A um dado momento da nossa vida questionamo-nos se temos consciência de quem somos. Nem que seja pela comparação que fazemos entre a nossa vida e a dos outros, ou procurar na vida dos outros uma validação para a nossa. Medimos o impacte que os nossos pensamentos, ou momentos, têm pelo número de “Likes” ou corações, mas esse estilo de pseudo-introspecção apenas faz de nós um número. Mas os números não nos definem. 

O que nos define são as escolhas. 

Aprendemos mais com os processos do que com os resultados e uma das escolhas para iniciar processos é ser curioso. 

Se escolheres ser curioso, o caminho percorrido não é confortável, a marcha é lenta, mas com o tempo adquires a consciência do novo que se gera à tua volta , bem como o que a tua curiosidade pode gerar de novo. Dar esse passo coloca-te numa situação de vulnerabilidade. Mas também essa pode ser uma escolha. 

Se escolheres ser vulnerável, o caminho percorrido é o da coragem, embora não seja óbvia a razão. Ser vulnerável implica ser o primeiro a entrar em campo; numa reunião, levantar a mão e fazer a primeira pergunta, independentemente de ser ou não inteligente. Pois, o impulso não provém daquilo que sabemos, mas da escolha anterior em ser curioso. 

Porém, talvez nem sempre sejam as nossas escolhas que definem o que somos, mas as circunstâncias. Em 1994, uma jovem mulher pede o divórcio, fica sem emprego e com pouco dinheiro para viver tem uma filha bebé para criar. A mãe dessa jovem mulher tinha morrido uns anos antes e ela não falava com o seu pai há anos. Batalhava com a depressão e estava à beira do suicídio. Dizia de si mesma ”sou o maior falhanço que conheci.” Hoje, essa mulher é multi-milionária e conhecemo-la como J. K. Rowling. 

Qual a escolha que a tornou naquilo que é? Um passo foi assumir que a culpa não é sua, mas a responsabilidade sim. Ninguém pede ou deseja as dificuldades que tem na vida. E nem todos temos uma história de sucesso como J. K. Rowling, mas uma vida caracterizada por uma luta diária, dia após dia. Por vezes sentimo-nos limitados nas escolhas, mas a única limitação é a que impomos a nós próprios. O que falta? 

Falta confiar. 

Em Deus, em ti, nos outros e na novidade de cada dia. 

Confia em Deus que está sempre contigo. 

Confia em ti sabendo que ninguém é escolhido enquanto não se escolher a si mesmo.

Confia nos outros porque a vida é relacional e a verdadeira coragem está na escolha da vulnerabilidade. 

Confia na novidade de cada dia porque és curioso e, por isso, atento. Logo, quem sabe qual a surpresa que amanhã não transformará os teus sonhos em realidade.

 Miguel Oliveira Panão

In: imissio.net 5.09.2019