Uma catequese para os adultos não batizados
Uma catequese para os adultos não batizados nos transporta para uma realidade na qual Jesus está batendo à porta e o batizando, iniciante, é aquele que vai abrir a porta da Vida Nova em Cristo, com Cristo e por Jesus Cristo para a Glória do Pai, no amor do Espírito Santo.
Abrir a porta é ingressar na vida da Comunidade Cristã. Esse é o momento fundante da Vida Cristã de uma pessoa, de tal modo que essa experiência “configura” o cristão. Esse ingresso na vida comunitária foi pensado pela Igreja como “Iniciação”, um longo itinerário, um longo caminho que a pessoa percorre, “acompanhada” por diversos membros da comunidade.
Desde os primeiros séculos a iniciação dos adultos se desenvolveu e foi ganhando formas em uma sequência de ritos preparatórios que foram marcando a caminhada das pessoas que assim desejavam se converter à fé cristã. Esta prática que teve seu ponto alto nos séculos II e III. Tinha por finalidade “instruir no mistério da salvação, nos exercícios dos costumes evangélicos e, mediante ritos próprios, introduzir na vida de fé, na liturgia, na caridade e na vida comunitária” (CIC 1248).
O Catecumenato chegou ao seu auge no período áureo da Igreja, por volta do século IV. Uma prática catequética que se desemboca na celebração dos sacramentos da iniciação cristã. Esses sacramentos eram, e continuam sendo situados dentro da história da salvação, por meio de uma catequese mistagógica, a qual relê e revivem todos estes grandes acontecimentos da história da salvação no “hoje” da sua liturgia.
A prática da catequese mistagógica, que quer dizer ‘deixar-se conduzir para dentro do Mistério Pascal’, procede da visibilidade dos símbolos e sinais visíveis para a vivência do invisível, do significante àquilo que é significado, dos “sacramentos” aos mistérios.
É uma catequese que tem como centralidade o encontro pessoal com Jesus Cristo. Nesse sentido, ela ajudará a descobrir, por detrás da humanidade de Jesus, a sua condição de Filho de Deus; por detrás da história da Igreja, o seu mistério como “sacramento de salvação”; por detrás dos sinais dos tempos, as pegadas da presença de Deus e os sinais do seu plano.
A Iniciação Cristã, de acordo com a proposta de catecumenato de jovens e adultos, não se limita à celebração dos sacramentos. A iniciação é a imersão e participação no mistério pascal e se realiza sim através dos sacramentos, mas com a mediação da comunidade e da resposta de fé da pessoa que faz a caminhada. É bom relembrar a quem se destina o catecumenato de iniciação cristã. Em primeiro lugar a jovens e adultos não batizados.
O ritual, por sua vez, propõe o caminho catecumenal também para os jovens e adultos que se preparam para a Confirmação e a Eucaristia (RICA, n. 295), mas ressalta a situação dos mesmos que não é igual à dos primeiros, pois esses já foram introduzidos na Igreja pelo Batismo, embora seja necessária a catequese para ajuda-los a crescer na fé.
A Igreja, desde o Vaticano II propõe a experiência catecumenal, mas de forma adaptada à realidade do nosso tempo. Nesse sentido, a Igreja, diante da sua necessidade de processos de iniciação para evangelizar e formar discípulos missionários que, de fato, assumam o projeto do Reino, ela nos convoca para o ‘fazer catequético’, com a inspiração ao processo exposto no RICA, um documento que orienta a restauração do catecumenato dos adultos dividido em vários tempos e etapas, como decretado no Vaticano II, e abaixo apresentado.
O RICA (Ritual de Iniciação Cristã de Adultos) enriquece a pastoral orgânica da Igreja, com sua estrutura.
Kerigma – Primeiro Anúncio
(1º Tempo);
A) Celebração de transição (1ª Etapa).
2 – Catequese – síntese da fé cristã, boa formação bíblica e teológica de base (2º Tempo);
B) Celebração de Transição (2ª Etapa).
Formação ética e moral (Purificação);
4 – Sacramentos da Iniciação Cristã (3º Tempo);
C) Celebração de transição – Vigília Pascal (3ª Etapa).
5 – Mistagogia – aprofundamento nos mistérios celebrados (4º Tempo);
6 – Vida comunitária, inserção na Igreja
7 – Vocação e missão;
8 – Espiritualidade;
9 – Formação Continuada ou Permanente;
10 – Vida de Oração.
Esta é como que a “estrutura” sobre a qual vai se tecendo a trama da vida nova em Cristo, o grande objetivo da Iniciação à Vida Cristã.
Partir dessa estrutura e adequá-la à nossa realidade como processo de inspiração catecumenal iniciático na evangelização é o nosso desafio.
No passo a passo do desenvolvimento dessa estrutura, com inspiração catecumenal em nossas catequeses para as diversas realidades dos interlocutores, vamos fazendo ecoar a Palavra de Deus que possibilita o desabrochar da graça batismal a cada um deles que se colocam no seguimento do Cristo vivendo a experiência de uma Igreja mistagógica e materna, na descoberta dos sinais do Evangelho, assim como dos grandes acontecimentos salvíficos.
Neuza Silveira de Souza