Deus é fiel à sua criação. Ele criou o ser humano para si e não se cansa de nos olhar e de nos atrair. Por isso, é somente em Deus que o ser humano há de encontrar a verdade e a felicidade.
Com o olhar mais atento poderemos aflorar nossa sensibilidade para sua presença silenciosa tantas vezes abafada dentro de nós. Colocando-nos à escuta interior seremos capazes de perceber seus sinais; pode-se ouvir a voz da consciência, observar mais de perto a carência de nosso coração e até mesmo nossas atitudes egoístas. O caminho interior nos dá força e coragem para tomarmos atitudes que nos abrem para a verdade, a justiça e a liberdade. Deus quer se encontrar conosco e juntos percorrermos o caminho interior Podemos também perceber e reconhecer os sinais de Deus: onde se vive o amor, onde se sabe perdoar, onde se constrói a paz, onde somos acolhidos sem preconceitos.
Com um olhar mais atento podemos olhar para a natureza e lá perceber a presença de Deus: no ciclo das estações, na beleza de sua paisagem, na fecundidade da terra e em todo o movimento do universo.
Para perceber os sinais de Deus precisamos ter fé e a fé precisa ser educada. Diz BENTO XVI na Audiência Geral do dia 07/11/2012 sobre o Ano da Fé: "Educar desde à infância a saborear as verdadeiras alegrias, em todos os ângulos da existência - a família, a amizade, a solidariedade com quem sofre, a renúncia ao próprio eu para servir ao outro, o amor pelo conhecimento, pela arte, pela beleza da natureza, tudo isso significa exercitar o gosto interior e produzir anticorpos eficazes contra a banalização e o abatimento hoje difundidos".
A experiência do povo da Bíblia nos ajuda a fazer a nossa experiência
Como povo de Israel, falamos com Deus nos momentos difíceis da vida. Como o povo do exílio o invocamos e sabemos que Ele não abandona seu povo. É a experiência de que tudo pode falhar, menos a misericórdia divina. Esta atitude divina que abraça, acolhe e que se dedica a perdoar. Segundo o Papa Francisco, a misericórdia é a carteira de identidade do nosso Deus.
Encontramos ainda, na Bíblia, a experiência de Jacó que luta com Deus, imagem de nossas batalhas com o Senhor. Assim como Jacó, também podemos dizer no final de nossas lutas: Deus estava aqui e eu não sabia. A memória vitoriosa da Páscoa - passagem da morte à vida, da escravidão à libertação - animou o povo a seguir adiante.
Olhando para a experiência do povo da bíblia e da caminhada das primeiras comunidades que se puseram a caminho depois da ressurreição de Jesus, hoje percebemos como se torna significativo anunciar o Reino, a partir da experiência dos nossos catequizandos. Buscar nos fatos da vida a experiência que se fez com Deus e tornando-a "matéria-prima" da catequese, ou seja, fazer da realidade dos nossos catequizandos, permeadas pelo cotidiano de cada um, o conteúdo da catequese pois é lá "em meio aos fatos da vida que Deus atua e nos surpreende", assim diz O Papa Francisco na celebração da Santa Missa, na basílica do Santuário Nacional de Aparecida.
Com o olhar atento Deus nos acompanha; espera que lhe abramos aos menos uma fresta para que possa agir em nós. Também espera que possamos perceber a sua forma de amar: com compaixão e misericórdia. Jesus não olha para a realidade do exterior sem se deixar tocar, como se tirasse uma fotografia; ele se deixa envolver. É desse olhar que precisamos quando nos encontramos perante um pobre, um marginalizado, um pecador. Uma compaixão que se nutre da consciência de que também somos pecadores e nos leva a se envolver com essa realidade, não se esquecendo, porém, que nossos desejos e capacidade de intervenção nos fatos estarão sempre submetidos à vontade do Pai, do seu plano que é maior que o nosso. Nossa tarefa é ajudar as pessoas a ler a manifestação de Deus em suas vidas. Perceber esse agir de Deus na vida é a arte de quem aprendeu a dialogar com ele.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Arquidiocesana Bíblico-catequética de Belo Horizonte
Imagem: pexels.com
Caminhando com o Ano Litúrgico e seguindo o projeto de evangelização "O Brasil na missão continental", a Igreja, neste mês de setembro, ajuda as comunidades a refletirem sobre o profeta Miqueias, com o tema "Para que n'Ele nossos povos tenham vida" e o lema "Praticar a justiça, amar a misericórdia e caminhar com Deus" (cf. Mq 6,8).
O Profeta Miqueias era judaíta, originário de Morasti, a Oeste de Hebron. Profetizou durante os reinados de Joatão (740-736 a.E.C., Acaz, no período de 736-716 a.E.C) e Ezequias (716-687 a.E.C). Por sua origem camponesa tem semelhanças com Amós, com quem compartilha a aversão pelas grandes cidades, a linguagem concreta e às vezes brutal, o gosto pelas imagens rápidas e pelos jogos de palavras.
Miqueias foi um profeta que se sentia cheio de coragem para enfrentar os falsos profetas denunciando os crimes e os pecados do seu povo. Denunciava as diferentes práticas de injustiças espalhadas pelo Reino do Sul, centralizadas em Jerusalém, e anunciava a promessa de libertação do povo. Já nos capítulos de 1-3 encontramos esse debate sobre o tema da justiça. E, logo em seguida, nos capítulos 4 -5 encontramos o tema da salvação. Para o profeta a salvação é coisa futura. O profeta vê Jerusalém ameaçada de morte, arada como um campo e tomada de ruínas, mas também a vê sendo restaurada por Deus. Uma salvação que não é imediata, pois primeiro terá que passar por uma etapa de purificação, considerando que agora Jerusalém passa por momentos de dor e de derrota. Esta maneira de enxergar as coisas vai contra os falsos profetas que pregavam a antecipação da salvação.
Outro ponto de conflito entre os falsos profetas e Miqueias foi o lugar de onde sairia a salvação. Diante dos falsos profetas, Miqueias responde que será a cidade de Belém o ponto de partida da salvação: "E tu, Jerusalém" (4,8), "e tu, Belém" (5,1). A tradição cristã relê essa profecia em Mt 2,6 mostrando que Jesus é o Rei-Messias que nasceu numa cidade pobre, Belém, tornando-a importante e inesquecível para o mundo cristão.
O terceiro tema discutido pelo profeta é o conteúdo da salvação. No capítulo 4 do livro do profeta Miqueias encontramos as promessas de Sião (4,1-2): "E acontecerá, no fim dos dias, que a montanha da casa do Senhor estará firme no cume das montanhas e se elevará acima das colinas. Povos afluirão para ela e numerosos povos dirão: "Vinde, subamos à montanha do Senhor e ele nos ensinará os seus caminhos e caminharemos pelas suas vias". As montanhas, na Bíblia, são consideradas lugares dos encontros de Deus com seu povo (Sinai, Nebo, Ebal e Garazim, Sião, Carmelo, etc).
No capítulo 5 Miqueias define sua profecia de salvação apontando para Belém como o lugar do nascimento do Messias. A salvação virá sem violências e será benéfica para todos (5,6). Os inimigos devem ser eliminados, mas para o profeta não são as grandes potências como vê os falsos profetas, mas sim todos os ídolos nos quais confiam os israelitas: exércitos, fortalezas, adivinhos, falsas divindades (5,9-14). São estes os inimigos que Javé vai exterminar. Todo o debate de Miqueias sobre o conteúdo da salvação contribui para ir derrubando concepções errôneas e ajudando o povo a compreender a salvação como processo de julgamento de caráter purificador. No desenvolvimento do texto vamos percebendo como o profeta vai mostrando o caminho mais importante: aquele que passa pela justiça e pela fidelidade (6,8-9).
Miqueias vai apresentando as injustiças que permeiam a vida das pessoas nas diversas instâncias: social, econômica, política, religiosa e cultural. Mas, ao mesmo tempo, ele vai deixando claro como a misericórdia divina vai se manifestando, tornando-se presente na vida do ser humano por meio de pessoas, atos e fatos da vida. A misericórdia divina demonstra que Deus não abandona as pessoas e continua visitando-as no seu cotidiano. Miqueias nos revela a grandeza do agir divino, no qual sua bondade prevalece sobre o castigo e a destruição (Mq 3,8). A última palavra de Deus não será de condenação, mas sim de salvação.
Hoje, o Papa Francisco, em sua Misericordiae Vultus (o rosto da misericórdia), nos ajuda a compreender a ação misericordiosa de Deus. "Ele dá tudo de si mesmo, para sempre, gratuitamente e sem pedir nada em troca. Ele vem sempre em nosso auxílio quando o invoquemos". Na sua misericórdia, Ele chama a todos para ser profetas e profetisas misericordiosos. Chama para sermos homens e mulheres de Deus que deixam o Senhor falar verdadeiramente pela sua boca.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Arquidiocesana Bíblico-Catequética de Belo Horizonte
O mês de setembro, dentro do "Ano Litúrgico" é um mês dedicado à Bíblia. Um tempo que nos convida a dedicar maior atenção à reflexão sobre a Palavra de Deus, procurando também encontrar formas de incentivar a Leitura Bíblica.
Ler a Palavra de Deus é como ler uma carta de um grande amigo, ou de um ente querido que, ás vezes distante, vai se tornando próximo à medida que a correspondência se torna contínua. Através de uma carta é como se a pessoa se fizesse presente, e está a dizer que te ama, que é teu amigo, que estará sempre consigo. Assim é a palavra de Deus. Quando nos colocamos a ler as Escrituras estamos trazendo Deus para mais perto de nós, colocando-o presente em nossa vida. Ao lermos a Bíblia devemos deixar que ele nos conduza pois se trata de um livro vivo e, como tal, quer entrar em diálogo com quem está lendo-o, quer influenciar sua vida, sua consciência.
Vamos ouvir a Deus e falar com Ele
Nossas realidades atuais parecem transcorrer tão rapidamente que não nos sobra tempo para parar, escutar e refletir sobre a Palavra de Deus. Estamos sempre apresentado desculpas pela falta de tempo de nos colocarmos em oração. Os pais, muitas vezes, não têm tempo de rezar com seus filhos, os esposos com suas esposas. Sempre estamos a fazer alguma coisa.
Observamos nos encontros de nossas catequeses que muitas crianças não sabem rezar a "Ave Maria", a fazer o sinal da cruz, pois não tiveram a oportunidade de aprender em casa.
Várias crianças afirmam que em casa a família tem a Bíblia aberta na estante, mas é muito difícil parar diante dela para ler, para ouvir Deus lhes falar.
Sabemos também que Deus tem seu jeitinho e está sempre a nos provocar, nos pressionando para que lembremos dele. Aí, quando acontecem essas provocações, nossas reações são primeirmente de reclamação: Deus, por que eu? Porque isso acontece comigo? Ou então vamos suplicar a Deus que nos ajude. E bem depois, mais tarde, talvez aconteça um "Deus, muito Obrigado", "Deus , fica comigo".
A prática da oração em família desperta o desejo de rezar em comunidade, de participar das celebrações, partilhar os momentos vividos. A oração diária é sinal do primado da graça no caminho do discípulo missionário
Sabemos, também, que há muita gente que reza e reza bem! Gente de fé que continua sua caminhada sem perder as esperanças. Gente que reza pelos que não rezam. Vamos rezar com nossos filhos, ensiná-los que Deus ouve os nossos pedidos e, assim, eles crescem com a semente da oração no coração. Então vamos continuar rezando, propagando e proclamando a Palavra de Deus. Vamos continuar lendo a Bíblia e transmitindo-a aos que não leem. Vamos continuar dando o nosso testemunho cristão, vivendo os valores do Evangelho.
