Coube a Marcos resgatar as memórias de Jesus no seu cotidiano e no seu convívio com os discípulos, bem como credos e hinos que lembravam a sua encarnação, a crucifixão e a ressurreição. Recuperava, assim, a imagem do Jesus humano, com toda a sua capacidade de resgatar e comunicar a vida. As memórias registradas traziam, além dos traços próprios de Jesus, muitas projeções e interpretações marcadas pela cultura de seu tempo e de seu povo.
Marcos, ao redigir sua obra literária sobre Jesus e seu discipulado, criou um gênero literário próprio que passou a ser chamado de “evangelho”. Ele traz consigo marcas e fragmentos de vida de muita gente que o precedeu na fé, nos estudos e na busca da melhor compreensão para a vida e a organização da comunidade. A intenção de Marcos é resgatar a importância do Jesus terreno para a vida das comunidades e para o anúncio da fé. Com o Evangelho, a Boa Notícia, Marcos quer fortalecer a fé, renovar a esperança e acalentar o amor, considerando as experiências das comunidades. Seus destinatários são cristãos gentios, porém ligados a uma origem palestinense.
Segundo a tradição, o evangelho teria sido composto em Roma. Mas o Evangelho faz alusão a um contexto marcado pela deflagração do movimento rebelde na Judéia e na Galileia no ano 66, quando os exércitos romanos foram enviados para sufocar a rebelião. Considerando esse contexto, pode-se dizer que o Evangelho foi escrito na Galileia ou na Síria, durante o período da revolta Judaica.
A estrutura do Evangelho
Ao apresentar seu Evangelho, Marcos oferece uma estrutura que nos ajuda a percorrer o caminho e entrar na dinâmica de Jesus.
No prólogo Marcos apresenta a Boa Nova (o evangelho) de Jesus, Filho de Deus (Mc 1,1). Essa Boa Nova é a Revelação da própria pessoa, das palavras, dos gestos e da obra de Jesus. Mostra-nos Jesus, Filho de Deus, no meio de nós, na história.
Marcos introduz Jesus que se aproxima de João como um de seus discípulos (1,9).
Jesus recebe o Espírito (1,10-11) e é conduzido ao deserto, onde é tentado por satanás. (Mc 1, 12-13).
Quem é Jesus de Nazaré para a comunidade de Marcos?
Marcos apresenta Jesus com vários títulos salvíficos: Filho de Deus (1,1); Filho do Homem (2,10), Messias (1,1), Senhor (1,3), Filho de Davi (10,47-48), Santo de Deus (1,24), Profeta (6,4), Mestre (5,35), pastor (14,27), Nazareno (1,24).
Jesus é mestre, ensina com autoridade, e as pessoas ficam maravilhadas e estupefatas, reagem aderindo ou se opondo a ele (11, 15-19). O Reino de Deus é o centro do ensino e da práxis de Jesus. Ele não se presta a formar uma teologia da glória, triunfalista. O Evangelho aponta para o segredo a respeito de suas práticas terapêuticas e exorcistas. (1,34.44; 3,12; 5,43; 8,26). Este segredo nem sempre se impôs (5,14.20; 7,36 e outros). E ele deverá ser rompido por ocasião da experiência da ressurreição de Jesus.
Na segunda parte aberta pelo capítulo oito, o Evangelho aponta para as consequências, não apenas da praxis e do caminho de Jesus, mas também dos discípulos (8,31-9,1 – resistência e renúncia; 9,31-37 – ensino e serviço, 10,32-45 – inversão de valores e relações). É o árduo caminho a Jerusalém. Assim como o Evangelho de Jesus não objetivou pompa e glória, mas culminou na cruz, ali em Jerusalém e nos arredores, somos desafiados a conhecer e acolher o caminho da cruz. O discípulo deve se colocar a caminho em humildade e resistência.
O evangelho orienta que o caminho percorrido por Jesus não é a glória, o palácio, a catedral... Nesse caminho podemos perceber a centralidade da compaixão de Jesus em sua práxis libertadora com pessoas nas estradas , nos campos, nas casas, sinagogas, a cruz e o recomeço. Essa compaixão vem acompanhada de palavra, olhar, gesto, toque, abraço, autoridade, ternura e radicalidade. Ela proporciona um caminho que leva à transformação da vida das pessoas que necessitam de ajuda e, ao mesmo tempo, modifica ou resignifica a vida de quem age com misericórdia. É também caminho de cruz porque a inversão proposta vai contra pessoas, estruturas e sistemas de poder que se opõem à proposta do Reino de Deus.
Faz-se necessário conhecer esse caminho realizado por Jesus. Não basta apenas olhar e tentar compreender o que Jesus fez, mas também se colocar a caminho, como fizeram seu discípulos, os quais deveriam fazê-lo novamente a partir da Galileia. Sobre esse caminho do discipulado vamos conversar na próxima edição.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Bíblico-Catequética
da Arquidiocese de Belo Horizonte
Lectio Divina’ significa leitura divina das Sagradas Escrituras ou, como nós a conhecemos atualmente, "Leitura Orante". A ‘Lectio Divina’ é uma prática antiga dentro das comunidades cristãs, com diferentes maneiras de realizá-la. Ela recebe este nome de Orígenes, que viveu do ano 185 a 253 do nosso tempo. No Brasil foi sistematizada pelos monges cartuchos, por volta dos anos 1200. Com o movimento da Contra-Reforma, por volta de 1530, esta prática esfriou-se em meio às comunidades cristãs, mas retomou o seu impulso com o Concílio Vaticano II.
Orígenes desenvolveu três modalidades importantes de leitura da Bíblia. Primeiramente ele leu a Bíblia com a intenção de analisar melhor o texto e de oferecer a edição mais confiável. Então, o primeiro passo: conhecer realmente o que está escrito e conhecer o que essa Escritura pretendia dizer. Em segundo lugar, Orígenes leu sistematicamente a Bíblia com seus comentários. Ele procurava captar bem o que queriam dizer os autores sagrados. E em terceiro lugar ele dedicou-se à pregação. Em suas Homilias ele aproveitava para lembrar as diversas dimensões do sentido da Sagrada Escritura, que ajudavam a exprimir um caminho no crescimento da fé: há o sentido literal; um sentido 'moral', ou seja, o que devemos fazer vivendo a Palavra; e a dimensão 'Espiritual', isto é, a unidade da Escritura, que em todo o seu desenvolvimento fala de Cristo.
A Leitura Orante sempre teve como objetivo favorecer o encontro pessoal com Deus, por meio da Palavra. Aos poucos ela vai se tornando uma prática frequente entre nós cristãos que desejamos dar testemunho da Palavra de Deus. Quando realizada com frequência, ela modifica para melhor as nossas relações conosco mesmos, com os outros, com o universo, e com Deus que vem ao nosso encontro para dialogar conosco, para escutar-nos. É o encontro entre dois corações, entre dois desejos; é doação recíproca. Deus vem ao nosso encontro e nos chama à comunhão, por meio de uma escuta obediente e disponível: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5). Nós vamos ao seu encontro com o desejo ardente de encontrar com Ele, aquele que o nosso coração ama, e de realizarmos a sua vontade com a comunidade que nele acredita.
O importante é adquirir a prática de ouvir a Deus. Ouvir não com o ouvido, mas com o coração. Ouvir a Deus é acolher no coração o que Ele inspira. A resposta do Senhor é semeada no nosso coração, no mais íntimo do nosso ser, no mais profundo de nós mesmos, no cerne de nós mesmos, lá onde Deus habita, lá onde Deus mora.
Pode-se fazer a Leitura Orante de várias formas. Aqui vamos apresentar a forma de leitura Orante orientada pelo SAB - Serviço de Animação Bíblica. Trata-se de uma proposta de cinco passos na sequencia: Leitura, Meditação, Contemplação, Oração e Ação. Ela segue uma estrutura que se desenvolve basicamente em três momentos:
Introdução
Inicia-se com um momento de silêncio, introduz o texto bíblico que será rezado propondo esse encontro pessoal com Deus. Se está em grupo, ou comunidade, dá-se as boas vindas, canta-se um 'mantra', prepara o coração para o encontro com Deus.
Um segundo momento é a contextualização do texto e sua estrutura. Que texto vamos rezar? onde ele se encontra na Bíblia? em que contexto está sendo narrado? Por exemplo, se o texto escolhido é do Evangelho de Marcos 4,1-9.13-20 sobre a parábola do Semeador e sua explicação, podemos situá-lo no conjunto do Evangelho de Marcos: esta parábola faz parte dos ensinamentos de Jesus, dados ao povo e aos discípulos, na região da Galiléia, ao norte da Terra de Israel. Jesus estando à beira do lago de Genesaré, entrou num barco, sentou-se e começou a contar a parábola do semeador e dar sua explicação. Comparou a semente com a Palavra e os diferentes tipos de terreno onde ela cai, com os diferentes tipos de ouvintes.
Passos da Leitura Orante
LEITURA
Através da leitura podemos observar a que gênero literário o texto pertence. No sentido histórico: qual a sua dimensão econômica, social, política, ideológica e afetiva; no sentido teológico podemos observar o que Deus tinha a dizer para aquele povo e para nós hoje. O texto deve ser lido e relido, em voz alta, com atenção. Deixar o texto falar para cada pessoa, pois cada uma vai ter a compreensão do texto de acordo com a sua vivência, sua experiência, sua realidade. Na Leitura respondemos à pergunta: o que o texto diz?
Se está em grupo pode cantar um 'mantra' ou um refrão de um canto, entre um passo e outro. No nosso exemplo pode-se pensar no refrão: Põe a semente na terra, não será em vão. Não te preocupe a colheita, plantas para o irmão.
SEGUNDO PASSO - MEDITAÇÃO
A Meditação nos ajuda a responder à pergunta: O que o texto diz para mim? para nós? O que o texto quer dizer? qual a mensagem que nos apresenta hoje? Como atualizamos a palavra em nossa vida? Partindo de uma Palavra ou versículo do texto faz-se o diálogo com Deus, em que ele pode ajudar; que mudanças propõe? Aqui, eu, você, nós somos chamados ou chamadas a refletir sobre aquilo que mais chamou sua atenção e por quê. Que tipo de terreno eu sou? Como acolho a Palavra de Deus, que é semeada de mil formas no terreno do meu coração, em meu dia a dia?
TERCEIRO PASSO - CONTEMPLAÇÃO:
Contemplação é o reviver, com os personagens do texto, a experiência que eles viveram. No meu dia de hoje, o que essa Palavra me leva a experimentar? procurar reconstruir na mente o cenário onde está sendo narrado o texto. Imagine Jesus chegando ao lago de Genesaré, ou a um lago que você conhece. Ele entra num dos barcos que estava ali, e senta-se no barco e começa a ensinar o povo e a seus discípulos, por meio da parábola do semeador. A semente da Palavra que Jesus foi anunciando, caiu no coração dos ouvintes. O coração que era como o terreno “ao longo do caminho”, o “terreno pedregoso”, o terreno “cheio de espinhos” e por fim, “numa terra boa.
Imagine-se no meio dessa multidão, entre esses ouvintes. Escolha o seu lugar. Observe a expressão da face de Jesus, o tom de sua voz, o seu jeito de olhar a multidão e os seus discípulos. Contemple Jesus e a multidão. Pouco a pouco perceba os desejos, sentimentos que vão nascendo em seu coração.
QUARTO PASSO - ORAÇÃO: A oração nasce da experiência vivida desde a leitura, a meditação, a contemplação. Ela me leva a responder à pergunta: O que o texto me leva a falar com Deus? Este é o momento de falar com Deus sobre os desejos e sentimentos, que a Palavra fez nascer em seu coração. Pode ser uma oração de agradecimento, de louvor, de pedido e até mesmo de se fazer silêncio e escutar.
QUINTO PASSO - AÇÃO: É o momento de escolher um gesto concreto, para viver a Palavra. a pergunta que se faz é: O que o texto me sugere viver? Pode ser uma atenção maior aos que convivem comigo, paciência com as pessoas, uma palavra amiga a quem precisa, uma ajuda aos necessitados etc.
Oração conclusiva: Que o Senhor nos abençoe e nos guarde; conceda-nos a graça de sermos terra boa, que acolhe sua Palavra, procura traduzi-la em gestos de amor, de verdade, de justiça e de fraternidade.
