Senhor,
É desconcertante muitas vezes olhar o mundo da política.
Mas, ela é um lugar onde é possível construir fraternidade, onde a caridade deve ser o centro.
Por isso, Te pedimos que o Teu Espírito Santo ilumine os eleitores, para que saibam escolher candidatos que privilegiam e buscam o bem comum.
Ilumina também os candidatos para que saibam olhar por aqueles que foram derrubados pelo peso do desemprego, da violência e da miséria.
Suplicamos, com fé: dá-nos Senhor discernimento, porque o voto é uma maneira de modificar a sociedade que vivemos.
Amém.
Lucimara Trevizan
Equipe do site
14.11.2020
A barca da alegria
Faz-nos navegar, Senhor, na barca da alegria que largámos em algum lugar, oculta entre os ramos e a folhagem. Torna-nos disponíveis para as viagens longas, como sempre são as viagens do coração.
Que saibamos viajar pela rota das palavras reencontradas, das conversas reveladoras sem um mapa preciso, como as trajetórias dos pássaros, inesperadamente felizes. Faz com que ousemos compreender a maneira em que o Espírito ilumina o nosso presente, com os seus surpreendentes atravessamentos de portas fechadas e de incredulidades consolidadas.
Que nenhum ressentimento alente o vínculo que nos liga à memória do amor. Ajuda-nos a acolher a força tremula e fortíssima da Vida, que perdura em nós como um chamamento incessante.
Ajuda-nos a não menosprezar as nossas mãos vazias, mas a compreender que são remos para o nosso navegar entre espera e promessa. Ajuda-nos a não eliminar espiritualmente a pobreza, recordando-nos que a pertencemos a uma multidão de sedentos, de impacientes, de desejadores.
Mantém-nos distantes do tempo interrompido e obscuro em que experimentamos a negação de nós mesmos e de ti. Faz com que não nos esqueçamos que o teu amor é capaz de transformar em desejo incandescente as nossas ruinas, paralisias e desistências.
E no acolhimento deste amor, faz deflagrar em nós a força geradora da Tua Presença radiosa.
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: pexels.com/ Shuvrasankha Paul
Publicado em 06.11.2020 no SNPC
Bendita seja a brisa nova de cada dia
Bendito seja o germinar oculto e exaltante do Espírito, graças ao qual em cada estação nos faz renascer.
Bendito seja o respiro novo que cada dia, de maneira misteriosa, insuflas em nós, recordando-nos que a nossa criação não está terminada.
Bendito seja este espaço em que pacientemente nos plasmas, respeitando a nossa liberdade e os nossos tempos.
Bendita seja a tua fidelidade à nossa história e à maneira simples em que exortas o nosso coração a não se abandonar às inúteis visões da incerteza, do pessimismo e do cansaço.
Bendito seja o teu Reino que fazes já vir até nós nesta margem provisória, e que nos estimula a compreender a tua vontade.
Bendita seja a tua Palavra que encoraja e inspira perenemente os nossos novos inícios, porque desta maneira nos voltas a colocar a caminho para aquela festa, unânime e fraterna, que o quotidiano é chamado a preparar.
Bendito seja o Deus do nosso ontem, de quem entrevemos a passagem em tantos sinais do tempo presente, umbral daquela revelação maior em que será tudo em todos.
Card. José Tolentino Mendonça
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: pexels.com
Publicado em 29.10.2020 no SNPC
Rezar o vazio
Ensina-nos, Senhor, a rezar este vazio. O vazio transportado por um medo que não conhecíamos e que parece agora um inquilino da nossa alma.
O vazio dos espaços em isolamento.
O vazio da vida que se faz sentir como suspensa.
O vazio das horas que quem está na solidão conta de maneira diferente.
O vazio das incertezas que se acumulam, e das quais ainda não falámos.
O vazio dos olhos daqueles que veem sofrer e os olhos dos muitos que sofrem sem que nós os vejamos.
O vazio de tudo aquilo que, de um instante para o outro, é adiado.
O vazio daquela mulher idosa que passa o dia inteiro com o rosto contra o vidro da janela.
O vazio do refugiado que vê a sua esperança negada por um carimbo.
O vazio do jovem diante de um futuro que escapa cada vez mais, como um pensamento distante.