A prática da oração em família desperta o desejo de rezar em comunidade, de participar das celebrações, partilhar os momentos vividos. A oração diária é sinal do primado da graça no caminho do discípulo missionário.
Como o mestre Jesus que se coloca a caminho, convidando seus discípulos a caminhar com ele e chegar até às grandes multidões, assim também o Papa Francisco nos convida a ser Igreja no meio do povo, nas periferias, nos colocando a caminho. Põe-se a anunciar a Boa Noticia aos irmãos, a dar esperança aos que sofrem, a semear liberdade, luz e graça. Todos somos seres humanos vocacionados para o anúncio da Palavra. Diz o Papa Francisco, em sua mensagem para o Dia mundial de oração pelas vocações: "Nenhuma vocação nasce por si. A vocação brota do coração de Deus e germina na terra boa do povo fiel, na experiência do amor fraterno. Convido-vos a ouvir e a seguir Jesus, a deixar-vos transformar interiormente pelas suas palavras, que são espírito e vida (Jo 6,63). Não devemos ter medo: Deus acompanha, com paixão e perícia, a obra saída das suas mãos, em cada estação da vida".
Vamos deixar que a alegria de Deus reflita nos encontros catequéticos afirmando sua presença no meio de nós quando por meio da escuta da Palavra nos encontramos com seu Filho Jesus e quando colocamos em diálogo a sua Palavra.
Respondendo ao apelo do Papa Francisco que nos propõe assumir as obras da misericórdia corporais e espirituais, nós, catequistas, exercendo o ministério da Palavra, devemos nos tornar reveladores do mistério de Deus.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Arquidiocesana Bíblico-Catequética de BH
A leitura da Bíblia nos leva ao conhecimento sobre Deus
Por meio da leitura podemos descobrir como Deus se revela e de que forma podemos ser fiéis ao seu amor. Esse modo de revelar-se ocorre por meio das experiências das pessoas presentes nas narrativas das Sagradas Escrituras, a partir dos fatos da vida. Pela vida afora Deus vai se revelando, se mostrando como Pai e Mãe, cuidadoso, carinhoso e atento aos gritos dos que sofrem e pedem por justiça e paz.
Deus nos criou e nos proporcionou sentido para a vida, através do seu amor. Ele está sempre a nos chamar, solicitando que sejamos colaboradores em sua obra criadora. Chama-nos para amar e assim poder revelar todo o seu amor.
Quando começamos ler a Bíblia, Palavra de Deus encarnada na vida, vamos percebendo como muita gente contribuiu para fazer acontecer essa história do povo de Deus. De forma ordenada e bem distribuída, a história vai percorrendo o caminho do seu povo, vai relatando como aconteceu o amor entre eles e Deus e, mais tarde, no bloco de livros que chamamos de Novo Testamento, encontramos os relatos que nos mostram como o povo situado naquele tempo viveu e experimentou o amor de Deus por meio do homem de Nazaré, Jesus, o messias, o ungido, o Cristo, o Filho de Deus.
É de grande importância para nós lermos a Bíblia procurando conhecer e compreender as histórias bíblicas. Quando começamos a compreende-las, nós também passamos a experimentar esse amor de Deus. Vamos percebendo como ele continua agindo no cotidiano de cada pessoa, oferecendo a cada uma aquilo de que necessitas.
Ás vezes, pedimos e tornamos a pedir e achamos que Deus não está nos ouvindo, nem mesmo atendendo. Muitas vezes estamos a pedir coisas que, no pensar de Deus, não são importantes para a vida, não vai contribuir para a permanência da pessoa no caminho, ou talvez, é porque não estejamos entendendo o que ele espera de nós. Precisamos ir descobrindo qual é a vontade de Deus.
Assim foi com o povo daquele tempo. O amor entre Deus e seu povo cresceu e gerou frutos. Os grandes momentos permaneceram na memória do povo e foram contados nas Sagradas Escrituras. Através dos comentários bíblicos lemos as Alianças que Deus fez com seu povo, comprometendo-se com eles e também recebendo o comprometimento do povo.
Os profetas daquele tempo eram porta-vozes de Deus. Colocavam-se em defesa dos mais fracos, oprimidos pelo sistema monárquico, cobravam o cumprimento da Aliança e chamavam o povo à liberdade. E assim, Deus vai se mostrando através da voz forte e poderosa dos profetas.
A leitura dos Salmos nos conduz à oração. O livro, constituído de vários gêneros literários, transporta-nos para o mundo da poesia, prosa poética e cânticos de amor, de guerras e cânticos cultuais.
A poética se apresenta como uma linguagem por excelência, para expressar a experiência com Deus. Na Bíblia, a poética foi e continua sendo importante para a difusão de valores éticos e na reflexão teológica. Toda essa poesia não está só nos Salmos, mas a encontramos, também em diversos livros do Antigo Testamento como: os provérbios, as Lamentações, o Cântico dos Cânticos, em Jó, no Dêutero-Trito Isaías e Eclesiastes. Nos livros do Novo Testamento podemos ver essa poesia presente nos cânticos do Evangelho segundo Lucas (Cântico de Zacarias, de Semeão, o Magnificat), nos hinos cristológicos, catequéticos e exortativos das cartas paulinas, nos cânticos de vitória contra o mal no Apocalipse, entre outros. Aqui também, Deus vai se revelando pela poesia e arte do povo de Deus!.
Os seguidores de Jesus aprenderam a ler a Bíblia a partir da experiência com Jesus de Nazaré, profeta e Messias, crucificado e ressuscitado. É Deus se revelando definitivamente na cruz, no caminho dos discípulos e no partir do pão. Conhecer as estruturas da sociedade no tempo de Jesus, os costumes e acontecimentos dos fatos da vida ajuda-nos a compreender o que ele disse e fez. Nessa busca de compreensão fazemos a nossa experiência com Jesus, a exemplo dos primeiros discípulos. Aprendamos a saborear as alegrias efêmeras da vida que são bênçãos de Deus. E com a Bíblia na mão deixemos que a Palavra de Deus transforme nosso coração.
Recebendo as bênçãos de Deus, a graça que nos já é dada e falando sobre Deus, este é um dos modos que deixamos Deus entrar na história humana. Ele, que fala ao ser humano (homens e mulheres, que pode ser reconhecido como aquele que se dirige ao ser humano, é através do ser homem que, numa misteriosa comunhão de espírito com ele, lhe oferece hospitalidade. Nesse sentido, é a humanidade que põe a Palavra de Deus no mundo tornando perceptível a presença de Deus no mundo e na vida da cada ser humano.
Neuza Silveira de Souza
In: Opinião e Notícia 9.9.2016
Para uma boa leitura:
SILVANO, Zuleica. Introdução à análise poética de textos Bíblicos. Bíblia como Literatura. São Paulo: Paulinas, 2014.
A Bíblia ensina grandes valores
Não reduzamos a Bíblia a exemplos edificantes, acentuando normas, proibições. Mas levemos a viver os grandes valores que a Bíblia nos mostra: serviço, justiça, misericórdia, perdão, fraternidade e tanto outros. A Bíblia resume toda a moral em amar e Deus e ao próximo. Este amor será criativo e descobrirá como colocar isto em prática do melhor modo possível.
A Bíblia não dá receitas prontas
A Bíblia não dá receitas prontas para nosso agir hoje. A vida moderna nos coloca diante de questionamentos não tão simples e que não se apresentavam ainda no tempo da Bíblia, como: guerras nucleares, corrido armamentista, preservação da natureza, controle da natalidade, aborto, democracia, direitos dos trabalhadores, emancipação da mulher, problemas da bioética , clonagem, e tantos outros.
A Bíblia não fala diretamente sobre isto. Fala sobre problemas morais e éticos do seu tempo, problemas que nem sempre são os nossos, como a observância da Lei de Moisés, as guerras “santas”, a idolatria e outros. Por outro lado, problemas como riqueza/pobreza, poder/opressão, culto/vivência estão bem presentes também nos dias de hoje.
A Bíblia quer ser uma inspiração para nós, hoje, para encontrarmos o caminho certo dentro do Plano da Salvação de Deus. Trata-se mais de uma mentalidade do que de prescrições exatas; é mais uma procura, uma descoberta da vontade de Deus hoje que quer nos tirar da “casa da escravidão” (cf. Ex 20,2).
Jesus Cristo está no centro
Para os cristãos, Jesus Cristo é o ponto alto da salvação de Deus. Toda a Bíblia encontra seu sentido pleno na pessoa dele. Não devemos cultuar o Livro. Antes do Livro está a pessoa viva de Jesus Cristo, presente na sua comunidade que, pela força do seu Espírito, quer renovar a face da terra e implantar o Reino do Pai, desde já, aqui e agora.
O método
O método é o conhecido VER (a realidade, as experiências, as dúvidas e perguntas...; JULGAR à luz da Bíblia tal realidade; AGIR (mudar de mentalidade e chegar à ação; CELEBRAR o que foi refletido; AVALIAR de vez em quando. Um bom exemplo do “método” de Jesus encontramos em Lc 24,13-35 onde encontramos os momentos de diálogo e situação (vv 13-24, julgar à luz das Escrituras (vv 25-27, celebrar (vv 28-31, agir (vv 32-35). A narração da mulher Samaritana segue o mesmo desenvolvimento. Toda catequese bíblica deve partir da vida, iluminar com a Palavra de Deus, levar à oração e celebração e, assim, levar à conversão, ao compromisso.
Conclusão
Estas reflexões (que não pretendem ser completas) mostram que não se trata de colocar simplesmente a Bíblia na Catequese e fazer a leitura de certos textos. Supõe que o catequista saiba usar a Bíblia dentro de uma visão libertadora, dentro do contexto atual da vida, levando a um compromisso em nível pessoal, comunitário e social.
Aconselhamos fazer um estudo com os catequistas e aprofundar ponto por ponto e ver em que nossa Catequese bíblica deve mudar e melhorar.
Inês Broshuis
Comissão para animação Bíblico-Catequética do Regional Leste 2
A Bíblia faz uma leitura a partir dos pobres
Pode-se fazer a leitura da Bíblia a partir de diversos ângulos. Cada ângulo descobrirá determinadas facetas. Podemos ler a Bíblia como uma interessante leitura de fama mundial ou para defender nossas posições religiosas contra aqueles que pensam diferente. Podemos ler a Bíblia para encontrar consolo e paz. O “poderoso” encontrará textos a seu favor, a mulher descobre certos acentos que escapam à leitura feita pelo homem...
Para sintonizar com os Profetas e com o próprio Jesus, façamos a leitura da Bíblia a partir do pobre, do marginalizado. Os pobres têm lugar preferencial na Bíblia, são chamados bem-aventurados e benditos.
A Bíblia é o livro da comunidade
A Bíblia é o livro do Povo de Deus, das primeiras comunidades cristãs, das nossas comunidades hoje. Lida em comunidade, a reflexão se aprofunda e enriquece. A Bíblia quer construir e fazer crescer a comunidade de fé, a comunhão fraterna, a vida de oração (leitura orante da Bíblia). Leva à solidariedade e ao compromisso. Por isto, é importante a leitura da Bíblia em grupo, onde Jesus está no meio de nós para nos iluminar.
