Para entender bem os sacramentos, faz-se necessário observar a história da salvação e ali situar o significado da obra salvífica de Cristo, em si mesma e em sua dimensão histórica.
Os Sacramentos, do Pentecostes à Parusia, são os sinais que comunicam o mistério de salvação realizado em Jesus. A Igreja tem Cristo como cabeça (cl. Cl 1,18) e os Sacramentos edificam a Igreja como “Corpo de Cristo” neste mundo.
Ao falar de sacramentalidade, os santos Padres citam os acontecimentos do Antigo e do Novo Testamento, como também das celebrações da Igreja. Desse modo, expressam como a revelação de Deus se realiza no tempo e por meio de sinais. Segundo Paulo, Cristo é o “mistério-sacramento” de Deus, pois nele está a manifestação plena e histórica do desígnio de Deus (cf. Ef 3,9; Cl 1,27).
A riqueza dos Sacramentos na vida da Igreja
Pode-se dizer que os sete Sacramentos estabelecidos pela Igreja para dar sentido à nossa vida cristã, não compreendem totalmente toda a riqueza de Jesus Cristo e da Igreja. Os cristãos devem ser educados, catequizados, evangelizados a compreenderem a riqueza da fé para além de seus limites e perceberem todos os sinais presentes no mundo, que nos convidam a se colocar no seguimento do Cristo.
Jesus Cristo, por sua vida, sua obediência e seus gestos de bondade, é o sacramento por excelência, pois Nele se culmina toda a história da salvação. Ele encarnou e trouxe para dentro de nossa história o plano salvífico de Deus. Ele é o Sacramento Vivo de Deus. “Ele é a forma visível do Deus invisível” (Cf. Cl 1, 15).
A Igreja, como sacramento de Cristo, celebra a salvação em todo tempo e lugar. Os Sacramentos da Igreja comunicam o que significam em relação a Cristo: cada um deles são momentos do grande sacramento que é Jesus, e realizam em cada crente a salvação de Cristo.
Assim, os Sacramentos apontam para o que é fundamental. E o fundamental é a fé, ou seja, a vida cristã. Então, o grande valor dos Sacramentos está no fato de serem sinais da fé cristã.
Toda a Igreja se alegra com aqueles que buscam o Sacramento da Iniciação Cristã e com aqueles que, já iniciados na fé, celebram os Sacramentos em Cristo e retoma a consciência de serem renascidos pela água e pelo Espírito, e de fazer parte da mesa, anunciando a morte e ressurreição de Jesus.
Renascer da água e do Espírito! Eis a graça que recebemos do Pai, por Jesus Cristo e pelo seu Espírito. Vivenciar esse momento é adentrar no mistério pascal. Nele acontece a passagem de Cristo deste mundo ao Pai, passagem que se deu na “quenose” filial, pela qual Jesus foi glorificado à direita de Deus e comunica o Espírito Santo.
Como diz a Carta aos Hebreus: Jesus entrou, por nós (do outro lado da cortina do santuário), como precursor, tendo-se tornado “Sumo Sacerdote” para sempre. Por essa razão Jesus é capaz de salvar definitivamente aqueles que se dirigem a Deus por meio Dele. De fato, Jesus está sempre vivo para interceder em favor de nós (Hb 6,19-20; 7,25).
Jesus não foi considerado sacerdote em sua vida terrena. Contudo, a fé-cristã, depois de sua morte e ressurreição, interpretou seu sacrifício como culto oferecido a Deus. O sacerdócio de Jesus é existencial, e não propriamente ritual. Ele é sacerdote por que:
• Se aproxima dos que sofrem, porque é solidário com eles (cf. Hb 2,17-18; 4,14-15);
• Partilha do sofrimento dos irmãos, podendo então ajudá-los;
• É sacerdote em virtude da entrega da própria vida ao Pai, entrega essa realizada na morte (cf. Hb9, 26), mas vivida igualmente em cada instante de sua existência (cf. Hb 10,5-10);
• Se entrega aos irmãos (cf. Hb 9,11-18), no amor-serviço que culmina com a morte;
• Jesus é o sacerdote que oferece a si próprio, que oferece a própria vida, sem ruptura entre culto e vida cotidiana. O sagrado não está separado do humano (cf. Hb 13,16).
Jesus, no seu jeito de ser, demonstra seu grande amor por nós. Ele nos acompanha desde o nosso nascimento até a nossa morte, ou seja, nossa volta para Ele. E o nosso jeito de perceber o seu amor por nós e vivenciá-lo, é através dos sinais deixados por Ele. Assim vive o cristão, na esperança da ressurreição, que se dá no cotidiano, em seus esforços na constante renúncia do pecado e da morte e na permanente aceitação e vivência da vida nova em Cristo.
Neuza Silveira de Souza
Comissão bíblico-catequética do Regional Leste 2