A cada passo dado nos deparamos com novos desafios que nos surpreendem e exigem novas formas de comunicar e expressar uma linguagem de fé que promova comprometimento, com ajuda da comunidade, na educação para iniciação progressiva à vida cristã.
Jesus, ao longo de sua vida missionária, quebrou estruturas para restituir a dignidade dos filhos de Deus. Identificado como o servo sofredor, traz a salvação. Realiza a vontade do Pai de salvar a humanidade como messias que ama. Apresenta-nos o Reino dos céus e a vontade do pai. É o mistério de Deus se revelando no modo específico de ser humano de Jesus. Através dele, Jesus, como sujeito concreto, singular, e por meio de sua corporeidade, Deus quis mostrar-nos a “plenitude da revelação”. E o que é revelado por meio da humanidade de Jesus é o conhecimento do modo de ser de seu Pai.
Partindo da revelação nós somos chamados a continuar a caminhada de Cristo dando continuidade às suas obras. Sabemos que o caminho a percorrer não é fácil mas os ensinamentos de Jesus nos ajudam a percorrê-lo. Suas atitudes favorecem às pessoas exigindo mudanças na maneira de viver a vida. Nesse sentido pode-se dizer que as pessoas, nas suas novas relações, possam fazer acontecer uma sociedade mais justa, igualitária, fraterna e solidária.
O amor de Cristo nos impele, ou seja, nos pressiona, nos compele, nos estimula a amar, dando origem a gestos de doação para com amigos e conhecidos, para com desconhecidos e necessitados. Este é o caminho da Iniciação à vida cristã. Ao nos colocarmos no seguimento de Jesus descobrimos que é o rosto de Cristo que está presente no rosto de cada pessoa.
Seguir Jesus e fazer da comunidade uma seguidora
O seguimento exige a renúncia dos interesses pessoais que vão contra o projeto do Reino. Necessário se faz tomar a cruz e seguir o caminho do Mestre enveredando pelo caminho do serviço e da doação, pois a vida é o maior “dom” de Deus, quando colocada a serviço do Reino.
A iniciação à vida Cristã propõe que seja feita uma experiência pessoal com Jesus Cristo. Nesse sentido, é aprender a viver com riscos, desafios, limites e buscar um novo sentido que só se encontra quando vivido “por Cristo, com Cristo e em Cristo”. É construir uma comunidade fazendo dela o lugar privilegiado de comunhão que se desenvolve a partir da participação de todos os membros do povo de Deus, sejam bispos, presbíteros, diáconos, religiosos ou leigos. Cada um em sua função buscando valorizar o trabalho de todos para que o Reino de Deus aconteça na comunidade e no mundo.
Basta crer. A experiência de fé tem sentido e acolhida na comunidade de pessoas que creem, que juntas façam discernimentos da presença do Senhor em suas vidas e se constituam comunidade de discípulos missionários. Vamos lembrar o Papa Francisco que, invertendo a parábola da ovelha perdida, afirma que hoje deixamos protegida uma ovelha e saímos em busca das noventa e nove dispersas. Crer nos dá a certeza da presença de Deus em nossa vida. A fé nos põe em íntima relação com a Trindade Santa e assim vivamos em atitude de esperança e amor com o Deus que não desiste de nós.
Está aí a importância de conhecer o modo com que Jesus vai assumindo as condições concretas da vida, respondendo ao contexto das realidades de sua época. Com o nosso olhar fixo em Jesus podemos aprender a olhar a nossa realidade e vivermos movidos pelo mesmo Espírito filial com que Ele viveu. A Vida Cristã é um novo projeto que requer um processo de passos de aproximação, mediante os quais a pessoa aprende e se deixa envolver pelo mistério amoroso do Pai, pelo Filho, no Santo Espírito.
Neusa Silveira de Souza
Comissão bíblico-catequética do Regional Leste 2
A Iniciação Cristã tem seu sentido exato na vida e no pensamento da Igreja. A tradição cristã designa a Iniciação cristã como o conjunto, hoje dividido nas liturgias ocidentais, que constituem Batismo-Confirmação (ou Crisma)-Eucaristia, iniciação aqui considerada no sentido da plena participação no Mistério de Cristo. Iniciado na fé, o fiel torna-se um membro ativo e autêntico da Igreja, perfeitamente apto a viver plenamente da vida de Cristo, em seu lugar no corpo eclesial.
Falar sobre o querígma é falar sobre o anúncio de Jesus Cristo. Anunciar o Mistério de sua vida, o mistério da salvação que se realiza na encarnação do Filho, o Verbo eterno, por decisão do Deus-Trindade. Essa encarnação sela a aliança definitiva de Deus com os homens, expressão do seu amor pelo povo eleito desde o princípio, e do qual pede uma resposta de amor e obediência. Nossa salvação foi realizada especialmente pelo Mistério Pascal, que se tornou possível pela encarnação: mistério de morte e de Ressurreição, pelo qual o Filho, depois de ter dado a seus apóstolos o sentido de seu gesto, oferece-se a seu Pai na Cruz.
A encarnação e a redenção pelo Mistério Pascal são, em Cristo, um processo de atos que exprimem seu amor e sua obediência, sendo o dom de sua vida no momento de sua morte o último desses atos. Amor por seu Pai e, nele, amor pela humanidade.
Jesus veio anunciar o amor de Deus Pai. Este é o ponto de partida: Deus nos ama porque somos bons; nos ama porque ele é bom e é próprio do amor espalhar-se por meio das pessoas amadas. Ao expressar o amor do Pai, Jesus proporciona um encontro que transforma e dá sentido à vida, pois seu desejo é comunicar a Boa-Nova do Reino de Deus e permitir que as pessoas, baseadas na compreensão e no amor, o aceitem em suas vidas. Assim se deu a percepção do grande amor de Deus acontecendo na vida das pessoas desde quando Ele (Deus) tomou a iniciativa de vir nos visitar em pessoa. A encarnação de Jesus Cristo é a revelação definitiva do grande mistério do Pai que deseja salvar o mundo em seu Filho Jesus.
Conhecer Jesus um pouco mais
O nome de Jesus significa “Deus que salva”. Em Jesus, Deus se fez um de nós, veio morar em nosso meio e abrir para nós o caminho da salvação. Após ter sido batizado por João Batista e ter recebido o Espírito Santo que veio sobre ele na forma de uma pomba, de ter ouvido a vós do céu: “Este é meu Filho bem-amado” (Mt 3,17), depois de ter sido provado sua obediência a Deus quando o Espírito o levou ao deserto para ser tentado, depois de tudo isso Ele começou a anunciar seu Evangelho e a comunicar a proximidade do Reino de Deus nos convidando à mudança de vida.
Seus Apóstolos o acompanhavam, a multidão o seguia. Com Ele, “os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa-Nova” (Mt 11,5). Em seu anúncio Ele convida a todos para participar do Reino, mas para entrar nele é preciso conversão, ou seja, acolher a Palavra de Deus e viver conforme sua vontade. Assim foi a vida de Jesus Cristo: cada gesto e milagre, cada palavra, cada ação, cada sofrimento, sua maneira de ser, tudo revela a sua divindade e a salvação que ele traz. Em sua vida está revelado o mistério de Deus no meio de nós.
No Evangelho de Lucas 2,1-20, pode-se presenciar o mistério do Deus conosco, o Emanuel, que quis estar conosco como nosso irmão, o Deus que desejou mergulhar em nossa realidade com as suas fragilidades, exceto o pecado. Isto aconteceu porque Deus, movido por seu imenso amor, desejou ardentemente entrar em comunhão conosco.
Pode-se também encontrar grande demonstração do amor de Deus, na parábola do pai misericordiosos (Lc 15,11-32). Quem não conhece essa parábola? Nela brilha a vontade de Deus Pai de querer salvar a todos, envolvendo os pecadores mais afastados e arrependidos no seu abraço carinhoso de perdão.
Como a Palavra de Deus revela a ordem de Jesus para que os seus discípulos fossem anunciar a todas as nações e batizar as pessoas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, o querígma, em nossa catequese, é o primeiro passo para levar a fé cristã a todos os povos e lugares que ainda não ouviram falar de Jesus Cristo e de sua mensagem. O anúncio de Jesus se torna fundamental para a vida dos discípulos, assim também é fundamento para nós cristãos anunciadores do Evangelho, pois não se pode conhecer Jesus sem o anúncio daqueles que já o conhecem e dão testemunho dele. Podemos lembrar aqui as palavras do etíope que não entendia o sentido das Escrituras e responde a Filipe que lhe pergunta: Entendes o que lê? O Etíope responde: “Como poderia entender se alguém não explicar”. (cf. At 8,31).
Também nós, chamados a anunciar a Palavra de Deus, temos o anúncio do querígma como primeiro ato da ação evangelizadora. O anúncio leva as pessoas a terem uma vida mais feliz, em harmonia com Deus e com os outros. Ao mesmo tempo em que se fala do anúncio para os que ainda não conhecem Jesus, hoje a Igreja também reconhece ser necessário falar de Jesus a quem já é católico. Muitas pessoas conhecem Jesus, mas muitas ainda não aderiram a Ele. Com o anúncio de Jesus Cristo a Igreja tem por objetivo continuar e tornar presente o nome de Jesus vivo, pela ajuda do Espírito Santo.
A Igreja, comunidade evangelizadora, é comunidade de salvação, corpo místico do qual Cristo é a cabeça, uma comunidade reunida por sua Palavra e alimentada com seu corpo eucarístico. A eucaristia é o sacramento para o qual convergem todos os outros sacramentos. Com ele culmina nossa assimilação ao Cristo, pois se Deus dá sua graça em qualquer sacramento, neste ele vai até ao ponto de dar a própria realidade de sua pessoa encarnada, divina e humana.
Neuza Silveira de Souza
Comissão Bíblico-Catequética do Regional Leste 2
A Igreja caminha na construção de seu itinerário em busca de um agir evangelizador da Igreja missionária, sempre a partir do núcleo da mensagem de Jesus Cristo, encontrada nos evangelhos. Para bem compreender a ação de discípulos missionários, tem-se como proposta de formação, o caminho da experiência religiosa que nos leva ao encontro com Cristo, a vivência comunitária que proporciona as relações interpessoais no encontro com o outro; a formação bíblico-doutrinal que conduz para o encontro com a Palavra de Deus, e o chamado ao compromisso missionário de toda a comunidade, acolhedora, criativa, formativa, celebrativa e fraterna. E tudo isso acontecendo à luz do Espírito que nos capacita e eleva a nossa capacidade de fazer o bem.
Como nos diz o Pe. Adroaldo Palaoro em um de seus artigos: “a nossa capacidade de fazer o bem se torna ilimitada com o sopro do Espírito. Nada a detém quando se trata de demonstrar, com gestos concretos, o amor ao semelhante; esse amor que ela traz dentro de si permite expressar, de maneira criativa, sua solidariedade e sua presença inspiradora. Tudo em sua vida torna-se novo, pois o Espírito não lhe permite cair na rotina e na inatividade, características de quem perdeu a razão de viver. É o Espírito que nos permite a abrir caminhos, caminhar, encontrar e reconhecer o Cristo sempre vivo através dos seus discípulos”.
Tomada a consciência da ação do Espírito em nós, somos chamados a reconfigurar nossas ações e compromissos para a evangelização, diante da realidade que nos permeia. As formações propostas não podem apenas construir conhecimentos intelectuais, mas provocar uma conversão pessoal e pastoral que nos impulsionem para o agir cristão.
Para nós cristãos, sabemos que o primeiro passo para responder ao amor de Jesus é ser batizado. Com o batismo nos tornamos novas criaturas, recebemos o Espírito que vem morar em nós e nos conduz para as boas ações missionárias. Somos chamados a derramar o grande amor de Deus que nos é dado sem medida.
Fazendo memória do documento de Aparecida, ele nos convoca para a prática missionária de um discipulado que promova vidas, que ama o próximo e se aproxima dos mais pobres. Uma ação missionária, evangelizadora, libertadora, pois a evangelização é fruto do Espírito Santo. O Papa Francisco nos diz: O Espírito Santo é o verdadeiro protagonista da missão missionária cristã. É ele que nos dá coragem e nos leva para frente. É ele que nos ajuda a construir nossos itinerários e nos coloca sempre atentos: ao anúncio, ao serviço e à gratuidade.
Conforme Medellín, somos chamados a ser uma Igreja “Povo de Deus”, uma Igreja pobre e dos pobres, uma Igreja simples, despojada e humilde. Caminhar sempre em sintonia com o Cristo. Fazendo memória dos seus 50 anos, deixemos nos envolver pelo Espírito Santo que deu a vida à Igreja e a façamos caminhar em sua missão evangelizadora revestida de seu caráter profético e transformador.
