A questão da idade da pessoa a ser crismada tem ocupado boa parte dos debates a respeito do sacramento da Crisma. Sabemos que este sacramento estava (e está!) intimamente ligado aos sacramentos do Batismo e da Eucaristia e eram ministrados de uma vez só, na celebração da Vigília Pascal, no tempo do Catecumenato (séc. I ao V d.C., aproximadamente). Constituem um bloco ao qual chamamos de Sacramentos da Iniciação Cristã. Historicamente, estes sacramentos foram se separando uns dos outros, ficando o batismo quase que somente para crianças recém-nascidas, a Eucaristia para aqueles que têm o “uso da razão” e o sacramento da Crisma até hoje não encontrou ainda o seu lugar, sendo ministrado ora a crianças, ora a adolescentes ou adultos. 

Atualmente ele coincide com a adolescência em quase todas as dioceses. No entanto, as mudanças do perfil do adolescente na sociedade pós-moderna, o fenômeno do “alargamento” dessa fase que  hoje começa muito cedo e se estende até acima dos vinte anos, bem como as constantes decepções dos catequistas com seus crismandos, têm despertado sérias reflexões. Se o sacramento da crisma é teologicamente definido como sacramento da maturidade cristã, se uma carga de responsabilidades e decisões pesam sobre o crismando, se ele é chamado a fazer uma opção de fé clara, consciente e definitiva pela construção do Reino de Deus no mundo onde vive, certamente essas exigências não poderão coincidir com o período tumultuado da adolescência, tempo de buscas, descobertas, experiências, indefinições!...

Por ser tão significativo na vida do cristão e pelo seu aspecto essencialmente comunitário, o sacramento da Crisma merece ser celebrado numa grande festa litúrgica, com a presença de maior número possível de cristãos. É muito preocupante uma tendência anti-comunitária que está virando modo em algumas comunidades que simplesmente “dispensam” o povo da Missa no dia da Crisma para que os jovens crismandos, pais e padrinhos se acomodem melhor dentro do templo! Soluções mais pastorais são urgentes, que realmente ressaltem o caráter eclesial, ministerial e comunitário desse Sacramento.

A presença do bispo, que preside a celebração - a não ser que ele delegue esse ofício a algum padre - é uma marca importante para a vida da comunidade e dos próprios crismandos. Ela visa manifestar a unidade do povo de Deus e a variedade dos serviços, na Igreja e no mundo. É o momento em que o pastor recorda aos seus filhos, em tom paternal e amigo, sua responsabilidade de construtores do Reino de Deus, sempre guiados pelo Espírito do Ressuscitado, origem da missão.

Para que esse contato, tão importante para o bispo e para seu povo, não seja somente decorativo, é necessário resolver o problema do grande número de crismandos concentrados numa só celebração. Celebrar com grupos menores, em suas próprias comunidades, demanda maior atenção e tempo do bispo, mas dá à celebração um caráter mais personalizado e familiar. A celebração flui com muito mais tranquilidade, sem aquele esquema quase mecânico e frio, muitas vezes percebido em Missas onde catequizandos, familiares e demais participantes se acotovelam para “assistirem” ao rito tão raro e tradicional na história das nossas comunidades.

Pe. Vanildo Paiva

Especialista em Catequese e Liturgia