A Internet, qual espada de dois gumes, corta à direita e à esquerda. Ora cura, ora fere; ora traz vida, ora semeia morte; ora destrói as belezas interiores, ora evangeliza. Sentimo-nos em pequeno barco em face de ondas encapeladas. As ondas nos escapam do controle. Temos o leme e os remos da barqueta para orientar a direção.

No império dos Googles, das wikepdias, dos blogs, dos chats, dos sites a povoarem o infinito do ciberespaço, cabem duas atitudes evangelizadoras: seleção e criação. Adentramo-nos cada vez mais na Sociedade do conhecimento. Este nos banha por todos os lados. Parados, estonteados, sem iniciativa, molhamo-nos com todas as águas, desde as lustrais até as pútridas. Se não queremos contaminar-nos, não há outro remédio: apliquemos o olftato crítico, escolhamos águas que nos purifiquem, nos perfumem. Cabe aos pais, mestres, educadores, catequistas relevante tarefa evangelizadora na escolha e na divulgação de sites sadios e educativos. A evangelização da seleção. Ainda não exploramos pedagógica e catequeticamente tal fonte. Em vez de deixar os jovens entregues, sem mais, às solicitações perversas de inúmeros sites que vão da mais nojenta pornografia até o incentivo do suicídio, adiantemo-nos a oferecer-lhes prato saboroso e são.

Todos se queixam de falta de tempo. Na sua escassez, impõe-se discernir as prioridades. O psicanalista Mário Corso deu entrevista à revista Época sobre o doloroso drama de Vinicius Marques. Jovem de 16 anos que chegou ao suicídio, incentivado na Internet pelo Centro de Valorização da Morte. Terrível paradoxo: valorizar a morte! Algo criminoso. O psicanalista alerta para o risco daqueles que “habitam na Internet”. Pessoas com problemas graves criam laços com companheiros na mesma situação. Assim jovens que sofrem da anorexia se associam com outras pela Internet e terminam algumas chegando à morte. Conclusão: nesse universo que muitos jovens frequentam e lhes ameaça a vida importa que adultos entrem para dizer aí palavra diferente, sensata. Destarte os ajudam a refletirem e assim evitam-se catástrofes como suicídios e outros crimes.

Abre-se-nos no ciberespaço vasto campo para dialogarmos de maneira positiva com os jovens. Por ex., por que não prolongar as horas de catequese ou do curso de crisma por meio de tarefas, conversas com os monitores no interior de um grupo de conversa fechado aos inscritos? A grande maioria dos jovens tem internet em casa ou, pelo menos, têm fácil acesso a ela junto a amigos, a companheiros ou nalguma Lanhouse.

Merece ainda reflexão séria a unilateralidade da internet na formação do jovem. Desconhece relações reais, o corpo e tantas outras faces da vida humana. Em três palavras: Vigilância, criatividade e complementação. 

 João Batista Libanio sj

(teólogo jesuíta falecido em 30.01.2014)