Resiliência é a capacidade humana para assumir, ressignificar e superar traumas e grandes sofrimentos da vida. As experiências com órfãos, crianças maltratadas, vítimas de guerras ou catástrofes naturais permitiram constatar que as pessoas que passaram por feridas profundas na vida podem, graças à sua capacidade de resiliência, encontrar um novo sentido para sua existência e olhar para sua própria história com mais realismo e gratidão.
A resiliência, embora seja uma aptidão acessível a todos, ela não é uma receita pronta para a felicidade ou uma espécie de vacina mágica contra o sofrimento, é antes uma habilidade interior que precisa de treino e, mais do que esforço pessoal, de três pilares: espiritualidade, autotranscendência e o apoio de um tutor de resiliência.
Para os estudiosos da resiliência, cultivar a espiritualidade e a dimensão interior é uma das coisas mais importantes para superar o sofrimento e dar-lhe um novo significado.
A autotranscendência é outra característica fundamental. O sofredor precisa ter coragem de reerguer-se de sua dor e projetar-se para fora de si mesmo. Em outras palavras, ele precisa voltar a querer viver e a sonhar, não sonhos egoístas, mas coletivos e cheios de compaixão pela dor do outro.
Todo aquele que passou por grandes dificuldades e sofrimentos na vida precisa, de alguma maneira, encontrar alguém a quem confiar suas angústias e suas dores, ou seja, um TUTOR DE RESILIÊNCIA. Biblicamente falando, todo sofredor necessita encontrar, no momento de seu sofrimento, um “Bom Samaritano”, alguém capaz de acolher com ternura TODOS aqueles que sofrem, especialmente os que sofrem em silêncio, os que escondem sua dor no mistério do próprio olhar.
Neste sentido, o CATEQUISTA deve tornar-se um tutor de resiliência, um especialista em humanidades e afetos. Para isso, ele precisa – mais do que falar de Jesus e do amor de Deus – ter os mesmos sentimentos dele, como ensina São Paulo.
Para que o catequista se torne um tutor de resiliência, ele precisa ter VIDA INTERIOR, SENSIBILIDADE e COMPAIXÃO, tanto pela dor do próximo quanto pela humanidade que ainda geme em dores de parto. Sem estas três dimensões, o catequista pode ser um excelente orador, alguém que fala de Deus com entusiasmo, mas que não consegue torná-lo próximo de seus ouvintes, alguém que aprendeu a falar coisas belas de Jesus, mas que nunca se abriu às sutilezas de seu amor.
O tutor de resiliência é, portanto, todo ser humano capaz de sensibilizar-se diante da dor de seu semelhante e, em seguida, “ajudar a sarar”. O catequista, assim como o tutor de resiliência, diante das feridas do próximo deve tornar-se um curador, ainda que seja, muitas vezes, um “curador ferido”.
Francisco Galvão, religioso paulino, formado em teologia,
mestrando em comunicação social e autor do livro “O Cultivo Espiritual em tempos de conectividade”, lançamento Paulus, 2018.