Bendigamos ao Senhor. Graças a Deus.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Arquidiocesana Bíblico Catequética de Belo Horizonte.
Nós catequistas e agentes de evangelização devemos capacitar-nos na Bíblia para desenvolver um bom trabalho com os catequizandos, e também, na comunidade. O estudo da Bíblia pode nos ajudar a senti-la como algo importante para a nossa vida. O Professor Dr. Francisco Ourofino, em entrevista à revista IHU, diz que a Bíblia na mão do povo, no Brasil, é um gesto de libertação. Isto significa que o leigo tem em suas mãos aquilo que, segundo a própria Dei Verbum, é a fonte primeira da Revelação. E se o leigo tem em suas mãos a fonte primeira da revelação e a lê a partir de sua própria realidade econômica e sociopolítica, esse leigo está fazendo teologia, ou seja, está aprendendo as coisas sobre Deus.
Pesquisando sobre o Antigo Testamento percebemos nele que Deus está sempre presente no seu povo, especialmente no santuário. Encontramos os profetas do Antigo Testamento cantando, com frequência, a ternura e a grandeza do amor de Deus pelo seu povo, comparando-o àquele de um esposo por sua esposa. Podemos ir lá, agora, na Bíblia e fazer a leitura dos textos que falam desse amor: Os 1,2; 2,3-15; 4,10-19; Jr 31,3; Is 54,5-8; 61,4s; Ez. 37,21-23; Ml 1,2. Podemos deixar correr nossas vistas sobre o livro de Cântico dos Cânticos e perceber nele, no sentido parabólico, que nada faz senão celebrar esse amor conjugal entre Deus e Israel.
Compreendendo esses textos no seu tempo e transportando-os para a nossa realidade, ou seja, para nosso ambiente cristão, aqueles textos são lidos à luz de todas aquelas manifestações do amor de Deus pela Igreja e, consequentemente, por nós. Diante do Decálogo - os dez mandamentos - descobrimos que o mandamento do amor de Deus e do próximo, no qual se resume todo o decálogo, toma no Novo Testamento um sentido preciso, explicado no Evangelho segundo São João:
"Vede que grande amor o Pai nos concedeu, que sejamos chamados filhos de Deus; e nós o somos! "Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, e sabemos que, quando ele aparecer, seremos semelhante a ele, já que o veremos tal como ele é. Todo o que nele põe sua esperança torna-se puro como ele é puro. Tudo o que é nascido de Deus não comete mais o pecado, porque sua semente permanece nele; Não pode mais pecar porque nasceu de Deus. Todo aquele que não pratica a justiça não é de Deus, nem aquele que não ama seu irmão. Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. Deus nos amou a tal ponto de nos enviar seu filho único ao mundo , para que vivêssemos por meio dele. Nisto consiste o amor. Não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou. Se Deus nos amou a tal ponto, nós também devemos amar-nos uns aos outros. Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e seu amor em nós é perfeito. Ele nos deu o seu Espírito. Quanto a nós, damos testemunho, por o contemplamos, que o Pai enviou seu Filho como salvador do Mundo. Deus é amor e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus permanece nele. Nós o amamos porque ele por primeiro nos amou. (1Jo3,1a-3.9.10; 4,7-16.19).
O Segundo Testamento nos ensina que as profecias do Antigo Testamento a respeito do Messias e do seu Reino tem sua realização integral no plano da vida histórica e mística de Cristo. Essa profecia é importante e nos chama atenção para o fato de que no Antigo Testamento, tudo o que foi preparado e anunciado agora se cumpriu na pessoa de Cristo e nos cristãos.
Nesse sentido, percebemos uma unidade continuadora dos dois Testamentos e de toda a história. Podemos dizer que o Novo Testamento interpreta o significado de coisas, pessoas e acontecimentos do Antigo. Essa relação entre as realidades do Antigo Testamento e realidades do Novo Testamento é chamada de Typos, Antitypos. O método utilizado pelos estudiosos para entender essa relação é chamado de tipologia.
Essa compreensão da unidade entre os dois Testamentos bíblicos nos ajudam a entender que os seus escritos não são apenas fatos históricos, ou histórias, mas neles se encontra o mistério de Cristo que lemos na Bíblia e o realizamos na ação litúrgica.Assim, eu me encontro imerso nessa dinâmica. A Bíblia é também a minha história como a vivo agora.
Esse modo de viver que nós cristãos vamos aprendendo na liturgia e fora da liturgia, na vida, nas catequeses bíblicas e doutrinárias da Igreja é o modo que foi ensinado por Cristo, pelos Apóstolos, pela primeira catequese cristã, pelos padres da Igreja e todo esse ensinamento foi sendo penetrado na mente de todo cristão. Pelos caminhos da Igreja eles foram se atualizando e se adequando ás novas realidades, chegando até os nossos dias. Mas muitas coisas foram ficando para trás e acabou não chegando até nosso tempo o seu sentido e significado.
Portanto, precisamos retomar os nossos estudos e buscar o que ficou perdido na história. Isso trará maior vigor, entusiasmo e vitalidade espiritual à nossa fé.
Hoje, a prática da leitura Bíblica através do método de Leitura Orante, Oficio Divino das comunidades e círculos bíblicos, bem como a presença vivencial nas Celebrações Eucarísticas são formas de ir se apropriando da Palavra de Deus e se deixando encarnar por ela.
A Palavra de Deus é fonte de vida. A Pa-Lavra carrega consigo o seu significado fenomenológico e tem o seu lugar na vida do Ser humano. Por definição podemos dizer que:
a) Pá = instrumento de trabalho com a terra
LAVRA = ação de lavrar (imprimir profundamente; inscrever, gravar, cultivar a terra), ou ainda: local de onde extrai pedras preciosas.
Assim sendo, PA-LAVRA é um instrumento da linguagem humana usada para cultivar, em profundidade, o CORAÇÃO humano. Como o homem do campo trabalha na terra retirando dela os seus frutos, assim é a palavra cotidiana na vida do ser humano.
b) Na cultura e religião - a palavra consegue cavar covas profundas em nossa fé, em nossa experiência religiosa. Se for bem dita fará crescer em todas as direções. Mas tanto a palavra que utilizamos em nosso dia-a-dia, quanto a Palavra de Deus não agem por si mesma. Tanto uma quanto a outra, quando mal colocadas, podem nos aprisionar, nos fazer pessoas medrosas, doentes. A Palavra de Deus pode nos libertar, sempre, desde que não seja manipulada pelos interesses de quem a comunica. Por isso a necessidade do seu conhecimento.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Arquidiocesana Bíblico-Catequética de Belo Horizonte.
"Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda a criatura!" (Mc 16,15) e ao encontrar as pessoas pelo caminho, faça como Filipe fez ao se deparar com o Eunuco: aproxime-se e se deixe convidar, crie a oportunidade para proclamar a Palavra, para explicar as escrituras a quem prec isa de ajuda (At 8,30-31.35).
A Igreja é chamada a anunciar a Boa-Nova de Jesus, a propagar a Palavra de Deus, tornando viva a Escritura Sagrada por meio proclamação e da pregação.
Vários são os sentidos da expressão "Palavra de Deus". Pensando-a como conceito trinitário, por exemplo, sugere comunicabilidade divina. Assim como a Bíblia usa a linguagem de modo muito variado, a questão da verdade pode ser respondida de diferentes modos, em diferentes níveis de entendimento. Mas ao considerar um entendimento da Bíblia como "verdade proveniente de Deus" é preciso cuidado para não deixar de apreciar passagens em que Deus não fala diretamente com o homem.
Surge, então o questionamento: a verdade bíblica é verdade para quem? E a resposta: a verdade da bíblia é a verdade salvífica para todos. A escritura ensina a verdade que Deus desejou colocar nos escritos sagrados , em seu projeto de salvação. Assim, para o catequista, perspectiva querigmática deve ser a de retomar o primeiro anúncio dentro do contexto da história da salvação.
É fundamental considerar que tanto a doutrina cristã, quanto a vida de Jesus foram escritas não apenas para serem lembradas, mas para serem pregadas. Vale recordar que pregar a verdade, no sentido bíblico, significa falar sobre a verdade de Deus, indissoluvelmente ligada à sua fidelidade. A verdade das Escrituras é constatada quando se perceber nas passagens escritas, que Deus manifesta fidelidade a seu povo, levando-o a uma união amorosa consigo mesmo.
A verdade Bíblica chega àqueles que desejam entender a Palavra de Deus escrita na Bíblia e na vida. Desde as datas dos escritos do Novo testamento, muito tempo se passou, muitas e variadas orientações para a leitura dos textos bíblicos se desenvolveram, mas a pergunta de Filipe feita ao "eunuco" naquele dia em que eles se encontraram no caminho, ela permanece até hoje: "Tu compreendes o que está lendo?" e a resposta do eunuco que também permanece atualíssima no meio de nós: Como poderia, se ninguém me orienta?" Como posso compreender a Palavra, interpretá-la, se não conheço um método de leitura? Que passos devo dar?
Ler e interpretar a leitura bíblica
Cada pessoa que lê a Bíblia faz sua leitura a partir de seu lugar, ou seja, de sua realidade, do seu jeito, para realizar seus anseios, tirar suas duvidas, para rezar a Palavra de Deus. Primeiramente, é preciso ler, reler, meditar, pesquisar, conversar, dialogar, compartilhar. Existem várias formas e finalidades da leitura bíblica. Ao fazer a leitura vão surgindo perguntas, dúvidas, dificuldades e então precisamos procurar alguém para nos explicar.
Segundo o frei Carlos Mesters, doutor em Teologia Bíblica, quando alguém vai explicar a Bíblia ás pessoas, precisa se orientar por um duplo critério: primeiro levar em consideração as exigências da realidade que hoje vivemos. Se a Bíblia tem seu valor e mensagem é para nós que a vivemos hoje esta nossa vida, pois não há outros para receberem, viverem e transmitir a mensagem. Um segundo critério é levar em consideração as exigências da revelação, expressas na própria bíblia e na fé da Igreja.
A Bíblia contém a Palavra de Deus e, por isso mesmo, tem as exigências que não dependem de nós e que devem ser respeitadas, para que a Bíblia possa ser realmente Bíblia para nós. Devemos confrontar as exigências da realidade com as exigências da revelação, não apenas como um processo metodológico, mas para escutar a voz do povo e poder, por meio dela, descobrir o que Deus tem a nos dizer. Escutar a voz do povo porque ele é o veículo da revelação divina.
A Bíblia não é um livro fácil e quem a explica precisa entrar em sintonia com a vida das pessoas, e não é tanto para rever, responder uma ou outra questão relacionada com a Bíblia, ou trocar uma peça da doutrina e ou da liturgia. É mais uma questão de mudar a sua orientação fundamental, de apontá-la novamente em direção à vida para acompanhar as mudanças que se operam na vida das pessoas.
De acordo com as urgências da ação evangelizadora da Igreja, percebemos que o caminho para a evangelização e amadurecimento da fé se constrói ao fazer a opção fundamental à Jesus Cristo, conhecê-lo, optar por segui-lo, mas como?
Toda a nossa vida de fé cristã está voltada para a vida em comunidade, vida litúrgica, aberta ao diálogo e ao anúncio. Nesse sentido, o povo de Deus precisa abeirar-se das Sagradas Escrituras na sua relação com a Tradição viva da Igreja, reconhecendo nelas a própria Palavra de Deus.
Observamos que todo o sentido da nossa vida de fé é a partir de Jesus Cristo. Ele é a Palavra de Deus encarnada. Portanto, ignorar as Escrituras é ignorar o próprio Cristo. A Bíblia tem como objetivo despertar as pessoas para a presença amiga de Deus em sua vida. Não um Deus qualquer, mas um Deus vivo e verdadeiro.
Para conhecer a Deus, tomar conhecimento das coisas sobre Ele, precisa-se ler e interpretar corretamente a Palavra de Deus e para chegar à interpretação adequada dos textos bíblicos vamos procurar quem pode nos orintar.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Bíblico-catequética de BH
Deus é fiel à sua criação. Ele criou o ser humano para si e não se cansa de nos olhar e de nos atrair. Por isso, é somente em Deus que o ser humano há de encontrar a verdade e a felicidade.