Nesse sentido, somos chamados a promover a renovação do caminhar da nossa Igreja: evangelizar e dar testemunho cristão; fazer acontecer o processo de iniciação cristã, catecumenato ou catequese permanente; viver o desafio de colocar a Palavra de Deus, a Bíblia, nas mãos do povo, promover a capacitação de agentes evangelizadores que possam evangelizar com uma metodologia e linguagem adequada, colocando a Palavra ao alcance de todos. Cuidar para que seja uma ação de toda a pastoral. Junto a toda ação pastoral a catequese, em seu processo evangelizador, não pode perder de vista seu aspecto vivencial, experiencial , celebrativo e mistagógico.
Neuza Silveira de Souza
Comissão para animação bíblico-catequética do Leste 2
In: Opinião e notícias 29.07.2018
No Evangelho, quando fala sobre a salvação, São Lucas a relaciona sempre com a pessoa de Jesus. Desde o início o leitor sabe que Jesus é o salvador (2,11; At. 5,31). Que Ele é a visita de Deus para beneficiar o seu povo.
Em Lucas, Jesus está sempre perto dos publicanos e dos pecadores. Percebe-se, em suas atividades, a prática de sua bondade e de sua misericórdia manifestadas de maneira particular em relação à mulher pecadora na casa de Simão (7,36-50). Também encontramos em Lucas a experiência de conversão vivenciada por Zaqueu, o chefe dos publicanos. Este é um exemplo da vontade de Jesus de reabilitar todos aqueles que vivem afastados de Deus, como indicam suas palavras: “Hoje a salvação entrou nesta casa” (19,1-10). No relato da morte de Jesus Lucas deixa claro o momento em que Jesus perdoa os seus perseguidores (23,34), prometendo o paraíso ao ladrão arrependido.
Aprendemos com Lucas que Jesus é aquele que sempre toma a iniciativa do perdão, manifestando que a salvação é um dom gratuito de Deus. A salvação de que Lucas fala está relacionada com as atividades de Jesus, seja por meio dos milagres, ou operando conversões, agindo pelo poder da palavra e ou dando orientações sobre o caminho da salvação. Jesus está sempre preocupado em salvar a pessoa toda, na sua totalidade, um ser integral.
O discipulado cristão
Os discípulos de Jesus reconhecem o dom doado da graça salvífica de Jesus e percorre com ele o caminho. Mulheres, homens, crianças são chamados para o discipulado, seguimento a Jesus no compromisso com o Reino de Deus (1,17-20), 2,14; 15,40-41).Trata-se de um Evangelho aberto para as nações, e o discipulado deve colocar-se nesse caminho.
O Evangelho aponta para as consequências, não apenas da práxis e do caminho de Jesus, mas também dos discípulos (8,31-9,1 – resistência e renúncia; 9,31-37 – ensino e serviço, 10,32-45 – inversão de valores e relações). Assim como o Evangelho de Jesus não objetivou pompa e glória, mas culminou na cruz, da mesma forma o discípulo deve se colocar a caminho em humildade e resistência.
Participar do Reino e da vida eterna depende, porém, da re-ação de cada pessoa ao chamado, á aceitação e à inclusão manifestas por Jesus, o Filho de Deus, por meio de anuência ou rejeição.
Quem se decide seguir Jesus manifesta-se numa nova práxis libertadora (1,31; 2,6-14; 6,12-13; 10,22; 15,40-41).
Os discípulos vão aprendendo na caminhada e nos acontecimentos que a fé é, pois, a atitude pedida ao ser humano para que a graça de Deus possa manifestar todo o seu poder libertador. Fé e salvação caminham juntos significando que a salvação é verdadeira na medida em que atinge a totalidade da pessoa, também na sua dimensão religiosa. Segundo Lucas, é possível amar somente porque a ação de Deus transformou o coração humano. Vários são os ensinamentos sobre a salvação transformadora, mas se torna evidente aquela ocorrida no interior de Zaqueu. Este realmente recebeu Jesus em sua casa com muita alegria e prometeu dar metade de seus bens aos pobres. Após essa transformação é que Jesus diz: “hoje a salvação entrou nesta casa”.
A perspectiva comunitária da salvação
No Evangelho também encontramos a perspectiva da salvação comunitária. Percebe-se que, por ocasião do nascimento de Jesus, os anjos anunciam uma grande alegria que é para todo o povo. Simeão, ao colocar os olhos no menino Jesus, reconhece nele a salvação para todos. Desde o início do Evangelho, Lucas deixa claro que a salvação é dirigida a todas as nações. O próprio Jesus confirma, profeticamente, que todos os povos terão lugar à mesa do reino de Deus. (13,29).
Os discípulos e as discípulas de Jesus conservaram, no coração e na memória, o que Jesus fez e ensinou. Eles sentiram -se chamados e escolhidos para fazer parte do novo povo de israel. E a partir da experiência de Jesus vivo no meio deles, pela ação do Espírito Santo, tornaram-se missionários ardorosos no mundo conhecido de então.
Neuza Silveira de Souza
Comissão para animação bíblico-catequética do Leste 2
O projeto de vida cristã educa-se e enraíza-se na adesão e no seguimento de Jesus, na vivência celebrativa de seu evento salvífico, na ética de um amor novo e na pertença à comunidade dos filhos e irmãos solidários. Seguir Jesus e estar no Reino supõe assumir nossa condição de filhos e irmãos, servos do projeto do Pai. O seguimento nos leva a assumir a pobreza evangélica como bem aventurança, a oração como tarefa permanente, o serviço como distintivo. Educar, pois, ao compromisso requer percorrer os caminhos do Reino. A Palavra nos dá a direção. Podemos percorrer caminhos a exemplos de: a purificação de Damasco, a solidariedade de Jericó, a experiência de Emaús, a experiência do encontro da Samaritana com Jesus, etc. A partir desses caminhos vai se construindo, na realidade concreta, um projeto de vida.
Essa construção tem como base a catequese evangelizadora. As palavras catequese, catequizando, catecúmeno, catecumenato, etimologicamente provêm do mesmo verbo grego ‘catequein’. Catequizar é fazer ecoar a Palavra de Deus. Assim, catequese e catecumenato são palavras que se comunicam mutuamente. O problema de nomes tem sua importância, mas é secundário.
Quando se fala de itinerário da Iniciação à vida Cristã, está se falando dos caminhos que se vai construindo para o amadurecimento da fé. Assim, para o adulto não batizado, a Igreja redescobriu a importância do catecumenato e dos elementos de iniciação. Como tempo para os adultos convertidos, candidatos ao batismo, tem-se a proposta do catecumenato. A palavra ‘catecumenato’ é para indicar a catequese e iniciação litúrgica dos adultos convertidos que desejam o batismo, pois o seu restabelecimento ao nosso tempo, além de corresponder a exigências pastorais de várias regiões e setores missionários, levará a uma renovação da teologia e da pastoral dos sacramentos. Essa renovação é uma volta ás fontes, à pedagogia da Igreja missionária da época patrística, de que está mais próxima à Igreja do mundo conturbado de nossos dias.
Para o adulto já batizado, mas que se encontra contextualizados num mundo em mudanças rápidas, profundas, universais e permanentes, eles se apresentam como grande desafio para a ação evangelizadora da Igreja e para a ação catequética. Muitas dessas pessoas têm dificuldades de conviver com outros, de estabelecer relações duradouras e sadias. Sentem-se fragmentadas, divididas, cheias de dúvidas, incertezas, medos. O mundo globalizado diante de tantas diversidades, o individualismo e o subjetivismo egoísta roubam o que há de melhor nas pessoas. Hoje não se tem tempo para as relações pessoais e interpessoais. Ninguém tem tempo para cuidar do outro, e nem quer; cuidar da natureza e, principalmente não quer cuidar do bem comum, daquilo que é de todos.
A catequese em busca da fé madura, precisa levar em conta diversos aspectos da realidade contextualizada e, ao mesmo tempo, aspectos referenciais no âmbito da compreensão da pessoa humana, catequizandas, que se abrem a um novo jeito de estar no mundo. Pessoas que desejam falar, interagir, expressar, melhorarem, colocar numa relação intersubjetiva, social, de fraternidade e solidariedade.
Hoje, as pessoas desejam articular e mobilizar pessoas. Muitos grupos se formam e manifestam suas insatisfações com tudo que desvaloriza a vida humana, a vida social, a vida da natureza, a vida do cosmos.
Quando se procura olhar ao redor, às periferias existenciais, como diz o Papa Francisco, quando se reconhece que o mundo que habitamos é plural, cercado de situações, pessoas, culturas, histórias, religiões e igrejas diferentes, percebe-se a necessidade de construção do Itinerário que vem contribuir para driblar as realidades presentes e se colocar num caminho sólido, na construção do projeto de vida.
Viver esse projeto, com compromisso e responsabilidade, é colocar-se no seguimento do Cristo e dar resposta ao mandamento novo que ele nos propõe: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei (Jo 15,12). A forma de amar Jesus e as necessidades e situações dos seres humanos são as coordenadas para a recuperação da natureza e da amplitude do amor cristão.
A adesão que se faz à pessoa de Jesus Cristo tem muito a ver com as aspirações mais profundas do ser humano. Do fundo do coração brota a conversão, mas a adesão afetiva que se faz à pessoa de Jesus Cristo desencadeará muitos outros compromissos: o interesse pelo evangelho, a preferência comunitária, o compromisso sócio político, a celebração da fé e o viver segundo a espiritualidade cristã. Nesse sentido, a catequese é ação evangelizadora, básica e fundamental na construção, tanto do discípulo, como da comunidade. É a catequese que dá o impulso para a ação missionária contínua e fecunda. E tudo isso percorrendo o itinerário proposto, caminhando junto e construindo caminhos possíveis para todos.
Neuza Silveira de Souza
Comissão para animação bíblico-catequética do Leste 2
A mistagogia deve estar sempre ligada à revelação e percorrer o caminho da Igreja na prática e na experiência, permitindo ao fiel aproximar cada vez mais do mistério divino, um encontro definitivo de toda a criação em Deus. O teólogo K. Hahner, em sintonia com a experiência da Igreja primitiva, nos afirma que a mistagogia deve estar presente em todo o processo de evangelização. É ela que orienta para que a evangelização não se detenha apenas na doutrinação, no ensino que parece vir de fora, daquele que fala e os outros só escutam. É necessário criar relações entre o pregador e o ouvinte, possibilitar diálogos.
Por meio da mistagogia, tem-se a compreensão da ação evangelizadora, pois é ela que permite vislumbrar o mistério da fé, através de experiências pessoais vividas na comunidade, partilhas realizadas, meditação da Palavra, oração e diálogo com Deus.
A vivência na comunidade
A convivência com membros e grupos da comunidade é fator predominante para a vida do iniciado que quer continuar fazendo a experiência mistagógica. É na vida de comunidade, realizando a prática dos costumes evangélicos que se vive a conversão à fé cristã, pratica a educação à oração, (lembrando sempre que a boca fala daquilo que o coração está cheio, conforme Mt 13,34), faz experiências penitenciais, torna a caridade atuante para com o próximo, e assim, dá testemunho cristão. Tudo isso acontece quando o catequista, ao realizar sua ação catequética, não se esquece de que o centro da experiência é: Jesus cristo, o filho de Deus que se encarnou e deu a sua vida por nós.
Falar de mistagogia é falar da vida da comunidade eclesial, em sua dimensão espiritual, litúrgica, pastoral, contemplativa e escatológica. Assim, o catequista, ao trabalhar a Iniciação junto aos seus catequizandos ou catecúmenos, não está apenas ajudando-os a adquirir um conhecimento, mas mergulhar numa vivência especial, que faz a pessoa passar a ser (não apenas saber) algo que atinge todos os aspectos de sua vida. É preciso que o conhecimento que adquire se transforme em experiência de fé que leve a um agir coerente. Sem uma ação bem fundamentada nos critérios do agir do Cristo, a fé se torna estéril.
A busca constante de tornar a fé mais coerente com a vida no dia a dia, e nas diferentes dimensões, nos remetem também à liturgia. Faz-se necessário que os gestos litúrgicos conduzem para um compromisso de caridade e para uma contínua conversão. A liturgia pode oferecer muito mais do que pedimos a ela. Nós encontramos mais do que procuramos. Hoje o ser humano não pode ser mais o destinatário passivo de nossas liturgias, mas a matéria com que elas são feitas. Uma liturgia em saída, para uma igreja em saída. Uma liturgia que leva o ser humano à continuação do Evangelho.
Na ação catequética com inspiração catecumenal, buscando orientações no RICA, Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, nele encontramos no n. 48 uma função importante de atuação litúrgica dos catequistas como parte ativa nos ritos, para o progresso dos catecúmenos e ou catequizandos e o desenvolvimento da comunidade.
Segundo o RICA os catequistas tem forte atuação litúrgica no caminho catecumenal:
• Segundo os n. 106-108, os catequistas podem presidir as celebrações da Palavra de Deus.
