O Sacramento da Confirmação ou Crisma é definido como sacramento da maturidade cristã ou confirmação dos compromissos batismais. Deveria coincidir com um estágio adiantado de consciência do “ser cristão” e das responsabilidades que são inerentes a ele. É um sacramento que impulsiona ao testemunho da fé no mundo, na sociedade, ao mesmo tempo em que o exige para a sua realização. A plenitude dos dons do Espírito não é dada somente para o crescimento pessoal do cristão, mas, e principalmente, para o serviço aos outros e a coerência com o projeto de Jesus. 

Como bem sabemos, esse sacramento nasceu integrado ao Batismo e à Eucaristia e só historicamente se separou deles. Como os demais, ele também sofreu um desgaste de compreensão, ficando, não raras vezes, bem deslocado do contexto sacramental e, especialmente, da vida do cristão.  Na prática atual, apesar de tantos esclarecimentos e conscientização, ainda muitos não compreendem seu significado, e ele acaba sendo equiparado a uma “Pós-graduação” na caminhada catequética, da qual a Primeira Eucaristia é “Formatura”.

Quando alguém pode ser crismado? Assim como afirmamos a respeito da Primeira Eucaristia, também o fazemos sobre a Crisma: o critério prioritário não é a idade, mas sim o grau de maturidade e compromisso do crismando com a vida cristã. O que acontece, no entanto, é que se criou uma quase obrigatoriedade de conferir esse sacramento a adolescentes que fizeram sua Primeira Eucaristia e permanecem na Catequese, quase que exclusivamente para a Crisma. O Diretório Nacional de Catequese, no número194, g, aponta o que se espera do catequizando em processo de formação catequética, principalmente da preparação para a Crisma: “amadurecimento da fé, vinculação com a Igreja particular, engajamento na comunidade, envio missionário, compromisso social e testemunho cristão”.

As consequências de uma Crisma só por tradição ou conveniência, nós as conhecemos muito bem. Quantas e quantas vezes catequistas se sentem frustrados por verem a total dispersão daquele número imenso de adolescentes crismados na comunidade! Simplesmente desaparecem das celebrações litúrgicas, muitas vezes até exigidas como condição para que sejam crismados. O número dos que perseveram em alguma atividade na Igreja é bem pequeno. Se, no dia-a-dia, derem um bom testemunho e assumirem verdadeiramente os valores aprendidos na catequese, ainda terão compensado tantos esforços e insistências de pais e catequistas! 

A situação exige mudanças efetivas e corajosas, sob risco de continuarmos um faz-de-conta, o que acaba desgastando todo mundo! Experiências positivas precisam ser mais divulgadas, já que alguns têm conseguido bons resultados com esquemas alternativos. Sobretudo, a questão merece um aprofundamento teológico e pastoral muito sério, a começar daqueles que lideram a caminhada da Igreja, desde os catequistas que, nas comunidades, se dedicam incansavelmente ao trabalho da educação na fé, até os não menos incansáveis bispos e padres. Enquanto o medo de “perder” jovens e um foco por demais sacramentalista se sobrepuserem ao verdadeiro significado da Crisma, continuaremos distantes de toda a riqueza teológica e vivencial desse importante sacramento.

 

Pe. Vanildo Paiva

Especialista em Catequese e Liturgia e professor do IRPAC