Com o olhar mais atento poderemos aflorar nossa sensibilidade para sua presença silenciosa tantas vezes abafada dentro de nós. Colocando-nos à escuta interior seremos capazes de perceber seus sinais; pode-se ouvir a voz da consciência, observar mais de perto a carência de nosso coração e até mesmo nossas atitudes egoístas. O caminho interior nos dá força e coragem para tomarmos atitudes que nos abrem para a verdade, a justiça e a liberdade. Deus quer se encontrar conosco e juntos percorrermos o caminho interior Podemos também perceber e reconhecer os sinais de Deus: onde se vive o amor, onde se sabe perdoar, onde se constrói a paz, onde somos acolhidos sem preconceitos.
Com um olhar mais atento podemos olhar para a natureza e lá perceber a presença de Deus: no ciclo das estações, na beleza de sua paisagem, na fecundidade da terra e em todo o movimento do universo.
Para perceber os sinais de Deus precisamos ter fé e a fé precisa ser educada. Diz BENTO XVI na Audiência Geral do dia 07/11/2012 sobre o Ano da Fé: "Educar desde à infância a saborear as verdadeiras alegrias, em todos os ângulos da existência - a família, a amizade, a solidariedade com quem sofre, a renúncia ao próprio eu para servir ao outro, o amor pelo conhecimento, pela arte, pela beleza da natureza, tudo isso significa exercitar o gosto interior e produzir anticorpos eficazes contra a banalização e o abatimento hoje difundidos".
A experiência do povo da Bíblia nos ajuda a fazer a nossa experiência
Como povo de Israel, falamos com Deus nos momentos difíceis da vida. Como o povo do exílio o invocamos e sabemos que Ele não abandona seu povo. É a experiência de que tudo pode falhar, menos a misericórdia divina. Esta atitude divina que abraça, acolhe e que se dedica a perdoar. Segundo o Papa Francisco, a misericórdia é a carteira de identidade do nosso Deus.
Encontramos ainda, na Bíblia, a experiência de Jacó que luta com Deus, imagem de nossas batalhas com o Senhor. Assim como Jacó, também podemos dizer no final de nossas lutas: Deus estava aqui e eu não sabia. A memória vitoriosa da Páscoa - passagem da morte à vida, da escravidão à libertação - animou o povo a seguir adiante.
Olhando para a experiência do povo da bíblia e da caminhada das primeiras comunidades que se puseram a caminho depois da ressurreição de Jesus, hoje percebemos como se torna significativo anunciar o Reino, a partir da experiência dos nossos catequizandos. Buscar nos fatos da vida a experiência que se fez com Deus e tornando-a "matéria-prima" da catequese, ou seja, fazer da realidade dos nossos catequizandos, permeadas pelo cotidiano de cada um, o conteúdo da catequese pois é lá "em meio aos fatos da vida que Deus atua e nos surpreende", assim diz O Papa Francisco na celebração da Santa Missa, na basílica do Santuário Nacional de Aparecida.
Com o olhar atento Deus nos acompanha; espera que lhe abramos aos menos uma fresta para que possa agir em nós. Também espera que possamos perceber a sua forma de amar: com compaixão e misericórdia. Jesus não olha para a realidade do exterior sem se deixar tocar, como se tirasse uma fotografia; ele se deixa envolver. É desse olhar que precisamos quando nos encontramos perante um pobre, um marginalizado, um pecador. Uma compaixão que se nutre da consciência de que também somos pecadores e nos leva a se envolver com essa realidade, não se esquecendo, porém, que nossos desejos e capacidade de intervenção nos fatos estarão sempre submetidos à vontade do Pai, do seu plano que é maior que o nosso. Nossa tarefa é ajudar as pessoas a ler a manifestação de Deus em suas vidas. Perceber esse agir de Deus na vida é a arte de quem aprendeu a dialogar com ele.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Arquidiocesana Bíblico-catequética de Belo Horizonte
Imagem: pexels.com
Caminhando com o Ano Litúrgico e seguindo o projeto de evangelização "O Brasil na missão continental", a Igreja, neste mês de setembro, ajuda as comunidades a refletirem sobre o profeta Miqueias, com o tema "Para que n'Ele nossos povos tenham vida" e o lema "Praticar a justiça, amar a misericórdia e caminhar com Deus" (cf. Mq 6,8).
O Profeta Miqueias era judaíta, originário de Morasti, a Oeste de Hebron. Profetizou durante os reinados de Joatão (740-736 a.E.C., Acaz, no período de 736-716 a.E.C) e Ezequias (716-687 a.E.C). Por sua origem camponesa tem semelhanças com Amós, com quem compartilha a aversão pelas grandes cidades, a linguagem concreta e às vezes brutal, o gosto pelas imagens rápidas e pelos jogos de palavras.
Miqueias foi um profeta que se sentia cheio de coragem para enfrentar os falsos profetas denunciando os crimes e os pecados do seu povo. Denunciava as diferentes práticas de injustiças espalhadas pelo Reino do Sul, centralizadas em Jerusalém, e anunciava a promessa de libertação do povo. Já nos capítulos de 1-3 encontramos esse debate sobre o tema da justiça. E, logo em seguida, nos capítulos 4 -5 encontramos o tema da salvação. Para o profeta a salvação é coisa futura. O profeta vê Jerusalém ameaçada de morte, arada como um campo e tomada de ruínas, mas também a vê sendo restaurada por Deus. Uma salvação que não é imediata, pois primeiro terá que passar por uma etapa de purificação, considerando que agora Jerusalém passa por momentos de dor e de derrota. Esta maneira de enxergar as coisas vai contra os falsos profetas que pregavam a antecipação da salvação.
Outro ponto de conflito entre os falsos profetas e Miqueias foi o lugar de onde sairia a salvação. Diante dos falsos profetas, Miqueias responde que será a cidade de Belém o ponto de partida da salvação: "E tu, Jerusalém" (4,8), "e tu, Belém" (5,1). A tradição cristã relê essa profecia em Mt 2,6 mostrando que Jesus é o Rei-Messias que nasceu numa cidade pobre, Belém, tornando-a importante e inesquecível para o mundo cristão.
O terceiro tema discutido pelo profeta é o conteúdo da salvação. No capítulo 4 do livro do profeta Miqueias encontramos as promessas de Sião (4,1-2): "E acontecerá, no fim dos dias, que a montanha da casa do Senhor estará firme no cume das montanhas e se elevará acima das colinas. Povos afluirão para ela e numerosos povos dirão: "Vinde, subamos à montanha do Senhor e ele nos ensinará os seus caminhos e caminharemos pelas suas vias". As montanhas, na Bíblia, são consideradas lugares dos encontros de Deus com seu povo (Sinai, Nebo, Ebal e Garazim, Sião, Carmelo, etc).
No capítulo 5 Miqueias define sua profecia de salvação apontando para Belém como o lugar do nascimento do Messias. A salvação virá sem violências e será benéfica para todos (5,6). Os inimigos devem ser eliminados, mas para o profeta não são as grandes potências como vê os falsos profetas, mas sim todos os ídolos nos quais confiam os israelitas: exércitos, fortalezas, adivinhos, falsas divindades (5,9-14). São estes os inimigos que Javé vai exterminar. Todo o debate de Miqueias sobre o conteúdo da salvação contribui para ir derrubando concepções errôneas e ajudando o povo a compreender a salvação como processo de julgamento de caráter purificador. No desenvolvimento do texto vamos percebendo como o profeta vai mostrando o caminho mais importante: aquele que passa pela justiça e pela fidelidade (6,8-9).
Miqueias vai apresentando as injustiças que permeiam a vida das pessoas nas diversas instâncias: social, econômica, política, religiosa e cultural. Mas, ao mesmo tempo, ele vai deixando claro como a misericórdia divina vai se manifestando, tornando-se presente na vida do ser humano por meio de pessoas, atos e fatos da vida. A misericórdia divina demonstra que Deus não abandona as pessoas e continua visitando-as no seu cotidiano. Miqueias nos revela a grandeza do agir divino, no qual sua bondade prevalece sobre o castigo e a destruição (Mq 3,8). A última palavra de Deus não será de condenação, mas sim de salvação.
Hoje, o Papa Francisco, em sua Misericordiae Vultus (o rosto da misericórdia), nos ajuda a compreender a ação misericordiosa de Deus. "Ele dá tudo de si mesmo, para sempre, gratuitamente e sem pedir nada em troca. Ele vem sempre em nosso auxílio quando o invoquemos". Na sua misericórdia, Ele chama a todos para ser profetas e profetisas misericordiosos. Chama para sermos homens e mulheres de Deus que deixam o Senhor falar verdadeiramente pela sua boca.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Arquidiocesana Bíblico-Catequética de Belo Horizonte
O mês de setembro, dentro do "Ano Litúrgico" é um mês dedicado à Bíblia. Um tempo que nos convida a dedicar maior atenção à reflexão sobre a Palavra de Deus, procurando também encontrar formas de incentivar a Leitura Bíblica.
Ler a Palavra de Deus é como ler uma carta de um grande amigo, ou de um ente querido que, ás vezes distante, vai se tornando próximo à medida que a correspondência se torna contínua. Através de uma carta é como se a pessoa se fizesse presente, e está a dizer que te ama, que é teu amigo, que estará sempre consigo. Assim é a palavra de Deus. Quando nos colocamos a ler as Escrituras estamos trazendo Deus para mais perto de nós, colocando-o presente em nossa vida. Ao lermos a Bíblia devemos deixar que ele nos conduza pois se trata de um livro vivo e, como tal, quer entrar em diálogo com quem está lendo-o, quer influenciar sua vida, sua consciência.
Vamos ouvir a Deus e falar com Ele
Nossas realidades atuais parecem transcorrer tão rapidamente que não nos sobra tempo para parar, escutar e refletir sobre a Palavra de Deus. Estamos sempre apresentado desculpas pela falta de tempo de nos colocarmos em oração. Os pais, muitas vezes, não têm tempo de rezar com seus filhos, os esposos com suas esposas. Sempre estamos a fazer alguma coisa.
Observamos nos encontros de nossas catequeses que muitas crianças não sabem rezar a "Ave Maria", a fazer o sinal da cruz, pois não tiveram a oportunidade de aprender em casa.
Várias crianças afirmam que em casa a família tem a Bíblia aberta na estante, mas é muito difícil parar diante dela para ler, para ouvir Deus lhes falar.
Sabemos também que Deus tem seu jeitinho e está sempre a nos provocar, nos pressionando para que lembremos dele. Aí, quando acontecem essas provocações, nossas reações são primeirmente de reclamação: Deus, por que eu? Porque isso acontece comigo? Ou então vamos suplicar a Deus que nos ajude. E bem depois, mais tarde, talvez aconteça um "Deus, muito Obrigado", "Deus , fica comigo".
A prática da oração em família desperta o desejo de rezar em comunidade, de participar das celebrações, partilhar os momentos vividos. A oração diária é sinal do primado da graça no caminho do discípulo missionário
Sabemos, também, que há muita gente que reza e reza bem! Gente de fé que continua sua caminhada sem perder as esperanças. Gente que reza pelos que não rezam. Vamos rezar com nossos filhos, ensiná-los que Deus ouve os nossos pedidos e, assim, eles crescem com a semente da oração no coração. Então vamos continuar rezando, propagando e proclamando a Palavra de Deus. Vamos continuar lendo a Bíblia e transmitindo-a aos que não leem. Vamos continuar dando o nosso testemunho cristão, vivendo os valores do Evangelho.
A prática da oração em família desperta o desejo de rezar em comunidade, de participar das celebrações, partilhar os momentos vividos. A oração diária é sinal do primado da graça no caminho do discípulo missionário.
Como o mestre Jesus que se coloca a caminho, convidando seus discípulos a caminhar com ele e chegar até às grandes multidões, assim também o Papa Francisco nos convida a ser Igreja no meio do povo, nas periferias, nos colocando a caminho. Põe-se a anunciar a Boa Noticia aos irmãos, a dar esperança aos que sofrem, a semear liberdade, luz e graça. Todos somos seres humanos vocacionados para o anúncio da Palavra. Diz o Papa Francisco, em sua mensagem para o Dia mundial de oração pelas vocações: "Nenhuma vocação nasce por si. A vocação brota do coração de Deus e germina na terra boa do povo fiel, na experiência do amor fraterno. Convido-vos a ouvir e a seguir Jesus, a deixar-vos transformar interiormente pelas suas palavras, que são espírito e vida (Jo 6,63). Não devemos ter medo: Deus acompanha, com paixão e perícia, a obra saída das suas mãos, em cada estação da vida".