• Quando estes são presididos pelos ministros ordenados, os catequistas terão sempre que possível parte ativa nos ritos (RICA 48).
• Fazem orações, pedindo pelos catecúmenos e ou catequizandos e invocam as bênçãos de Deus sobre eles. Conforme ainda este ritual, com aprovação do Bispo, realizam os exorcismos (RICA 44 e 109).
Embora a dimensão litúrgica tenha muito importância, não se pode esquecer que o catequista deve dar testemunho de todas as dimensões da vida pessoal e eclesial.
Neuza Silveira de Souza
Comissão Bíblico-catequética do Leste 2
In: Opinião e Notícias 6.07.2018
Iniciação Cristã é o processo gradual de fé realizado pelo convertido, com a ajuda de uma comunidade de fiéis, para tornar-se membro da mesma por meio dos sacramentos de entrada e a força do Espírito de Jesus Cristo, enquanto que a catequese é a educação gradual da fé cristã, compreendida, celebrada e testemunhada. O conteúdo da nossa religião, o cristianismo, compreende dois pólos fundamentais: a fé conversão e a práxis mistérica que nos dá uma identidade com Cristo, dentro da comunidade cristã.
Nesse sentido podemos compreender que a religião dos cristãos, o cristianismo, consiste numa fé e numa prática. Ao ser iniciado na fé pela recepção dos três sacramentos: Batismo, Confirmação e Eucaristia, tem-se acesso à experiência do Mistério de Cristo. Estes três sacramentos são os que nos inserem na plenitude cristã. Os sacramentos já não são mais ponto de chegada, e sim entrada na vida em Deus (Batismo), consolidação da opção cristã (Confirmação) e alimento da caminhada (Eucaristia), exigindo um processo de formação mais amplo.
A Iniciação Cristã é Ritual, Permanente e Escatológica.
Todo cristão é iniciado na fé cristã pelos três sacramentos. Assim, pode-se dizer que a Iniciação Cristã é ritual, permanente e escatológica.
A iniciação é ritual por que acontece por meio de um rito sacramental. Nesse rito, a Igreja revela, atualiza e celebra Cristo, o primeiro sacramento do Pai, no batizando. O rito é acompanhado da Palavra de Deus e expressa suas duas dimensões: sua durabilidade e instantaneidade.
Dizemos que o sacramento é permanente porque ele significa compromisso com Deus. É uma aliança com Deus que o torna definitivo e duradouro. O Batismo e a Confirmação são sacramentos que só se recebem uma vez na vida.
Os sacramentos da Iniciação Cristã são também escatológicos. A pessoa é batizada na perspectiva do batismo de Jesus que se torna efetivo em sua morte e ressurreição. O batismo é sinal de vida nova e por isso é antecipação de uma plenitude final. É batismo na esperança. Somos batizados na morte de Cristo e com ele ressuscitados para uma vida nova. Como já nos dizia Tertuliano, por volta dos anos 220, não se nasce cristão, é preciso tornar-se cristão. Isto requer uma caminhada longa de conhecimento e aprendizagem. É a catequese que irá contribuir para o fortalecimento da fé nesse percurso. Vai-se construindo um itinerário pessoal e uma vivência comunitária. A cada etapa vai-se beneficiando de aprendizagens e experiências que ajudam no processo de conversão cotidiana, ou seja, deixar-se entrar no mistério de Deus, sem deixar de viver a vida humana.
O catequista no seu ofício de evangelizar
Os catequistas têm este papel importante: ir evangelizando assim como Jesus fez. Jesus ensinava através de palavras, gestos, imagens e experiências vivenciais, a partir da realidade de cada um para uma nova vida em Deus.
O Catequista vai ensinar a partir dos fatos essenciais da vida de Jesus e de seus ensinamentos. Ajuda as pessoas nas suas buscas pessoais do sentido e significado da sua própria existência. A convivência no meio da comunidade ajuda as pessoas a tornar-se membro da Igreja, a descobrir-se como Igreja, aprofundar-se em sua própria fé, participar da liturgia e receber os sacramentos da Iniciação Cristã.
No percurso que se vai fazendo, num clima ‘comunitário, orante, celebrativo, meditativo, participativo, dialogante e de compromisso’, são trabalhados paulatinamente os grandes eixos da vida nova em Cristo Jesus. Eixos esses que são básicos para a fé cristã e podem ser sintetizados em três pontos: Conhecer os quatro pilares do catecismo da Igreja Católica: Credo, Sacramentos, Mandamentos e Oração. Valorizar cada um desses pilares que dá a densidade teológica, espiritual e pastoral da fé cristã; conhecer a doutrina, não apenas como doutrina, mas como alimento e embasamento da vida cristã.
O segundo ponto, trabalhar as três etapas da história da salvação: o Antigo Testamento, o Novo Testamento e a história da Igreja. Considerar que não se trata de um curso de teologia, mas meditar e assimilar os conteúdos utilizando-se de uma pedagogia da fé; a pedagogia de Jesus (ver a realidade, escutar, orientar e propor um novo jeito de ser) numa linguagem cristológica e pastoral. Lembrar que são conteúdos para o adulto. Se este não tem ainda os sacramentos, cuidar para que o mesmo vá fazendo o processo gradativo do itinerário da fé conversão, perpassando pela mistagogia e continuando na práxis mistérica, ou seja, à ação do discípulo missionário que celebra o Mistério de Cristo, vive-o e caminha com a comunidade. Muitos adultos já são sacramentados, mas não tiveram oportunidade de conhecer e experimentar a essência da vivência cristã. Eles também são considerados os interlocutores das catequeses mistagógicas.
O terceiro ponto é a própria vida comunitária, segundo o mandamento do amor. Jesus nos deu o sinal distintivo do cristão: “Nisto todos saberão que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13, 34-35). E Aparecida diz: “O encontro com a comunidade é encontro com Jesus Cristo”.
Amadurecidas na fé, as pessoas colocam-se a caminho da conversão, se reconhecem como comunhão, celebram a liturgia e, inseridos na realidade do mundo, dão testemunho de sua própria fé na sociedade. Essa experiência de vida comunitária configura o cristão e a própria Igreja.
Neuza Silveira de Souza
Comissão Bíblico-catequética do Leste 2
Para entender bem os sacramentos, faz-se necessário observar a história da salvação e ali situar o significado da obra salvífica de Cristo, em si mesma e em sua dimensão histórica.
Os Sacramentos, do Pentecostes à Parusia, são os sinais que comunicam o mistério de salvação realizado em Jesus. A Igreja tem Cristo como cabeça (cl. Cl 1,18) e os Sacramentos edificam a Igreja como “Corpo de Cristo” neste mundo.
Ao falar de sacramentalidade, os santos Padres citam os acontecimentos do Antigo e do Novo Testamento, como também das celebrações da Igreja. Desse modo, expressam como a revelação de Deus se realiza no tempo e por meio de sinais. Segundo Paulo, Cristo é o “mistério-sacramento” de Deus, pois nele está a manifestação plena e histórica do desígnio de Deus (cf. Ef 3,9; Cl 1,27).
A riqueza dos Sacramentos na vida da Igreja
Pode-se dizer que os sete Sacramentos estabelecidos pela Igreja para dar sentido à nossa vida cristã, não compreendem totalmente toda a riqueza de Jesus Cristo e da Igreja. Os cristãos devem ser educados, catequizados, evangelizados a compreenderem a riqueza da fé para além de seus limites e perceberem todos os sinais presentes no mundo, que nos convidam a se colocar no seguimento do Cristo.
Jesus Cristo, por sua vida, sua obediência e seus gestos de bondade, é o sacramento por excelência, pois Nele se culmina toda a história da salvação. Ele encarnou e trouxe para dentro de nossa história o plano salvífico de Deus. Ele é o Sacramento Vivo de Deus. “Ele é a forma visível do Deus invisível” (Cf. Cl 1, 15).
A Igreja, como sacramento de Cristo, celebra a salvação em todo tempo e lugar. Os Sacramentos da Igreja comunicam o que significam em relação a Cristo: cada um deles são momentos do grande sacramento que é Jesus, e realizam em cada crente a salvação de Cristo.
Assim, os Sacramentos apontam para o que é fundamental. E o fundamental é a fé, ou seja, a vida cristã. Então, o grande valor dos Sacramentos está no fato de serem sinais da fé cristã.
Toda a Igreja se alegra com aqueles que buscam o Sacramento da Iniciação Cristã e com aqueles que, já iniciados na fé, celebram os Sacramentos em Cristo e retoma a consciência de serem renascidos pela água e pelo Espírito, e de fazer parte da mesa, anunciando a morte e ressurreição de Jesus.
Renascer da água e do Espírito! Eis a graça que recebemos do Pai, por Jesus Cristo e pelo seu Espírito. Vivenciar esse momento é adentrar no mistério pascal. Nele acontece a passagem de Cristo deste mundo ao Pai, passagem que se deu na “quenose” filial, pela qual Jesus foi glorificado à direita de Deus e comunica o Espírito Santo.
Como diz a Carta aos Hebreus: Jesus entrou, por nós (do outro lado da cortina do santuário), como precursor, tendo-se tornado “Sumo Sacerdote” para sempre. Por essa razão Jesus é capaz de salvar definitivamente aqueles que se dirigem a Deus por meio Dele. De fato, Jesus está sempre vivo para interceder em favor de nós (Hb 6,19-20; 7,25).
Jesus não foi considerado sacerdote em sua vida terrena. Contudo, a fé-cristã, depois de sua morte e ressurreição, interpretou seu sacrifício como culto oferecido a Deus. O sacerdócio de Jesus é existencial, e não propriamente ritual. Ele é sacerdote por que:
• Se aproxima dos que sofrem, porque é solidário com eles (cf. Hb 2,17-18; 4,14-15);
• Partilha do sofrimento dos irmãos, podendo então ajudá-los;
• É sacerdote em virtude da entrega da própria vida ao Pai, entrega essa realizada na morte (cf. Hb9, 26), mas vivida igualmente em cada instante de sua existência (cf. Hb 10,5-10);
• Se entrega aos irmãos (cf. Hb 9,11-18), no amor-serviço que culmina com a morte;
• Jesus é o sacerdote que oferece a si próprio, que oferece a própria vida, sem ruptura entre culto e vida cotidiana. O sagrado não está separado do humano (cf. Hb 13,16).
Jesus, no seu jeito de ser, demonstra seu grande amor por nós. Ele nos acompanha desde o nosso nascimento até a nossa morte, ou seja, nossa volta para Ele. E o nosso jeito de perceber o seu amor por nós e vivenciá-lo, é através dos sinais deixados por Ele. Assim vive o cristão, na esperança da ressurreição, que se dá no cotidiano, em seus esforços na constante renúncia do pecado e da morte e na permanente aceitação e vivência da vida nova em Cristo.
Neuza Silveira de Souza
Comissão bíblico-catequética do Regional Leste 2
Uma catequese que acolhe e orienta o ser humano
O RICA – Ritual de Iniciação à vida Cristã refere-se a um Ritual Litúrgico que oferece, como prioridade, a dimensão litúrgica da catequese, quando fala e propõe ações de Iniciação Cristã ou Iniciação à Vida Cristã. E, evidentemente, falta complementá-lo com tudo o que se refere diretamente: ao embasamento antropológico da Iniciação, à Evangelização ou Kerigma e à Catequese ou Catecumenato. O importante é chegar à opção pessoal por Jesus, ser seu discípulo missionário, membro da sua Igreja Peregrina, sempre em saída.
A nossa fé cristã tem por base a Ressurreição de Jesus Cristo, ou seja, só falamos de fé cristã, a partir da Ressurreição. Mas, ao falarmos da centralidade de Jesus Cristo na catequese, conhecer e seguir Jesus de Nazaré, além de aceitarmos e reconhecê-lo como o Cristo da fé, ou seja, aceitar sua divindade, também hoje, necessitamos estar atentos para a aceitação de sua humanidade. Isto porque nos tornamos mais divinos, conforme nos fazemos humanos, assim como Jesus o foi. Utilizando-se das Palavras do Mestre José M. Castilho, que diz: “só é possível alcançar a plenitude do ‘divino’ à medida que nos empenhamos para conseguir a plenitude ‘do humano’”. Isto porque, nós humanos, possuímos uma capacidade simbólica e somos capazes de, por meio dela, expressar nossas experiências simbólicas. O simbólico precede a linguagem, a ideia, o conhecimento. Os símbolos determinam o que são nossas vidas, enquanto vidas humanas.