Evite-se uma leitura intimista, simplista. A Palavra de Deus é altamente questionadora, visa a conversão do seu povo, denuncia atitudes que vão contra a prática comunitária da fraternidade e igualdade.
A Bíblia deve ser lida na perspectiva do Reino
A leitura bíblica não visa somente a formação da comunidade, mas deve inspirar o serviço ao mundo, o qual deve ser transformado em Reino de Deus, Reino de paz e justiça, de fraternidade e igualdade, onde Deus é tudo em todos. O Reino ultrapassa as fronteiras da Igreja, não depende de estruturas e se completará na eternidade.
Por isso, a leitura da Bíblia deve levar a uma conscientização, a um compromisso para uma ação transformadora da sociedade, onde o Reino está para ser construído. Tal leitura acentuará a nossa responsabilidade como colaboradores de Deus no seu Plano de Salvação que é um plano universal.
Evitemos a visão de um Deus milagreiro que resolve os problemas humanos sem a atuação do ser humano.
Saibamos ler a linguagem simbólica da Bíblia que, através de muitas narrações de milagres, quer fazer entender que Deus não nos deixa sozinhos no processo da libertação. Tomando literalmente as narrações de milagres, corremos o risco de fazer uma leitura alienante que dispensa a atuação humana, deixando a solução dos problemas unicamente à ação milagreira de Deus. É importante saber que Deus efetua e realiza seu Plano de Salvação com a nossa cooperação e que recebemos um chamado divino para construir o Reino. Nossa atuação é indispensável.
Evitar uma oposição entre Antigo e Novo Testamento
Não façamos oposição entre o Antigo (ou Primeiro) e o Novo (ou Segundo) Testamento. É o mesmo Deus que se dá a conhecer: O Deus da Aliança que ama seu Povo e quer libertar. Em Jesus, Deus veio completar a Aliança, mas não a derrubou ou substituiu. O Novo Testamento é uma releitura do Antigo Testamento à luz da morte e ressurreição de Jesus. Jesus está na linha de muitos profetas e os primeiros cristãos entenderam Jesus a partir das Escrituras. (cf. Ez 34,1-6.11-16)
É muito importante conhecer o Antigo Testamento. Quanto mais o conhecermos, tanto mais entenderemos quem é Jesus, suas ações, seus ensinamentos, seus muitos títulos. A riqueza do Antigo Testamento reflete na pessoa de Jesus com maior fulgor e perfeição. Tal leitura despertará também maior respeito pelas raízes judaicas do cristianismo. Aumentará o respeito pelo povo judeu, o primeiro chamado por Deus e que continua sendo chamado (cf. Rom 11).
Inês Broshuis
Comissão bíblico-catequética do regional Leste 2
A Bíblia é a primeira fonte da Catequese. Ela deve inspirar todo o processo catequético.
Mas, para trabalhar adequadamente com a Bíblia no processo catequético, o próprio catequista deve se formar para ter uma visão da Bíblia que realmente ajude os catequizandos, tanto crianças, jovens e adultos, a alimentar sua vida cristã.
A Bíblia é um livro para adultos
A Bíblia é um livro escrito por adultos para adultos. Ela trata as pessoas como adultos. Deixa espaço para refletir e para decidir. Não dá receitas prontas, nem coloca grandes dogmas de fé. A Bíblia leva a descobrir a mão de Deus nos acontecimentos, alerta para a vivência da Aliança e deixa especo para se posicionar diante dela. Na própria Bíblia encontramos correntes diferentes, idéias às vezes opostas, releitura de antigos textos. A Bíblia é diferente de um catecismo que coloca as verdades da fé sem muita possibilidade de discussão ou de opiniões diferentes. Disto vemos também, que devemos ter um certo cuidado ao trabalhar a Bíblia com crianças. Exige uma abordagem própria conforme sua idade, sua experiência da vida etc. (É um assunto que pode ser abordado em outra ocasião)
A Bíblia relata a experiência que o Povo da Bíblia tem de Deus
A Bíblia não é a Palavra de Deus que caiu do céu. Ela brotou da própria vida com suas lutas e sofrimentos, com suas situações e acontecimentos. É aí que o Povo da Bíblia foi descobrindo a mão de Deus, seu Rosto, seus apelos. A Bíblia foi escrita a partir da experiência de Deus que o Povo fazia na sua história, orientado pelos Profetas.
Em Jesus, a revelação de Deus chegou ao auge. Os primeiros seguidores de Jesus experimentaram nele a presença do próprio Deus, a revelação de Deus. Hoje, a Bíblia vai nos ajudar a descobrir Deus em nossa vida, escutar seus apelos, dar nossa resposta.
A Bíblia é uma biblioteca
A Bíblia é um conjunto de escritos com gêneros literários diferentes. É necessário conhecer tais estilos literários para não tomar tudo ao pé da letra e cair numa leitura fundamentalista. A Bíblia está cheia de simbolismos e narrativas que ajudam a encontrar o sentido mais profundo dos acontecimentos e da ação de Deus. A Bíblia não é um livro de ciências, nem de história, no atual sentido da palavra. Ela não pretende transmitir dados científicos ou históricos. Sua linguagem não é informativa sem conseqüências para nossa vida, mas provocativa: apela a uma resposta.
A Bíblia é uma luz para a vida hoje
O Documento de Puebla (Nº 997) diz assim:
“A Catequese deve iluminar com a Palavra de Deus as situações humanas e os acontecimentos da vida, para neles fazer descobrir a presença ou ausência de Deus.”
A Bíblia não pode ser lida desligada da vida ou ser lida num sentido espiritualista. O Povo da Bíblia chora, xinga, grita a Deus (cf. Jer 20,14-18). Isto brota da vida que não é só doçura, mas coloca o ser humano diante de duras e incompreensíveis realidades. Às vezes, a Bíblia dá respostas, mas também se cala diante do mistério da vida e do sofrimento.
A Bíblia é o livro da Aliança
Toda a Bíblia é impregnada da mensagem da Aliança que Deus contraiu com seu Povo. É um pacto de amor e fidelidade É uma mensagem de libertação, de salvação. Mostra o caminho da verdadeira vida e os caminhos tortos e pecaminosos que desviam dela.
A leitura catequética deve sempre levar em conta esta mensagem libertadora da Bíblia. Deus quer salvar em situações bem concretas, como podemos ler no livro do Êxodo, nos livros dos Profetas e na mensagem da Aliança e, no Novo Testamento, no anúncio do Reino de Deus, A Bíblia quer ajudar a descobrir o Plano salvífico de Deus.
Há certas passagens na Bíblia que, à primeira vista, não são libertadoras. Foram escritas em determinadas contextos que devem ser levados em conta. O que valia naquele tempo, naquela cultura, nem sempre pode ser aplicado à nossa situação. Dentro de uma visão libertadora, devemos “dialogar” com esses textos e até criticá-los. Alguns exemplos: as guerras santas e o extermínio dos inimigos, a dominação da mulher, o casamento polígamo, as leis de purificação e de alimentação... Se tomarmos tudo literalmente para nós hoje, caímos numa leitura fundamentalista que não liberta, mas escraviza. Uma verdadeira leitura bíblica ilumina as situações de dominação e injustiça que existem hoje e anuncia a libertação integral de todos.
Ines Broshuis
Comissão Bíblico-Catequética do Regional Leste 2
“Palavra não foi feita para a opressão.
Destino da palavra é o coração”
A partir de hoje, na minha série de reflexões sobre a Bíblia, vou compartilhar com vocês o encontro entre o texto bíblico e o nosso cotidiano. Nele, busco encontrar pistas para perceber o que Deus quer nos dizer, hoje, através desse livro milenar.
O grande destaque no noticiário internacional tem sido a crise provocada pelas ondas de imigrantes que tentam, em desespero, entrar na Europa.
Eles vêm do Oriente Médio e da África, fugindo das guerras e da miséria nos seus países de origem.
Nesta semana, a imagem do corpo do pequeno menino sírio, afogado no Mar Mediterrâneo, chocou a todos. Ato contínuo, nos jornais deste domingo, vejo fotos de refugiados sendo recebidos com aplausos, comida, roupas e brinquedos, numa cidade austríaca.
A Áustria é um dos países mais desenvolvidos do globo. Viena, sua capital, foi eleita, pela sétima vez seguida, a cidade de melhor qualidade de vida no mundo.
Quando lá estive, me encantei com suas largas avenidas, onde o moderno convive com a História, os imensos parques, a arquitetura, a onipresença da música clássica. Mozart, Beethoven, Schubert, Brahms, para citar apenas os mais conhecidos, nasceram em Viena.
Além disso, chama atenção a limpeza asséptica dos espaços públicos, a organização do sistema de transportes, a educação formal dos moradores de uma cidade habituada a receber 12 milhões de turistas por ano. Só pra se ter uma ideia, o Brasil inteiro, em 2014, com Copa do Mundo e tudo, recebeu 6,4 milhões de turistas estrangeiros.
Os que chegam, agora, não são turistas. Não trazem dólares, euro, máquinas fotográficas, nem vão comprar souvenires. Na sua bagagem, medo, fome e desespero.
Pensando em tudo isso, lembrei-me de uma passagem do evangelho de João (João 6,1-13).
A seguir, compartilho com vocês uma leitura contemplativa desta passagem.
Dividir para multiplicar...
Contemplando João 6,1-13
Jesus subiu a uma montanha de onde podia contemplar a belíssima paisagem do Mar da Galiléia. A multidão que o seguia acomodou-se na grama. Muitos haviam visto ou ouvido falar de como ele pregava e também como curava muitos doentes que o procuravam. Entardecia... Pedro, mal humorado, comentou com André, seu irmão: “Andamos o dia inteiro com essa gente a nos seguir sem parar sequer para comer. Estou morrendo de fome e cansaço”.
Jesus ouviu o desabafo de Pedro. Olhou mais uma vez aquela multidão à sua volta... deu um suspiro profundo e disse a Filipe, que estava próximo a ele:“Essa gente toda está com fome. Onde vamos arranjar alimento para eles...?”
Filipe respondeu: “Nem se juntássemos meio ano de salário não daria para comprar sequer um pedaço de pão para cada um.”
Os apóstolos acenaram a cabeça, concordando. Pedro adiantou-se e disse: “Senhor, mande essa gente voltar para suas casas, lá eles encontrarão comida e descanso”. Tomé acrescentou: “e nós também poderemos comer e descansar em paz”.
Jesus retrucou: “Mas se vocês tem o que comer, dividam com essa gente...”
Ele se entreolharam em silêncio. Judas disse: “Mas nós também não temos nada”.
Judas mentia. Na última aldeia pela qual passaram, ele, que era quem cuidava do dinheiro do grupo, comprara pão, queijo e frutas. Guardara tudo em algumas sacolas que estavam escondidas. Como os outros, imaginava que se abrissem as sacolas ali, diante de todos, não sobraria uma migalha.
Na verdade, muita gente raciocinava da mesma forma. Eu também. No meu alforje havia um sanduíche de pão com carne de cordeiro, bem guardado, esperando o momento adequado para virar meu jantar.
Por um instante fez-se um silêncio constrangedor. Então, um rapazinho que estava ao meu lado ergueu-se e foi até André, o irmão de Simão Pedro. Conversaram. André disse a Jesus:
“Mestre, há aqui um rapaz que está oferecendo seu lanche.” E com um sorriso debochado: “São cinco pães de cevada e dois peixes! O que é isso para tanta gente?”
