Acompanhando os “passos” do diálogo, ficou claro que ele só é possível quando as duas partes o desejam, estão abertas, desarmadas, dispostas a ouvir, a falar, empenhadas em respeitar e entender as ideias e sentimentos mútuos. Dialogar é uma arte bastante complexa. De certa forma, nos expomos e corremos riscos. Daí a conveniência em termos algum conhecimento a respeito da pessoa com a qual vamos dialogar.
Dialogar com Deus
Nosso diálogo com Deus tem características semelhantes. Exige escuta, abertura, estar desarmado...
O ponto de partida para dialogar com Deus é se perguntar: “Quem é Deus para mim? - como o percebo?”
Se a percepção for de um “chefe” que nos controla 24 horas por dia, pronto a nos castigar pelos deslizes cometidos, ou um Deus mágico que pode satisfazer nossos desejos, ou ainda um Deus que brinca de marionete com a humanidade, assim é impossível haver diálogo.
Uma experiência pessoal
Uma catequista disse: “Há alguns anos, ao rezar o Pai-Nosso, eu não conseguia pronunciar com espontaneidade as palavras ‘Seja feita a vossa vontade’. Esta situação me incomodava demais; ficava envergonhada de mim mesma. Me perguntei: - Afinal, quem é Deus para mim? Embora eu não entendesse, o diálogo já existia... Na busca, aos poucos, as respostas foram surgindo e percebi que Deus é Amor e Amor é comunicação, é sinal de vida, é força transformadora.
O Salmo 117 diz: ‘Javé é minha força e energia. Ele é minha salvação’.
Felizmente, também fiz esta descoberta! Na tristeza, ele me consola; no desânimo, me fortalece; na dúvida, me dá discernimento; na alegria, me torna contagiante. Sendo assim, por que temer a Vossa Vontade?”
Dialogar com Deus no dia-a-dia
Para quem vive em grandes centros urbanos, é difícil “desligar-se” do turbilhão de informações, afazeres, solicitações as mais variadas. Aquietar-se, silenciar-se para ouvir é difícil, mas não impossível. Criamos oportunidade para tantas coisas que queremos... Feliz daquele que se surpreende encantado com o agito e o canto dos bem-te-vis, pela manhã, em nossa cidade. É um belo de um bom dia! Feliz daquele que sabe se encantar e exclamar: “O Céu está azul de tinir!”, ou ainda “Que dia lindão!” A natureza é a manifestação do amor de Deus por nós.
As caminhadas são um grande benefício físico; creio que mais ainda, mental e espiritual... São capazes de despertar em nós o senso de observação, de contemplação. A partir de pequenas percepções, vamos nos tornando capazes de nos emocionar (até chorar) diante de uma obra de arte: música, poema, pintura... é Deus se comunicando.
Deus nos fala através de situações e acontecimentos
O diálogo com Deus nem sempre é só suavidade, doçura. Pode ser também enérgico ou mesmo sofrido. Deus nos questiona, incomoda, exige mudanças a partir de situações injustas e de sofrimento. Saibamos entender os apelos que Deus nos dirige. Sejamos capazes de atitudes transformadoras.
Dialogar com Deus é dialogar com o Amor e o Amor é exigente. Diz uma música: “Se eu quiser falar com Deus, tenho que ter mãos vazias, ter a alma e o corpo nus...” Esta postura de humildade, despojamento, desarmamento, com certeza, é condição indispensável.
Que Deus nos perdoe por todas as vezes que fomos indiferentes e tampamos nossos olhos e ouvidos, que fechamos nossa mente e coração a seu convite ao diálogo.
Para refletir
- Com certeza, temos nossas experiências de “diálogo com Deus”. Partilhemos com o grupo.
- Coloquemos também nossas dificuldades. Em grupo, surgem pistas.
- Como iniciamos nossos catequizandos no diálogo com Deus?
Inês Broshuis
(Texto extraído e adaptado do subsídio "Diálogo e Ecumenismo" da Catequese do Regional Leste 2)