Liturgia e Iniciação à Vida Cristã[1] (I)

“O que vocês estão conversando pelo caminho?” (Lc 24,17)

A 3.ª Semana Brasileira de Catequese propôs um rico e aprofundado diálogo a respeito de uma catequese como iniciação cristã, isto é, que auxilie eficazmente no processo de iniciação de cada catequizando à experiência de Jesus Cristo, especialmente na vida comunitária e eclesial. Por todo canto do país fez ecoar palavras que expressam experiências significativas, expectativas, temores, anseios e, sobretudo, o sonho de uma catequese liberta do peso das prescrições e cristalizações doutrinárias e de cunho simplesmente sacramentalista. 

A imagem do caminho é paradigmática nesse momento fecundo vivido pela Igreja e, especialmente, pelos catequistas de nosso Brasil. Aliás, essa imagem sempre se prestou, na história, para falar da iniciativa divina de aproximar-se da realidade de seu povo para propor-lhe amorosamente a salvação (cf. Ex 3,18; Dt 8,2; Jó 23,11; Sl 119,1; Is 2,3; Jr 7,3). Jesus é o Deus caminheiro, que “armou sua tenda no meio de nós” (cf. Jo 1,14) para falar-nos bem de perto como um amigo fala com outro amigo, tornando-se Ele próprio caminho para o Pai: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 14,6).

 

O caminho trilhado pelos catequistas 

Falar do caminho trilhado pela catequese é recordar o testemunho vigoroso de tantos homens e mulheres que, ao longo de toda a história do Cristianismo, sinalizaram para os valores do Reino e conduziram, consigo, inúmeras pessoas à experiência de Jesus Cristo como Senhor e Salvador. É trazer à memória os santos e mártires deste continente sofrido, que aqui fecundaram a terra com seu sangue, de cuja semeadura colhemos preciosos frutos! É falar de tantos catequistas que, em cada época, deram o melhor de si, para que Jesus fosse mais conhecido, amado e seguido. Falar do caminho é, ainda, abrir os olhos para reconhecer a presença libertadora de Jesus Cristo que caminha conosco, ouve nossos clamores, conhece nossas angústias e também nossas esperanças e, especialmente, nos aponta o rumo a seguir, sempre que novas questões desafiam nossa ação evangelizadora e pastoral.

É Ele quem nos pergunta hoje, como naquele dia perguntou aos dois discípulos que caminhavam desolados, fugindo para Emaús: “O que vocês estão conversando pelo caminho?” (Lc 24,17). É Ele quem nos convida a olhar para sua prática e a reaprender seu jeito especial de catequizar. É Ele quem nos ensina a acolher com alegria esse processo que aquece o coração de nossa Igreja, hoje, ao voltar prioritariamente seu olhar para os adultos que, ao longo do caminho de fé, encontram-se sedentos de Deus e, muitas vezes, desorientados diante de tantas encruzilhadas! É Ele, enfim, que bate às portas do nosso coração e chama-nos à Ceia para que o conheçamos melhor: "Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo" (Ap 3,20).

Uma conversa sobre o caminho da Iniciação Cristã

Ao longo de algumas edições, conversaremos sobre o caminho da Iniciação Cristã, tendo como companheiro de caminhada Jesus Ressuscitado, assim como aconteceu naquela caminhada de Emaús. Especialmente trataremos da relação estreita entre catequese e liturgia nesse processo de iniciação de nosso povo ao discipulado de Jesus, Caminho, Verdade e Vida (cf Lc 24; Jo 14,6).

Pe. Vanildo Paiva

Especialista em Catequese e Liturgia

05. 09. 2013

 

[1] Esse texto foi originalmente publicado na Revista Brasileira de Catequese no. 129