O vazio que nos chega como um aviso de despejo da vida autêntica.
O vazio dos encontros e das conversas de que agora precisaríamos.
O vazio que os amigos notam.
O vazio dos risos.
O vazio de todos os abraços não dados.
O vazio da proximidade proibida.
O vazio no qual não te vemos.
Card. José Tolentino Mendonça
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: pexels.com
Publicado em 31.10.2020 no SNPC
Às vezes, Senhor, é do profundo do meu esquecer que te grito. Sei que sou eu a distanciar-me, mesmo sem dar-me verdadeiramente conta; sou eu a deixar transcorrer as horas sem reconhecer a tua passagem; a deixar-me isolar, quase como uma ilha; a opor resistência à compreensão de até que ponto o tempo pode ser templo, uma tua morada.
Por isso, Senhor, mais que as palavras, mais que a minha presença provisória e frágil, mais que todas as minhas irrelevâncias, entrego-te hoje a oração do meu esquecer: este rolo de tecido longo e branco que eu, solitário, desenrolo diante de ti, este meu andar por diante às cegas no mundo, como se não te visse, estes meus ouvidos que se tornaram surdos à tua Palavra, este meu vazio preenchido apressadamente por tantos afazeres, estes meus progressos e involuções sem uma razão, estes meus confusos passos de criança que Tu, extremoso, apoias, porque sabes melhor que eu que, mesmo quando me disperso, quando por erro me ponho a correr para não sei onde, em não sei que fuga, mesmo quando eu me esqueço, estou a caminhar para ti.
Card. José Tolentino Mendonça
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 26.10.2020 no SNPC
imagem: pexels.com
Muitas vezes acontece que, diversamente das nossas expectativas, o amor não nos reclama força, antes espera de nós uma fraqueza ainda maior do que aquela que já transportamos em nós.
Muitas vezes acontece que o amor não dê importância, ou pelo menos a grandiosa importância que tínhamos idealizado, ao quanto temos de dar, mostrando-se, antes, sobretudo interessado em adestrar o nosso coração para a arte de receber.
E, do mesmo modo, que o amor não exija de nós novas palavras a adicionar àquelas que já dissemos, mas desafia-nos à aprendizagem de uma contemplação e de um silêncio que tínhamos até agora ignorado.
Na verdade, o amor, para revelar-se, não escolhe esta ou aquela preciosa veste, mas decide-se na exata e difícil nudez da vida normal. O amor não é um estado excepcional caracterizado pelo extraordinário e pelo entusiasmo, mas o reiterado percurso de espinhos que conduz à rosa.
Por isso, Senhor, ajuda-nos a compreender que amar é descobrir, no próprio coração, o quanto o amor é grande e livre, mais do que as imagens que dele possamos fazer. Que o compromisso incondicional com tal amor seja o nosso modo quotidiano de estar diante de ti.
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 21.10.2020 no SNPC
A grande dança
Ensina-nos, Senhor, a visão completa da vida.
Que não cessemos de saudar a cada dia o seu milagre assombroso e de o receber com coração humilde e consciente.
Que não cessemos de permanecer fascinados pela prodigiosa rede de amor que sustém o mundo: quanta prontidão, quanta resiliência, quanto dom, quanta esperança se ocultam invencíveis em gestos que se diriam frágeis, ou em contributos que apressadamente julgámos insuficientes.
Faz com que não nos tornemos profissionais da lamentação e do desânimo, mas testemunhas apaixonadas e poetas do real, que a cada instante se faz mais puro.
Que o isolamento do corpo nunca signifique isolamento da alma, mas o contrário: que se agigante, a alma, revelando a sua condição de transparência e de bondade, porque é por isso que Tu nos criaste.
Que não choremos apenas os abraços não dados, mas saibamos agradecer por todos aqueles que trocámos, cujo sentido e promessa esquecemos na distração dos dias.
Que não permaneçamos apenas a ruminar nos nossos passeios no bosque sempre adiados, ignorando que os bosques são encantadores mesmo quando ninguém os vê.
Por isso, pedimos-te que a nossa vida se assemelhe à sala de ensaios de uma companhia onde pacientemente se preparam os passos para o início da grande dança.
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 19.10.2020 no SNPC
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