Ser iniciado na fé cristã é ser marcado pela experiência mística da fé, em que o ser humano, na busca de respostas e sentido para a sua existência se vê envolvido em nova relação pessoas e grupos construindo um itinerário para além da participação litúrgica celebrativa da fé cristã. E nesse caminhar, percebe o desvelar de todo o mistério.

Abrir-se para a plena identificação com Cristo na comunidade eclesial postula uma pedagogia adequada à sua natureza e ao seu fim.

Pedagogia é a arte de conduzir, de ensinar, de aprender, de crescer juntos. Os melhores “mestres”, além de dominar a matéria e de usar recursos vários, são os que estabelecem uma relação positiva com seus “alunos”. Ouvir, dar atenção, ser amigo, ter empatia são atitudes fundamentais em todo processo educativo.

Assim também, é com a catequese. O catequista é um pedagogo. Tem sua inspiração na pedagogia de Deus. Jesus é um grande pedagogo. Os seus ensinamentos não são só para ser ouvidos, porque ao anunciar sua mensagem ela não é apenas uma proposta de ideias, mas exige uma resposta, ela interpela as pessoas. A mensagem é vida. O anúncio do Cristo é para a Salvação e felicidade. “Felizes os pobres no Espírito, felizes os mansos, felizes os perseguidos por causa da justiça” (Lc 1,53; Mt 5,3-11; Sl 34,4; 37,11); ainda; “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz”. Todos que os ouvia tinham nele a esperança.

Muitos são os encontros propostos por Jesus que nos ajudam a caminhar. Mas dois grandes e belos encontros nos ensinam o caminho da Iniciação cristã. Muito temos que aprender com a pedagogia de Jesus aplicada na experiência que ele faz com a Samaritana, no evangelho de João e com os Discípulos de Emaús, no evangelho de Lucas. São experiências que até hoje nos transportam para a vivência do grande Mistério da vida do Cristo. Ele que se revela como nosso irmão que nos leva ao Pai.

Por fidelidade e obediência a quem o enviou e à mensagem que pregou e viveu, Jesus se entregou à morte livremente: torna-se assim o verdadeiro Cordeiro que tira o pecado do mundo. Por isso o Pai o ressuscita, confirma-o Senhor e Filho de Deus e o coloca à sua direita com a plenitude o Espírito. É assim que Jesus está no centro da mensagem da catequese (cf. EM 22). A meta final do encontro com Jesus é o Pai: “Eu sou o Caminho que leva ao Pai, ninguém vai ao Pai, senão por mim”.

Jesus no centro da mensagem catequética

Toda a mensagem de Jesus nos chega por meio do anúncio missionário. É aprofundada e vivida na comunidade dos que seguem o caminho do Evangelho: a Igreja. É vivida intensamente, quando a comunidade celebra a liturgia, especialmente no Batismo, Crisma e Eucaristia, sacramentos que nos tornam iniciados na vida do Cristo.

A Eucaristia nos proporciona a participação no memorial eficaz da paixão-ressurreição-ascensão de Cristo. Aqueles que foram justificados pela Cruz de Cristo e por isso regenerados (batismo) e receberam o selo espiritual (crisma) para o aperfeiçoamento, unem-se à Igreja e já capacitados participam do mistério pascal. Juntamente com a Eucaristia, o Batismo e a Crisma são os sacramentos da Iniciação Cristã. Iniciação significa que ninguém nasce cristão, mas se faz cristão, precisa aprender a ser cristão. É um processo contínuo, educativo que envolve evangelização (Kerigma), catequese, liturgia, engajamento na Igreja e na construção do Reino de Deus.

O Mistério cristão é essencialmente pessoal. A Iniciação visa suscitar, ampliar e aprofundar o encontro dos catecúmenos e ou catequizandos com Deus, com as pessoas, com o mundo. O projeto cristão é projeto de comunhão: comunhão com Deus e com os irmãos e irmãs. Experiência, porém, não é algo meramente interior e subjetivo, mas também exterior e objetivo. Trata-se, portanto, de frequentar o Mistério, de ir e vir a ele, de se deixar introduzir nele e ser por ele transformado, de senti-lo e dizê-lo, de testemunhá-lo e comunicá-lo a outros.

Viver o Mistério de Cristo se dá em uma aceitação pessoal, uma participação com liberdade. É uma opção pessoal, pois ninguém pode aceitar incorporar-se em Jesus e na Igreja no lugar do outro. É cada um se deixando introduzir no mistério de Deus através da vivência e experiência e da participação. Viver o Mistério da fé é se oferecer ao Pai, seguindo a ordem de Jesus.

Neuza Silveira de Souza