1º  passo para o diálogo

O primeiro passo a ser dado em direção a um verdadeiro diálogo entre duas ou mais pessoas é a experiência concreta dessa máxima: “Ninguém é dono ou detém a verdade em sua totalidade”.

Uma experiência 

Em determinada ocasião, um palestrista mostrou à assembléia um quadro com um desenho sem formas definidas, um amontoado de arabescos e rabiscos. Pediu à platéia que olhasse fixamente por 30 segundos para o quadro e fechasse os olhos. Em seguida, perguntou:

- Quem de vocês conseguiu descobrir nesse desenho uma bruxa? (dessas de contos de fada)

Mais ou menos um terço do auditório levantou a mão.

- E quem conseguiu “ver” o rosto de um bondoso velhinho?, continuou perguntando.

Outro tanto de pessoas levantou a mão.

- Alguém aqui percebeu mais alguma coisa?, prosseguiu o palestrista.

- Um sapo.

O palestrista sorriu e com um pincel contornou nitidamente as três figuras.

Quem tinha, pois, razão? Todos os presentes que deram respostas, sem contar aqueles que não conseguiram “ver” nada.

Vamos refletir 

Na maioria das vezes, comparecemos a uma conversa ou discussão “prontos”, repletos de argumentos e de certezas. Nosso prato já está cheio e não aceitamos sequer uma azeitona do prato do outro. Tentamos convencer pela retórica, pelo tom de voz, ou pior ainda, até pela nossa inteligência ou cultura (o que nos colocaria, de certa forma, em vantagem, em relação ao outro).

Será que é por aí? Discussão, interpelação, questionamento, sim, ainda que eles nos levem a desencontros. Pois, muitas vezes, estes desencontros nos permitem perceber nossos defeitos e nossas limitações.

Não podemos querer convencer o outro das nossas verdades, a não ser pelo testemunho.

E se o outro estiver certo? Ou, se pudermos somar suas certezas às nossas? 

A verdade é relativa 

Como vimos na experiência narrada, um mesmo fato ou mesma figura podem ser interpretados ou assimilados através de várias óticas (ou óculos). Se eu uso lentes verdes, verei tudo verde; se as uso azuis, tudo será azul ao meu redor. Todos detemos uma parcela ou um aspecto da verdade. E todas as verdades ou certezas são relativas. Relativas ao tempo em que se vive, às diferentes culturas, ideologias e até às religiões. Apenas Deus é a Verdade Absoluta. 

No quadro apresentado pelo psicólogo, até a posição ou distância das pessoas deve ter tido influência na percepção da imagem. Já dizia a grande Santa Tereza d’Ávila: “Não tenho o direito de fazer de nada um ponto de honra”. Em outras palavras: não devo “fincar o pé” em nenhum conceito ou ideia de maneira radical, sem me abrir para a opinião ou o momento do outro. Afinal, não sou o dono da verdade.

Para refletir 

Em nossas conversas, nós nos sentimos “donos da verdade”? Ou sabemos dar voz e vez aos outros?

 

Inês Broshuis

(Texto extraído do subsídio "Diálogo e Ecumenismo" da comissão Regional de Catequese do Leste 2)