Estamos em plena época da festa do Natal. Toda a atmosfera da cidade fala disto. Shoppings enfeitados abundantemente de maneira a mais bonita possível. Decorações luminosas, vitrinas or­namentadas anunciando a felicidade de receber presentes caros e sofisticados e que gritam: "Va­mos ser felizes! É Natal!"

 

Observando bem, parece que estamos celebrando duas festas na contra-mão. De um lado, a festa cristã do Natal, com um sério tempo de preparação, chamado "Advento", com uma liturgia pro­funda, de espera, de uma sobriedade festiva, de reuniões da comunidade para fazer a Novena do Natal, tudo culminando na grande festa que nos lembra que Deus veio até nós na pessoa do seu Filho Jesus, mostrando-nos novos caminhos, novo sentido para uma vida fraterna e de paz.

 

Por outro lado, a festa da chegada do Papai Noel, festa comercial que recebeu, injustamente, o nome de "Natal", mas que não tem nada a ver com o sentido cristão da festa. O comércio faz seus cálculos dos lucros e, com muitas luzes e músicas, inaugura sua festa meses antes. Faz crer que a felicidade está no esbanjamento de presentes, champanhas e panetones. Dão à festa uma certa poesia de bondade sentimental, com verniz de generosidade e emoção.

 

Papai Noel tomou o lugar do Menino pobre de Belém cuja lembrança ficou sufocada. É melhor ele nem "crescer" e ficar sempre a criancinha bonitinha que comove e enternece, para que não pre­cisemos ouvir suas palavras e exigências que incomodam.

 

Com o mundo se secularizando mais, com o espírito de consumismo e materialismo, pode-se perguntar se, aos poucos, o Natal cristão está perdendo seu sentido e está sendo substituído pela festa de Papai Noel. Muita gente nem sabe mais da mensagem do Natal cristão. Está se dando o contrário do que aconteceu com a instituição da festa de Natal. No século III existia, no Império Ro­mano, uma festa pagã chamada Festa do Sol. Era celebrada no dia 25 de dezembro quando, no meio do inverno, o sol voltava a aparecer. A luz vencia as trevas. O sol era invencível. A Igreja quis dar um sentido novo a esta festa pagã. O verdadeiro Sol invencível é Jesus. Assim nasceu a festa do Natal cristão. (Não sabemos a data exata do nascimento de Jesus, mas agora a celebramos no dia 25 de dezembro, data daquela festa pagã). Observando o que acontece hoje, parece que a festa pagã do Papai Noel está substituindo a festa do Natal cristão.

 

Pode-se ainda perguntar: de onde vem aquele legendário Papai Noel? Nos países nórdicos da Europa se celebra a festa de São Nicolau, no dia 6 de dezembro. Embora fosse um santo Bispo, São Nicolau foi revestido de muitas lendas pagãs se originando da crença dos antigos povos ger­mânicos de lá. Como um deus, São Nicolau anda nas nuvens, num cavalo branco. São Nicolau traz presentes para as crianças, que ele despeja nas chaminés das casas, porque São Nicolau anda também sobre os telhados das casas. Ele anda sempre vestido como bispo, com mitra, báculo etc. A festa de São Nicolau, até hoje, é celebrada com presentes, comes e bebes especiais, brincadei­ras etc. Mas, para os não católicos, aquele santo não foi sempre bem aceito e, aos poucos, foi substituído pelo Papai Noel, mais aceitável por todos. E assim, o velhinho chegou aqui também.

 

Sempre me pergunto como, na cabecinha das crianças, se combinam Papai Noel e o Menino Jesus. Há aqui algo a esclarecer na catequese, na família? No mês de dezembro, geralmente pa­ram os encontros catequéticos que poderiam abordar o assunto. Muito, porém, dependerá da vi­vência em família. Como é preparada e celebrada a festa de Natal no lar? O acento cai em papai Noel ou no Menino Jesus? Importantes são os presentes ou o espírito de união, de reflexão e ora­ção?

 

Não queremos dizer que os presentes não têm sentido no Natal. Podem ter se forem realmen­te sinais de "presença", de amor. Não são os presentes caros, luxuosos, mas os sinais simples que querem expressar a alegria de estar unidos, do mútuo bem-querer.

 

O Natal seja realmente a festa de amor, de solidariedade, de perdão e de conversão. Que o grande Dom do Pai, o grande "presente" para a humanidade, tenha seu efeito na mudança de con­duta, na consolidação da paz na família e na sociedade, no engajamento para a construção de um mundo mais cristão.

 

Inês Broshuis

Equipe de Catequese do Regional Leste 2 da CNBB.

02.12.2013