Uma catequese que acolhe e orienta o ser humano
O RICA – Ritual de Iniciação à vida Cristã refere-se a um Ritual Litúrgico que oferece, como prioridade, a dimensão litúrgica da catequese, quando fala e propõe ações de Iniciação Cristã ou Iniciação à Vida Cristã. E, evidentemente, falta complementá-lo com tudo o que se refere diretamente: ao embasamento antropológico da Iniciação, à Evangelização ou Kerigma e à Catequese ou Catecumenato. O importante é chegar à opção pessoal por Jesus, ser seu discípulo missionário, membro da sua Igreja Peregrina, sempre em saída.
A nossa fé cristã tem por base a Ressurreição de Jesus Cristo, ou seja, só falamos de fé cristã, a partir da Ressurreição. Mas, ao falarmos da centralidade de Jesus Cristo na catequese, conhecer e seguir Jesus de Nazaré, além de aceitarmos e reconhecê-lo como o Cristo da fé, ou seja, aceitar sua divindade, também hoje, necessitamos estar atentos para a aceitação de sua humanidade. Isto porque nos tornamos mais divinos, conforme nos fazemos humanos, assim como Jesus o foi. Utilizando-se das Palavras do Mestre José M. Castilho, que diz: “só é possível alcançar a plenitude do ‘divino’ à medida que nos empenhamos para conseguir a plenitude ‘do humano’”. Isto porque, nós humanos, possuímos uma capacidade simbólica e somos capazes de, por meio dela, expressar nossas experiências simbólicas. O simbólico precede a linguagem, a ideia, o conhecimento. Os símbolos determinam o que são nossas vidas, enquanto vidas humanas.
Quem somos nós seres humanos? Somos “obra prima de Deus”. Assim nos diz a Bíblia, ao descrever a criação do ser humano (homem e mulher): “Deus completou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom, pois foram criados à imagem e semelhança de Deus”. (cf. Gn. 1,26-31). Assim, o homem e a mulher não são simples coisas, mas filhos e filhas de Deus e irmãos uns dos outros. A criação e a dignidade da pessoa humana é o primeiro livro da vida. Quando a catequese aprofunda o sentido da pessoa humana, não deve começar pelo homem pecador, mas pelo amor misericordioso de Deus que cria por amor e ama sua criação. Seu amor acolhe, perdoa, atrai para si a sua criação.
Deus ama tanto o ser humano que lhe enviou seu Filho amado (cf. Jo 3,16) para estar no meio de nós, conviver conosco, assumindo a nossa condição humana. Seu Filho amado fez a experiência de ser gente assim como nós, de sentir a vida, a dor, a fome, a lágrima (cf. Fl 2, 5-11), e tudo isso para que nós pudéssemos experimentar a beleza de ser filho de Deus. Jesus, no meio de nós, dizia da sua missão: “eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
A catequese com os adultos não batizados ajuda-os a percorrer o caminho de Jesus recordando as maravilhas de Deus operadas no passado, mas à luz da Revelação, interpreta os sinais dos tempos e a vida presente dos homens e das mulheres, uma vez que é neles que se realizam os desígnios de Deus para a salvação do mundo. Os sinais dos tempos ajudam o homem de hoje a entender e situar-se na sua própria história, a vida de Jesus narrada nos Evangelhos, uma história de vida capaz de transformar a mente e os corações das pessoas. Essa história revelada está nas Sagradas Escrituras e também na memória da Igreja e nos é transmitida através da catequese.
A catequese, num ato integrador, proporciona a vivência da experiência humana com a Palavra de Deus, a profissão de fé, a oração e a celebração, a vida comunitária e os compromissos cristãos. Assim, não se trata apenas de um aprendizado individual de um conteúdo da fé, mas de uma experiência comunitária, social e integradora da vida das pessoas que almejam viver a vida em Cristo.
Para os iniciantes que desejam percorrer esse caminho, a Igreja oferece um tempo especial na sua caminhada que é o tempo quaresmal. Esse tempo tem lugar privilegiado na história da Igreja e da sua liturgia, um tempo de ajudar os catecúmenos a fazerem uma experiência adequada de preparação espiritual para a recepção dos sacramentos da iniciação: Batismo, Crisma e Eucaristia os quais os introduzem no mistério pascal possibilitando-os a se adentrarem na vida querigmática e mistagógica da Igreja, isto é, a viver uma vida em Cristo para o anúncio missionário do Evangelho, testemunhando a alegria de ser cristão e participando da vida litúrgica e espiritual dos cristãos já confirmados na fé.
Neuza Silveira de Souza
Comissão para animação Bíblico-Catequética do Leste 2