Jesus chamou o rapaz. Na verdade era quase um menino, um adolescente de seus 13 anos. Ele aproximou-se e sentou-se ao lado de Jesus que, passando o braço sobre seu ombro, fez um afago em seus cabelos dizendo:
“Então, rapaz, é você que vai garantir o nosso jantar?”. O garoto respondeu, mostrando um pequeno cesto: “Só tenho isso, Senhor, mas pode dividir com todos”.
Jesus pegou o cesto, fechou os olhos e fez uma breve oração. Depois se ergueu, partiu um dos pães, partiu também um peixe, fez um pequeno sanduíche e deu a Judas. Fez o mesmo com Pedro, Tomé, Filipe, João. Foi distribuindo a eles um pedacinho do alimento. Os apóstolos se entreolhavam, constrangidos. Eu e todos em volta, observávamos tudo, surpresos. Logo, Jesus ficou com o cesto vazio. Parou e olhou para nós. Com um sorriso, encolheu os ombros, meio dizendo, meio perguntando:
“Acabou!?” João gritou: “Judas, onde estão as sacolas?”. Judas, contrariado: “Ali, atrás daquelas árvores...”
João correu e trouxe as sacolas, colocando-as aos pés de Jesus. Ele chamou o garoto e disse: “Você me ajuda a distribuir?” O menino, sorridente, abriu a primeira sacola e ergueu no ar um belo pão de centeio, tostadinho, que logo foi sendo repartido de mão em mão. De repente, toda a multidão se agitou. É que as pessoas que tinham os alimentos guardados, escondidos, começaram a colocá-los na roda, envergonhados ou seduzidos pelos gestos de Jesus e do menino. Logo o alto da montanha tornou-se um imenso pic nic. Todos riam e falavam alto, livres do constrangimento inicial.
“Tome aqui, Malaquias, uma coxa de frango, deixa provar um pouco do seu vinho! Hum, Sara, esse bolo está uma delícia, experimente aqui da minha farofa!”
Ao meu lado estava um homem gordo e sorridente, de olho no meu alforje. Com o coração apertado tirei o sanduíche e ofereci um pedaço. Ele apanhou o sanduíche inteiro e agradeceu. Algumas dentadas e lá se foi o meu jantar. Olhei em volta, desolado, e dei com Jesus, bem diante de mim. Ele deu uma gargalhada e me chamou para perto dele. Eu me aproximei, sem graça e ele, fixando seus olhos em mim, me estendeu um pedaço de pão e um copo de vinho. Senti algo diferente, como se naquele olhar ele quisesse, na verdade, alimentar a minha alma e o meu coração.
A noite foi chegando, fogueiras foram sendo acesas. Rodas de amigos e famílias inteiras se reuniam, conversando, cantando, batendo papo descontraidamente, numa inesperada e espontânea festa. Jesus disse aos apóstolos: “Recolham toda a comida que sobrou. Que nada se perca. Vamos garantir o lanche da manhã.” Eles passaram entre os grupos e voltaram trazendo alimento suficiente para encher doze grandes cestos.
Jesus olhou o menino, sentado ao seu lado, e disse, num sorriso: “É, garoto, que milagre você fez aqui, hoje...!”.
O sorriso menino me fez lembrar o lanche coletivo, na escola infantil. Quando a gente guarda, estoca, acumula, falta; quando a gente compartilha, sobra...
Eduardo Machado/Outubro de 1997
Comida
Titãs - Composição: Arnaldo Antunes / Marcelo Fromer / Sérgio Britto
Bebida é água.
Comida é pasto.
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?
A gente não quer só comida,
A gente quer comida, diversão e arte.
A gente não quer só comida,
A gente quer saída para qualquer parte.
A gente não quer só comida,
A gente quer bebida, diversão, balé.
A gente não quer só comida,
A gente quer a vida como a vida quer.
Bebida é água.
Comida é pasto.
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?
A gente não quer só comer,
A gente quer comer e quer fazer amor.
A gente não quer só comer,
A gente quer prazer pra aliviar a dor.
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer dinheiro e felicidade.
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer inteiro e não pela metade.
“Eu vim para escutar
tua palavra de amor...”
A Espiritualidade é, basicamente, uma experiência pessoal, vivida individualmente, e partilhada e alimentada na vida comunitária. Ela também se alimenta do texto sagrado e do diálogo pessoal e profundo com Deus através da oração e da vida sacramental. Daí nasce a experiência de ser Comunidade, se sentir Igreja.
Por isso, a importância da dimensão do conhecimento que solidifica a Fé e lhe dá bases humanas, que também são necessárias.
Conhecer a mensagem bíblica, compreender o ‘fio da meada’ da História da Salvação, os mistérios centrais da doutrina cristã: Fé; Trindade, Encarnação, Ressurreição, a realidade sacramental, tudo isso é importante para a caminhada do cristão. Nossa Fé tem uma História. A Bíblia conta essa história. E somos parte dela.
Há várias formas de ler e meditar o texto bíblico. Há quem tenha uma Bíblia na cabeceira da cama e não começa ou termina o dia sem ler um trecho escolhido (a leitura do dia, por exemplo) ou alguma outra escolha, aleatória. Há quem tenha sua Bíblia, na mochila, no carro e, aí, a hora do engarrafamento vira, também, tempo de encontro com a Palavra de Deus.
São pílulas no dia a dia, mas é preciso, também buscar alimento mais sólido, reservar tempo e espaço para um mergulho mais profundo na Palavra de Deus.
Uma das formas de fazer isso é através da “Oração Inaciana”, método inspirado nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola.
A seguir, um resumo dos passos para “entrar” nessa experiência:
01- Encontre um “lugar sagrado” no seu dia a dia. Um espaço tranquilo, onde você possa estar confortável (o corpo também reza), sem ser interrompido(a) ou incomodado(a).
02- Considere o tempo que você terá para a oração. Seja fiel a ele.
03- Respire pausada e profundamente. Inspire, junto com o ar, a graça, a paz, o amor de Deus presentes no Universo. Expire, expulsando de dentro de você, a tensão, as preocupações, o cansaço. Repita esse exercício várias vezes até se sentir pacificado(a).
04- Coloque-se e sinta-se na presença de Deus. Ele está no meio de nós. Ele está à sua frente, para lhe guiar. Atrás de você, para lhe proteger. Sobre você, para lhe iluminar. Dentro de você, para lhe fortalecer, ao seu lado, amigo e companheiro de caminhada...
05- Leia pausadamente, frase por frase, sem pressa o texto bíblico escolhido, ou indicado. Essa primeira leitura é do conhecimento.
06- Releia o texto. Essa segunda leitura é da sensibilidade. Tente perceber palavras ou frases que chamam sua atenção, tocam seus afetos. Repita-as, deixando que movam os sentimentos que estão no seu coração. É a hora em que Deus fala. Ouça-O...
07- Fale com Deus. Ele o(a) escuta. Responda, seguindo o caminho que lhe indica o coração: É hora de pedir, ou agradecer, ou louvar, ou decidir, ou silenciar...
08- Termine sua oração com um pequeno gesto, uma palavra de “até logo” a Deus.
09- Faça um “diário espiritual” dessas experiências. Anote (ou digite) os sentimentos, intuições, decisões e emoções experimentados durante a oração.
10- Busque viver, na vida diária, as percepções experimentadas na leitura orante da Bíblia.
Hoje, diversas “ciências modernas” tem ressaltado a importância da meditação no equilíbrio do ser humano, destacando a importância da espiritualidade para que se tenha uma vida saudável, em todos os níveis e sentidos. A Bíblia é uma fonte preciosa dessa sabedoria. Encontrar no dia a dia, em meio ao corre-corre enlouquecido em que vivemos, espaços e momentos de mergulho profundo em nós mesmos, tendo a Bíblia como “mapa do caminho”, é resgatar o próprio sentido e significado da nossa vida. Deus, que é amor, criou cada um de nós por amor e para o amor. O amor é nosso berço, caminho e destino...
Eduardo Machado
Educador e escritor
03-09-2015
“Senhor, que a tua palavra transforme a nossa vida.
Queremos caminhar com retidão na tua luz”
O texto bíblico é um convite a ler, rezar, viver, partilhar. Essa experiência é sempre pessoal, mas pode e deve ser compartilhada com uma comunidade. O Espírito de Deus às vezes esconde na palavra do outro o que quer falar ao meu coração.
Como já frisei, há profunda diferença entre “estudar” e “rezar” a Bíblia. Na leitura orante, o propósito é buscar compreender, na Palavra de Deus, o que Ele quer de mim. Suas palavras, assim como as sementes da parábola, são inspiração para a vida cotidiana. A nós cabe preparar o terreno...
Isso implica, também, em não ser um ignorante em relação ao texto e ao contexto bíblicos. Pelo contrário. É preciso conhecer para amar. E não esquecemos o que amamos. Daí a importância de procurar conhecer melhor a Bíblia em seu contexto histórico, cultural, literário e linguístico. Ninguém leva a sério nem fanáticos, nem ignorantes.
Mas o lugar privilegiado e sagrado da Palavra de Deus é o coração. E do coração, as palavras transbordam para as mãos, pois a Palavra Sagrada nos transforma. Ao nos comprometer com a Boa Nova, convida a uma Vida Nova.
Há, hoje, opções muito interessantes para um estudo orante da Bíblia. Palestras, curso de teologia para Leigos (Centro Loyola - www.centroloyola.org.br ), círculos bíblicos baseados nos roteiros do Frei Carlos Mesters (Ed. Vozes), os livros de oração contemplativa do Pe. Álvaro Barreiro, sj (Ed. Loyola), os grupos de oração em torno da Palavra, nas paróquias e comunidades, a nossa Noite de Espiritualidade (toda última terça-feira do mês, no Colégio Imaculada), Grupos de Jovens, de Casais, Retiros e Cursos oferecidos por diversas instituições.
A Bíblia é uma carta de amor que Deus nos escreveu. Ninguém deixa de lado uma carta de amor. O desejo é de ler e reler, bebendo cada palavra repleta de sentimentos. Na nossa cultura de maioria católica acomodada, muitos de nós tem em casa uma ‘Bíblia da Barsa’, bonita, colorida, enfeitando uma mesa, uma estante, um aparador. Em geral, aberta numa página com belas ilustrações empoeiradas pelo pó do esquecimento.
A Bíblia não é objeto de decoração. É alimento para o coração.
Eduardo Machado
Educador e escritor
03-09-2015
Fora do contexto da fé, a Bíblia é precioso objeto de estudo e reflexão, na medida em que traz um raro registro da sabedoria milenar de um povo.
Nesse aspecto, é preciso levar em conta o desafio de compreender e interpretar um texto escrito há três ou dois mil anos, num outro contexto histórico, político, social, religioso, numa cultura e numa língua completamente diferentes da nossa. Isso sem falar de gêneros literários variados, que vão da narrativa histórica objetiva ao texto poético, das descrições detalhadas às metáforas, do uso de fábulas e parábolas típicas da cultura popular e outras figuras de linguagem.
Estudiosos, teólogos, exegetas, tem na Bíblia uma matéria inesgotável de pesquisa e trabalho. Por isso tantas traduções. É o livro mais publicado, estudado e discutido da história humana.