Quem somos nós seres humanos? Somos “obra prima de Deus”. Assim nos diz a Bíblia, ao descrever a criação do ser humano (homem e mulher): “Deus completou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom, pois foram criados à imagem e semelhança de Deus”. (cf. Gn. 1,26-31). Assim, o homem e a mulher não são simples coisas, mas filhos e filhas de Deus e irmãos uns dos outros. A criação e a dignidade da pessoa humana é o primeiro livro da vida. Quando a catequese aprofunda o sentido da pessoa humana, não deve começar pelo homem pecador, mas pelo amor misericordioso de Deus que cria por amor e ama sua criação. Seu amor acolhe, perdoa, atrai para si a sua criação.
Deus ama tanto o ser humano que lhe enviou seu Filho amado (cf. Jo 3,16) para estar no meio de nós, conviver conosco, assumindo a nossa condição humana. Seu Filho amado fez a experiência de ser gente assim como nós, de sentir a vida, a dor, a fome, a lágrima (cf. Fl 2, 5-11), e tudo isso para que nós pudéssemos experimentar a beleza de ser filho de Deus. Jesus, no meio de nós, dizia da sua missão: “eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
A catequese com os adultos não batizados ajuda-os a percorrer o caminho de Jesus recordando as maravilhas de Deus operadas no passado, mas à luz da Revelação, interpreta os sinais dos tempos e a vida presente dos homens e das mulheres, uma vez que é neles que se realizam os desígnios de Deus para a salvação do mundo. Os sinais dos tempos ajudam o homem de hoje a entender e situar-se na sua própria história, a vida de Jesus narrada nos Evangelhos, uma história de vida capaz de transformar a mente e os corações das pessoas. Essa história revelada está nas Sagradas Escrituras e também na memória da Igreja e nos é transmitida através da catequese.
A catequese, num ato integrador, proporciona a vivência da experiência humana com a Palavra de Deus, a profissão de fé, a oração e a celebração, a vida comunitária e os compromissos cristãos. Assim, não se trata apenas de um aprendizado individual de um conteúdo da fé, mas de uma experiência comunitária, social e integradora da vida das pessoas que almejam viver a vida em Cristo.
Para os iniciantes que desejam percorrer esse caminho, a Igreja oferece um tempo especial na sua caminhada que é o tempo quaresmal. Esse tempo tem lugar privilegiado na história da Igreja e da sua liturgia, um tempo de ajudar os catecúmenos a fazerem uma experiência adequada de preparação espiritual para a recepção dos sacramentos da iniciação: Batismo, Crisma e Eucaristia os quais os introduzem no mistério pascal possibilitando-os a se adentrarem na vida querigmática e mistagógica da Igreja, isto é, a viver uma vida em Cristo para o anúncio missionário do Evangelho, testemunhando a alegria de ser cristão e participando da vida litúrgica e espiritual dos cristãos já confirmados na fé.
Neuza Silveira de Souza
Comissão para animação Bíblico-Catequética do Leste 2
Uma catequese para os adultos não batizados
Falar de Iniciação à vida Cristã, estamos falando da participação humana no diálogo da salvação. Somos chamados a ter uma relação filial com Deus. Um Deus Trino cuja Trindade é uma relação amorosa que define o próprio Ser de Deus. A Trindade nomeia como Deus é para nós. Está sempre a nos recordar que, enquanto vivenciamos os relacionamentos como algo que, ou estamos entrando ou estamos nos retirando, Deus não entra em relações. Com efeito, Deus não tem absolutamente relações; Deus é relacionamento perfeito. “Deus é essencialmente relacional”.
Mais do que isso, se Deus é relacionamento perfeito, e nós somos criados à sua imagem, então a doutrina da Trindade está preocupada com a nossa vida também. Somos convidados pela graça divina a entrar neste modo de relação amorosa que define o próprio ser de Deus. Assim, a Trindade evoca um Deus cujo ser é caracterizado por um movimento eterno em direção a nós em um amor redentor. Ao mesmo tempo ela nomeia o nosso movimento em direção a Deus. Nessa relação Trindade, Jesus, o Filho amado, vem nos revelar esse amor de Deus por nós nos colocando na condição filial do Pai.
A catequese e a Revelação têm sempre uma relação estreita. Determinada maneira de fazer catequese é reflexo de determinada maneira de conceber a Revelação. Esta relação entre ambas é normal: a catequese como ministério eclesial a serviço da fé, intenta abrir ao catequista o caminho para o encontro, o conhecimento e a recepção do Deus de Jesus Cristo, ou seja, o catequista tem como tarefa própria, comunicar a Revelação de Deus ao homem de hoje. Assim, a catequese tem por obrigação dar-se a conhecer Jesus Cristo. Ele é o conteúdo da catequese, pois a Revelação tem como conteúdo Deus e o homem concreto. O homem não é somente destinatário da Revelação. É, sobretudo, conteúdo. Assim, Deus revela-se unicamente quando é reconhecido e recebido pelo homem.
Nós humanos atuais, a partir do testemunho daqueles que nos precederam na fé, somos chamados a descobrir, reconhecer e receber o Deus de Jesus Cristo hoje, que se dá a partir do nosso encontro pessoal com ele. Nele chegou a plenitude do amor de Deus. E tudo o que quiser saber dele, passa pelo testemunho que dele deixaram os apóstolos. Mas sabemos que os apóstolos não explicitaram toda a riqueza do acontecimento de Cristo. É tarefa da Igreja explicitá-la ao longo da história até a consumação final dela (Parusia). Assim é que nos diz Salvador Pié i Ninot sobre a Revelação de Deus, no Dicionário de Catequética.
Quem abre a história da Revelação é o Espírito Santo, levando a Igreja a descobrir gradualmente a verdade de fé. O Espírito Santo age na Igreja como verdadeiro corpo profético, Igreja que é Sacramento do Cristo. O povo de Deus, ou seja, as comunidades, é que irá atualizando o acontecimento Cristo: crianças, jovens, adultos, os homens, as mulheres, os pobres… A história humana é a história da salvação.
Nessa história, na vivência do amor de Deus Trino, é que a iniciação cristã nos coloca. Assim nos diz o documento 107 da CNBB: ao ser batizado, o iniciando começa a caminhada para Deus, que irrompe em sua vida, dialoga e caminha com ele. Essa vida nova, essa participação na natureza divina, constitui o núcleo e coração da Iniciação à vida Cristã. Somos incorporados ao Mistério Pascal de Cristo quando da recepção dos três sacramentos da Iniciação: Batismo, Crisma e Eucaristia.
A estrutura do itinerário do RICA, apresentada no artigo anterior, nos ajuda a fazer a caminhada de Inspiração catecumenal com os adultos ainda não batizados, introduzindo-os no conhecimento dessa história da salvação, ou seja, na vivência da fé cristã na comunidade Igreja, pois é nela, na Igreja, que podemos falar de Iniciação à vida Cristã.
A Comunidade exerce papel importante oferecendo ajuda aos catecúmenos para juntos fazerem a experiência do caminho até Jesus. É um itinerário gradual, passo a passo que, no Espírito, vai aperfeiçoando a identidade do discípulo de Cristo. Daí, todo os membros da Igreja são chamados a testemunhar Jesus Cristo.
Já é sabido que o RICA não é um livro catequético, centrado no conteúdo doutrinal a ser transmitido, mas um livro litúrgico com ritos, orações e celebrações que dá uma visão inspiradora de uma catequese que envolve a pessoa no seguimento de Jesus Cristo, a serviço do Reino, expresso na vivência dos sacramentos de Iniciação Cristã. Essa inspiração catecumenal ajuda a catequese e seus catecúmenos a se integrar na vida da comunidade e adentrar-se no Mistério Pascal de Cristo.
Neuza Silveira de Souza
Comissão bíblico-catequética do Leste 2
Uma catequese para os adultos não batizados
Uma catequese para os adultos não batizados nos transporta para uma realidade na qual Jesus está batendo à porta e o batizando, iniciante, é aquele que vai abrir a porta da Vida Nova em Cristo, com Cristo e por Jesus Cristo para a Glória do Pai, no amor do Espírito Santo.
Abrir a porta é ingressar na vida da Comunidade Cristã. Esse é o momento fundante da Vida Cristã de uma pessoa, de tal modo que essa experiência “configura” o cristão. Esse ingresso na vida comunitária foi pensado pela Igreja como “Iniciação”, um longo itinerário, um longo caminho que a pessoa percorre, “acompanhada” por diversos membros da comunidade.
Desde os primeiros séculos a iniciação dos adultos se desenvolveu e foi ganhando formas em uma sequência de ritos preparatórios que foram marcando a caminhada das pessoas que assim desejavam se converter à fé cristã. Esta prática que teve seu ponto alto nos séculos II e III. Tinha por finalidade “instruir no mistério da salvação, nos exercícios dos costumes evangélicos e, mediante ritos próprios, introduzir na vida de fé, na liturgia, na caridade e na vida comunitária” (CIC 1248).
O Catecumenato chegou ao seu auge no período áureo da Igreja, por volta do século IV. Uma prática catequética que se desemboca na celebração dos sacramentos da iniciação cristã. Esses sacramentos eram, e continuam sendo situados dentro da história da salvação, por meio de uma catequese mistagógica, a qual relê e revivem todos estes grandes acontecimentos da história da salvação no “hoje” da sua liturgia.
A prática da catequese mistagógica, que quer dizer ‘deixar-se conduzir para dentro do Mistério Pascal’, procede da visibilidade dos símbolos e sinais visíveis para a vivência do invisível, do significante àquilo que é significado, dos “sacramentos” aos mistérios.
É uma catequese que tem como centralidade o encontro pessoal com Jesus Cristo. Nesse sentido, ela ajudará a descobrir, por detrás da humanidade de Jesus, a sua condição de Filho de Deus; por detrás da história da Igreja, o seu mistério como “sacramento de salvação”; por detrás dos sinais dos tempos, as pegadas da presença de Deus e os sinais do seu plano.
A Iniciação Cristã, de acordo com a proposta de catecumenato de jovens e adultos, não se limita à celebração dos sacramentos. A iniciação é a imersão e participação no mistério pascal e se realiza sim através dos sacramentos, mas com a mediação da comunidade e da resposta de fé da pessoa que faz a caminhada. É bom relembrar a quem se destina o catecumenato de iniciação cristã. Em primeiro lugar a jovens e adultos não batizados.
O ritual, por sua vez, propõe o caminho catecumenal também para os jovens e adultos que se preparam para a Confirmação e a Eucaristia (RICA, n. 295), mas ressalta a situação dos mesmos que não é igual à dos primeiros, pois esses já foram introduzidos na Igreja pelo Batismo, embora seja necessária a catequese para ajuda-los a crescer na fé.
A Igreja, desde o Vaticano II propõe a experiência catecumenal, mas de forma adaptada à realidade do nosso tempo. Nesse sentido, a Igreja, diante da sua necessidade de processos de iniciação para evangelizar e formar discípulos missionários que, de fato, assumam o projeto do Reino, ela nos convoca para o ‘fazer catequético’, com a inspiração ao processo exposto no RICA, um documento que orienta a restauração do catecumenato dos adultos dividido em vários tempos e etapas, como decretado no Vaticano II, e abaixo apresentado.
O RICA (Ritual de Iniciação Cristã de Adultos) enriquece a pastoral orgânica da Igreja, com sua estrutura.
Kerigma – Primeiro Anúncio
(1º Tempo);
A) Celebração de transição (1ª Etapa).
2 – Catequese – síntese da fé cristã, boa formação bíblica e teológica de base (2º Tempo);
B) Celebração de Transição (2ª Etapa).
Formação ética e moral (Purificação);
4 – Sacramentos da Iniciação Cristã (3º Tempo);
C) Celebração de transição – Vigília Pascal (3ª Etapa).
5 – Mistagogia – aprofundamento nos mistérios celebrados (4º Tempo);
6 – Vida comunitária, inserção na Igreja
7 – Vocação e missão;
8 – Espiritualidade;
9 – Formação Continuada ou Permanente;
10 – Vida de Oração.
Esta é como que a “estrutura” sobre a qual vai se tecendo a trama da vida nova em Cristo, o grande objetivo da Iniciação à Vida Cristã.
Partir dessa estrutura e adequá-la à nossa realidade como processo de inspiração catecumenal iniciático na evangelização é o nosso desafio.
No passo a passo do desenvolvimento dessa estrutura, com inspiração catecumenal em nossas catequeses para as diversas realidades dos interlocutores, vamos fazendo ecoar a Palavra de Deus que possibilita o desabrochar da graça batismal a cada um deles que se colocam no seguimento do Cristo vivendo a experiência de uma Igreja mistagógica e materna, na descoberta dos sinais do Evangelho, assim como dos grandes acontecimentos salvíficos.
Neuza Silveira de Souza
Muito se tem falado sobre uma Catequese de Iniciação à vida Cristã de Inspiração Catecumenal. Muito também se tem escrito sobre o tema. Os desafios para que a mesma se torne efetiva estão cada vez maiores.
