Rezo, meu Deus, esta vida, que tantas vezes experimentamos como um caos para o qual não existem nomes possíveis.
Sinto-me como uma criança quando, na escuridão da noite, só o grito lhe permanece. Mas o grito é a forma frágil e intensa com que a nossa vida sai em busca de socorro.
Como uma criança, Senhor, sinto-me exposto a coisas maiores que eu, à mercê de surpresas que não controlo. Então, grito-te,
Ensina-me, Senhor, que nascemos também neste grito, que o teu amor sabe recolher transformando-o em chamamento, em desejo de presença, em ocasião para o abandono confiante à tua vontade.
Ajuda-me a descobrir aquilo que ainda não vejo.
Aproxima, em mim, a lama à estrela, o coração sem norte à sua órbita viva, a alegria introvertida à alegria dirigida para o exterior, o meu pão ao pão de todos.
Explica-me que uma existência respira porque é iluminada por aquilo que não espera.
Na verdade, abrimos os olhos todos os dias, mas não quanto seria suficiente. Vemos, descontentes, a imperfeição e a pedra. Olhamos com desgosto – em nós e nos outros – o avesso e a costura. E não nos damos conta de que poder observar o avesso com amor torna-se uma preciosa aprendizagem do caminho (e de um caminho que conduz ao presépio).
Porque aquilo, exatamente aquilo que hoje nós percebemos como pedra, Deus vem ensinar-nos a transformá-lo em estrela.
Card. José Tolentino Mendonça
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 24.12.2020 no SNPC
NOITE DE NATAL EM FAMÍLIA
Sugestão de Celebração
Natal: um novo nascimento!
“Ela deu à luz seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura!” (Lc 2,7)
Preparar o ambiente
- Colocar a Bíblia aberta em um lugar de destaque, com uma vela, fotos das pessoas da família, também dos que estão ausentes.
- Montar o presépio num lugar central para que todos possam ver.
- Acolher a todos com carinho.
1.Acolhida
Canto: Vem, Senhor, vem nos salvar
Dirigente: Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo!
Todos: Amém!
Dirigente: “Hoje nasceu para nós o Salvador, que é o Cristo Senhor!”
(Acende-se a vela.)
Todos: Um Menino nos foi dado. Ele é o Deus conosco: Jesus Cristo, nosso Senhor!
2.Proclamar a Palavra de Deus
Canto: Senhor, que a tua palavra transforme a nossa vida, queremos caminhar com retidão na tua luz.
Leitura do Evangelho de Lc 2,1-14
Todos: Glória a Deus no mais alto dos céus e, na terra, paz a todos por ele amados!
(Depois da leitura, a vela acesa vai passando de mão em mão e, espontaneamente, vamos agradecendo a Deus pelas coisas boas acontecidas, as luzes que foram se acendendo na nossa vida, na família e na comunidade, ao longo do ano.)
Canto: Eterno é seu amor
Em coro a Deus louvemos, eterno é seu amor.
Pois Deus é admirável, eterno é seu amor.
Por nós fez maravilhas, louvemos o Senhor!
Criou o céu e a Terra: eterno é seu amor.
Criou o sol e a luz, eterno é seu amor.
Fez águas, nuvens, chuvas: eterno é seu amor.
Fez pedras, terras, montes: eterno é seu amor.
Distribuiu a vida, eterno é seu amor.
Na planta, peixe e ave: eterno é seu amor.
E fez à sua imagem, eterno é seu amor.
O homem livre e forte: eterno é seu amor!
Na história que fazemos, eterno é seu amor.
Deus vai à nossa frente: eterno é seu amor.
E quando nós pecamos, eterno é seu amor.
Perdoa e fortalece: eterno é seu amor.
3.Rezar por um Natal de vida nova
Leitor 1: Querido Jesus, quando perdermos as esperanças, quando nos faltarem forças para continuar, dá-nos coragem para viver cada dia como se fosse o primeiro.
Todos: Nasce, ó Jesus, e ensina-nos a nascer!
Leitor 2: Querido Jesus, fonte transbordante de todo amor humano, concede à nossa família a graça de nos tornarmos, um para o outro, sinal da tua presença e um apelo a amar sem recompensa.