Do leitor comum da Bíblia, um leigo, não se deve esperar uma interpretação do texto bíblico. Isso é tarefa para os estudiosos. Em reuniões de grupos, destinadas à partilha de vida, é erro comum as pessoas ficarem discutindo o texto bíblico, num festival de ‘achismos’ e palpites que fica apenas no nível das ideias. É pouco. Na verdade, somos convidados a uma leitura orante, ou seja, tentar perceber o que Deus quer nos dizer, pessoalmente, naquele trecho bíblico, confrontando-o com nossa vida. O que não limita a possibilidade de buscar um estudo aprofundado desse apaixonante conjunto de livros.
Mas, no dia a dia, mais que tentar dizer o que entendo da Bíblia, sou chamado a perceber o que sinto ao ler a Bíblia.
A Bíblia é mais que um livro de História ou de histórias. Como tal, já seria uma preciosidade única, mas, na perspectiva religiosa, suas palavras buscam o coração de cada ser humano que a lê.
Aos olhos da fé, Deus é a força inspiradora daqueles que deixaram seu registro nas páginas desse livro sagrado.
Eduardo Machado
Educador e escritor
02.09.2015
“Tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos, luz que clareia o meu caminho” do Salmo 119
Setembro é o Mês da Bíblia. Tempo de refletirmos sobre nossa relação com esse livro, sagrado para tanta gente.
A palavra Bíblia vem do grego, βίβλια (Biblos) e significa ‘Livros’, no plural. Ou seja, a Bíblia é um conjunto de livros que registra, no Velho Testamento, a história do povo hebreu, sua organização como nação, suas conquistas e atribulações, suas tradições religiosas, tudo sob a ótica da sua relação com Javé, o seu Deus.
Por isso, a Bíblia, na verdade, não é UM livro. São vários. Exatamente 73, na versão católica, divididos em duas grandes partes:
O Antigo, Velho ou Primeiro Testamento, com 46 livros e o Novo ou Segundo Testamento, com 27.
O que chamamos de livro, na Bíblia, não é necessariamente um volume, como estamos habituados a manusear. Há livros da Bíblia que não passam de uma página, como a Carta de São Paulo a Filêmon. Outros podem ter textos extensos, como o livro do Profeta Isaias com seus 66 capítulos.
O Novo Testamento apresenta a figura de Jesus e, com Ele, abre uma nova página nessa história. Para os cristãos, em Jesus se cumprem as promessas feitas por Javé a Abraão e sua descendência. Ele é o Salvador Prometido, o Messias (Enviado) o Cristo (Ungido, Escolhido).
O registro de toda essa saga é atribuido a cerca de 40 ‘autores’ nominados, que fizeram seus registros entre 1445 e 450 a.C. (livros do Antigo Testamento) e 45 e 90 d.C. (livros do Novo Testamento), abarcando um período de quase 1600 anos. Na verdade, numa cultura onde o conhecimento se transmitia principalmente pela narrativa oral, é mais adequado pensarmos que esses textos foram resultado de registros de comunidades, muito mais que de pessoas.
Eduardo Machado
Educador e escritor
01.09.2015
Introdução
Veremos mais uma metáfora do evangelho de João para nos dizer quem é Jesus. Jesus é o nosso PASTOR que conduz seu rebanho a verdes pastagens.
Para este encontro vamos preparar o ambiente, colocando a Bíblia, uma bengala ou bastão, gravuras do Bom Pastor ou de algum rebanho.
O Pastor no Antigo Testamento
O povo fazia sua experiência de Deus inspirada na realidade daquele tempo em que muitos viviam do cuidado de rebanhos. Já no nascimento de Jesus, o Evangelho conta da visita dos pastores e, até hoje, enfeitamos o presépio com imagens de pastores e carneirinhos.
Os líderes religiosos eram considerados “pastores” do povo e, especialmente, os Reis de Israel e Judá que já eram uma referência ao Rei-Messiânico cuja chegada era esperada.
O Profeta Ezequiel fala sobre esses pastores, bons ou maus. Vale a pena ler Ez 34,1-16. Primeiro, podemos ler os versículos 1 a 10. Deus se queixa amargamente sobre os maus pastores. Nos versículos 11 a 16, Deus se declara o Bom Pastor. (Tempo para leitura)
O Salmo 72 descreve a tarefa do Rei Messiânico, que é o Pastor do povo, que Israel está esperando. (Podemos ler os versículos 1-4.7.12-14)
O Rei Messiânico é Jesus
O Novo Testamento fala de Jesus como o Bom Pastor (Mt 18,12-14; Lc 15,1-7) Mas, o texto mais bonito está em João 10,1-18 e 27-30.
Vamos celebrar
Canto
Sou bom Pastor, ovelhas guardarei, não tenho outro ofício, nem terei.
Quantas vidas eu tiver eu lhes darei.
Maus pastores, num dia de sombra, não cuidaram e o rebanho se perdeu.
Vou sair pelo campo, reunir o que é meu, conduzir e salvar.
Verdes prados e belas montanhas hão de ver o Pastor, rebanho atrás.
Junto a mim, as ovelhas terão muita paz, poderão descansar.
Leitura: Jo 10,1-18 e 27-30
Partilha
1 Que significa: Jesus é a “Porta”?
2. Todos nós somos pastores. Quando e onde cumprimos esta missão?
Oração
Vamos saborear o salmo 23
Leiamos o salmo, bem devagar. Observemos a linguagem poética. Que nos dizem esses símbolos?
Qual versículo mais tocou?
(Podemos guardar bem o seguinte versículo e rezá-lo quando nos sentirmos angustiados ou intranqüilos: “Junto a mim estás; teu bastão e teu cajado me deixam tranqüilo.”)
Canto final
Vejam, eu andei pelas vilas, apontei as saídas como o Pai me pediu.
Portas, eu cheguei para abri-las. Eu curei as feridas como nunca se viu.
Por onde formos também nós, que brilhe a tua luz!
Fala, Senhor, na nossa voz, em nossa vida.
Nosso caminho então conduz. Queremos ser assim!
Que o pão da Vida nos revigore no nosso “sim”!
Vejam, fiz de novo a leitura das raízes da vida que meu Pai vê melhor.
Luzes, acendi com brandura. Para a ovelha perdida não medi meu suor.
Vejam, eu quebrei as algemas, levantei os caídos, do meu Pai fui as mãos!
Laços, recusei os esquemas. Eu não quero oprimidos, quero um povo de irmãos.
* ~ * ~ * ~ * ~ * ~ * ~ * ~ * ~ * ~ * ~ * ~ * ~ * ~ * ~ *
C O N C L U S Ã O
Até aqui, tratamos de alguns sinais e metáforas de João para mostrar quem é o Senhor Ressuscitado.
A partir do capítulo 13, o Evangelho se desenrola na intimidade daqueles que crêem, os discípulos. Jesus se despede e revela o sentido profundo de sua obra.
Chegou a “Hora de Jesus”: sua morte e glorificação.
Ao despedir-se, Jesus promete mandar o Paráclito para recordar sua obra e ensinamento e para conduzir a comunidade.
Pelo Espírito que Jesus envia da parte do Pai, aprendemos a fazer a obra de Jesus, hoje.
O capítulo 20, 30-31 encerra o Evangelho.
O capítulo 21 é um epílogo que mostra Jesus depois da ressurreição, presente em sua comunidade, na Galileia, sob a responsabilidade de Pedro.
Inês Broshuis
Equipe para Animação Bíblico-Catequética do Regional Leste 2
Introdução
Vamos ver uma metáfora que o evangelista João usa para nos dizer quem é Jesus. João diz que Jesus é o CAMINHO.
(Para este encontro, vamos preparar o ambiente colocando a Bíblia, um caminho feito de pedras, um par de sandálias, uma gravura com pegadas...
No Antigo Testamento, a Torá é chamada “O CAMINHO”
A Torá, também chamada “A LEI”, é um livro de ensinamentos para os judeus, que indica o caminho para chegar à verdadeira felicidade, assim como Deus a quer para seus filhos. Na Bíblia, há salmos que cantam a beleza dessa lei de Deus (Sl 19 e 119). Vamos ler, agora, a segunda parte do Salmo 19,8-15 e apreciar sua beleza. (tempo para reflexão)
Jesus é a Torá viva
Jesus vivia a Torá, valorizava-a. Quando criticava certos legalismos, ele o fazia justamente para livrar a Torá de uma interpretação errônea. Jesus diz sobre si mesmo: ”EU SOU O CAMINHO” (Jo 14,6). Assim, a Torá continua em Jesus, em toda sua pureza. Jesus mostra o caminho para se viver conforme os mandamentos de Deus e ajuda a encontrar a felicidade. Vamos ler, agora, o capítulo 14, 1-11. (tempo para a leitura)
Os primeiros cristãos eram chamados membros do “Caminho”
Era o nome que se dava aos membros do movimento de Jesus.
No livro Atos dos Apóstolos, Paulo relata sua conversão. No capítulo 22, 4, ele diz: “Persegui até à morte os adeptos deste caminho, prendendo homens e mulheres e lançando-os na prisão.” Ainda em Atos dos Apóstolos 24,22, lemos: “Felix estava bem informado a respeito do Caminho...”.
Jesus é o Caminho que leva ao Pai
Jesus disse: “Eu sou o Caminho, e ninguém chega ao Pai senão por mim” (Jo, 14,6).
Vamos refletir um pouco mais sobre essas palavras.
Quando dizemos que Jesus é o Caminho, geralmente pensamos no seguimento de Jesus, andar no caminho junto com ele, ouvir seus ensinamentos e colocá-los em prática. Mas, no evangelho de João, Jesus diz algo mais: “Eu sou o CAMINHO, e ninguém chega ao Pai senão por mim”. O que ele quer dizer com isto?
Jesus quer dizer: “Se vocês querem conhecer a Deus, nosso Pai, devem olhar para mim, escutar minhas palavras.”
Sabemos que Deus é invisível. Ninguém O viu, nem ouviu. É por meio de Jesus que o Pai se dá a conhecer e nos fala. Dizemos que Deus se revelou em Jesus. Jesus é o porta voz do Pai, Ele é o rosto do Pai. Jesus nos conduz ao Pai. Podemos nos perguntar: Jesus nos leva, realmente, ao Pai, ou ficamos parados em Jesus? Mas, Jesus diz que Ele não é o ponto final. O ponto final é o Pai.
Quando lemos com atenção os evangelhos, vemos como Jesus está sempre voltado para o Pai. Ele O chama de “Abbá” (Papai). Ele procura a vontade do Pai em tudo e quer levar todos ao Pai, fazer descobrir o amor e a misericórdia do Pai, rezar ao Pai. Ensina a oração do Pai Nosso: “PAI nosso...”
Paremos um pouco e reflitamos. Encontramos o Pai que Jesus nos revelou? Ou temos uma imagem de Deus diferente da imagem que Jesus nos revelou? Em nossas orações, nos dirigimos também ao Pai?
Vamos celebrar
- Olhando os símbolos, podemos cantar:
Vós sois o Caminho, a Verdade e a Vida, / o Pão da alegria descido do céu.
Nós somos caminheiros que marcham para o céu.
Jesus é o Caminho que nos conduz a Deus.
Jesus, Verdade e Vida, Caminho que conduz
as almas peregrinas que marcham para a luz.
-Na liturgia, a Igreja nos ensina a dirigir-nos ao Pai, glorificando-O e bendizendo. Já refletimos, alguma vez, por exemplo, sobre a oração no início da oração do Glória?