Vamos deixar que a alegria de Deus reflita nos encontros catequéticos afirmando sua presença no meio de nós quando por meio da escuta da Palavra nos encontramos com seu Filho Jesus e quando colocamos em diálogo a sua Palavra.
Respondendo ao apelo do Papa Francisco que nos propõe assumir as obras da misericórdia corporais e espirituais, nós, catequistas, exercendo o ministério da Palavra, devemos nos tornar reveladores do mistério de Deus.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Arquidiocesana Bíblico-Catequética de BH
A leitura da Bíblia nos leva ao conhecimento sobre Deus
Por meio da leitura podemos descobrir como Deus se revela e de que forma podemos ser fiéis ao seu amor. Esse modo de revelar-se ocorre por meio das experiências das pessoas presentes nas narrativas das Sagradas Escrituras, a partir dos fatos da vida. Pela vida afora Deus vai se revelando, se mostrando como Pai e Mãe, cuidadoso, carinhoso e atento aos gritos dos que sofrem e pedem por justiça e paz.
Deus nos criou e nos proporcionou sentido para a vida, através do seu amor. Ele está sempre a nos chamar, solicitando que sejamos colaboradores em sua obra criadora. Chama-nos para amar e assim poder revelar todo o seu amor.
Quando começamos ler a Bíblia, Palavra de Deus encarnada na vida, vamos percebendo como muita gente contribuiu para fazer acontecer essa história do povo de Deus. De forma ordenada e bem distribuída, a história vai percorrendo o caminho do seu povo, vai relatando como aconteceu o amor entre eles e Deus e, mais tarde, no bloco de livros que chamamos de Novo Testamento, encontramos os relatos que nos mostram como o povo situado naquele tempo viveu e experimentou o amor de Deus por meio do homem de Nazaré, Jesus, o messias, o ungido, o Cristo, o Filho de Deus.
É de grande importância para nós lermos a Bíblia procurando conhecer e compreender as histórias bíblicas. Quando começamos a compreende-las, nós também passamos a experimentar esse amor de Deus. Vamos percebendo como ele continua agindo no cotidiano de cada pessoa, oferecendo a cada uma aquilo de que necessitas.
Ás vezes, pedimos e tornamos a pedir e achamos que Deus não está nos ouvindo, nem mesmo atendendo. Muitas vezes estamos a pedir coisas que, no pensar de Deus, não são importantes para a vida, não vai contribuir para a permanência da pessoa no caminho, ou talvez, é porque não estejamos entendendo o que ele espera de nós. Precisamos ir descobrindo qual é a vontade de Deus.
Assim foi com o povo daquele tempo. O amor entre Deus e seu povo cresceu e gerou frutos. Os grandes momentos permaneceram na memória do povo e foram contados nas Sagradas Escrituras. Através dos comentários bíblicos lemos as Alianças que Deus fez com seu povo, comprometendo-se com eles e também recebendo o comprometimento do povo.
Os profetas daquele tempo eram porta-vozes de Deus. Colocavam-se em defesa dos mais fracos, oprimidos pelo sistema monárquico, cobravam o cumprimento da Aliança e chamavam o povo à liberdade. E assim, Deus vai se mostrando através da voz forte e poderosa dos profetas.
A leitura dos Salmos nos conduz à oração. O livro, constituído de vários gêneros literários, transporta-nos para o mundo da poesia, prosa poética e cânticos de amor, de guerras e cânticos cultuais.
A poética se apresenta como uma linguagem por excelência, para expressar a experiência com Deus. Na Bíblia, a poética foi e continua sendo importante para a difusão de valores éticos e na reflexão teológica. Toda essa poesia não está só nos Salmos, mas a encontramos, também em diversos livros do Antigo Testamento como: os provérbios, as Lamentações, o Cântico dos Cânticos, em Jó, no Dêutero-Trito Isaías e Eclesiastes. Nos livros do Novo Testamento podemos ver essa poesia presente nos cânticos do Evangelho segundo Lucas (Cântico de Zacarias, de Semeão, o Magnificat), nos hinos cristológicos, catequéticos e exortativos das cartas paulinas, nos cânticos de vitória contra o mal no Apocalipse, entre outros. Aqui também, Deus vai se revelando pela poesia e arte do povo de Deus!.
Os seguidores de Jesus aprenderam a ler a Bíblia a partir da experiência com Jesus de Nazaré, profeta e Messias, crucificado e ressuscitado. É Deus se revelando definitivamente na cruz, no caminho dos discípulos e no partir do pão. Conhecer as estruturas da sociedade no tempo de Jesus, os costumes e acontecimentos dos fatos da vida ajuda-nos a compreender o que ele disse e fez. Nessa busca de compreensão fazemos a nossa experiência com Jesus, a exemplo dos primeiros discípulos. Aprendamos a saborear as alegrias efêmeras da vida que são bênçãos de Deus. E com a Bíblia na mão deixemos que a Palavra de Deus transforme nosso coração.
Recebendo as bênçãos de Deus, a graça que nos já é dada e falando sobre Deus, este é um dos modos que deixamos Deus entrar na história humana. Ele, que fala ao ser humano (homens e mulheres, que pode ser reconhecido como aquele que se dirige ao ser humano, é através do ser homem que, numa misteriosa comunhão de espírito com ele, lhe oferece hospitalidade. Nesse sentido, é a humanidade que põe a Palavra de Deus no mundo tornando perceptível a presença de Deus no mundo e na vida da cada ser humano.
Neuza Silveira de Souza
In: Opinião e Notícia 9.9.2016
Para uma boa leitura:
SILVANO, Zuleica. Introdução à análise poética de textos Bíblicos. Bíblia como Literatura. São Paulo: Paulinas, 2014.
A Bíblia ensina grandes valores
Não reduzamos a Bíblia a exemplos edificantes, acentuando normas, proibições. Mas levemos a viver os grandes valores que a Bíblia nos mostra: serviço, justiça, misericórdia, perdão, fraternidade e tanto outros. A Bíblia resume toda a moral em amar e Deus e ao próximo. Este amor será criativo e descobrirá como colocar isto em prática do melhor modo possível.
A Bíblia não dá receitas prontas
A Bíblia não dá receitas prontas para nosso agir hoje. A vida moderna nos coloca diante de questionamentos não tão simples e que não se apresentavam ainda no tempo da Bíblia, como: guerras nucleares, corrido armamentista, preservação da natureza, controle da natalidade, aborto, democracia, direitos dos trabalhadores, emancipação da mulher, problemas da bioética , clonagem, e tantos outros.
A Bíblia não fala diretamente sobre isto. Fala sobre problemas morais e éticos do seu tempo, problemas que nem sempre são os nossos, como a observância da Lei de Moisés, as guerras “santas”, a idolatria e outros. Por outro lado, problemas como riqueza/pobreza, poder/opressão, culto/vivência estão bem presentes também nos dias de hoje.
A Bíblia quer ser uma inspiração para nós, hoje, para encontrarmos o caminho certo dentro do Plano da Salvação de Deus. Trata-se mais de uma mentalidade do que de prescrições exatas; é mais uma procura, uma descoberta da vontade de Deus hoje que quer nos tirar da “casa da escravidão” (cf. Ex 20,2).
Jesus Cristo está no centro
Para os cristãos, Jesus Cristo é o ponto alto da salvação de Deus. Toda a Bíblia encontra seu sentido pleno na pessoa dele. Não devemos cultuar o Livro. Antes do Livro está a pessoa viva de Jesus Cristo, presente na sua comunidade que, pela força do seu Espírito, quer renovar a face da terra e implantar o Reino do Pai, desde já, aqui e agora.
O método
O método é o conhecido VER (a realidade, as experiências, as dúvidas e perguntas...; JULGAR à luz da Bíblia tal realidade; AGIR (mudar de mentalidade e chegar à ação; CELEBRAR o que foi refletido; AVALIAR de vez em quando. Um bom exemplo do “método” de Jesus encontramos em Lc 24,13-35 onde encontramos os momentos de diálogo e situação (vv 13-24, julgar à luz das Escrituras (vv 25-27, celebrar (vv 28-31, agir (vv 32-35). A narração da mulher Samaritana segue o mesmo desenvolvimento. Toda catequese bíblica deve partir da vida, iluminar com a Palavra de Deus, levar à oração e celebração e, assim, levar à conversão, ao compromisso.
Conclusão
Estas reflexões (que não pretendem ser completas) mostram que não se trata de colocar simplesmente a Bíblia na Catequese e fazer a leitura de certos textos. Supõe que o catequista saiba usar a Bíblia dentro de uma visão libertadora, dentro do contexto atual da vida, levando a um compromisso em nível pessoal, comunitário e social.
Aconselhamos fazer um estudo com os catequistas e aprofundar ponto por ponto e ver em que nossa Catequese bíblica deve mudar e melhorar.
Inês Broshuis
Comissão para animação Bíblico-Catequética do Regional Leste 2
A Bíblia faz uma leitura a partir dos pobres
Pode-se fazer a leitura da Bíblia a partir de diversos ângulos. Cada ângulo descobrirá determinadas facetas. Podemos ler a Bíblia como uma interessante leitura de fama mundial ou para defender nossas posições religiosas contra aqueles que pensam diferente. Podemos ler a Bíblia para encontrar consolo e paz. O “poderoso” encontrará textos a seu favor, a mulher descobre certos acentos que escapam à leitura feita pelo homem...
Para sintonizar com os Profetas e com o próprio Jesus, façamos a leitura da Bíblia a partir do pobre, do marginalizado. Os pobres têm lugar preferencial na Bíblia, são chamados bem-aventurados e benditos.
A Bíblia é o livro da comunidade
A Bíblia é o livro do Povo de Deus, das primeiras comunidades cristãs, das nossas comunidades hoje. Lida em comunidade, a reflexão se aprofunda e enriquece. A Bíblia quer construir e fazer crescer a comunidade de fé, a comunhão fraterna, a vida de oração (leitura orante da Bíblia). Leva à solidariedade e ao compromisso. Por isto, é importante a leitura da Bíblia em grupo, onde Jesus está no meio de nós para nos iluminar.
Evite-se uma leitura intimista, simplista. A Palavra de Deus é altamente questionadora, visa a conversão do seu povo, denuncia atitudes que vão contra a prática comunitária da fraternidade e igualdade.
A Bíblia deve ser lida na perspectiva do Reino
A leitura bíblica não visa somente a formação da comunidade, mas deve inspirar o serviço ao mundo, o qual deve ser transformado em Reino de Deus, Reino de paz e justiça, de fraternidade e igualdade, onde Deus é tudo em todos. O Reino ultrapassa as fronteiras da Igreja, não depende de estruturas e se completará na eternidade.
Por isso, a leitura da Bíblia deve levar a uma conscientização, a um compromisso para uma ação transformadora da sociedade, onde o Reino está para ser construído. Tal leitura acentuará a nossa responsabilidade como colaboradores de Deus no seu Plano de Salvação que é um plano universal.
Evitemos a visão de um Deus milagreiro que resolve os problemas humanos sem a atuação do ser humano.
Saibamos ler a linguagem simbólica da Bíblia que, através de muitas narrações de milagres, quer fazer entender que Deus não nos deixa sozinhos no processo da libertação. Tomando literalmente as narrações de milagres, corremos o risco de fazer uma leitura alienante que dispensa a atuação humana, deixando a solução dos problemas unicamente à ação milagreira de Deus. É importante saber que Deus efetua e realiza seu Plano de Salvação com a nossa cooperação e que recebemos um chamado divino para construir o Reino. Nossa atuação é indispensável.
