A partir de 1964, com abrangência nacional, vem sendo realizado no Brasil a Campanha da Fraternidade, completando 52 edições neste ano de 2016. Para cada campanha é escolhido um tema e um lema, segundo as exigências relacionadas com as necessidades mais urgentes da população. É espaço de diálogo, reflexão e conscientização sobre a temática apresentada.

A que foi preparada para este ano tem como tema, “Casa Comum, nossa responsabilidade”. O lema vem do profeta Amós 5,24: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”. É um alerta para nos fazer sair da acomodação e assumir os desafios da vida moderna como sujeitos. Criar consciência de que a terra, a casa comum de todos nós, pode ser diferente.

A Campanha tem por finalidade primeira criar esperança de que a vida das pessoas pode ser muito melhor. As práticas brutais e de ofensa à natureza também podem ser mudadas. Mesmo numa nação de tanta migração, a qualidade de vida pode ser diferente sem transferência de lugar. O mais importante é a mudança nas atitudes pessoais referentes ao tratamento das coisas públicas e da natureza.

Reclamamos de muita coisa. Mas o que é dito deve coincidir com nossa prática, fazendo, de nossa parte, o que é possível realizar. É feio jogar a culpa das coisas não assumidas nos outros. Aliás, isto é muito fácil, mas não ajuda na preservação da casa comum. É como ter fé em Deus, mas não colocar em prática as exigências da vida cristã, principalmente a realização da caridade com o próximo.

A duplicidade de comportamento desabona a autenticidade da vida humana. De um lado, ficar cobrando tarefas e, de outro, não cumprir os próprios deveres. São situações que não conferem com a dignidade cidadã e, muito menos, cristã. Na responsabilidade ecológica da casa comum, na visão do papa Francisco, ninguém fica de fora e todos participam dos sofrimentos e alegrias advindos daí.

A referência principal da Campanha da Fraternidade deste ano é o “saneamento básico”, fazendo parte de seu objetivo geral. Para isso ser realidade, dependemos de políticas públicas para garantir a integridade da casa comum hodierna e para o futuro. Ainda é tempo de reagir e agir, não deixando para depois o que deve ser feito hoje. O mundo está ameaçado pela prática predatória.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba-MG