Nós Vos louvamos,
nós Vos bendizemos,
nós Vos adoramos,
nós Vos glorificamos,
nós Vos damos graças por vossa imensa glória...
A parte mais importante da Missa é a Oração Eucarística que começa com o prefácio. É uma oração totalmente dirigida a Deus Pai. Louva ao Pai, agradece, reza pela Igreja, pelos falecidos, pelo povo de Deus. E, no final, toda a assembleia proclama:
Por Cristo, com Cristo e em Cristo,
a Vós Deus Pai todo poderoso,
na unidade do Espírito Santo,
toda a honra e toda a glória,
agora e para sempre.
Todos cantam o Amém!
Tudo termina em Deus Pai. Cristo está rezando conosco. Ele está no meio de nós e, junto com Ele, nos dirigimos ao Pai.
A oração do Pai Nosso, ensinada por Jesus, se dirige plenamente a Deus Pai. Vamos rezar, devagar, esta oração prestando atenção nas palavras e na aclamação final
“Pois, vosso é o Reino, o Poder e a Glória para sempre. Amém! (3 vezes)”
Canto final:
Porque és, Senhor, o Caminho que devemos nós seguir,
Nós vos damos, hoje e sempre, toda a glória e louvor.
Porque és, Senhor, a Verdade que devemos aceitar,
Nós vos damos, hoje e sempre, toda a glória e louvor.
Porque és, Senhor, plena Vida que devemos nós viver.
Nós vos damos, hoje e sempre, toda a glória e louvor.
Inês Broshuis
Comissão para animação Bíblico-Catequética do Regional Leste 2 da CNBB.
Nas nossas reflexões anteriores, aprofundamos os diversos sinais que o evangelista João apresenta para nos dizer quem é o Senhor Ressuscitado para nós.
Desta vez, vamos refletir sobre Jesus que nos dá a verdadeira VIDA.
(Preparar o ambiente: Bíblia, água para aspersão, faixas (ataduras) planta...)
Olhando a vida
Todos nós queremos viver. Apesar das dificuldades, sofrimentos e contrariedades, a vontade de viver continua. A ciência procura mil formas de evitar a morte e prolongar a vida: técnicas de transplantes, diminuição da mortalidade infantil, pesquisas com células tronco, fertilização artificial...
Às vezes, é impressionante ver como se luta para salvar uma única vida, enquanto, ao mesmo tempo, se matam centenas de milhares de pessoas nas guerras, nos acidentes de trânsito, violência, no uso de drogas, desnutrição...
Além da morte física, existe também a morte psicológica, espiritual. Há os que perdem o sentido da vida e não têm mais alegria de viver. Chegam até ao suicídio (podemos colocar algumas experiências que tivemos quanto à valorização ou desvalorização da vida).
Em Jesus encontramos a verdadeira vida
Na narrativa da ressurreição de Lázaro, João quer mostrar que vamos encontrar a verdadeira vida em Jesus. Vamos ler o capítulo 11 de João. (Tempo para leitura)
A ideia central desta leitura é a conversa entre Marta e Jesus. Vamos procurar o que Jesus diz nos versículos 25 e 26. O que Marta responde? (v. 27)
(Ouvimos da boca de Marta, uma mulher, a mesma profissão de fé que os outros evangelistas colocam na boca de Pedro. Confiram em Mt 16, 13-16).
Cada um de nós é como Lázaro
O evangelho de João, em seu rico simbolismo, não visa narrar a ressurreição de Lázaro. Ele se refere à morte e ressurreição de Jesus. Mas, a ressurreição de Lázaro tem algo a nos dizer. Como Lázaro, muitas vezes ficamos atados, presos por mil coisas. Perdemos o gosto de viver, nos isolamos em nossos próprios túmulos, deixando o convívio com outras pessoas. Não vivemos para os outros. Ficamos como mortos, sem ver a luz da vida.
Jesus ordena, primeiro, que tirem a pedra. Chama Lázaro para fora. Quando Lázaro vem para fora, está com os pés e as mãos enfaixados e o rosto coberto com um sudário. Jesus diz: “Tirem as faixas e deixem Lázaro ir”. O que são, em nossa vida, essas faixas, sudário, pedra, que nos impedem de caminhar.
A verdadeira vida brota do amor e é “eterna”. Amar é viver e fazer viver. João não fala somente da vida depois da morte. Já recebemos a vida eterna no batismo. A vida eterna já está em nós. Crer em Jesus, o enviado do Pai, e viver o amor entre nós, é a vida eterna. Quem ama, de verdade, já ressuscitou!
Vamos celebrar
O maior dom que recebemos de Deus é a vida. Ela deve ser cultivada com todo o cuidado. A morte nos amedronta. Mas, para o cristão, a vida não termina aqui. No batismo, já recebemos a vida eterna e ela vai crescendo e se fortificando, cada vez mais, se soubermos acreditar em Jesus e amar-nos uns aos outros. Vamos nos lembrar de que, no batismo, fomos banhados na água da vida eterna.
(aspersão com água, cantando “Banhados em Cristo...”)
Agora, coloquemos diante de Deus as preces que brotam do nosso coração.
Podemos rezar pelas pessoas que não vêem mais sentido na vida, que se sentem ameaçadas, traídas, desprezadas. Lembremos nossa missão de gerar vida ao nosso redor. Quem são as pessoas que mais precisam de nós?
Rezemos pelos cientistas que procuram meios para melhorar a vida, pelos médicos e enfermeiros, por todos que cuidam da vida das pessoas, por aqueles que combatem a violência e a “morte” da natureza.
Depois de cada um colocar sua prece, podemos aclamar: “Senhor, dai-nos vida.
(tempo para as preces)
Podemos terminar com a seguinte oração:
Uma voz (Jesus): Eu sou a ressurreição e a vida.
Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá.
E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais.
Crêem nisto?
Todos: Sim, Senhor, cremos firmemente que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que veio ao mundo.
Canto final:
Todo aquele que crê em mim um dia ressurgirá
e comigo então se assentará à mesa do banquete de meu Pai.
Aos justos reunidos nesse dia, o Cristo então dirá:
“Ó, venham gozar as alegrias que meu Pai lhes preparou.”
Amigos, esta fé é a verdadeira que leva para o céu
aquele que Deus, a vida inteira, no irmão sempre acolheu.
Inês Broshuis
Comissão Regional Bíblico-Catequética do Leste 2
Depois de ter refletido sobre Jesus, a Palavra, o Vinho, a Água, o Pão, vamos ver, agora, Jesus, a LUZ no nosso caminho.
Para criar o ambiente, coloquemos, além da Bíblia, gravuras que mostram luz e sombras, relâmpagos etc. Providenciemos ainda uma vela grande e bonita (que vai ser acesa depois). Podemos colocar lâmpadas, lanternas ou tochas, se quisermos. Bom será fazer a celebração à noite.
1. O sentido da luz no Primeiro Testamento
No livro do Gênesis, lemos que Deus criou a LUZ e separou o dia da noite. Depois, criou dois grandes luzeiros: o sol e a lua.
Alguém pode ler na Bíblia, no livro Gênesis, o capítulo 1,1-5 e 14-19.
Comentemos a leitura. Observemos as gravuras e os símbolos. O que chama nossa atenção?
Em seguida, podemos rezar, alternadamente, um trecho do Salmo 148
A. Vinde louvar o Senhor, / vós, criaturas todas, lá do alto do firmamento,
vós que anunciais a grandeza do poder.
B. Sol e lua, todos os astros e estrelas brilhantes, / tudo que existe na imensidão do espaço, / louvai o nome do Senhor.
A. Pela sua Palavra ele nos criou / e nos ordenou para todo o sempre,
segundo uma lei que jamais passará.
Todos: Vinde louvar o Senhor, / vós todas as criaturas da terra e do mar,
reconhecei seu poder criador.
O Profeta Isaías fala da luz que o Senhor é para seu povo. Saboreemos a beleza deste texto:
Não será mais o sol a luz do teu dia,
nem será a lua que vai te iluminar a noite.
O próprio Senhor será para ti luz permanente
e o seu brilho será o teu Deus.
Teu sol nunca mais se há de pôr,
tua lua jamais será minguante,
pois, o Senhor é tua luz permanente,
acabaram os teus dias de luto. (Is 60,19-20)
Podemos observar que a Luz do Senhor é comparada ao Sol do dia. Ilumina a terra inteira e todos os povos. Nas nossas celebrações, usamos muito a vela, porque é um contraste com a escuridão da noite. Mas, o grande sol do dia é um símbolo maravilhoso da luz e do calor que Cristo é para nós. (Se a celebração for feita de dia, todos podem contemplar o sol, lá fora, neste momento, e comentar)
Mantra: Teu sol não se apagará, tua lua não será minguante
Porque o Senhor será tua Luz, / Ó Povo, que Deus conduz.
(Se o mantra não for conhecido, pode-se cantar “A Luz do Senhor que vem sobre a terra...)
2. O sentido da luz no Novo Testamento
Os evangelhos sinóticos contam sobre diversas curas de cegos. É sinal de que, com Jesus, o Reino chegou. Quer dizer que, em Jesus, o “cego” encontra a verdadeira luz.
João conta a cura de um cego de nascença (podemos ler Jo 9, 1-41).
O grande problema que é colocado aqui é que os judeus que acreditavam em Jesus corriam o risco de serem expulsos da Sinagoga pelas autoridades judaicas. Mas, o cego enfrentou seus adversários, afirmando sua cura por Jesus.
O homem acreditou em Jesus e este foi o grande milagre que se operou nele. Não era, em primeiro lugar, a cura da cegueira, mas sua fé em Jesus, que ele confessou apesar das ameaças dos judeus. (Ler Jo 9, 35-38)
Vamos refletir
1. Nós anunciamos também, com coragem, nossa fé em Jesus, o enviado do Pai? Esta fé tem influência em nossa vida?
2. Pode ser difícil confessar, às vezes, nossa fé em Jesus e assumir suas conseqüências?
3. O nosso mundo aceita a luz de Cristo? Onde esta luz está faltando? Quais são as causas dessas trevas?
3. Vamos celebrar
(Acenda-se a vela)
Vamos ouvir os seguintes textos que podem ser lidos por pessoas diferentes.
Jo 1, 9-12 - Jo 3, 19-21 - Jo 12,35-36
Depois de cada leitura, o leitor diz: EU SOU A LUZ DO MUNDO, e todos cantam:
Quem me segue não anda nas trevas, mas terá a Luz da Vida. (2x) (Jo 8,12)
Depois das leituras, fiquemos alguns instantes em silêncio, refletindo sobre estas palavras.
Observemos a vela acesa e sintamos a presença de Cristo na caminhada da nossa vida. Cada um de nós é chamado a ser luz para aqueles com quem convive.
A Luz de Cristo resplandece através de nós
Cada um de nós é chamado a ser luz no seu ambiente.
Vamos ouvir a leitura de Mt 5,14-16.
Depois da leitura, a vela acesa vai passando de mão em mão e, espontaneamente, cada um expressa um desejo para o outro.
No final, podemos cantar:
Sim, eu quero que a luz de Deus que um dia em mim brilhou
Jamais se esconda e não se apague em mim o seu fulgor.
Sim, eu quero que o meu amor ajude o meu irmão
A caminhar guiado por tua mão, em tua lei, em tua luz Senhor.
