A Bíblia é a primeira fonte da Catequese. Ela deve inspirar todo o processo catequético.
Mas, para trabalhar adequadamente com a Bíblia no processo catequético, o próprio catequista deve se formar para ter uma visão da Bíblia que realmente ajude os catequizandos, tanto crianças, jovens e adultos, a alimentar sua vida cristã.
A Bíblia é um livro para adultos
A Bíblia é um livro escrito por adultos para adultos. Ela trata as pessoas como adultos. Deixa espaço para refletir e para decidir. Não dá receitas prontas, nem coloca grandes dogmas de fé. A Bíblia leva a descobrir a mão de Deus nos acontecimentos, alerta para a vivência da Aliança e deixa especo para se posicionar diante dela. Na própria Bíblia encontramos correntes diferentes, idéias às vezes opostas, releitura de antigos textos. A Bíblia é diferente de um catecismo que coloca as verdades da fé sem muita possibilidade de discussão ou de opiniões diferentes. Disto vemos também, que devemos ter um certo cuidado ao trabalhar a Bíblia com crianças. Exige uma abordagem própria conforme sua idade, sua experiência da vida etc. (É um assunto que pode ser abordado em outra ocasião)
A Bíblia relata a experiência que o Povo da Bíblia tem de Deus
A Bíblia não é a Palavra de Deus que caiu do céu. Ela brotou da própria vida com suas lutas e sofrimentos, com suas situações e acontecimentos. É aí que o Povo da Bíblia foi descobrindo a mão de Deus, seu Rosto, seus apelos. A Bíblia foi escrita a partir da experiência de Deus que o Povo fazia na sua história, orientado pelos Profetas.
Em Jesus, a revelação de Deus chegou ao auge. Os primeiros seguidores de Jesus experimentaram nele a presença do próprio Deus, a revelação de Deus. Hoje, a Bíblia vai nos ajudar a descobrir Deus em nossa vida, escutar seus apelos, dar nossa resposta.
A Bíblia é uma biblioteca
A Bíblia é um conjunto de escritos com gêneros literários diferentes. É necessário conhecer tais estilos literários para não tomar tudo ao pé da letra e cair numa leitura fundamentalista. A Bíblia está cheia de simbolismos e narrativas que ajudam a encontrar o sentido mais profundo dos acontecimentos e da ação de Deus. A Bíblia não é um livro de ciências, nem de história, no atual sentido da palavra. Ela não pretende transmitir dados científicos ou históricos. Sua linguagem não é informativa sem conseqüências para nossa vida, mas provocativa: apela a uma resposta.
A Bíblia é uma luz para a vida hoje
O Documento de Puebla (Nº 997) diz assim:
“A Catequese deve iluminar com a Palavra de Deus as situações humanas e os acontecimentos da vida, para neles fazer descobrir a presença ou ausência de Deus.”
A Bíblia não pode ser lida desligada da vida ou ser lida num sentido espiritualista. O Povo da Bíblia chora, xinga, grita a Deus (cf. Jer 20,14-18). Isto brota da vida que não é só doçura, mas coloca o ser humano diante de duras e incompreensíveis realidades. Às vezes, a Bíblia dá respostas, mas também se cala diante do mistério da vida e do sofrimento.
A Bíblia é o livro da Aliança
Toda a Bíblia é impregnada da mensagem da Aliança que Deus contraiu com seu Povo. É um pacto de amor e fidelidade É uma mensagem de libertação, de salvação. Mostra o caminho da verdadeira vida e os caminhos tortos e pecaminosos que desviam dela.
A leitura catequética deve sempre levar em conta esta mensagem libertadora da Bíblia. Deus quer salvar em situações bem concretas, como podemos ler no livro do Êxodo, nos livros dos Profetas e na mensagem da Aliança e, no Novo Testamento, no anúncio do Reino de Deus, A Bíblia quer ajudar a descobrir o Plano salvífico de Deus.
Há certas passagens na Bíblia que, à primeira vista, não são libertadoras. Foram escritas em determinadas contextos que devem ser levados em conta. O que valia naquele tempo, naquela cultura, nem sempre pode ser aplicado à nossa situação. Dentro de uma visão libertadora, devemos “dialogar” com esses textos e até criticá-los. Alguns exemplos: as guerras santas e o extermínio dos inimigos, a dominação da mulher, o casamento polígamo, as leis de purificação e de alimentação... Se tomarmos tudo literalmente para nós hoje, caímos numa leitura fundamentalista que não liberta, mas escraviza. Uma verdadeira leitura bíblica ilumina as situações de dominação e injustiça que existem hoje e anuncia a libertação integral de todos.
Ines Broshuis
Comissão Bíblico-Catequética do Regional Leste 2