A Bíblia faz uma leitura a partir dos pobres
Pode-se fazer a leitura da Bíblia a partir de diversos ângulos. Cada ângulo descobrirá determinadas facetas. Podemos ler a Bíblia como uma interessante leitura de fama mundial ou para defender nossas posições religiosas contra aqueles que pensam diferente. Podemos ler a Bíblia para encontrar consolo e paz. O “poderoso” encontrará textos a seu favor, a mulher descobre certos acentos que escapam à leitura feita pelo homem...
Para sintonizar com os Profetas e com o próprio Jesus, façamos a leitura da Bíblia a partir do pobre, do marginalizado. Os pobres têm lugar preferencial na Bíblia, são chamados bem-aventurados e benditos.
A Bíblia é o livro da comunidade
A Bíblia é o livro do Povo de Deus, das primeiras comunidades cristãs, das nossas comunidades hoje. Lida em comunidade, a reflexão se aprofunda e enriquece. A Bíblia quer construir e fazer crescer a comunidade de fé, a comunhão fraterna, a vida de oração (leitura orante da Bíblia). Leva à solidariedade e ao compromisso. Por isto, é importante a leitura da Bíblia em grupo, onde Jesus está no meio de nós para nos iluminar.
Evite-se uma leitura intimista, simplista. A Palavra de Deus é altamente questionadora, visa a conversão do seu povo, denuncia atitudes que vão contra a prática comunitária da fraternidade e igualdade.
A Bíblia deve ser lida na perspectiva do Reino
A leitura bíblica não visa somente a formação da comunidade, mas deve inspirar o serviço ao mundo, o qual deve ser transformado em Reino de Deus, Reino de paz e justiça, de fraternidade e igualdade, onde Deus é tudo em todos. O Reino ultrapassa as fronteiras da Igreja, não depende de estruturas e se completará na eternidade.
Por isso, a leitura da Bíblia deve levar a uma conscientização, a um compromisso para uma ação transformadora da sociedade, onde o Reino está para ser construído. Tal leitura acentuará a nossa responsabilidade como colaboradores de Deus no seu Plano de Salvação que é um plano universal.
Evitemos a visão de um Deus milagreiro que resolve os problemas humanos sem a atuação do ser humano.
Saibamos ler a linguagem simbólica da Bíblia que, através de muitas narrações de milagres, quer fazer entender que Deus não nos deixa sozinhos no processo da libertação. Tomando literalmente as narrações de milagres, corremos o risco de fazer uma leitura alienante que dispensa a atuação humana, deixando a solução dos problemas unicamente à ação milagreira de Deus. É importante saber que Deus efetua e realiza seu Plano de Salvação com a nossa cooperação e que recebemos um chamado divino para construir o Reino. Nossa atuação é indispensável.
Evitar uma oposição entre Antigo e Novo Testamento
Não façamos oposição entre o Antigo (ou Primeiro) e o Novo (ou Segundo) Testamento. É o mesmo Deus que se dá a conhecer: O Deus da Aliança que ama seu Povo e quer libertar. Em Jesus, Deus veio completar a Aliança, mas não a derrubou ou substituiu. O Novo Testamento é uma releitura do Antigo Testamento à luz da morte e ressurreição de Jesus. Jesus está na linha de muitos profetas e os primeiros cristãos entenderam Jesus a partir das Escrituras. (cf. Ez 34,1-6.11-16)
É muito importante conhecer o Antigo Testamento. Quanto mais o conhecermos, tanto mais entenderemos quem é Jesus, suas ações, seus ensinamentos, seus muitos títulos. A riqueza do Antigo Testamento reflete na pessoa de Jesus com maior fulgor e perfeição. Tal leitura despertará também maior respeito pelas raízes judaicas do cristianismo. Aumentará o respeito pelo povo judeu, o primeiro chamado por Deus e que continua sendo chamado (cf. Rom 11).
Inês Broshuis
Comissão bíblico-catequética do regional Leste 2