Todos: Nasce, ó Jesus, e ensina-nos a nascer!
Leitor 3: Querido Jesus, quando as preocupações com o dinheiro, com o trabalho, com as doenças nos fizerem perder a fé e a confiança, lembra-nos que tu nos amas e não nos abandonas e que nossa vida é “cheia de graça”.
Todos: Nasce, ó Jesus, e ensina-nos a nascer!
Preces espontâneas...
Pai-Nosso...
4. Bênção Final
Dirigente: Ó Deus da vida, tu nos fazes pessoas novas em teu amor. Ajuda-nos a viver, na nossa família e em todos os lugares, a compaixão, a ternura, a fraternidade e a solidariedade. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.
Todos: Ó Deus de amor e bondade, que nos dás a alegria da vida, faz-nos crescer sempre em teu amor e nos abençoa: Pai, Filho e Espírito Santo. Amém!
5. Abraço da paz e de Feliz Natal!
6. Canto final: Noite Feliz
Texto extraído da Novena de Natal da Arquidiocese de Belo Horizonte 2020
Conselhos de José
Volta a olhar o tempo com inocência, como uma tarefa que as crianças conhecem melhor que tu.
Aprende a procurar a sabedoria como quem constrói uma ponte quando seria mais fácil a distância.
Aprende a elogiar a vida, que é sempre a oportunidade mais bela, em vez de a desvalorizar com desencorajamentos e lamúrias.
Aprende a transformar, no teu quotidiano, a hostilidade em hospitalidade fraterna.
Não de detenhas a condenar a obscuridade: acende no centro da vida uma estrela que dança.
Compreende que a tua é condição de guardião e não de dono, e que isto te requer, a cada instante, a disponibilidade a um amor sem cálculos nem desgastes.
Exercita a arte de permanecer com humildade ao lado dos teus semelhantes, cuidando deles com dedicação, mas sem protagonismos, sem forçar os outros a nada, mas esperando por eles com delicadeza, servindo-lhes de corrimão.
Confia na verdade dos gestos essenciais, na força destas coisas de nada que depois são quase tudo.
Que o mundo nunca te apareça como um lugar indiferente.
Que a concreta presença do amor de Deus te ilumine e faça de ti a maravilhosa transparência em que este amor se contempla.
Que a tua oração de Advento seja o irresistível desejo que faz gritar à alma: «Vem!».
Card. José Tolentino Mendonça
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: "S. José e o Menino Jesus" (det.) | Guido Reni | 1640
Publicado em 14.12.2020 no SNPC
Ave, Maria
Gosto de pensar, Maria, que também a tua fraqueza sustém a tua força, que soubeste aceitar atravessar tantas incertezas, fazendo aderir o teu coração a uma confiança que não se via. E que, por isso, não te é estranha a minha agitação confusa, a minha indecisão, os medos que em certas horas me agridem, e que tu, que tudo compreendes, sabes abraçar.
Gosto de recordar quanto foi difícil o teu caminho, repleto de obstáculos mais duros do que aqueles que eu enfrento, fustigado por sombras, derivas e dores. E que o teu olhar se tornou um imenso ventre, onde posso depor tudo aquilo que tanto me custa, e que tu, que tudo compreendes, sabes abraçar.
Gosto de contemplar essa tua capacidade de agradecer. De agradecer a anunciação luminosa e as suas ásperas consequências; essas palavras límpidas e depois uma dolorosa sucessão de momentos passados a perguntar-te como será; a brandura da brisa e a dureza do vento.
E que, por isso, tu abraças o meu cansaço de viver com esperança a minha força e a minha fragilidade; aquilo que levo ao termo e aquilo que deixarei incompleto; aquilo que depende ou não depende de mim – e tudo tu compreendes.
Gosto de saber que encontraste os planos de Deus infinitamente superiores a ti e que, mais uma vez, te sentiste pequena, só e não à altura, como tantas vezes eu me sinto. E também por isto, no fundo de mim experimento que me abraças, tu que tudo compreendes.
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem:
Publicado em 10.12.2020 no SNPC
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