Desde o concílio Vaticano II, a Igreja convoca os catequistas a adotar um novo jeito de fazer catequese. Pensar uma catequese com adultos, cristocêntrica, de Iniciação à vida de fé em comunidade, uma catequese transformadora e libertadora, quando a mensagem da fé, iluminando a existência humana, forma a consciência crítica diante das estruturas injustas e possibilita uma ação transformadora da realidade social.
Aprendemos que a catequese carrega consigo a tarefa de introduzir o cristão no mistério da vida do Cristo ressuscitado. Que ela seja inculturada, ou seja, consiga assumir os valores da cultura, a linguagem, os símbolos, a maneira de ser e de viver do povo nas suas diversas expressões cultural. Que seja uma catequese integrada com as outras pastorais fazendo da Igreja particular toda ela de inspiração catecumenal. Assim, a catequese, enquanto atividade específica faz-se presente em todas as pastorais. Esteja presente na vida e na fé da Igreja, seja celebrada na liturgia e se expressa na prática pastoral das comunidades.
O Diretório Nacional de Catequese descreve alguns desafios que nos provocam para bem exercer a tarefa de catequizar, ou seja, de anunciar o evangelho fazendo ecoar a Palavra de Deus nos diferentes caminhos que se desponta para fora das portas da Igreja, ou seja, ser uma Igreja em saída, como nos convida a ser, o Papa Francisco.
Alguns desafios que se encontram no DNC:
• Cria uma unidade na pastoral catequética, organizando melhor a catequese nos diversos níveis (regional, diocesano, paroquial).
• Formar catequistas como comunicadores de experiências de fé, comprometidos com o Senhor e sua Igreja.
• Fazer da Bíblia realmente o texto principal da catequese.
• Suscitar nos catequistas e catequizandos o sentido do valor do valor da celebração litúrgica, da dimensão orante da catequese e o amor pela comunidade.
• Assumir o processo de inspiração catecumenal como modelo de toda a catequese e, consequentemente, intensificar o usos do Ritual de Iniciação Cristão de Adultos.
• Orientar a catequese para que seja ela instrumento de inserção dos catequizandos no mistério de Cristo e na vida da Igreja.
Refletindo sobre esses desafios que continuam nos dias de hoje, somos convocados para fazer acontecer uma transformação no jeito de se fazer catequese. Ajudar a comunidade a despertar-se para o valor de uma catequese transformadora que evangeliza para a vivência dos valores evangélicos e para o compromisso missionário e social da fé. Oferecer uma catequese de inspiração catecumenal aos adultos não batizados, aos adultos batizados, mas que necessitam de um aprofundamento da fé, aos jovens, adolescentes e crianças. Oferecer uma catequese de Iniciação Cristã de toda comunidade, fazendo dela o lugar privilegiado de comunhão, que se desenvolve a partir da participação de todos os membros do Povo de deus, leigos, religiosos, diáconos, presbíteros e bispos.
Marcas do nosso tempo, uma realidade a ser evangelizada
Uma das surpresas dos tempos atuais é o que chamamos de “volta ao sagrado”. Diante da realidade atual esperava-se das pessoas um afastamento cada vez mais do sagrado, mas o que está acontecendo é o contrário. Há uma fome tão grande do sagrado que até expõe as pessoas a charlatanismos diversos. Vale tudo: tarô, leitura de mão, cristais, práticas vindas de religiões orientais… As pessoas procuram uma solução para seus problemas pessoais, procuram energias positivas para enfrentar a vida. Basta olhar os diversos programas religiosos na TV.
Nota-se que muitos procuram satisfazer sua religiosidade fora de uma instituição, ou atravessam com facilidade diferentes tradições religiosas sem firmar-se em nenhuma delas, consequentemente descomprometidos com seus valores e exigências. Tal vivência se funda unicamente na experiência pessoal do sagrado, em geral com forte carga mística, emocional e envolvente buscando o maravilhoso.
O pluralismo religioso – Esse é outra marca dos nossos tempos. Existe um pluralismo dentro da nossa própria Igreja. Nem todos pensam da mesma forma, mesmo em campo doutrinal. Isto traz preocupações e conflitos no seio da Igreja. Vivemos hoje conflitos de modelos eclesiológicos que afetam as relações pessoais, a pastoral e a presença profética da Igreja na sociedade. Necessita-se de diálogo dentro da Igreja para que espiritualidades diferentes unam forças em vista do essencial.
A violência – Um problema angustiante é, atualmente, a violência. Os presídios estão superlotados. As crianças vagam pelas ruas e são iniciadas na violência. Os cidadãos sentem-se presos, enquanto os criminosos andam soltos. O tráfico de drogas, causa de muita violência, aumenta. Por outro lado, existe a “impunidade” que protege aqueles que praticam a corrupção em alta escala, os altos salários e mordomias daqueles que governam, enquanto o operário não tem um salário digno. As grandes diferenças sociais, sem previsão de solução por parte do governo, são uma das principais causas da miséria e marginalização do povo.
Pergunta-se: o que tudo isso tem a ver com a catequese com adultos?
Diante dessa realidade, a Igreja é chamada a pensar em novas formas, métodos próprios e expressões diferenciadas para a realização do processo de evangelização junto à comunidade. há a importância de uma Catequese com Adulto. Vários estudos, congressos, seminários tem-se realizado com o intuito de aprofundar a questão e melhor responder à questão de uma catequese que considere o adulto como sujeito do seu processo de formação e de seguimento comprometido com a pessoa e a causa de Jesus Cristo, inserido na vida comunitária e na sociedade. A Igreja do Brasil propõe como modelo uma catequese de inspiração catecumenal.
Mas o que é uma catequese de Inspiração Catecumenal? Nos nossos próximos encontros vamos trabalhar o processo de uma catequese catecumenal dos inícios da Igreja e quais elementos dela podemos nos apropriar para fazer uma boa catequese nos dias de hoje. Uma catequese querigmática e mistagógica que tem a centralidade em Jesus Cristo.
O adulto que crê que tem confiança no Deus revelado por Jesus Cristo é aquele que está sempre a buscar o verdadeiro amor de Deus. Procurar conhecer o significado dos gestos, das palavras e dos sinais realizados por Jesus é o objetivo do nosso caminho de fé. Conhecer Jesus é um grande presente para todos os cristãos. Ele trouxe para o meio das pessoas a demonstração de que Deus é amor e ama toda a criação. Ele vem ao encontro das pessoas e deseja fazer comunhão com elas. Os adultos na fé são aqueles que podem buscar esse conhecimento de Deus e transmitir aos demais.
Neuza Silveira de Souza
Comissão Bíblico-Catequética do Regional Leste 2
Não se pode perder de vista o que se pretende fazer na nossa catequese. Seu objetivo nada mais é do que fazer chegar a mensagem de Jesus, mensagem de vida e de felicidade, aos nossos catequizandos. A catequese tem tudo a ver com a vida concreta de cada um(a). Não é uma doutrina complicada a ser colocada na cabeça e ser decorada. Mas, é uma valiosa orientação para a vida de cada dia, no ambiente concreto, para se chegar à plenitude da vida cristã.
A mensagem de Jesus transmitida a partir de um processo iniciático nos coloca inseridos em uma nova realidade a qual significa percorrer o caminho da vida, paixão, morte, ressurreição, ascensão, envio do Espírito Santo e retorno glorioso. Isto é, os catequizandos são introduzidos no mistério Pascal.
Qual o melhor método para alcançarmos nosso objetivo?
Também não podemos perder de vista que a metodologia aplicada para apresentar o conteúdo da catequese, considerando a dinâmica do encontro está no Diretório Nacional de Catequese que indica, como orientação, o conhecido método “VER – JULGAR (ou Iluminar) – AGIR – CELEBRAR – REVER (DNC cf. n° 157)”. Este método se aplica a qualquer tipo de catequese, seja para crianças, adolescentes, jovens ou adultos.
O encontro catequético é um anúncio da Palavra e está centrado nela, mas precisa de toda uma preparação do ambiente, atenção aos símbolos, o cuidado com cada um dos catequizandos, uma acolhida alegre e um conteúdo bem preparado que proporciona a integração de todas as dimensões da pessoa num processo de crescimento gradual e vivencial que o insere no caminho comunitário cristão e na vida da Igreja.
A vida cristã é um novo viver que requer um processo de passos de aproximação, mediante os quais a pessoa aprende e se deixa envolver pelo mistério amoroso do Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. Ela desperta para novas relações e ações. Nesse sentido, o encontro catequético, se bem preparado em seus passos, pode contribuir para a inserção da pessoa na vida comunitária e social.
O encontro catequético apresenta o seguinte desenvolvimento:
1. VER: Olhar a vida, a situação dos catequizandos, os problemas e dificuldades encontrados, as dúvidas e perguntas existentes, experiências vividas. Através de um diálogo aprofunda-se a realidade, analisando causas, atitudes etc.
2. ILUMINAR a realidade com a Palavra de Deus: o que Deus nos diz, como encarar o problema, como descobrir a mensagem de “libertação”.
3. CELEBRAR. Encontrar-se com Deus na oração, interiorizando a mensagem.
4. AGIR. Voltar novamente à vida concreta, mas com olhos diferentes, com os olhos da fé, com uma mudança de mentalidade, assumindo o compromisso de viver concretamente a mensagem recebida.
5. REVER: de vez em quando, se faz, em equipe, uma avaliação do processo catequético.
Nesse novo projeto catequético que inicia o catequizando para a vivência da fé, inserindo-o no Mistério do Cristo ressuscitado, a pessoa do catequizando, seja ela criança, jovem ou adulta, aprende a caminhar percorrendo o itinerário proposto por Jesus que se encontra em seus ensinamentos nas Escrituras, principalmente, no Novo testamento.
Para inserir a catequese no processo de Iniciação à vida Cristã, buscando inspirar-se no modelo da catequese catecumenal dos primeiros séculos, sabemos que se trata de um processo que requer novas disposições pastorais. Necessário se faz que a Igreja como um todo se insira nesse processo de inspiração catecumenal, e as pastorais se envolvam, abram-se aos novos sinais dos tempos, façam escolhas corajosas, propiciando a transformação para a vivência de um novo paradigma: que todos possam experimentar uma Igreja aberta, de saída, inclusiva, onde todos participam do Mistério Pascal e se deixa impregnar-se desse Mistério, essência da fé cristã.
Neuza Silveira de Souza
Comissão Bíblico-Catequética do Regional Leste 2 (Minas e Espírito Santo)
Ser iniciado na fé cristã é ser marcado pela experiência mística da fé, em que o ser humano, na busca de respostas e sentido para a sua existência se vê envolvido em nova relação pessoas e grupos construindo um itinerário para além da participação litúrgica celebrativa da fé cristã. E nesse caminhar, percebe o desvelar de todo o mistério.
Abrir-se para a plena identificação com Cristo na comunidade eclesial postula uma pedagogia adequada à sua natureza e ao seu fim.
Pedagogia é a arte de conduzir, de ensinar, de aprender, de crescer juntos. Os melhores “mestres”, além de dominar a matéria e de usar recursos vários, são os que estabelecem uma relação positiva com seus “alunos”. Ouvir, dar atenção, ser amigo, ter empatia são atitudes fundamentais em todo processo educativo.
Assim também, é com a catequese. O catequista é um pedagogo. Tem sua inspiração na pedagogia de Deus. Jesus é um grande pedagogo. Os seus ensinamentos não são só para ser ouvidos, porque ao anunciar sua mensagem ela não é apenas uma proposta de ideias, mas exige uma resposta, ela interpela as pessoas. A mensagem é vida. O anúncio do Cristo é para a Salvação e felicidade. “Felizes os pobres no Espírito, felizes os mansos, felizes os perseguidos por causa da justiça” (Lc 1,53; Mt 5,3-11; Sl 34,4; 37,11); ainda; “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz”. Todos que os ouvia tinham nele a esperança.
Muitos são os encontros propostos por Jesus que nos ajudam a caminhar. Mas dois grandes e belos encontros nos ensinam o caminho da Iniciação cristã. Muito temos que aprender com a pedagogia de Jesus aplicada na experiência que ele faz com a Samaritana, no evangelho de João e com os Discípulos de Emaús, no evangelho de Lucas. São experiências que até hoje nos transportam para a vivência do grande Mistério da vida do Cristo. Ele que se revela como nosso irmão que nos leva ao Pai.
Por fidelidade e obediência a quem o enviou e à mensagem que pregou e viveu, Jesus se entregou à morte livremente: torna-se assim o verdadeiro Cordeiro que tira o pecado do mundo. Por isso o Pai o ressuscita, confirma-o Senhor e Filho de Deus e o coloca à sua direita com a plenitude o Espírito. É assim que Jesus está no centro da mensagem da catequese (cf. EM 22). A meta final do encontro com Jesus é o Pai: “Eu sou o Caminho que leva ao Pai, ninguém vai ao Pai, senão por mim”.
