunho do projeto libertador de Jesus.

 

Pe. Vanildo Paiva

Especialista em Catequese e Liturgia

15.03.2013