A grande dança
Ensina-nos, Senhor, a visão completa da vida.
Que não cessemos de saudar a cada dia o seu milagre assombroso e de o receber com coração humilde e consciente.
Que não cessemos de permanecer fascinados pela prodigiosa rede de amor que sustém o mundo: quanta prontidão, quanta resiliência, quanto dom, quanta esperança se ocultam invencíveis em gestos que se diriam frágeis, ou em contributos que apressadamente julgámos insuficientes.
Faz com que não nos tornemos profissionais da lamentação e do desânimo, mas testemunhas apaixonadas e poetas do real, que a cada instante se faz mais puro.
Que o isolamento do corpo nunca signifique isolamento da alma, mas o contrário: que se agigante, a alma, revelando a sua condição de transparência e de bondade, porque é por isso que Tu nos criaste.
Que não choremos apenas os abraços não dados, mas saibamos agradecer por todos aqueles que trocámos, cujo sentido e promessa esquecemos na distração dos dias.
Que não permaneçamos apenas a ruminar nos nossos passeios no bosque sempre adiados, ignorando que os bosques são encantadores mesmo quando ninguém os vê.
Por isso, pedimos-te que a nossa vida se assemelhe à sala de ensaios de uma companhia onde pacientemente se preparam os passos para o início da grande dança.
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 19.10.2020 no SNPC