Jesus no centro da mensagem catequética
Toda a mensagem de Jesus nos chega por meio do anúncio missionário. É aprofundada e vivida na comunidade dos que seguem o caminho do Evangelho: a Igreja. É vivida intensamente, quando a comunidade celebra a liturgia, especialmente no Batismo, Crisma e Eucaristia, sacramentos que nos tornam iniciados na vida do Cristo.
A Eucaristia nos proporciona a participação no memorial eficaz da paixão-ressurreição-ascensão de Cristo. Aqueles que foram justificados pela Cruz de Cristo e por isso regenerados (batismo) e receberam o selo espiritual (crisma) para o aperfeiçoamento, unem-se à Igreja e já capacitados participam do mistério pascal. Juntamente com a Eucaristia, o Batismo e a Crisma são os sacramentos da Iniciação Cristã. Iniciação significa que ninguém nasce cristão, mas se faz cristão, precisa aprender a ser cristão. É um processo contínuo, educativo que envolve evangelização (Kerigma), catequese, liturgia, engajamento na Igreja e na construção do Reino de Deus.
O Mistério cristão é essencialmente pessoal. A Iniciação visa suscitar, ampliar e aprofundar o encontro dos catecúmenos e ou catequizandos com Deus, com as pessoas, com o mundo. O projeto cristão é projeto de comunhão: comunhão com Deus e com os irmãos e irmãs. Experiência, porém, não é algo meramente interior e subjetivo, mas também exterior e objetivo. Trata-se, portanto, de frequentar o Mistério, de ir e vir a ele, de se deixar introduzir nele e ser por ele transformado, de senti-lo e dizê-lo, de testemunhá-lo e comunicá-lo a outros.
Viver o Mistério de Cristo se dá em uma aceitação pessoal, uma participação com liberdade. É uma opção pessoal, pois ninguém pode aceitar incorporar-se em Jesus e na Igreja no lugar do outro. É cada um se deixando introduzir no mistério de Deus através da vivência e experiência e da participação. Viver o Mistério da fé é se oferecer ao Pai, seguindo a ordem de Jesus.
Neuza Silveira de Souza
Vivemos um tempo de mudança de época bastante agitado. De um lado se faz presente grandes avanços em vários setores, a exemplo do grande desenvolvimento tecnológico, o maior acesso das pessoas aos bens de subsistência, a ampliação dos meios de comunicação; mediações e estratégias de comunicação; a ciberteologia, o cristianismo em tempos de redes sociais. Por outro lado, percebe-se o crescimento do individualismo e as consequentes dificuldades nos relacionamentos. Em relação ao campo religioso, a situação não é menos confusa. Existe uma grande busca pelo sagrado, mas de forma desordenada e desorientada, o que não contribui para a formação de uma identidade religiosa, fundamentada em autêntica experiência de fé, e muito menos sobre a pertença a uma comunidade.
É nesse contexto atual que, enquanto cristãos, ou ainda em busca do sentido de ser cristão, somos todos convidados para experimentar a beleza e a grandeza de nos fazermos discípulas e discípulos missionários do Cristo a partir das orientações do Papa Francisco e das cinco urgências apresentadas nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil concebe a Igreja em estado permanente de missão. Atentos a esse “estado de missão” e às urgências apresentadas vamos assumindo a caminhada da Iniciação Cristã na tentativa de renovar a vida comunitária e nela despertar o caráter missionário. Esse trabalho implica a realização do anúncio e reanúncio de Jesus Cristo, possibilitando aos que não o conhecem ou que dele se afastaram ouvir o núcleo da Boa-Nova da Salvação.
Na busca de novos caminhos para a evangelização, a Igreja nos convida a retomarmos as experiências das comunidades no período pós-apostólico, quando, aos poucos, ela foi estruturando um processo de iniciação de novos membros a uma nova identidade, como cristãos inseridos na comunidade eclesial, prontos a celebrar a fé e a assumir a missão. Tal processo de iniciação, mais tarde, foi denominado Catecumenato. Sua finalidade era possibilitar, por meio de um itinerário específico de iniciação, a preparação, prioritariamente de pessoas adultas que tinham manifestado o desejo de assumir a fé da Igreja. Ao longo desse itinerário catecumenal, havia uma série de ensinamentos, um conjunto de práticas litúrgicas (imposição das mãos, orações sobre os catecúmenos, entregas simbólicas etc.).
O tempo do catecumenato e seus ritos, muitas vezes prolongados por vários anos, tinham como objetivo a conversão e o amadurecimento da fé. Mediante uma formação adequada para a vida cristã integral, os catecúmenos (os não batizados) são iniciados no mistério da salvação e na prática dos costumes evangélicos, a partir de ritos sagrados celebrados em épocas sucessivas e introduzidos na vida da fé, da liturgia e da caridade do povo de Deus. O conteúdo de fé oferecido instruía para esclarecer a fé, dirigir o coração para Deus, incentivar a participação nos mistérios litúrgicos, animar para o apostolado e orientar toda a vida segundo o Espírito de Cristo.
O Catecumenato hoje
Aqui no Brasil, atualmente, temos várias propostas de conteúdo doutrinal para o Tempo do Catecumenato e que conjugam temas catequéticos e tempos litúrgicos. Nas sucessivas apresentações de documentos que a Igreja apresenta sobre o assunto, a partir do Concílio Vaticano Segundo, encontramos apontamentos sobre a necessidade de uma revisão dos processos iniciáticos de crianças e adultos.
O decreto Ad Gentes (AG), sobre a Atividade Missionária da Igreja, pontua: “Aqueles que receberam de Deus por meio da Igreja a fé em Cristo, sejam admitidos ao catecumenato, mediante cerimônias litúrgicas. O catecumenato não é mera exposição de dogmas e preceitos, mas uma formação e uma aprendizagem de toda a vida cristã; prolongada de modo conveniente, por cujo meio os discípulos se unem com Cristo seu Mestre. Por conseguinte, sejam os catecúmenos convenientemente iniciados no mistério da salvação, na prática dos costumes evangélicos, e com ritos sagrados, a celebrar em tempos sucessivos, sejam introduzidos na vida da fé, da liturgia e da caridade do Povo de Deus. Em seguida, libertos do poder das trevas pelos sacramentos da Iniciação cristã, mortos com Cristo e com Ele sepultados e ressuscitados, recebem o Espírito de adoção de filhos e celebram, com todo o Povo de Deus, o memorial da morte e ressurreição do Senhor” (n. 14).
O documento 107 da CNBB, “Iniciação à Vida Cristã: itinerário para formar discípulos missionários”, foi publicado como resultado da 55ª Assembleia Geral dos nossos bispos, em maio de 2017. Sua justificativa foi muito clara: “Sabemos que o processo de Iniciação à Vida Cristã requer novas disposições pastorais”. São necessárias perseverança, docilidade à voz do Espírito, sensibilidade aos sinais dos tempos, escolhas corajosas e paciência, pois se trata de um novo paradigma. Foi este o caminho percorrido por evangelizadores como Paulo, os primeiros cristãos e muitos missionários (CNBB, doc. 107, n.9).
O processo de Iniciação à Vida Cristã
O processo de iniciação à vida cristã é muito mais exigente e comprometedor do que a tradicional “preparação para os sacramentos” que fazemos atualmente como catequese, pois estes são instrumentos-sinais que apontam para algo maior que eles. No caminho de preparação temos uma meta – o encontro com Deus, que não vai acontecer no fim, mas que vai acontecendo ao longo da caminhada. Vamos fazendo um caminho de pertencimento. Desde o princípio do caminho é Cristo que desperta e reveste o itinerante de vida nova constituindo-o para o seguimento numa vida em conformidade com a Dele. Assim, aquele com o qual nós vamos nos encontrar definitivamente, já está no meio de nós!
Ser iniciado na vida de Cristo, conformar-se a Ele, ser dele revestido, desperta a pessoa para a missionariedade. O anúncio da vida do Cristo, ou seja, o Querígma, nos forma para a vida cristã, diz o Papa Francisco, acrescentando: vai fazendo carne e permitindo-nos compreender o sentido dos vários temas que se desenvolve na catequese. É vivendo o anúncio de cada dia que encontramos resposta ao anseio de infinito que existe em todo coração humano.
A Iniciação à Vida Cristã, bem como a sua celebração eclesial nos sacramentos, não é apresentada como uma necessidade jurídica ou meramente intelectual, mas, antes de tudo, como uma experiência de fé humana, que busca em Deus a razão da própria caminhada: “É o encontro pessoal com Jesus Cristo, e não o simples conhecimento de doutrina, que vai sustentar e fazer crescer a fé que vai ser a grande fonte animadora de nossa vida” (n. 164).
Entendido o processo de Iniciação Cristã como catequese de inspiração catecumenal, as dioceses devem se colocar abertas a essa proposta de renovação, num trabalho catequético que nos leve a fazer uma caminhada que seja profundamente marcada e fecundada pela Inspiração catecumenal. Uma catequese que tenha por finalidade a maturidade da fé, para que como São Paulo possamos dizer “já não sou eu mais que vivo; é Cristo que vive em mim!” (Gl 2,19).
Neuza Silveira de Souza
Comissão Bíblico-Catequética do Leste 2
Catequese e liturgia são duas faces do mesmo mistério. A Liturgia é fonte privilegiada de catequese. Ela é ação sagrada por excelência, cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, fonte da qual deriva sua força, e requer uma participação plena, consciente e ativa (cf. SC 7, 10 e 14). A catequese bebe desta fonte e a ela conduz, como fonte inesgotável, não só pela riqueza de seu conteúdo, mas pela sua natureza de síntese e cume da vida cristã.
Assim, a catequese como educação da fé e a liturgia como celebração da fé são duas funções da única missão evangelizadora e pastoral da Igreja. A liturgia, com seus sinais, palavras, ritos, requer da catequese uma iniciação dos catequizandos nos sinais litúrgicos, de forma a proporcionar a eles a compreensão, participação e vivência na celebração. O rito litúrgico conserva a memória do Mistério Pascal de Cristo.
Alguém se torna discípulo de Jesus na Igreja através da ação litúrgica do batismo e por meio da ação evangelizadora da catequese. (cf. Mt 28,19s). Tanto a catequese como a liturgia têm o desafio de ajudar as pessoas a fazer verdadeiras experiências do Deus da vida e do amor. Que elas possam se perceber como lugar da presença de Deus. Paulo Apóstolo já nos chamava atenção: “Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1Cor 3,16).
Desde o início da Igreja, liturgia e catequese estão unidas entre si na Iniciação Cristã. A catequese procura atingir a pessoa toda, em todas as suas faculdades, ajudando-a na interação fé e vida através dos ensinamentos de Jesus. Ele que é a plena revelação do Pai, é também o verdadeiro sacerdote, que na comunidade de fé, na sagrada Liturgia, oferece a Deus o sacrifício de sua própria vida. É o mistério Pascal celebrado.
Para o Vaticano II a liturgia é como celebração memorial do mistério pascal, na perspectiva da História da Salvação: “Na liturgia Deus fala ao seu povo, Cristo anuncia o Evangelho e o povo responde a Deus” (SC 33). A catequese litúrgica leva a uma maior experiência do mistério cristão. Ela ajuda as pessoas a ser presença do Reino no mundo: na sociedade, na família, na escola, no trabalho, na política, no lazer, anuncia o modo de viver do jeito que Jesus ensinou. É uma catequese inspirada pela experiência de Deus na caminhada da comunidade.
Nas etapas posteriores ao Vaticano II, percebe-se como o uso plural das linguagens catequéticas muito tem melhorado e nos ajudado, por meio dos ritos e dos símbolos, a expressarem a experiência da fé e a interiorizar a tradição eclesial.
A catequese inspira-se na pedagogia de Jesus: o acolhimento, o anuncio do Reino de Deus, como a Boa Noticia da verdade, liberdade, do amor, da justiça, da paz, alegria, perdão, que dá sentido à vida (cf. Lc 4,17-22; 17,20-21); promove a vivência da fé, da esperança e da caridade, a conversão, a firmeza diante das tentações, das crises, buscando a força na oração. Um Reino do jeito que Deus gostaria que existisse em nosso mundo.
Hoje, muitas pessoas cristãs já percebem que o caminho que deve percorrer todo batizado abrange simultaneamente a profissão de fé, a celebração do mistério, a prática da vida cristã e a oração. Estas são as dimensões fundamentais da vida cristã. A catequese deve tê-las em conta em suas tarefas, articulando-as com outros elementos que integram a missão da Igreja. O caminho da fé terá sua identificação com o evento Jesus Cristo, por obra do Espírito Santo, na liturgia, quando a Palavra da salvação se faz sinal eficaz, e quando o sacramento nutre a fé e impulsa para a missão e o testemunho.