Inês Broshuis
Comissão para Animação Bíblico-Catequética do Regional Leste 2
Introdução
Vamos dar, hoje, uma atenção especial ao sinal do PÃO, símbolo que João usa para mostrar quem é Jesus para nós.
(Preparemos o ambiente com uma Bíblia, algumas gravuras que falam de fome e um pãozinho para cada participante)
O pão nosso de cada dia
“Pão” tem diversos sentidos na Bíblia. O primeiro em que se pensa é o pão, nosso alimento de cada dia. Ensinando o “Pai-Nosso”, Jesus nos ensina a pedir o pão material. É interessante observar que Jesus nos ensina a pedir o “pão de cada dia”. Basta para hoje o sustento diário. Isto nos faz lembrar a passagem do povo pelo deserto, quando Deus fez chover o maná do céu e disse: “Eu farei chover do céu pão para vós. Cada dia, o povo deverá sair para recolher a porção diária” (Ex 16,4). Também podemos observar que pedimos o pão nosso, não só o pão para mim.
Este pedido já nos confronta com o problema da fome que atinge tanta gente. Pedindo o pão nosso, estamos diante da exigência de trabalhar para que todos tenham seu pão, seu alimento diário.
O Pão da Palavra, a Torá
Na Bíblia, a Palavra de Deus, a Torá, é chamada “pão”.
Quando Jesus foi tentado no deserto e ficou com fome, o diabo lhe disse: “Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!” Jesus respondeu: “Não se vive somente de Pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,3-4).
Lemos, no Profeta Amós: “Eis que virão os dias em que enviarei fome sobre a terra, não uma fome de pão, nem uma sede de água, mas a fome e sede de ouvir a Palavra do Senhor” (8,11).
No livro de Ezequiel lemos que, numa visão, Deus disse ao profeta: “Filho do homem, come o que tens diante de ti. Come este rolo e vai falar à casa de Israel”. Eu abri a boca e ele me fez comer. Eu o comi, e era doce como mel em minha boca (Ez 3,1-3).
O próprio Jesus é o Pão Vivo.
O Evangelho de João aborda todo o capítulo 6 sobre Jesus, Pão da Vida.
Jesus disse: “Em verdade, em verdade, vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu, mas o meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do céu, porque o pão de Deus é o pão que desce do céu e dá vida ao mundo”. Disseram os discípulos: “Senhor, dá-nos sempre deste pão”. Jesus replicou: “Eu sou o Pão da vida. Aquele que vier a mim não terá fome, e aquele que crer em mim jamais terá sede” (Jo 6,32-35). “Eu sou o Pão Vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá eternamente.” (6,51a)
Vamos refletir
Depois destas leituras, vamos refletir o que quer dizer que Jesus, a Palavra de Deus, é nosso verdadeiro Pão. A pessoa de Jesus, seus ensinamentos, suas atitudes, sua coragem, seus sofrimentos são alimento para nós. Como?
Este alimento dá vida eterna, diz Jesus. Dá saúde à alma. Dá força para viver a Palavra. Você tem experiência disto?
Jesus multiplicou os pães
Lemos em Jo 6,1-13 que Jesus multiplicou os pães para saciar a fome do povo. Vamos ler, agora, este trecho. (Tempo para ler e comentar o texto).
Jesus alimentou cinco mil pessoas e sobraram 12 cestos. Doze, na Bíblia, significa plenitude, abundância de alimento. Aqui temos uma referência à Eucaristia. Podemos dizer que, até hoje, comemos na Eucaristia do pão daqueles cestos que sobraram. A Eucaristia é também o Pão Nosso de cada dia.
Vamos refletir
O que significa a Eucaristia para mim?
Comemos o “Pão da Palavra” na primeira parte da Missa. Comemos o “Pão – Corpo de Cristo” segunda parte.
A Eucaristia tem um lugar central na nossa vida? Podemos ficar sem freqüentar a Mesa da Eucaristia?
A Justiça do Reino
A Bíbla fala também sobre o jejum, do abster-se de comer o pão. Qual o sentido disto?
Lemos no Profeta Isaías (58,7): “Será este o jejum que eu prefiro: deitar na cinza vestido de saco? Acaso, o jejum que eu prefiro não será isto: acabar com a injustiça, com a opressão, repartir tua comida com quem tem fome?
Eis o sentido do “Pão-Nosso”: a partilha, a justiça, a igualdade, como sinais do Reino que Cristo veio inaugurar. “Venha a nós o vosso Reino”.
Jesus, como “Pão da Vida”, tem tudo a ver com nossa atuação, com nosso amor e doação para construir um Reino mais justo, fraterno e solidário.
Vamos celebrar
Coloquemos o pão e a Bíblia no meio do grupo.
Cada um pode dizer o que mais lhe chamou a atenção nesta reflexão.
Depois, repartamos o pão entre nós e o comamos, ficando alguns instantes em silêncio.
Demo-nos as mãos e rezemos, bem devagar, o Pai-Nosso. Repitamos três vezes a invocação: “O Pão nosso de cada dia nos daí hoje”, lembrando-nos de que Jesus é nosso pão verdadeiro.
Terminemos cantando:
O Pão da Vida, a Comunhão, nos une a Cristo e aos irmãos,
E nos ensina a abrir as mãos para partir, repartir o pão
Lá no deserto, a multidão, com fome, segue o Bom Pastor.
Com sede busca a nova Palavra. Jesus tem pena e reparte o pão.
Na Páscoa nova da nova Lei, quando amou-nos até o fim,
Partiu o Pão, disse: “Isto é meu Corpo, por vos doado: Tomais, Comei!”
Onde houve fome, reparte o Pão, e tuas trevas hão de ser luz.
Encontrará Cristo no irmão; serás bendito do Eterno Pai.
Inês Broshuis
Comissão para Animação Bíblico-Catequética do Regional Leste 2
Introdução
No nosso texto anterior, tratamos da metáfora do VINHO. Hoje, abordaremos o sinal da ÁGUA.
Vamos preparar o ambiente, colocando, além da Bíblia, diversas gravuras ligadas à água e uma jarra bonita cheia d’água potável e copos na quantidade dos participantes. Também podemos colocar alguns ramos secos e gravuras de solo ressequido.
Observemos as gravuras e os símbolos. O que nos dizem? O que sentimos? De qual experiência nos lembramos?
A água no Primeiro Testamento.
O Antigo Testamento fala muito sobre a água. O povo sentia demais a sua necessidade. A terra era seca e quase não dava fruto, assim como nosso povo do Nordeste, que passa meses sem chuva! Por isto, encontramos muitos textos sobre a falta de água.
Vamos ouvir a leitura do livro do Êxodo, 17,3-7.
Porque o povo estava torturado pela sede, murmurou contra Moisés:
“por que nos fizestes sair do Egito? Foi para nos matar de sede, a nós e a nossos filhos e a nossos animais?”
Moisés clamou ao Senhor: “Que farei a este povo, pois, pouco falta para me apedrejar.”
O Senhor respondeu a Moisés: “Caminha diante do povo, em companhia de alguns anciãos de Israel, leva contigo a vara com que feriste o rio, e vai. Eu irei à tua frente, e lá estarei sobre o rochedo em Horeb. Baterás na pedra, a água brotará e o povo poderá beber...”.
Encontramos um outro trecho bonito em Isaías 41, 17-18.
“Os miseráveis e os pobres buscam a água, e não há!
A sua língua secou com a sede. Eu, o Senhor, os atenderei. Eu, Deus de Israel, não os desampararei. Farei brotar rios nos montes nus e fontes no meio dos vales. Transformarei o deserto em lagoa e a terra árida em fontes.”
O Profeta Amós (8,11) diz:
“Dias hão de vir – oráculo do Senhor – quando hei de mandar à terra uma fome que não será fome de pão nem sede de água, e sim de ouvir a Palavra do Senhor”.
Observando estas três leituras, notam diferença no sentido da sede e da água? Vamos comentar.
Depois, podemos cantar:
Sobre a terra sede e fome eu mandarei,
não de pão, nem de água, mas de ouvir a Palavra de Deus.
Andarão de um mar a outro procurando,
no desejo ardente de encontrar a Palavra de Deus.
A água no Evangelho de João
João usa o simbolismo da água para falar da nossa sede de Deus e de Jesus que sacia nossa sede.
Muito conhecido é o texto 4,5-14 sobre a mulher samaritana, que pode ser lido depois.
Mas, hoje, vamos ver mais de perto Jo 5,1-9a.
Houve uma festa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Ora, existe em Jerusalém, perto da Porta das Ovelhas, uma piscina com cinco pórticos, chamada Bezata em hebraico. Muitos doentes, cegos, coxos e paralíticos ficavam ali deitados. Encontrava-se ali um homem enfermo havia trinta e oito anos. Jesus o viu ali deitado e, sabendo que estava assim desde muito tempo, perguntou-lhe: “queres ficar curado?” O enfermo respondeu: “Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina, quando a água se movimenta. Quando estou chegando, outro entra na minha frente. Jesus lhe disse: “Levanta-te, pega a tua maca e anda”. No mesmo instante, o homem ficou curado, pegou sua maca e começou a andar.
Observem nesta leitura: o homem se curou sem ter entrado na água. João quer dizer: Jesus é a Água que cura.
Outro texto de João (7, 37-39a) fala sobre a água que Jesus dá:
No último e mais importante dia da festa, Jesus, de pé, exclamou:
“Se alguém tem sede vem a mim, e beba quem crê em mim”, conforme diz a Escritura: “Do seu interior, correrão rios de água viva”.
Ele disse isso falando do Espírito que haviam de receber os que acreditassem nele.
Pergunta: O que chamou mais sua atenção nas duas leituras de João?
Vamos cantar:
Eu te peço desta água que tu tens, és água viva, meu Senhor.
Tenho sede e tenho fome de amor, e acredito nesta fonte de onde vens.
Vem de Deus, está em Deus, também é Deus, e Deus contigo faz um só.
Eu, porém, que vim da terra e volto ao pó, quero viver eternamente ao lado seu.
És água viva, és vida nova, e todo dia me batizas outra vez.
Me fazes renascer, me fazes reviver.
Eu quero água desta fonte de onde vens.
(Todos podem beber da água que está na jarra)
Vamos refletir
1. Sentimos sede de Deus? Jesus sacia esta sede? Como?
2. Nós somos rios que levam a “Água da Fonte” aos nossos irmãos? Como?
Preces espontâneas
Canto final: A minh’alma tem sede de Deus, pelo Deus vivo anseia com ardor.
Quando irei ao encontro de Deus e verei tua face, Senhor?
Inês Broshuis
Comissão para Animação Bíblico-Catequética do Leste 2
Introdução
Como já vimos, característico para o Evangelho de João é seu simbolismo. Através de metáforas, ele procura mostrar quem é Jesus para nós, para nossa comunidade. Os milagres em João, chamados “sinais”, têm por objetivo mostrar quem é Jesus, o Senhor Ressuscitado.
Vamos abordar o sinal do VINHO. Jesus é o Vinho novo que nos dá alegria, força, união.
(Preparemos para a celebração uma taça de vinho, suficiente para todos tomarem dela)
O vinho no Antigo Testamento
O símbolo do vinho, do vinhateiro, da videira perpassa toda a Bíblia. No Primeiro Testamento, a Vinha é o Povo de Deus. Infelizmente, esta vinha não está dando bons frutos. Vamos parar um pouco e ler Is 5,1-7. (Tempo para leitura. Se nem todos têm a Bíblia na mão, pode-se fazer a leitura duas vezes. Depois, comentemos a leitura).