Evitar uma oposição entre Antigo e Novo Testamento
Não façamos oposição entre o Antigo (ou Primeiro) e o Novo (ou Segundo) Testamento. É o mesmo Deus que se dá a conhecer: O Deus da Aliança que ama seu Povo e quer libertar. Em Jesus, Deus veio completar a Aliança, mas não a derrubou ou substituiu. O Novo Testamento é uma releitura do Antigo Testamento à luz da morte e ressurreição de Jesus. Jesus está na linha de muitos profetas e os primeiros cristãos entenderam Jesus a partir das Escrituras. (cf. Ez 34,1-6.11-16)
É muito importante conhecer o Antigo Testamento. Quanto mais o conhecermos, tanto mais entenderemos quem é Jesus, suas ações, seus ensinamentos, seus muitos títulos. A riqueza do Antigo Testamento reflete na pessoa de Jesus com maior fulgor e perfeição. Tal leitura despertará também maior respeito pelas raízes judaicas do cristianismo. Aumentará o respeito pelo povo judeu, o primeiro chamado por Deus e que continua sendo chamado (cf. Rom 11).
Inês Broshuis
Comissão bíblico-catequética do regional Leste 2
A Bíblia é a primeira fonte da Catequese. Ela deve inspirar todo o processo catequético.
Mas, para trabalhar adequadamente com a Bíblia no processo catequético, o próprio catequista deve se formar para ter uma visão da Bíblia que realmente ajude os catequizandos, tanto crianças, jovens e adultos, a alimentar sua vida cristã.
A Bíblia é um livro para adultos
A Bíblia é um livro escrito por adultos para adultos. Ela trata as pessoas como adultos. Deixa espaço para refletir e para decidir. Não dá receitas prontas, nem coloca grandes dogmas de fé. A Bíblia leva a descobrir a mão de Deus nos acontecimentos, alerta para a vivência da Aliança e deixa especo para se posicionar diante dela. Na própria Bíblia encontramos correntes diferentes, idéias às vezes opostas, releitura de antigos textos. A Bíblia é diferente de um catecismo que coloca as verdades da fé sem muita possibilidade de discussão ou de opiniões diferentes. Disto vemos também, que devemos ter um certo cuidado ao trabalhar a Bíblia com crianças. Exige uma abordagem própria conforme sua idade, sua experiência da vida etc. (É um assunto que pode ser abordado em outra ocasião)
A Bíblia relata a experiência que o Povo da Bíblia tem de Deus
A Bíblia não é a Palavra de Deus que caiu do céu. Ela brotou da própria vida com suas lutas e sofrimentos, com suas situações e acontecimentos. É aí que o Povo da Bíblia foi descobrindo a mão de Deus, seu Rosto, seus apelos. A Bíblia foi escrita a partir da experiência de Deus que o Povo fazia na sua história, orientado pelos Profetas.
Em Jesus, a revelação de Deus chegou ao auge. Os primeiros seguidores de Jesus experimentaram nele a presença do próprio Deus, a revelação de Deus. Hoje, a Bíblia vai nos ajudar a descobrir Deus em nossa vida, escutar seus apelos, dar nossa resposta.
A Bíblia é uma biblioteca
A Bíblia é um conjunto de escritos com gêneros literários diferentes. É necessário conhecer tais estilos literários para não tomar tudo ao pé da letra e cair numa leitura fundamentalista. A Bíblia está cheia de simbolismos e narrativas que ajudam a encontrar o sentido mais profundo dos acontecimentos e da ação de Deus. A Bíblia não é um livro de ciências, nem de história, no atual sentido da palavra. Ela não pretende transmitir dados científicos ou históricos. Sua linguagem não é informativa sem conseqüências para nossa vida, mas provocativa: apela a uma resposta.
A Bíblia é uma luz para a vida hoje
O Documento de Puebla (Nº 997) diz assim:
“A Catequese deve iluminar com a Palavra de Deus as situações humanas e os acontecimentos da vida, para neles fazer descobrir a presença ou ausência de Deus.”
A Bíblia não pode ser lida desligada da vida ou ser lida num sentido espiritualista. O Povo da Bíblia chora, xinga, grita a Deus (cf. Jer 20,14-18). Isto brota da vida que não é só doçura, mas coloca o ser humano diante de duras e incompreensíveis realidades. Às vezes, a Bíblia dá respostas, mas também se cala diante do mistério da vida e do sofrimento.
A Bíblia é o livro da Aliança
Toda a Bíblia é impregnada da mensagem da Aliança que Deus contraiu com seu Povo. É um pacto de amor e fidelidade É uma mensagem de libertação, de salvação. Mostra o caminho da verdadeira vida e os caminhos tortos e pecaminosos que desviam dela.
A leitura catequética deve sempre levar em conta esta mensagem libertadora da Bíblia. Deus quer salvar em situações bem concretas, como podemos ler no livro do Êxodo, nos livros dos Profetas e na mensagem da Aliança e, no Novo Testamento, no anúncio do Reino de Deus, A Bíblia quer ajudar a descobrir o Plano salvífico de Deus.
Há certas passagens na Bíblia que, à primeira vista, não são libertadoras. Foram escritas em determinadas contextos que devem ser levados em conta. O que valia naquele tempo, naquela cultura, nem sempre pode ser aplicado à nossa situação. Dentro de uma visão libertadora, devemos “dialogar” com esses textos e até criticá-los. Alguns exemplos: as guerras santas e o extermínio dos inimigos, a dominação da mulher, o casamento polígamo, as leis de purificação e de alimentação... Se tomarmos tudo literalmente para nós hoje, caímos numa leitura fundamentalista que não liberta, mas escraviza. Uma verdadeira leitura bíblica ilumina as situações de dominação e injustiça que existem hoje e anuncia a libertação integral de todos.
Ines Broshuis
Comissão Bíblico-Catequética do Regional Leste 2
“Palavra não foi feita para a opressão.
Destino da palavra é o coração”
A partir de hoje, na minha série de reflexões sobre a Bíblia, vou compartilhar com vocês o encontro entre o texto bíblico e o nosso cotidiano. Nele, busco encontrar pistas para perceber o que Deus quer nos dizer, hoje, através desse livro milenar.
O grande destaque no noticiário internacional tem sido a crise provocada pelas ondas de imigrantes que tentam, em desespero, entrar na Europa.
Eles vêm do Oriente Médio e da África, fugindo das guerras e da miséria nos seus países de origem.
Nesta semana, a imagem do corpo do pequeno menino sírio, afogado no Mar Mediterrâneo, chocou a todos. Ato contínuo, nos jornais deste domingo, vejo fotos de refugiados sendo recebidos com aplausos, comida, roupas e brinquedos, numa cidade austríaca.
A Áustria é um dos países mais desenvolvidos do globo. Viena, sua capital, foi eleita, pela sétima vez seguida, a cidade de melhor qualidade de vida no mundo.
Quando lá estive, me encantei com suas largas avenidas, onde o moderno convive com a História, os imensos parques, a arquitetura, a onipresença da música clássica. Mozart, Beethoven, Schubert, Brahms, para citar apenas os mais conhecidos, nasceram em Viena.
Além disso, chama atenção a limpeza asséptica dos espaços públicos, a organização do sistema de transportes, a educação formal dos moradores de uma cidade habituada a receber 12 milhões de turistas por ano. Só pra se ter uma ideia, o Brasil inteiro, em 2014, com Copa do Mundo e tudo, recebeu 6,4 milhões de turistas estrangeiros.
Os que chegam, agora, não são turistas. Não trazem dólares, euro, máquinas fotográficas, nem vão comprar souvenires. Na sua bagagem, medo, fome e desespero.
Pensando em tudo isso, lembrei-me de uma passagem do evangelho de João (João 6,1-13).
A seguir, compartilho com vocês uma leitura contemplativa desta passagem.
Dividir para multiplicar...
Contemplando João 6,1-13
Jesus subiu a uma montanha de onde podia contemplar a belíssima paisagem do Mar da Galiléia. A multidão que o seguia acomodou-se na grama. Muitos haviam visto ou ouvido falar de como ele pregava e também como curava muitos doentes que o procuravam. Entardecia... Pedro, mal humorado, comentou com André, seu irmão: “Andamos o dia inteiro com essa gente a nos seguir sem parar sequer para comer. Estou morrendo de fome e cansaço”.
Jesus ouviu o desabafo de Pedro. Olhou mais uma vez aquela multidão à sua volta... deu um suspiro profundo e disse a Filipe, que estava próximo a ele:“Essa gente toda está com fome. Onde vamos arranjar alimento para eles...?”
Filipe respondeu: “Nem se juntássemos meio ano de salário não daria para comprar sequer um pedaço de pão para cada um.”
Os apóstolos acenaram a cabeça, concordando. Pedro adiantou-se e disse: “Senhor, mande essa gente voltar para suas casas, lá eles encontrarão comida e descanso”. Tomé acrescentou: “e nós também poderemos comer e descansar em paz”.
Jesus retrucou: “Mas se vocês tem o que comer, dividam com essa gente...”
Ele se entreolharam em silêncio. Judas disse: “Mas nós também não temos nada”.
Judas mentia. Na última aldeia pela qual passaram, ele, que era quem cuidava do dinheiro do grupo, comprara pão, queijo e frutas. Guardara tudo em algumas sacolas que estavam escondidas. Como os outros, imaginava que se abrissem as sacolas ali, diante de todos, não sobraria uma migalha.
Na verdade, muita gente raciocinava da mesma forma. Eu também. No meu alforje havia um sanduíche de pão com carne de cordeiro, bem guardado, esperando o momento adequado para virar meu jantar.
Por um instante fez-se um silêncio constrangedor. Então, um rapazinho que estava ao meu lado ergueu-se e foi até André, o irmão de Simão Pedro. Conversaram. André disse a Jesus:
“Mestre, há aqui um rapaz que está oferecendo seu lanche.” E com um sorriso debochado: “São cinco pães de cevada e dois peixes! O que é isso para tanta gente?”
Jesus chamou o rapaz. Na verdade era quase um menino, um adolescente de seus 13 anos. Ele aproximou-se e sentou-se ao lado de Jesus que, passando o braço sobre seu ombro, fez um afago em seus cabelos dizendo:
“Então, rapaz, é você que vai garantir o nosso jantar?”. O garoto respondeu, mostrando um pequeno cesto: “Só tenho isso, Senhor, mas pode dividir com todos”.
Jesus pegou o cesto, fechou os olhos e fez uma breve oração. Depois se ergueu, partiu um dos pães, partiu também um peixe, fez um pequeno sanduíche e deu a Judas. Fez o mesmo com Pedro, Tomé, Filipe, João. Foi distribuindo a eles um pedacinho do alimento. Os apóstolos se entreolhavam, constrangidos. Eu e todos em volta, observávamos tudo, surpresos. Logo, Jesus ficou com o cesto vazio. Parou e olhou para nós. Com um sorriso, encolheu os ombros, meio dizendo, meio perguntando:
“Acabou!?” João gritou: “Judas, onde estão as sacolas?”. Judas, contrariado: “Ali, atrás daquelas árvores...”
João correu e trouxe as sacolas, colocando-as aos pés de Jesus. Ele chamou o garoto e disse: “Você me ajuda a distribuir?” O menino, sorridente, abriu a primeira sacola e ergueu no ar um belo pão de centeio, tostadinho, que logo foi sendo repartido de mão em mão. De repente, toda a multidão se agitou. É que as pessoas que tinham os alimentos guardados, escondidos, começaram a colocá-los na roda, envergonhados ou seduzidos pelos gestos de Jesus e do menino. Logo o alto da montanha tornou-se um imenso pic nic. Todos riam e falavam alto, livres do constrangimento inicial.
“Tome aqui, Malaquias, uma coxa de frango, deixa provar um pouco do seu vinho! Hum, Sara, esse bolo está uma delícia, experimente aqui da minha farofa!”
Ao meu lado estava um homem gordo e sorridente, de olho no meu alforje. Com o coração apertado tirei o sanduíche e ofereci um pedaço. Ele apanhou o sanduíche inteiro e agradeceu. Algumas dentadas e lá se foi o meu jantar. Olhei em volta, desolado, e dei com Jesus, bem diante de mim. Ele deu uma gargalhada e me chamou para perto dele. Eu me aproximei, sem graça e ele, fixando seus olhos em mim, me estendeu um pedaço de pão e um copo de vinho. Senti algo diferente, como se naquele olhar ele quisesse, na verdade, alimentar a minha alma e o meu coração.
A noite foi chegando, fogueiras foram sendo acesas. Rodas de amigos e famílias inteiras se reuniam, conversando, cantando, batendo papo descontraidamente, numa inesperada e espontânea festa. Jesus disse aos apóstolos: “Recolham toda a comida que sobrou. Que nada se perca. Vamos garantir o lanche da manhã.” Eles passaram entre os grupos e voltaram trazendo alimento suficiente para encher doze grandes cestos.
