Uma catequese para os adultos não batizados
Falar de Iniciação à vida Cristã, estamos falando da participação humana no diálogo da salvação. Somos chamados a ter uma relação filial com Deus. Um Deus Trino cuja Trindade é uma relação amorosa que define o próprio Ser de Deus. A Trindade nomeia como Deus é para nós. Está sempre a nos recordar que, enquanto vivenciamos os relacionamentos como algo que, ou estamos entrando ou estamos nos retirando, Deus não entra em relações. Com efeito, Deus não tem absolutamente relações; Deus é relacionamento perfeito. “Deus é essencialmente relacional”.
Mais do que isso, se Deus é relacionamento perfeito, e nós somos criados à sua imagem, então a doutrina da Trindade está preocupada com a nossa vida também. Somos convidados pela graça divina a entrar neste modo de relação amorosa que define o próprio ser de Deus. Assim, a Trindade evoca um Deus cujo ser é caracterizado por um movimento eterno em direção a nós em um amor redentor. Ao mesmo tempo ela nomeia o nosso movimento em direção a Deus. Nessa relação Trindade, Jesus, o Filho amado, vem nos revelar esse amor de Deus por nós nos colocando na condição filial do Pai.
A catequese e a Revelação têm sempre uma relação estreita. Determinada maneira de fazer catequese é reflexo de determinada maneira de conceber a Revelação. Esta relação entre ambas é normal: a catequese como ministério eclesial a serviço da fé, intenta abrir ao catequista o caminho para o encontro, o conhecimento e a recepção do Deus de Jesus Cristo, ou seja, o catequista tem como tarefa própria, comunicar a Revelação de Deus ao homem de hoje. Assim, a catequese tem por obrigação dar-se a conhecer Jesus Cristo. Ele é o conteúdo da catequese, pois a Revelação tem como conteúdo Deus e o homem concreto. O homem não é somente destinatário da Revelação. É, sobretudo, conteúdo. Assim, Deus revela-se unicamente quando é reconhecido e recebido pelo homem.
Nós humanos atuais, a partir do testemunho daqueles que nos precederam na fé, somos chamados a descobrir, reconhecer e receber o Deus de Jesus Cristo hoje, que se dá a partir do nosso encontro pessoal com ele. Nele chegou a plenitude do amor de Deus. E tudo o que quiser saber dele, passa pelo testemunho que dele deixaram os apóstolos. Mas sabemos que os apóstolos não explicitaram toda a riqueza do acontecimento de Cristo. É tarefa da Igreja explicitá-la ao longo da história até a consumação final dela (Parusia). Assim é que nos diz Salvador Pié i Ninot sobre a Revelação de Deus, no Dicionário de Catequética.
Quem abre a história da Revelação é o Espírito Santo, levando a Igreja a descobrir gradualmente a verdade de fé. O Espírito Santo age na Igreja como verdadeiro corpo profético, Igreja que é Sacramento do Cristo. O povo de Deus, ou seja, as comunidades, é que irá atualizando o acontecimento Cristo: crianças, jovens, adultos, os homens, as mulheres, os pobres… A história humana é a história da salvação.
Nessa história, na vivência do amor de Deus Trino, é que a iniciação cristã nos coloca. Assim nos diz o documento 107 da CNBB: ao ser batizado, o iniciando começa a caminhada para Deus, que irrompe em sua vida, dialoga e caminha com ele. Essa vida nova, essa participação na natureza divina, constitui o núcleo e coração da Iniciação à vida Cristã. Somos incorporados ao Mistério Pascal de Cristo quando da recepção dos três sacramentos da Iniciação: Batismo, Crisma e Eucaristia.
A estrutura do itinerário do RICA, apresentada no artigo anterior, nos ajuda a fazer a caminhada de Inspiração catecumenal com os adultos ainda não batizados, introduzindo-os no conhecimento dessa história da salvação, ou seja, na vivência da fé cristã na comunidade Igreja, pois é nela, na Igreja, que podemos falar de Iniciação à vida Cristã.
A Comunidade exerce papel importante oferecendo ajuda aos catecúmenos para juntos fazerem a experiência do caminho até Jesus. É um itinerário gradual, passo a passo que, no Espírito, vai aperfeiçoando a identidade do discípulo de Cristo. Daí, todo os membros da Igreja são chamados a testemunhar Jesus Cristo.
Já é sabido que o RICA não é um livro catequético, centrado no conteúdo doutrinal a ser transmitido, mas um livro litúrgico com ritos, orações e celebrações que dá uma visão inspiradora de uma catequese que envolve a pessoa no seguimento de Jesus Cristo, a serviço do Reino, expresso na vivência dos sacramentos de Iniciação Cristã. Essa inspiração catecumenal ajuda a catequese e seus catecúmenos a se integrar na vida da comunidade e adentrar-se no Mistério Pascal de Cristo.
Neuza Silveira de Souza
Comissão bíblico-catequética do Leste 2