A comparação com a festa de casamento
Em vez de usar a metáfora da vinha, a Bíblia usa também a comparação com o casamento, uma festa de núpcias. Deus se casa com seu Povo, faz com ele uma eterna Aliança.
O Profeta Oséias cita as palavras de Deus:
“eu me casarei com você para sempre; me casarei com você na justiça e no direito,
no amor e na ternura.
Eu me casarei com você na fidelidade, e você conhecerá a Javé!” (Os 2,21-22).
Mas o Povo não responde ao amor de Deus com a mesma fidelidade. A Bíblia relata, constantemente, os pecados de Israel que se torna assim uma esposa infiel.
A Aliança no Novo Testamento
O tema da Aliança como casamento continua no Novo Testamento. No Novo Testamento, o Senhor Ressuscitado se “casa” com sua comunidade, a Igreja. Todos os textos do Novo Testamento que falam de Noivo, casamento, banquete de núpcias se referem à Aliança que Deus faz conosco em Cristo, o verdadeiro Noivo. A narração das Bodas de Caná fala disto.
Vamos ler Jo 2,1-11 (tempo para leitura e comentário).
Como interpretar o texto?
Não devemos tomar esta leitura apenas como um relato em que Jesus, convidado para um casamento, alivia os apuros do noivo, mudando 600 litros de água no vinho.
Em João, as narrações têm um sentido muito profundo. Se ficarmos numa leitura literal somente, perdemos a profundidade da mensagem. João quer dizer que a festa do Reino de Deus já está acontecendo.
Vamos observar o sentido de alguns detalhes.
a) Jesus fez o sinal no terceiro dia. O terceiro dia nos lembra a Ressurreição. João está falando do Senhor Ressuscitado e da comunidade dos seus discípulos. Onde estão os noivos na história? Praticamente, não aparecem. É porque quem é o verdadeiro noivo é Jesus e a noiva é a comunidade.
b) As seis talhas de pedra simbolizam a lei do Antigo Testamento e a Aliança de Deus com seu povo, concluída no Monte Sinai. Seis é o número que indica algo incompleto. Sete é a plenitude, seis chega quase a isto. João quer dizer que, para a comunidade cristã, a Aliança está completa em Jesus que vem lhe dar perfeição.
c) Jesus manda encher as talhas com água e transforma a água em vinho. São seiscentos litros. É vinho em abundância, sinal do Reino quase plenificado. (Setecentos litros seria a plenitude que se dará no fim dos tempos.) Jesus é o Vinho Novo que transforma a Lei simbolizada pela água, com novo vigor e alegria. Sobrou vinho, e muito! Podemos nos perguntar: que fizeram com esse vinho que sobrou? Nós bebemos dele até hoje, na Eucaristia.
João compara Jesus e a comunidade também com uma videira (Jo 15, 1-8)
Primeiro, vamos fazer a leitura, com muita atenção. A videira é a imagem da comunidade. Jesus é aquele que está ligado à sua comunidade, como um todo. Sacia a sua comunidade com o Vinho Novo que nos dá vigor, alegria, união. Ele nos dá de beber este Vinho em cada Eucaristia formando, assim, sua comunidade em cada festa de união e amor mútuo.
Vamos fazer uma breve celebração
a) Coloquemos uma taça com vinho, bastante para todos os participantes tomarem.
Olhemos este vinho. O que este símbolo nos diz.
b) Leiamos Jo 15, 4a e 5b
“Permanecei em mim e eu permanecerei em vós.
Quem permanece em mim, como eu nele, esse dá muito fruto,
pois, sem mim nada podeis fazer.”
c) Vamos refletir: que quer dizer, bem concretamente em nossa vida, que Jesus é o Vinho Novo? Isto tem algo a ver com nossa comunidade (Paróquia... Catequese...)? O quê?
d) Depois da reflexão, passemos a taça e todos tomam dela. Porém, antes de tomar, cada um diz: “Jesus é para mim o Vinho que...”
Depois de tomar o vinho, fiquemos alguns minutos em silêncio.
e) Terminemos cantando:
Permanecei em nós, é teu pedido, Senhor,
nós ficaremos em Vós, é tua promessa de amor.
Une em ti, nosso Senhor, o nosso nada com o teu ser,
nossa fraqueza e a tua força, nosso viver com o teu viver.
Permanecei em nós...
Inês Broshuis
Comissão Bíblico-Catequética do Regional Leste 2
JESUS É A PALAVRA DO PAI
1. Introdução
Este ano, vamos apresentar, mensalmente, uma reflexão sobre o Evangelho de João.
(Sugerimos que estas reflexões sejam feitas em pequenos grupos para maior aproveitamento.)
A liturgia aborda, nos anos A, B, e C, os evangelhos de Mateus (Ano A), de Marcos (Ano B) e de Lucas (Ano C). João não tem um ano especial, mas seu Evangelho perpassa a Liturgia o ano todo, especialmente durante o tempo pascal.
O Evangelho de João, um dos 12 apóstolos, foi atribuído a ele pela tradição da Igreja antiga. O toque final foi dado por volta dos anos 90-95 depois de Cristo, portanto, depois da destruição do Templo (70 d.C.).
O Judaísmo exercia grande atração sobre os primeiros cristãos que eram judeus. Constituíam a maior parte da comunidade joanina. João, sendo judeu, tem um grande conhecimento das Escrituras de Israel. Sua linguagem é simbólica, poética, e não pode ser lida como um relato concreto de fatos ocorridos. João quer mostrar quem é Jesus, o Senhor Ressuscitado, para os seus seguidores e, conseqüentemente, para nós hoje. Para explicar isto, ele recorre a uma narração simbólica para mostrar que o Ressuscitado é como vinho, água, luz, pão e vida para nós. Mostra Jesus como Caminho, como uma videira que dá abundantes frutos. Devemos levar isto em conta quando lemos os milagres (sinais) no Evangelho de João. Melhor que palavras, os símbolos mostram a presença e atuação do Senhor Ressuscitado em nossa vida. Não devemos nos perguntar se “isto” aconteceu assim mesmo, mas qual mensagem João quer passar.
2. A Palavra de Deus se fez Homem
No início do seu Evangelho, João diz: A PALAVRA se fez homem (ou: “O Verbo se fez carne”) e habitou entre nós (“Fez sua tenda entre nós”).
A palavra comunica, interroga, quer dialogar. Deus também quer nos falar, se comunicar conosco. Quando é que Deus nos fala?
Deus nos “fala” pela criação, sua beleza, sua organização. Quem nunca se silenciou diante de uma bela paisagem, diante de uma flor...
Deus nos fala através das pessoas. Cada um de nós é uma “palavra” de Deus para o outro.
Deus falava ao seu Povo pelos profetas e sábios. O Antigo Testamente está cheio de belos e grandiosos textos dos profetas que enfatizavam, a cada hora: isto é “Oráculo do Senhor”.
Quando a gente lê a Bíblia, nota que Deus fala a cada hora. Como entender isto? Deus não fala com palavras humanas. Nunca alguém ouviu a voz de Deus. É uma linguagem metafórica. Deus se comunica, sim, como já vimos, através da criação, da história do seu Povo, dos profetas... Os profetas descobriram que Deus quis comunicar alguma coisa ao seu Povo, na sua situação de sofrimentos, nas lutas e conquistas.
Assim, Deus “fala” constantemente. Já no primeiro capítulo da Bíblia, lemos: “E Deus disse: faça-se a luz...” Quase não se encontra alguma página na Bíblia em que Deus não fale. Também os salmos são “Palavra de Deus”. É como um diálogo: a pessoa que reza dirige-se a Deus com palavras humanas, e Deus responde. Por exemplo, abram a Bíblia no salmo 85, 1 a 8. O orador fala. Dos vv 9 a 12 ouvimos o que diz o Senhor. Observem a beleza das palavras de Deus.
Quando João diz que a Palavra de Deus se fez homem, ele quer dizer que Deus fala a nós, de modo especial, na pessoa de Jesus, por suas palavras, suas atitudes, sua morte e ressurreição. Jesus é a Palavra do Pai, a face humana de Deus para nós.
Vamos terminar com uma breve celebração. Coloquemos a Bíblia aberta em João 14,5-10. Acendamos uma vela bonita.
Cantemos um mantra, por ex. “Tua Palavra é lâmpada para os meus pés, Senhor”.
Leitura de Jo 14,5-10. Pode ser lido duas vezes, por pessoas diferentes, com muita atenção.
Partilha: Como Jesus diz que ele é a Palavra do Pai? Quais os versículos que falam disto?
Como Cristo nos fala, hoje, na nossa vida?
Guardemos alguns instantes de silêncio para oração pessoal.
Canto final: Envia tua Palavra, Palavra de salvação,
Que vem trazer esperança; aos pobres libertação.
Inês Broshuis
Comissão Bíblico-Catequética do Regional Leste 2 da CNBB
"Alegres, os apóstolos contaram a Tomé:
"Jesus esteve aqui!"
Tomé desconfiado respondeu:
"Não acredito porque eu não vi!"
Tomé desconfiado respondeu:
"Não acredito porque eu não vi!"
Um dia estavam todos reunidos,
então, no meio deles, Jesus apareceu.
E disse a Tomé:
"Põe teu dedo nesta chaga!"
Foi assim que Tomé acreditou.
Alegres os apóstolos rodearam a Jesus!
Jesus estava ali, Jesus estava ali!
Sou muito mais feliz do que Tomé,
Eu nada vi, e é grande a minha fé".
(Música Tomé - CD A Sementinha 1 e 2)
O uso de canções bíblicas na catequese é um recurso indispensável nos encontros catequéticos. As canções bíblicas são profundamente motivadoras:
- ajudam na interiorização e assimilação da mensagem;
- criam clima de oração;
- desenvolvem o senso comunitário;
- auxiliam a memória: a mensagem cujo conteúdo foi cantado, dificilmente é esquecida.
Para que atinjam estes objetivos, é necessário, porém, que as canções sejam cuidadosamente escolhidas dando-se especial atenção para:
a) O ritmo - deve ser apropriado à faixa etária dos catequizandos.
b) A letra - as palavras devem ser acessíveis aos cantores.
c) O conteúdo - deve estar de acordo com a finalidade a que servem.
Conforme a finalidade a que se propõem, as canções poderão ser usadas em diferentes momentos do encontro catequético:
- Para criar clima para o trabalho(no início). Para isso, canções que acalmem, que disponham a ouvir, a participar.
- Para interiorizar a mensagem (após a proclamação da palavra). Usem-se canções que retomam o conteúdo da palavra que foi proclamada. Ex.: Sl 23(22) depois da leitura da passagem do Bom Pastor; canções sobre a semente, depois da leitura do Evangelho do Semeador etc.
- Para rezar - canções com conteúdo apropriado à oração.
- Para favorecer a expressão corporal - canções acompanhadas de gestos.
Os gestos são, para a criança principalmente, uma riquíssima forma de expressão. Aconselha-se que sejam usados amplamente, principalmente nas canções.
(fonte: Livro - A Bíblia: fonte da catequese e do Ensino Religioso. Ed. Vozes - já esgotado)
Há vários CDs com canções bíblicas:
- A Sementinha 1 - 2 - 3 - 4 - (Paulinas - COMEP)
- Cantando as parábolas de Jesus - etc.
Equipe do Catequese Hoje
25.01.2014
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