Jesus olhou o menino, sentado ao seu lado, e disse, num sorriso: “É, garoto, que milagre você fez aqui, hoje...!”.
O sorriso menino me fez lembrar o lanche coletivo, na escola infantil. Quando a gente guarda, estoca, acumula, falta; quando a gente compartilha, sobra...
Eduardo Machado/Outubro de 1997
Comida
Titãs - Composição: Arnaldo Antunes / Marcelo Fromer / Sérgio Britto
Bebida é água.
Comida é pasto.
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?
A gente não quer só comida,
A gente quer comida, diversão e arte.
A gente não quer só comida,
A gente quer saída para qualquer parte.
A gente não quer só comida,
A gente quer bebida, diversão, balé.
A gente não quer só comida,
A gente quer a vida como a vida quer.
Bebida é água.
Comida é pasto.
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?
A gente não quer só comer,
A gente quer comer e quer fazer amor.
A gente não quer só comer,
A gente quer prazer pra aliviar a dor.
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer dinheiro e felicidade.
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer inteiro e não pela metade.
“Eu vim para escutar
tua palavra de amor...”
A Espiritualidade é, basicamente, uma experiência pessoal, vivida individualmente, e partilhada e alimentada na vida comunitária. Ela também se alimenta do texto sagrado e do diálogo pessoal e profundo com Deus através da oração e da vida sacramental. Daí nasce a experiência de ser Comunidade, se sentir Igreja.
Por isso, a importância da dimensão do conhecimento que solidifica a Fé e lhe dá bases humanas, que também são necessárias.
Conhecer a mensagem bíblica, compreender o ‘fio da meada’ da História da Salvação, os mistérios centrais da doutrina cristã: Fé; Trindade, Encarnação, Ressurreição, a realidade sacramental, tudo isso é importante para a caminhada do cristão. Nossa Fé tem uma História. A Bíblia conta essa história. E somos parte dela.
Há várias formas de ler e meditar o texto bíblico. Há quem tenha uma Bíblia na cabeceira da cama e não começa ou termina o dia sem ler um trecho escolhido (a leitura do dia, por exemplo) ou alguma outra escolha, aleatória. Há quem tenha sua Bíblia, na mochila, no carro e, aí, a hora do engarrafamento vira, também, tempo de encontro com a Palavra de Deus.
São pílulas no dia a dia, mas é preciso, também buscar alimento mais sólido, reservar tempo e espaço para um mergulho mais profundo na Palavra de Deus.
Uma das formas de fazer isso é através da “Oração Inaciana”, método inspirado nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola.
A seguir, um resumo dos passos para “entrar” nessa experiência:
01- Encontre um “lugar sagrado” no seu dia a dia. Um espaço tranquilo, onde você possa estar confortável (o corpo também reza), sem ser interrompido(a) ou incomodado(a).
02- Considere o tempo que você terá para a oração. Seja fiel a ele.
03- Respire pausada e profundamente. Inspire, junto com o ar, a graça, a paz, o amor de Deus presentes no Universo. Expire, expulsando de dentro de você, a tensão, as preocupações, o cansaço. Repita esse exercício várias vezes até se sentir pacificado(a).
04- Coloque-se e sinta-se na presença de Deus. Ele está no meio de nós. Ele está à sua frente, para lhe guiar. Atrás de você, para lhe proteger. Sobre você, para lhe iluminar. Dentro de você, para lhe fortalecer, ao seu lado, amigo e companheiro de caminhada...
05- Leia pausadamente, frase por frase, sem pressa o texto bíblico escolhido, ou indicado. Essa primeira leitura é do conhecimento.
06- Releia o texto. Essa segunda leitura é da sensibilidade. Tente perceber palavras ou frases que chamam sua atenção, tocam seus afetos. Repita-as, deixando que movam os sentimentos que estão no seu coração. É a hora em que Deus fala. Ouça-O...
07- Fale com Deus. Ele o(a) escuta. Responda, seguindo o caminho que lhe indica o coração: É hora de pedir, ou agradecer, ou louvar, ou decidir, ou silenciar...
08- Termine sua oração com um pequeno gesto, uma palavra de “até logo” a Deus.
09- Faça um “diário espiritual” dessas experiências. Anote (ou digite) os sentimentos, intuições, decisões e emoções experimentados durante a oração.
10- Busque viver, na vida diária, as percepções experimentadas na leitura orante da Bíblia.
Hoje, diversas “ciências modernas” tem ressaltado a importância da meditação no equilíbrio do ser humano, destacando a importância da espiritualidade para que se tenha uma vida saudável, em todos os níveis e sentidos. A Bíblia é uma fonte preciosa dessa sabedoria. Encontrar no dia a dia, em meio ao corre-corre enlouquecido em que vivemos, espaços e momentos de mergulho profundo em nós mesmos, tendo a Bíblia como “mapa do caminho”, é resgatar o próprio sentido e significado da nossa vida. Deus, que é amor, criou cada um de nós por amor e para o amor. O amor é nosso berço, caminho e destino...
Eduardo Machado
Educador e escritor
03-09-2015
“Senhor, que a tua palavra transforme a nossa vida.
Queremos caminhar com retidão na tua luz”
O texto bíblico é um convite a ler, rezar, viver, partilhar. Essa experiência é sempre pessoal, mas pode e deve ser compartilhada com uma comunidade. O Espírito de Deus às vezes esconde na palavra do outro o que quer falar ao meu coração.
Como já frisei, há profunda diferença entre “estudar” e “rezar” a Bíblia. Na leitura orante, o propósito é buscar compreender, na Palavra de Deus, o que Ele quer de mim. Suas palavras, assim como as sementes da parábola, são inspiração para a vida cotidiana. A nós cabe preparar o terreno...
Isso implica, também, em não ser um ignorante em relação ao texto e ao contexto bíblicos. Pelo contrário. É preciso conhecer para amar. E não esquecemos o que amamos. Daí a importância de procurar conhecer melhor a Bíblia em seu contexto histórico, cultural, literário e linguístico. Ninguém leva a sério nem fanáticos, nem ignorantes.
Mas o lugar privilegiado e sagrado da Palavra de Deus é o coração. E do coração, as palavras transbordam para as mãos, pois a Palavra Sagrada nos transforma. Ao nos comprometer com a Boa Nova, convida a uma Vida Nova.
Há, hoje, opções muito interessantes para um estudo orante da Bíblia. Palestras, curso de teologia para Leigos (Centro Loyola - www.centroloyola.org.br ), círculos bíblicos baseados nos roteiros do Frei Carlos Mesters (Ed. Vozes), os livros de oração contemplativa do Pe. Álvaro Barreiro, sj (Ed. Loyola), os grupos de oração em torno da Palavra, nas paróquias e comunidades, a nossa Noite de Espiritualidade (toda última terça-feira do mês, no Colégio Imaculada), Grupos de Jovens, de Casais, Retiros e Cursos oferecidos por diversas instituições.
A Bíblia é uma carta de amor que Deus nos escreveu. Ninguém deixa de lado uma carta de amor. O desejo é de ler e reler, bebendo cada palavra repleta de sentimentos. Na nossa cultura de maioria católica acomodada, muitos de nós tem em casa uma ‘Bíblia da Barsa’, bonita, colorida, enfeitando uma mesa, uma estante, um aparador. Em geral, aberta numa página com belas ilustrações empoeiradas pelo pó do esquecimento.
A Bíblia não é objeto de decoração. É alimento para o coração.
Eduardo Machado
Educador e escritor
03-09-2015
Fora do contexto da fé, a Bíblia é precioso objeto de estudo e reflexão, na medida em que traz um raro registro da sabedoria milenar de um povo.
Nesse aspecto, é preciso levar em conta o desafio de compreender e interpretar um texto escrito há três ou dois mil anos, num outro contexto histórico, político, social, religioso, numa cultura e numa língua completamente diferentes da nossa. Isso sem falar de gêneros literários variados, que vão da narrativa histórica objetiva ao texto poético, das descrições detalhadas às metáforas, do uso de fábulas e parábolas típicas da cultura popular e outras figuras de linguagem.
Estudiosos, teólogos, exegetas, tem na Bíblia uma matéria inesgotável de pesquisa e trabalho. Por isso tantas traduções. É o livro mais publicado, estudado e discutido da história humana.
Do leitor comum da Bíblia, um leigo, não se deve esperar uma interpretação do texto bíblico. Isso é tarefa para os estudiosos. Em reuniões de grupos, destinadas à partilha de vida, é erro comum as pessoas ficarem discutindo o texto bíblico, num festival de ‘achismos’ e palpites que fica apenas no nível das ideias. É pouco. Na verdade, somos convidados a uma leitura orante, ou seja, tentar perceber o que Deus quer nos dizer, pessoalmente, naquele trecho bíblico, confrontando-o com nossa vida. O que não limita a possibilidade de buscar um estudo aprofundado desse apaixonante conjunto de livros.
Mas, no dia a dia, mais que tentar dizer o que entendo da Bíblia, sou chamado a perceber o que sinto ao ler a Bíblia.
A Bíblia é mais que um livro de História ou de histórias. Como tal, já seria uma preciosidade única, mas, na perspectiva religiosa, suas palavras buscam o coração de cada ser humano que a lê.
Aos olhos da fé, Deus é a força inspiradora daqueles que deixaram seu registro nas páginas desse livro sagrado.
Eduardo Machado
Educador e escritor
02.09.2015
“Tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos, luz que clareia o meu caminho” do Salmo 119
Setembro é o Mês da Bíblia. Tempo de refletirmos sobre nossa relação com esse livro, sagrado para tanta gente.
A palavra Bíblia vem do grego, βίβλια (Biblos) e significa ‘Livros’, no plural. Ou seja, a Bíblia é um conjunto de livros que registra, no Velho Testamento, a história do povo hebreu, sua organização como nação, suas conquistas e atribulações, suas tradições religiosas, tudo sob a ótica da sua relação com Javé, o seu Deus.
Por isso, a Bíblia, na verdade, não é UM livro. São vários. Exatamente 73, na versão católica, divididos em duas grandes partes:
O Antigo, Velho ou Primeiro Testamento, com 46 livros e o Novo ou Segundo Testamento, com 27.
O que chamamos de livro, na Bíblia, não é necessariamente um volume, como estamos habituados a manusear. Há livros da Bíblia que não passam de uma página, como a Carta de São Paulo a Filêmon. Outros podem ter textos extensos, como o livro do Profeta Isaias com seus 66 capítulos.
O Novo Testamento apresenta a figura de Jesus e, com Ele, abre uma nova página nessa história. Para os cristãos, em Jesus se cumprem as promessas feitas por Javé a Abraão e sua descendência. Ele é o Salvador Prometido, o Messias (Enviado) o Cristo (Ungido, Escolhido).
O registro de toda essa saga é atribuido a cerca de 40 ‘autores’ nominados, que fizeram seus registros entre 1445 e 450 a.C. (livros do Antigo Testamento) e 45 e 90 d.C. (livros do Novo Testamento), abarcando um período de quase 1600 anos. Na verdade, numa cultura onde o conhecimento se transmitia principalmente pela narrativa oral, é mais adequado pensarmos que esses textos foram resultado de registros de comunidades, muito mais que de pessoas.
Eduardo Machado
Educador e escritor
01.09.2015
Introdução
Veremos mais uma metáfora do evangelho de João para nos dizer quem é Jesus. Jesus é o nosso PASTOR que conduz seu rebanho a verdes pastagens.
Para este encontro vamos preparar o ambiente, colocando a Bíblia, uma bengala ou bastão, gravuras do Bom Pastor ou de algum rebanho.
O Pastor no Antigo Testamento
O povo fazia sua experiência de Deus inspirada na realidade daquele tempo em que muitos viviam do cuidado de rebanhos. Já no nascimento de Jesus, o Evangelho conta da visita dos pastores e, até hoje, enfeitamos o presépio com imagens de pastores e carneirinhos.
Os líderes religiosos eram considerados “pastores” do povo e, especialmente, os Reis de Israel e Judá que já eram uma referência ao Rei-Messiânico cuja chegada era esperada.
