É oportuno ao ser humano que a Bíblia não seja apenas um livro de perguntas e respostas para as crises e questionamentos do mundo, como uma espécie de “google” compilado, isso a tornaria um livro comum a qualquer outro colocando-o em vista de respostas instantâneas e um entendimento relativista.
Além de ter sido escrito há muitos anos, fora do contexto em que vivemos, a finalidade do texto bíblico é gerar intimidade e proximidade com aqueles que com ele se relacionam e, certamente, a simples busca de respostas, com o intuito de sanar questionamentos não fomentaria tal relação. Por outro lado, sendo atualizado, o texto bíblico tem o poder, enquanto palavra divina, de iluminar a realidade humana em todo e qualquer contexto em que for utilizado, desde que intrínseco à busca do texto, esteja a experiência de fé.
Assim, se voltarmos o olhar acerca da história do povo da bíblia perceberemos a busca constante de Deus por seu povo, sempre firmada por um propósito: “Vós sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus” (Jr 30,22) uma relação de pertença e intimidade constituída na aliança entre Deus e o ser humano. Podemos dizer que esse seja o ponto alto da forte e inesquecível conexão do povo de Israel com Deus e o que gerou nesse povo uma experiência profunda e autêntica.
Fazendo uma comparação com o contexto em que vivemos, talvez possamos tomar como norte o Exílio vivido pelo povo da bíblia “o Exílio foi um desafio para o povo” (TILLESSE, 1984, p. 81) e diante deste desafio se fazia necessário compreender a presença e o zelo de Deus mesmo em meio àquele “castigo”.
É no Exílio que o povo da bíblia aprende uma nova maneira de viver sua fé, aprende a perceber que a presença de Deus não se restringe somente à terra, à Cidade Santa ou ao templo, mas está viva no povo cuja pertença a Deus fora estabelecida pela aliança. Deste modo, a aliança permanece viva “de uma maneira que o povo não entendia bem, mas que Deus, secretamente, lhe revela” (TILLESSE, 1986, p. 37).
Um período extremamente desafiador ao povo, mas profundamente fecundo onde este compreendeu sua real vocação e percebeu que sua identidade estava muito mais ligada a sua pertença a Deus do que a qualquer outra coisa. Em meio aos nossos simbólicos exílios, nos cabe igualmente, percebermos novos modos de viver nossa fé, entendermos que mesmo neste contexto diferenciado do povo de Israel, Deus se manifesta e se faz presente dentro de cada ser humano.
É oportuno também refletirmos sobre o modo como nos relacionamos com Deus, se apenas interessados em gestos e respostas açucaradas ou se estamos dispostos a assumir de fato, uma aliança que não nos isenta das crises internas ou externas que envolvem nossa realidade, mas que nos garante a certeza de que firmados em um laço concreto com Deus, não daremos espaço ao relativismo ou ao comodismo.
Kelviane Pontes Vieira – Leiga consagrada da Nova Jerusalém. Formada em Serviço Social – UECE. Especialista em Bíblia- Faculdade Católica de Fortaleza. Bacharelanda em Teologia- Faculdade Católica de Fortaleza. Residente em Maracanaú-CE.
Bibliografia
TILESSE, Caetano Minette de. Revista Bíblica Brasileira. Ano I, Nº III. Fortaleza, Nova Jerusalém, 1984.
TILESSE, Caetano Minette de.Nova Jerusalém, Eclesiologia: Livro Primeiro: Reino de Deus. Fortaleza: Editora Nova Jerusalém, 1986.