A prática autêntica dos sacramentos tem aspecto catequético. A catequese é elemento fundamental da Iniciação Cristã e está estreitamente vinculada aos sacramentos da iniciação. Como processo da educação da fé, a catequese inicia a todos na plenitude da vida cristã. Além disso, a catequese está intrinsecamente unida a toda ação litúrgica sacramental, porque é nos sacramentos e, sobretudo na Eucaristia, que Jesus Cristo atua em plenitude para a transformação dos homens. (Doc. de IC 20).
Neuza Silveira de Souza
Comissão Bíblico-Catequética do Leste 2
O Concílio Vaticano II foi fortemente animado pelo desejo de levar os cristãos a compreender a grandeza da fé e a beleza do encontro com Cristo. Por esse motivo, era necessário, antes de mais nada, promover renovações tanto no Processo Catequético, quanto na Liturgia. Assim, os padres conciliares elegeram como ponto central a formação “litúrgica e catequética” dos fiéis, propiciando o crescimento no conhecimento do grande dom que Deus nos concedeu: A Eucaristia.
Toda a Igreja voltada para a vivência do Processo de Inspiração Catecumenal tenha o olhar para a Iniciação à Vida Cristã com as lentes da unidade e fraternidade. Não é somente pensar nossa relação e interação entre igrejas e comunidades eclesiais, mas também em olhar para nossa experiência de Deus, vivida e partilhada na comunidade de fé, vivenciando a excelência do mistério Pascal e renovando sempre sua própria conversão, deixando-se conduzir pelos apelos do Espírito Santo. O Mistério de Cristo no qual somos iniciados é um Mistério de unidade.
O Itinerário da Iniciação à vida Cristã Nos conduz para a vivência do Mistério da vida do Cristo. É constituído de várias etapas, que nos conduzem aos “tempos” de informação e amadurecimento da fé. Além desse tempo, há “etapas” ou “passos”, pelos quais os catecúmenos (os não batizados) necessitam caminhar. É como atravessar uma porta ou subir um degrau. Assim diz o RICA: Ritual de Iniciação Cristã dos adultos.
A Iniciação à vida cristã também é oferecida aos catequizandos, aqueles que já foram batizados e necessitam receber os demais sacramentos da Crisma e Eucaristia. Também aos que já receberam os sacramentos, mas necessitam de um aprofundamento da fé, ou seja, amadurecer na fé.
(Nos próximos artigos vamos ver os tempos e etapas do catecumenato)
Neusa Silveira de Souza
Comissão bíblico-catequética do Regional Leste 2
Sempre consideramos o adulto alguém que chegou à maturidade, conhecedor de seus direitos e deveres, atuando com responsabilidade, como se isso fosse natural a partir da idade adulta. Mas, a maturidade é uma situação dinâmica de contínua evolução. A vida inteira é um processo de crescimento.
O desenvolvimento de um adulto não se dá necessariamente segundo as fases “psicológicas” de amadurecimento da pessoa. É necessário considerar também as circunstâncias e acontecimentos concretos da vida. Seu amadurecimento será diferente conforme a situação econômica: pobreza ou bem-estar, emprego ou desemprego. Muito dependerá da vida familiar que o sujeito teve, ambiente afetivo ou não, presença ou ausência dos pais. Os acontecimentos pesam muito no desenvolvimento da pessoa, os êxitos ou frustrações, os traumas, rejeições etc. Não é possível classificar as pessoas em categorias rígidas. Cada etapa tem seus desafios.
Nesse sentido é através das experiências da vida, através de uma contínua aprendizagem, que o adulto desenvolverá sua criatividade, sua autonomia pessoal, assumirá os compromissos e participará responsavelmente na construção da comunidade e da sociedade. O adulto conserva sempre sua capacidade de “aprender”, de abrir os horizontes dos seus pensamentos, de pensar de um modo crítico e responsável, de ser criativo.
A faixa da maturidade
O adulto que se encontra nessa faixa de maturidade tem maior senso de responsabilidade e capacidade de estar em relação com pessoas além do círculo reduzido da família e dos amigos. As pessoas sentem-se mais responsáveis pelas gerações futuras e pelo mundo no qual estas terão de viver.
Do ponto de vista religioso, ocorre, muitas vezes, o retorno à prática religiosa e ao engajamento pastoral. É uma idade de grandes recursos educativos e pastorais. Ao se referir ao aspecto da fé, as mudanças em nível religioso podem causar crises de fé e de identidade cristã. O adulto torna-se inseguro. Não sabe responder satisfatoriamente a perguntas fundamentais da sua fé. Sente o abismo entre as gerações, dificuldade de dialogar com os filhos, de orientá-los neste mundo em constante mudança.
Em tudo isto fica claro a importância da formação cristã dos adultos. Mesmo aqueles adultos que tiveram uma boa formação religiosa na sua infância e juventude vão sentir a necessidade de uma atualização a fim de poderem justificar seu ser cristão. Constantemente, há novas descobertas, novos questionamentos que influenciam na vida de fé e de vivência cristã. Os meios de comunicação obrigam a assumir certas posições e colocam o cristão diante de perguntas sérias. Daí a necessidade de um bom trabalho com os adultos em todas as fases da sua vida. Eles têm algo para aprender, mas também muito para dar.
Temas significantes são: superação da crise da meia-idade, reencontro do sentido da vida, leitura cristã da vida, vivência de compromisso…
Quem poderá negar a necessidade da formação cristã dos adultos?
Quando falamos de “catequese com adultos”, isto pode soar como algo de iniciação. Mas a “catequese permanente” é necessária para todos. Quem não se coloca a par das mudanças do nosso mundo cultural e religioso ficará estagnado, com ideias ultrapassadas, que impedem um diálogo com o mundo contemporâneo: com os jovens, os operários, os intelectuais, como também com os pobres e marginalizados. Os adultos devem sair do seu infantilismo religioso e conhecer seu papel transformador dentro e fora da Igreja.
Os adultos devem ser motivados a procurar uma melhor formação. E, uma vez motivados, precisam encontrar agentes capacitados que possam ajudar na sua caminhada.
É a partir do diálogo, da escuta, que se pode desenvolver uma boa catequese. Isto exige dos (as) agentes um bom preparo. Eles são os primeiros a precisar de uma boa formação.
Exige-se também da própria Igreja uma mentalidade de abertura e diálogo com o homem moderno, que é crítico e, justamente por isso, muitas vezes, afastado da Igreja.
A catequese encontra aqui seu campo mais característico e rico de atuação: formação de fiéis maduros, engajados na comunidade.
Neuza Silveira de Souza
In: Opinião e notícias 2.03.2018
A comunidade eclesial ativa exerce papel importante na caminhada catequética de sua paróquia. Na ação missionária, por meio de seus serviços sociais realizados pelas pastorais e de suas celebrações litúrgicas, contribui para o crescimento da fé de cada um daqueles que caminham juntos, na comunidade, além, é claro de seu testemunho de vida fora desse espaço comunitário. Assim, as comunidades eclesiais, nos seus exercícios vocacionais, caminham para o fortalecimento da vida em comunidade buscando meios para que todos os batizados experimentem a beleza e a grandeza de serem discípulas e discípulos missionários.
A catequese de Iniciação à Vida Cristã, incluída de forma ampla dentro do processo de evangelização missionário da Igreja, proporciona aos batizados o caminhar na história, configurados a Cristo Jesus, ajudando-os a acreditar que Jesus é o Filho de Deus e que nesta nova vida em Cristo é o mistério de Cristo Jesus em sua paixão, morte, ressurreição, ascensão, envio do Espírito Santo e retorno glorioso ao Pai. Nesse sentido, a vida cristã é um novo viver que requer, mediante seu caminhar, passos de aproximação nos quais a pessoa aprende e se deixa envolver pelo mistério amoroso do Pai, pelo Filho, no Santo Espírito, conforme nos instrui o documento 107 da CNBB.
A iniciação da vida na comunidade cristã pressupõe, sobretudo, intimidade com o Mistério do próprio Deus revelado em Jesus Cristo, o que abre para novas formas de relacionamentos com o outro, com a comunidade e com o mundo, pois iniciado na vida de Cristo através dos sacramentos da Iniciação Cristã (Batismo, Crisma Eucaristia), somos chamados a viver a Palavra de Deus num processo contínuo da ação do Espírito nos corações humanos, Palavra sempre atualizada pelas comunidades cristãs, diante das exigências da vida, para que não caia no fundamentalismo.
O cristianismo não é fruto da criatividade humana, mas é consequência da iniciativa do próprio Deus, que para revelar, entra na história humana e mostra seu rosto humano – Jesus Cristo. Assim, a catequese, buscando aprofundar nossas relações pessoais num encontro pessoal com Jesus Cristo, nos coloca em um contínuo caminho, um itinerário que inclui sempre o anúncio da Palavra de Deus, o acolhimento do Evangelho, que implica a conversão, a profissão de fé, o Batismo, a efusão do Espírito Santo, o acesso à Comunhão Eucarística. É o caminhar da comunidade cristã que juntos: catequistas, presbíteros, comunidades de fé, retratando a alegria de viver o discipulado de Jesus, expressam a unidade na comunhão do Espírito Santo acontecendo ante os diversos carismas.
No processo formativo de nossas catequeses estamos sempre falando sobre a necessidade de apresentar Jesus Cristo, o filho de Deus encarnado. Como apresentar Jesus Cristo?
Ao falar de Jesus Cristo não é só oferecer uma informação histórica sobre ele, o que é bom e desperta a admiração por ele, nos leva a admirar suas qualidades, mas conhecê-lo é sobretudo viver a experiência de saber-se salvo por Jesus Cristo, de descobrir que em Cristo a pessoa se encontra com o mistério de Deus, é descobrir um Cristo concreto e sobretudo descobrir quem é Cristo para nós, para cada um de nós.
Apresentar Jesus Cristo é ajudar as pessoas a se encontrarem com Ele e descobrirem o significado que tudo isso pode ter para sua vida. É provocar o encontro com Cristo e fazê-lo presente na vida da comunidade cristã. A apresentação de modo autêntico, através do anúncio da Boa-Notícia – O Evangelho de Jesus Cristo, ajuda as pessoas a descobrir toda riqueza e a força salvífica, transformadora, libertadora que encerra em sua pessoa e em sua mensagem, ou seja, ajuda a encontrar qual é a maneira mais acertada e mais humana de enfrentar os problemas da vida e o mistério da morte. A comunidade eclesial, na sua ação mística evangelizadora, reflete o mistério do Deus da vida, tendo por centro Jesus e seu projeto, ao ritmo das bem-aventuranças, formando a comunidade de Jesus, assumindo a perspectiva da cruz e da ressurreição.
Neuza Silveira de Souza
Secretariado bíblico-catequético de BH
A Igreja está vivendo um grande momento para a evangelização. Percorrendo o caminho da catequese com adultos, podemos perceber que desde o Vaticano II (1962-1965), a catequese com adulto vem tomando impulso. No Sínodo de 1977 a catequese é colocada como primazia se aproximando dos adultos, pessoas com maiores responsabilidades e capacidade para viverem a mensagem cristã na sua forma plenamente desenvolvida (Catechesi Tradentae, isto é, catequese hoje, nº 43).
A partir do Sínodo a catequese vem insistindo em conseguir o seu lugar no processo de evangelização da Igreja como um processo de educação da fé, ou seja, da educação de atitudes de fé, de forma permanente, ordenada, orgânica e sistemática, enfrentando os desafios de uma rápida transformação da sociedade nos seus níveis: tecnológico, cultural e religiosa, com o objetivo de possibilitar ás pessoas uma fé madura, responsável e comprometida com o Reino de Deus, um Reino de irmãos. Assim, a catequese procura se concentrar naquilo que é comum para os cristãos exercendo as tarefas de iniciação, instrução e educação, respeitando o ritmo de crescimento de cada um e as etapas de amadurecimento da fé.
O desafio continua e hoje a Igreja, considerada uma comunidade de fé, vida e testemunho é convidada a continuar no seu papel de discípula missionária de Cristo. Mas para bem exercê-lo, ela precisa de se inserir em uma boa formação catequética que lhe permita crescer e amadurecer na fé, superando a visão de que a catequese é somente para crianças. A prioridade da catequese com adultos também é citada no Diretório Nacional de Catequese colocando a Bíblia como fonte principal e o conteúdo da mensagem catequética “Jesus Cristo”.
Jesus Cristo é o rosto da Palavra
E a Palavra se fez carne”.(Jo 1,14). É Jesus Cristo, o Filho de Deus eterno e infinito, mas também mortal. Ele vive a existência penosa da humanidade até a morte, mas ressurge glorioso e vive para sempre. É ele que torna perfeito nosso encontro com a Palavra de Deus. Ele nos faz entender que as escrituras são “carne”, palavras humanas que guardam no seu interior a luz da verdade. Esta verdade é o coração da fé cristã. Com este evento salvífico a Palavra divina entra no tempo e no espaço assumindo um rosto humano.