O Profeta Ezequiel fala sobre esses pastores, bons ou maus. Vale a pena ler Ez 34,1-16. Primeiro, podemos ler os versículos 1 a 10. Deus se queixa amargamente sobre os maus pastores. Nos versículos 11 a 16, Deus se declara o Bom Pastor. (Tempo para leitura)
O Salmo 72 descreve a tarefa do Rei Messiânico, que é o Pastor do povo, que Israel está esperando. (Podemos ler os versículos 1-4.7.12-14)
O Rei Messiânico é Jesus
O Novo Testamento fala de Jesus como o Bom Pastor (Mt 18,12-14; Lc 15,1-7) Mas, o texto mais bonito está em João 10,1-18 e 27-30.
Vamos celebrar
Canto
Sou bom Pastor, ovelhas guardarei, não tenho outro ofício, nem terei.
Quantas vidas eu tiver eu lhes darei.
Maus pastores, num dia de sombra, não cuidaram e o rebanho se perdeu.
Vou sair pelo campo, reunir o que é meu, conduzir e salvar.
Verdes prados e belas montanhas hão de ver o Pastor, rebanho atrás.
Junto a mim, as ovelhas terão muita paz, poderão descansar.
Leitura: Jo 10,1-18 e 27-30
Partilha
1 Que significa: Jesus é a “Porta”?
2. Todos nós somos pastores. Quando e onde cumprimos esta missão?
Oração
Vamos saborear o salmo 23
Leiamos o salmo, bem devagar. Observemos a linguagem poética. Que nos dizem esses símbolos?
Qual versículo mais tocou?
(Podemos guardar bem o seguinte versículo e rezá-lo quando nos sentirmos angustiados ou intranqüilos: “Junto a mim estás; teu bastão e teu cajado me deixam tranqüilo.”)
Canto final
Vejam, eu andei pelas vilas, apontei as saídas como o Pai me pediu.
Portas, eu cheguei para abri-las. Eu curei as feridas como nunca se viu.
Por onde formos também nós, que brilhe a tua luz!
Fala, Senhor, na nossa voz, em nossa vida.
Nosso caminho então conduz. Queremos ser assim!
Que o pão da Vida nos revigore no nosso “sim”!
Vejam, fiz de novo a leitura das raízes da vida que meu Pai vê melhor.
Luzes, acendi com brandura. Para a ovelha perdida não medi meu suor.
Vejam, eu quebrei as algemas, levantei os caídos, do meu Pai fui as mãos!
Laços, recusei os esquemas. Eu não quero oprimidos, quero um povo de irmãos.
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C O N C L U S Ã O
Até aqui, tratamos de alguns sinais e metáforas de João para mostrar quem é o Senhor Ressuscitado.
A partir do capítulo 13, o Evangelho se desenrola na intimidade daqueles que crêem, os discípulos. Jesus se despede e revela o sentido profundo de sua obra.
Chegou a “Hora de Jesus”: sua morte e glorificação.
Ao despedir-se, Jesus promete mandar o Paráclito para recordar sua obra e ensinamento e para conduzir a comunidade.
Pelo Espírito que Jesus envia da parte do Pai, aprendemos a fazer a obra de Jesus, hoje.
O capítulo 20, 30-31 encerra o Evangelho.
O capítulo 21 é um epílogo que mostra Jesus depois da ressurreição, presente em sua comunidade, na Galileia, sob a responsabilidade de Pedro.
Inês Broshuis
Equipe para Animação Bíblico-Catequética do Regional Leste 2
Introdução
Vamos ver uma metáfora que o evangelista João usa para nos dizer quem é Jesus. João diz que Jesus é o CAMINHO.
(Para este encontro, vamos preparar o ambiente colocando a Bíblia, um caminho feito de pedras, um par de sandálias, uma gravura com pegadas...
No Antigo Testamento, a Torá é chamada “O CAMINHO”
A Torá, também chamada “A LEI”, é um livro de ensinamentos para os judeus, que indica o caminho para chegar à verdadeira felicidade, assim como Deus a quer para seus filhos. Na Bíblia, há salmos que cantam a beleza dessa lei de Deus (Sl 19 e 119). Vamos ler, agora, a segunda parte do Salmo 19,8-15 e apreciar sua beleza. (tempo para reflexão)
Jesus é a Torá viva
Jesus vivia a Torá, valorizava-a. Quando criticava certos legalismos, ele o fazia justamente para livrar a Torá de uma interpretação errônea. Jesus diz sobre si mesmo: ”EU SOU O CAMINHO” (Jo 14,6). Assim, a Torá continua em Jesus, em toda sua pureza. Jesus mostra o caminho para se viver conforme os mandamentos de Deus e ajuda a encontrar a felicidade. Vamos ler, agora, o capítulo 14, 1-11. (tempo para a leitura)
Os primeiros cristãos eram chamados membros do “Caminho”
Era o nome que se dava aos membros do movimento de Jesus.
No livro Atos dos Apóstolos, Paulo relata sua conversão. No capítulo 22, 4, ele diz: “Persegui até à morte os adeptos deste caminho, prendendo homens e mulheres e lançando-os na prisão.” Ainda em Atos dos Apóstolos 24,22, lemos: “Felix estava bem informado a respeito do Caminho...”.
Jesus é o Caminho que leva ao Pai
Jesus disse: “Eu sou o Caminho, e ninguém chega ao Pai senão por mim” (Jo, 14,6).
Vamos refletir um pouco mais sobre essas palavras.
Quando dizemos que Jesus é o Caminho, geralmente pensamos no seguimento de Jesus, andar no caminho junto com ele, ouvir seus ensinamentos e colocá-los em prática. Mas, no evangelho de João, Jesus diz algo mais: “Eu sou o CAMINHO, e ninguém chega ao Pai senão por mim”. O que ele quer dizer com isto?
Jesus quer dizer: “Se vocês querem conhecer a Deus, nosso Pai, devem olhar para mim, escutar minhas palavras.”
Sabemos que Deus é invisível. Ninguém O viu, nem ouviu. É por meio de Jesus que o Pai se dá a conhecer e nos fala. Dizemos que Deus se revelou em Jesus. Jesus é o porta voz do Pai, Ele é o rosto do Pai. Jesus nos conduz ao Pai. Podemos nos perguntar: Jesus nos leva, realmente, ao Pai, ou ficamos parados em Jesus? Mas, Jesus diz que Ele não é o ponto final. O ponto final é o Pai.
Quando lemos com atenção os evangelhos, vemos como Jesus está sempre voltado para o Pai. Ele O chama de “Abbá” (Papai). Ele procura a vontade do Pai em tudo e quer levar todos ao Pai, fazer descobrir o amor e a misericórdia do Pai, rezar ao Pai. Ensina a oração do Pai Nosso: “PAI nosso...”
Paremos um pouco e reflitamos. Encontramos o Pai que Jesus nos revelou? Ou temos uma imagem de Deus diferente da imagem que Jesus nos revelou? Em nossas orações, nos dirigimos também ao Pai?
Vamos celebrar
- Olhando os símbolos, podemos cantar:
Vós sois o Caminho, a Verdade e a Vida, / o Pão da alegria descido do céu.
Nós somos caminheiros que marcham para o céu.
Jesus é o Caminho que nos conduz a Deus.
Jesus, Verdade e Vida, Caminho que conduz
as almas peregrinas que marcham para a luz.
-Na liturgia, a Igreja nos ensina a dirigir-nos ao Pai, glorificando-O e bendizendo. Já refletimos, alguma vez, por exemplo, sobre a oração no início da oração do Glória?
Nós Vos louvamos,
nós Vos bendizemos,
nós Vos adoramos,
nós Vos glorificamos,
nós Vos damos graças por vossa imensa glória...
A parte mais importante da Missa é a Oração Eucarística que começa com o prefácio. É uma oração totalmente dirigida a Deus Pai. Louva ao Pai, agradece, reza pela Igreja, pelos falecidos, pelo povo de Deus. E, no final, toda a assembleia proclama:
Por Cristo, com Cristo e em Cristo,
a Vós Deus Pai todo poderoso,
na unidade do Espírito Santo,
toda a honra e toda a glória,
agora e para sempre.
Todos cantam o Amém!
Tudo termina em Deus Pai. Cristo está rezando conosco. Ele está no meio de nós e, junto com Ele, nos dirigimos ao Pai.
A oração do Pai Nosso, ensinada por Jesus, se dirige plenamente a Deus Pai. Vamos rezar, devagar, esta oração prestando atenção nas palavras e na aclamação final
“Pois, vosso é o Reino, o Poder e a Glória para sempre. Amém! (3 vezes)”
Canto final:
Porque és, Senhor, o Caminho que devemos nós seguir,
Nós vos damos, hoje e sempre, toda a glória e louvor.
Porque és, Senhor, a Verdade que devemos aceitar,
Nós vos damos, hoje e sempre, toda a glória e louvor.
Porque és, Senhor, plena Vida que devemos nós viver.
Nós vos damos, hoje e sempre, toda a glória e louvor.
Inês Broshuis
Comissão para animação Bíblico-Catequética do Regional Leste 2 da CNBB.
Nas nossas reflexões anteriores, aprofundamos os diversos sinais que o evangelista João apresenta para nos dizer quem é o Senhor Ressuscitado para nós.
Desta vez, vamos refletir sobre Jesus que nos dá a verdadeira VIDA.
(Preparar o ambiente: Bíblia, água para aspersão, faixas (ataduras) planta...)
Olhando a vida
Todos nós queremos viver. Apesar das dificuldades, sofrimentos e contrariedades, a vontade de viver continua. A ciência procura mil formas de evitar a morte e prolongar a vida: técnicas de transplantes, diminuição da mortalidade infantil, pesquisas com células tronco, fertilização artificial...
Às vezes, é impressionante ver como se luta para salvar uma única vida, enquanto, ao mesmo tempo, se matam centenas de milhares de pessoas nas guerras, nos acidentes de trânsito, violência, no uso de drogas, desnutrição...
Além da morte física, existe também a morte psicológica, espiritual. Há os que perdem o sentido da vida e não têm mais alegria de viver. Chegam até ao suicídio (podemos colocar algumas experiências que tivemos quanto à valorização ou desvalorização da vida).
Em Jesus encontramos a verdadeira vida
Na narrativa da ressurreição de Lázaro, João quer mostrar que vamos encontrar a verdadeira vida em Jesus. Vamos ler o capítulo 11 de João. (Tempo para leitura)
A ideia central desta leitura é a conversa entre Marta e Jesus. Vamos procurar o que Jesus diz nos versículos 25 e 26. O que Marta responde? (v. 27)
(Ouvimos da boca de Marta, uma mulher, a mesma profissão de fé que os outros evangelistas colocam na boca de Pedro. Confiram em Mt 16, 13-16).
Cada um de nós é como Lázaro
O evangelho de João, em seu rico simbolismo, não visa narrar a ressurreição de Lázaro. Ele se refere à morte e ressurreição de Jesus. Mas, a ressurreição de Lázaro tem algo a nos dizer. Como Lázaro, muitas vezes ficamos atados, presos por mil coisas. Perdemos o gosto de viver, nos isolamos em nossos próprios túmulos, deixando o convívio com outras pessoas. Não vivemos para os outros. Ficamos como mortos, sem ver a luz da vida.
Jesus ordena, primeiro, que tirem a pedra. Chama Lázaro para fora. Quando Lázaro vem para fora, está com os pés e as mãos enfaixados e o rosto coberto com um sudário. Jesus diz: “Tirem as faixas e deixem Lázaro ir”. O que são, em nossa vida, essas faixas, sudário, pedra, que nos impedem de caminhar.
A verdadeira vida brota do amor e é “eterna”. Amar é viver e fazer viver. João não fala somente da vida depois da morte. Já recebemos a vida eterna no batismo. A vida eterna já está em nós. Crer em Jesus, o enviado do Pai, e viver o amor entre nós, é a vida eterna. Quem ama, de verdade, já ressuscitou!
Vamos celebrar
O maior dom que recebemos de Deus é a vida. Ela deve ser cultivada com todo o cuidado. A morte nos amedronta. Mas, para o cristão, a vida não termina aqui. No batismo, já recebemos a vida eterna e ela vai crescendo e se fortificando, cada vez mais, se soubermos acreditar em Jesus e amar-nos uns aos outros. Vamos nos lembrar de que, no batismo, fomos banhados na água da vida eterna.
(aspersão com água, cantando “Banhados em Cristo...”)
Agora, coloquemos diante de Deus as preces que brotam do nosso coração.
Podemos rezar pelas pessoas que não vêem mais sentido na vida, que se sentem ameaçadas, traídas, desprezadas. Lembremos nossa missão de gerar vida ao nosso redor. Quem são as pessoas que mais precisam de nós?
Rezemos pelos cientistas que procuram meios para melhorar a vida, pelos médicos e enfermeiros, por todos que cuidam da vida das pessoas, por aqueles que combatem a violência e a “morte” da natureza.
Depois de cada um colocar sua prece, podemos aclamar: “Senhor, dai-nos vida.
(tempo para as preces)
Podemos terminar com a seguinte oração:
Uma voz (Jesus): Eu sou a ressurreição e a vida.
Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá.
E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais.
Crêem nisto?
Todos: Sim, Senhor, cremos firmemente que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que veio ao mundo.
Canto final:
Todo aquele que crê em mim um dia ressurgirá
e comigo então se assentará à mesa do banquete de meu Pai.
Aos justos reunidos nesse dia, o Cristo então dirá:
“Ó, venham gozar as alegrias que meu Pai lhes preparou.”
Amigos, esta fé é a verdadeira que leva para o céu
aquele que Deus, a vida inteira, no irmão sempre acolheu.
Inês Broshuis
Comissão Regional Bíblico-Catequética do Leste 2
Depois de ter refletido sobre Jesus, a Palavra, o Vinho, a Água, o Pão, vamos ver, agora, Jesus, a LUZ no nosso caminho.
Para criar o ambiente, coloquemos, além da Bíblia, gravuras que mostram luz e sombras, relâmpagos etc. Providenciemos ainda uma vela grande e bonita (que vai ser acesa depois). Podemos colocar lâmpadas, lanternas ou tochas, se quisermos. Bom será fazer a celebração à noite.
1. O sentido da luz no Primeiro Testamento
No livro do Gênesis, lemos que Deus criou a LUZ e separou o dia da noite. Depois, criou dois grandes luzeiros: o sol e a lua.
Alguém pode ler na Bíblia, no livro Gênesis, o capítulo 1,1-5 e 14-19.
Comentemos a leitura. Observemos as gravuras e os símbolos. O que chama nossa atenção?
Em seguida, podemos rezar, alternadamente, um trecho do Salmo 148
A. Vinde louvar o Senhor, / vós, criaturas todas, lá do alto do firmamento,
vós que anunciais a grandeza do poder.
B. Sol e lua, todos os astros e estrelas brilhantes, / tudo que existe na imensidão do espaço, / louvai o nome do Senhor.
A. Pela sua Palavra ele nos criou / e nos ordenou para todo o sempre,
segundo uma lei que jamais passará.
Todos: Vinde louvar o Senhor, / vós todas as criaturas da terra e do mar,
reconhecei seu poder criador.
O Profeta Isaías fala da luz que o Senhor é para seu povo. Saboreemos a beleza deste texto:
Não será mais o sol a luz do teu dia,
nem será a lua que vai te iluminar a noite.
O próprio Senhor será para ti luz permanente
e o seu brilho será o teu Deus.
Teu sol nunca mais se há de pôr,
tua lua jamais será minguante,
pois, o Senhor é tua luz permanente,
acabaram os teus dias de luto. (Is 60,19-20)
Podemos observar que a Luz do Senhor é comparada ao Sol do dia. Ilumina a terra inteira e todos os povos. Nas nossas celebrações, usamos muito a vela, porque é um contraste com a escuridão da noite. Mas, o grande sol do dia é um símbolo maravilhoso da luz e do calor que Cristo é para nós. (Se a celebração for feita de dia, todos podem contemplar o sol, lá fora, neste momento, e comentar)
Mantra: Teu sol não se apagará, tua lua não será minguante
Porque o Senhor será tua Luz, / Ó Povo, que Deus conduz.
(Se o mantra não for conhecido, pode-se cantar “A Luz do Senhor que vem sobre a terra...)
2. O sentido da luz no Novo Testamento
Os evangelhos sinóticos contam sobre diversas curas de cegos. É sinal de que, com Jesus, o Reino chegou. Quer dizer que, em Jesus, o “cego” encontra a verdadeira luz.
João conta a cura de um cego de nascença (podemos ler Jo 9, 1-41).
O grande problema que é colocado aqui é que os judeus que acreditavam em Jesus corriam o risco de serem expulsos da Sinagoga pelas autoridades judaicas. Mas, o cego enfrentou seus adversários, afirmando sua cura por Jesus.
O homem acreditou em Jesus e este foi o grande milagre que se operou nele. Não era, em primeiro lugar, a cura da cegueira, mas sua fé em Jesus, que ele confessou apesar das ameaças dos judeus. (Ler Jo 9, 35-38)
Vamos refletir
1. Nós anunciamos também, com coragem, nossa fé em Jesus, o enviado do Pai? Esta fé tem influência em nossa vida?
2. Pode ser difícil confessar, às vezes, nossa fé em Jesus e assumir suas conseqüências?
3. O nosso mundo aceita a luz de Cristo? Onde esta luz está faltando? Quais são as causas dessas trevas?
3. Vamos celebrar
(Acenda-se a vela)
Vamos ouvir os seguintes textos que podem ser lidos por pessoas diferentes.
Jo 1, 9-12 - Jo 3, 19-21 - Jo 12,35-36
Depois de cada leitura, o leitor diz: EU SOU A LUZ DO MUNDO, e todos cantam:
Quem me segue não anda nas trevas, mas terá a Luz da Vida. (2x) (Jo 8,12)
Depois das leituras, fiquemos alguns instantes em silêncio, refletindo sobre estas palavras.
Observemos a vela acesa e sintamos a presença de Cristo na caminhada da nossa vida. Cada um de nós é chamado a ser luz para aqueles com quem convive.
A Luz de Cristo resplandece através de nós
Cada um de nós é chamado a ser luz no seu ambiente.
Vamos ouvir a leitura de Mt 5,14-16.
Depois da leitura, a vela acesa vai passando de mão em mão e, espontaneamente, cada um expressa um desejo para o outro.
No final, podemos cantar:
Sim, eu quero que a luz de Deus que um dia em mim brilhou
Jamais se esconda e não se apague em mim o seu fulgor.
Sim, eu quero que o meu amor ajude o meu irmão
A caminhar guiado por tua mão, em tua lei, em tua luz Senhor.
Inês Broshuis
Comissão para Animação Bíblico-Catequética do Regional Leste 2
Introdução
Vamos dar, hoje, uma atenção especial ao sinal do PÃO, símbolo que João usa para mostrar quem é Jesus para nós.
(Preparemos o ambiente com uma Bíblia, algumas gravuras que falam de fome e um pãozinho para cada participante)
O pão nosso de cada dia
“Pão” tem diversos sentidos na Bíblia. O primeiro em que se pensa é o pão, nosso alimento de cada dia. Ensinando o “Pai-Nosso”, Jesus nos ensina a pedir o pão material. É interessante observar que Jesus nos ensina a pedir o “pão de cada dia”. Basta para hoje o sustento diário. Isto nos faz lembrar a passagem do povo pelo deserto, quando Deus fez chover o maná do céu e disse: “Eu farei chover do céu pão para vós. Cada dia, o povo deverá sair para recolher a porção diária” (Ex 16,4). Também podemos observar que pedimos o pão nosso, não só o pão para mim.
Este pedido já nos confronta com o problema da fome que atinge tanta gente. Pedindo o pão nosso, estamos diante da exigência de trabalhar para que todos tenham seu pão, seu alimento diário.
O Pão da Palavra, a Torá
Na Bíblia, a Palavra de Deus, a Torá, é chamada “pão”.
Quando Jesus foi tentado no deserto e ficou com fome, o diabo lhe disse: “Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!” Jesus respondeu: “Não se vive somente de Pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,3-4).
Lemos, no Profeta Amós: “Eis que virão os dias em que enviarei fome sobre a terra, não uma fome de pão, nem uma sede de água, mas a fome e sede de ouvir a Palavra do Senhor” (8,11).
No livro de Ezequiel lemos que, numa visão, Deus disse ao profeta: “Filho do homem, come o que tens diante de ti. Come este rolo e vai falar à casa de Israel”. Eu abri a boca e ele me fez comer. Eu o comi, e era doce como mel em minha boca (Ez 3,1-3).
O próprio Jesus é o Pão Vivo.
O Evangelho de João aborda todo o capítulo 6 sobre Jesus, Pão da Vida.
Jesus disse: “Em verdade, em verdade, vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu, mas o meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do céu, porque o pão de Deus é o pão que desce do céu e dá vida ao mundo”. Disseram os discípulos: “Senhor, dá-nos sempre deste pão”. Jesus replicou: “Eu sou o Pão da vida. Aquele que vier a mim não terá fome, e aquele que crer em mim jamais terá sede” (Jo 6,32-35). “Eu sou o Pão Vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá eternamente.” (6,51a)
Vamos refletir
Depois destas leituras, vamos refletir o que quer dizer que Jesus, a Palavra de Deus, é nosso verdadeiro Pão. A pessoa de Jesus, seus ensinamentos, suas atitudes, sua coragem, seus sofrimentos são alimento para nós. Como?
Este alimento dá vida eterna, diz Jesus. Dá saúde à alma. Dá força para viver a Palavra. Você tem experiência disto?
Jesus multiplicou os pães
Lemos em Jo 6,1-13 que Jesus multiplicou os pães para saciar a fome do povo. Vamos ler, agora, este trecho. (Tempo para ler e comentar o texto).
Jesus alimentou cinco mil pessoas e sobraram 12 cestos. Doze, na Bíblia, significa plenitude, abundância de alimento. Aqui temos uma referência à Eucaristia. Podemos dizer que, até hoje, comemos na Eucaristia do pão daqueles cestos que sobraram. A Eucaristia é também o Pão Nosso de cada dia.
Vamos refletir
O que significa a Eucaristia para mim?
Comemos o “Pão da Palavra” na primeira parte da Missa. Comemos o “Pão – Corpo de Cristo” segunda parte.
A Eucaristia tem um lugar central na nossa vida? Podemos ficar sem freqüentar a Mesa da Eucaristia?
A Justiça do Reino
A Bíbla fala também sobre o jejum, do abster-se de comer o pão. Qual o sentido disto?
Lemos no Profeta Isaías (58,7): “Será este o jejum que eu prefiro: deitar na cinza vestido de saco? Acaso, o jejum que eu prefiro não será isto: acabar com a injustiça, com a opressão, repartir tua comida com quem tem fome?
Eis o sentido do “Pão-Nosso”: a partilha, a justiça, a igualdade, como sinais do Reino que Cristo veio inaugurar. “Venha a nós o vosso Reino”.
Jesus, como “Pão da Vida”, tem tudo a ver com nossa atuação, com nosso amor e doação para construir um Reino mais justo, fraterno e solidário.
Vamos celebrar
Coloquemos o pão e a Bíblia no meio do grupo.
Cada um pode dizer o que mais lhe chamou a atenção nesta reflexão.
Depois, repartamos o pão entre nós e o comamos, ficando alguns instantes em silêncio.
Demo-nos as mãos e rezemos, bem devagar, o Pai-Nosso. Repitamos três vezes a invocação: “O Pão nosso de cada dia nos daí hoje”, lembrando-nos de que Jesus é nosso pão verdadeiro.
Terminemos cantando:
O Pão da Vida, a Comunhão, nos une a Cristo e aos irmãos,
E nos ensina a abrir as mãos para partir, repartir o pão
Lá no deserto, a multidão, com fome, segue o Bom Pastor.
Com sede busca a nova Palavra. Jesus tem pena e reparte o pão.
Na Páscoa nova da nova Lei, quando amou-nos até o fim,
Partiu o Pão, disse: “Isto é meu Corpo, por vos doado: Tomais, Comei!”
Onde houve fome, reparte o Pão, e tuas trevas hão de ser luz.
Encontrará Cristo no irmão; serás bendito do Eterno Pai.
Inês Broshuis
Comissão para Animação Bíblico-Catequética do Regional Leste 2
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