A Palavra sem um rosto não é completa. Diria-nos Jo: “antes, Senhor te conhecia só de ouvir, agora, porém os meus olhos te veem” (Jo 42,5).
Na tradição cristã nos diz que a mesma Palavra divina que inspirou o Livro, também se fez carne. É o mesmo Espírito.
A Bíblia constituída de formas literárias diversas também se faz “carne”. Ela guarda a memória dos feitos de deus e seu Povo. Nela encontramos as tragédias do povo, suas alegrias, tristezas, esperanças, lágrimas. Nela Existe vida, a vida de um povo em busca de sustentar a Aliança com o Seu Deus. Por isso cada leitor deve se revestir de conhecimento para perceber as inúmeras palavras que esta palavra revela.
Por isso essa Palavra tem que ser estudada, interpretada, meditada para que a sua verdade seja entendida e transmitida. Se não buscarmos estudá-la poderá ler apenas “a letra”, com isso a Bíblia será reduzida a um livro do passado, um nobre testemunho ético cultural. Dizer que Jesus é o rosto da Palavra é dizer que ele é o centro, o ápice da Revelação.
O Caminho da Palavra é a missão
‘Ide e fazei discípulos meus todos os povos… (Mt 28, 19; 10,20). Esse é o caminho sobre o qual caminha a Palavra de Deus. As Sagradas escrituras devem entrar nas famílias, escolas e ambientes culturais. Sua riqueza é um estandarte de beleza para a fé e a própria cultura, num mundo muitas vezes golpeado pela feiura e imundice.
Nesse sentido, a Igreja percebe a necessidade de exaltar a importância da Palavra de Deus na vida do povo, da comunidade e pelas estradas por onde passam todos aqueles que se colocam em busca da sua própria existência. Sua preocupação é levar o povo a melhor ouvir o que Deus quer comunicar.
Nós nos constituímos Igreja pelo acolhimento do anúncio da Palavra, pela escuta. Mas uma escuta que leva à ação. A escuta deixa marcas, enriquece a vivência espiritual, amadurece o conhecimento dos desafios. A Igreja quer que todos tenham um conhecimento da Palavra de Deus e perceba o grande valor e significado das Sagradas Escrituras para sua vida e missão. A apresentação da mensagem evangélica ao povo é para a Igreja um dever, pois ela representa a beleza da revelação, comporta uma sabedoria que não é deste mundo e é capaz, por si só de suscitar a fé, ou seja, fazer brotar e ou crescer uma fé madura que sustenta a vida em Deus. Ela é capaz de levar a uma experiência concreta, vivida com verdadeira participação, refletida, reinterpretada de tal forma que provoque transformações, que impulsione para uma mudança de vida com novos conteúdos e favoreça um sentido de vida existencial.
A Palavra de Deus é a base para oração. Conhecer a Bíblia implica colocá-la na vida. Nós católicos, rezamos, mas nem sempre oramos. Na catequese, muitas vezes se ensina mais a rezar (recitar orações) do que a orar como resposta a Deus que Se comunica conosco. Mas a catequese tem sua função primordial de transmitir a palavra de Deus. A catequese introduz, inicia na escuta e na acolhida da Palavra e do ensinamento dos Apóstolos, na liturgia, na vida moral evangélica e na oração.
A catequese quando bem trabalhada e vivenciada ela desperta no coração do homem o desejo de Deus, sua busca e contemplação. Ela tem suas raízes na revelação cristã. Portanto, a catequese deve tomar como modelo a pedagogia de Jesus. Seu jeito simples de ser e viver. Um agir que nos convida a se colocar no seu seguimento e a se empenhar na comunidade como seus discípulos e discípulas missionários. Daí a prioridade da catequese com adultos para que eles sejam os discípulos missionários de Cristo que ajudarão a levar o anúncio a todas às nações em cumprimento à ordem do Cristo Ressuscitado: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos…ensinando-os a observar tudo quanto vos ordenei” (MT 28,19-20).
A catequese, no seu processo de iniciação à fé, ajuda a fazer esse caminho, esse itinerário.
Vamos refletir: Como viver a minha fé em comunidade? Como fortalecer a minha identidade cristã me tornando uma presença profética e transformadora da Palavra de Deus no mundo?
A experiência mística, no cristianismo, é a experiência do Deus encarnado. Essa é uma grande contribuição que a mística cristã tem para dar hoje em tempos de grandes mudanças e paradigmas, inclusive para a espiritualidade. Experimentar a vida centrada na vida do Deus Encarnado é também um grande desafio para o Cristão de hoje.
Confessar com a boca e o coração que o Verbo se fez carne e o Espírito foi derramado sobre toda a carne implica buscar a experiência e a união com Deus, que assim desejou comunicar com a humanidade. Desse modo, com a encarnação de Jesus Cristo foi feita uma aliança indissolúvel entre o Espírito e a Carne e, desde então, todos os caminhos do Espírito passam pela Alteridade Encarnada, lugar onde se torna possível experimentar a Alteridade do Verbo Encarnado.
A vida no Cristo nos convida a todos a vivenciá-la de forma autêntica na relação com os irmãos, na caminhada do cotidiano. Muito temos que aprender. Segundo o Papa Francisco, é preciso ter coragem de encontrar nova carne para a transmissão da Palavra, e isso é um desafio lançado na exortação “Evangelii Gaudium“.
Para bem viver a fé, hoje, somos convocados a estar atentos às exigências da nossa realidade e procurar viver o “sensus fidelium” que é o porta-voz legítimo da vontade de Deus e ocupa seu lugar ao lado da Bíblia, da Tradição e do Magistério. Assim, olhar para a realidade, enxergar o belo que lá existe, escutar a voz do povo e descobrir o que Deus nos tem a dizer.
Falando da beleza da nossa realidade no processo de evangelização, todos, mas especificamente, nós catequistas necessitamos saber, agora, como levar nossa catequese a experimentar o belo, procurando conhecer melhor o nosso espaço, ambiente, os símbolos, as imagens que se encontram no entorno da nossa existência, interpretando-as, a Bíblia, a liturgia etc.
Para falarmos do que é belo, vamos reler um artigo da catequista, nossa Matriarca da Catequese de Belo Horizonte e do Regional Leste II, Inês Broshuis, que muito nos ensinou e continua a nos ensinar por meio de seus escritos, a arte de caminhar, trilhando os caminhos que nos colocam nos passos de Jesus. Segundo ela:
A primeira condição é que a própria catequista saiba distinguir o que é verdadeiramente belo. Ela deve sentir-se constantemente maravilhada pela beleza da natureza, do ser humano e seu dom criativo e artístico. Ela deve sentir-se atraída para o silêncio e a contemplação, procurando o encontro com Deus, o grande Artista da criação. A catequista não vai poder transmitir o que ela mesma não tem. Por isto, deve desenvolver em si o dom de admirar, de maravilhar-se. Cada encontro catequético visa levar à experiência de Deus.
Para criar em nossa Catequese um ambiente que favoreça o silêncio, a admiração e a contemplação, seguem algumas orientações práticas.
1. O espaço
Quando entramos numa igreja bonita, o próprio ambiente nos leva ao silêncio: a ornamentação, a luz que passa pelos vitrais, algumas imagens de bom gosto, a luz do sacrário… Tudo ajuda a nos silenciar e rezar. Muitos não percebem nada disto. Logo caem na conversa. Para saborear o BELO, precisa-se ficar em silêncio.
Também o ambiente da nossa catequese deve levar à interiorização. Mas, em geral, não temos espaço apropriado. Uma sala de aula, por exemplo, não favorece a caminhada para o silêncio e a oração. Até os centros comunitários das paróquias não contribuem para se criar um ambiente onde se sinta o “sagrado”.
Mas, não tendo outra escolha, devemos preparar, de antemão, o ambiente e, para isto, estar lá 15 minutos, meia hora, antes de começar. A sala esteja limpa, algum cartaz bonito sobre o tema a tratar. Retirar os cartazes deixados por outros grupos, se não têm nada a ver com o assunto do nosso encontro. Coloquemos uma mesinha com toalha e alguma flor ou planta bonita, natural (!), uma estante para a Bíblia, com uma vela, cadeiras em círculo…
A própria catequista faz parte deste ambiente. Dizem que ela se comunica com: 70% pela postura, 25% pelo tom de voz e 5% pelo conteúdo. Exige-se da catequista postura, vestes e atitudes dignas. A voz muito alta irrita. Precisa-se falar baixo, mas com boa articulação.
2. O silêncio
O contrário do silêncio é o barulho, a bagunça, a agitação, a desordem, o desequilíbrio.
Podemos criar o silêncio através de alguns exercícios. Pedir à turma que fique em silêncio observando os sons e barulhos que ouvem de fora. Também podem ouvir uma música suave ou cantar um mantra. Há muitos mantras conhecidos e também podemos escolher um refrão de um canto. A primeira vez canta-se normalmente, depois se repete o mesmo, cantado mais baixo; na terceira vez, canta-se quase só murmurando. É bonito e acalma o espírito. Além disso, ensina a cantar bonito, sem gritaria, uníssono. Não se esqueçam: o canto é uma das artes que elevam o espírito até Deus. Faz parte do BELO na Catequese.
Refletindo: Como podemos melhorar o nosso ambiente catequético para que leve ao belo e ao silêncio?
3. Gravuras e imagens
Tenhamos senso crítico quanto às gravuras que usamos na Catequese. Que tenham valor artístico. Evitemos gravuras com muitos detalhes que distraem mais que concentram a atenção. Quando nós mesmos fazemos os cartazes, que sejam com textos curtos (poucas pessoas leem textos longos), com letras bem feitas. Às vezes, precisa-se pedir a ajuda de alguém para fazer um cartaz bonito.
Muita atenção com imagens ou gravuras de Jesus. Jesus não foi um homem branco, com olhos azuis e cabelos anelados. Ele era um oriental com traços característicos da sua raça e com o modo próprio de se vestir. Apresentemos um Jesus viril. O mesmo se pode falar de imagens e gravuras de Nossa Senhora: uma bela mulher judia!
Cuidado com imagens de Deus ou da Santíssima Trindade. A própria Bíblia proíbe fazer imagens de Deus, não só por respeito, mas também porque não se pode fazer um a imagem verdadeira de um ser que é espírito.
Refletindo: Que tipos de gravuras e imagens estamos usando na Catequese. Procuramos, realmente, formar o senso do belo e do místico?
4. Símbolos
Símbolos são objetos que transmitem a experiência de uma realidade interior mais profunda do que o objeto apresenta à primeira vista. Uma rosa simboliza o amor ou a amizade; um retrato de um falecido representa a pessoa quando era ainda viva; o pão simboliza o alimento necessário para o ser humano; uma pedra pode simbolizar os obstáculos que se encontram na vida… Pode-se aprofundar ainda mais o símbolo, revelando um sentido religioso: o pão simboliza a Palavra de Deus, ou a Eucaristia; uma vela simboliza a fé, a Luz de Cristo; a água lembra a água do batismo; e assim por diante.
É muito importante trabalhar com símbolos. Tudo pode servir como símbolo. O sentido do símbolo depende da experiência de vida ligada ao objeto. Entendendo melhor os símbolos, entender-se-á melhor os símbolos usados na Liturgia: água, vela, pão, vinho, óleo, incenso…
Refletindo: Usamos símbolos na Catequese? Quais? Eles ajudam a aprofundar a experiência religiosa?
5. A beleza da Bíblia
A Bíblia é um livro cheio de poesia e linguagem simbólica que pode inspirar a catequese e a oração, como os Salmos (8, 19, 131, 139…) Há lindos textos de Isaías e outros profetas, de Paulo e de São João, que podem ensinar a orar a partir da Palavra de Deus. Também há lindas poesias e textos fora da Bíblia que podem ser grande inspiração.
Na Catequese não pode faltar a formação para a oração. Se aí não se aprende, onde se vai aprender? Podem ser orações de fórmulas, oração espontânea, celebrações…
Experimentando: Vamos ler, com toda atenção, o Salmo 19. Onde está a beleza da poesia, da linguagem simbólica? Como ajuda a rezar?
6. A Liturgia
A Liturgia é a escola da beleza: espaço, vestes, silêncio, música, imagens, Bíblia, símbolos, expressão corporal, gestos… Vamos olhar a realidade das nossas igrejas paroquiais, ponto por ponto. Mostram o belo que eleva o espírito?
Procurem, em grupos, orientados pela coordenação, aprofundar os pontos acima abordados para que possam ajudar a tornar a Catequese mais bonita, mais profunda, uma verdadeira experiência de Deus.
(Livro: O Belo, o lúdico e o Místico na catequese. Regional Leste 2. Belo Horizonte: FUMARC 2017).
Neusa Silveira de Souza
Secretariado Bíblico-catequético de BH
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