Quando penso nas coisas que quotidianamente nos ensinas, Senhor, vem-me muitas vezes ao pensamento aquela Tua palavra dirigida a Marta, num dos vossos encontros em Betânia. Tu disseste-lhe: «Uma só coisa é necessária».
Mesmo num contexto tão exigente como é este em que vivemos, onde sentimos que mil braços nos puxam para direções diferentes, onde mil vozes nos gritam urgências e todas elas reais, onde é fácil que a armadilha da angústia nos capture para uma agitação que, no fundo, só serve para ampliar a impotência e o medo, recordo o teu conselho a Marta: «Uma só coisa é necessária».
Ajuda-nos, Senhor, nesta hora abrupta, a ter a sabedoria de perguntar «qual é a coisa necessária» e concentrar aí a nossa inteligência, o nosso labor e o nosso coração.
Ajuda-nos a discernir, com a luz do Espírito Santo, aquela «única coisa» que, neste momento, melhor resume a indefectível responsabilidade que somos chamados a expressar diante de Ti e dos nossos irmãos.
E ajuda-nos, como Nossa Senhora, a confiar. A confiar, como ela o fez, não só nas metas consideradas possíveis, mas até naquilo que nós, nos momentos de maior desânimo, dúvida ou cansaço, formos tentados a declarar como impossível.
Dom José Tolentino Mendonça
imagem: pexels.com/taryn elliott
In: imissio.net 2.12.2020
Dá-nos, Senhor, depois de todos os nossos cansaços, um verdadeiro tempo de paz.
Dá-nos, depois de tantas palavras, o dom do silêncio que purifica e recria.
Dá-nos, depois de tantos caminhos apressadamente eliminados pela cortina de nevoeiro da distração, a possibilidade de contemplar com disponibilidade e plenitude cada porção de realidade, inclusive as realidades que nos custam.
Dá-nos a alegria, depois das insatisfações que nos travam, como uma barca que se recorta na água.
Dá-nos, Senhor, a possibilidade de viver sem presa, extasiados pela surpresa que os dias trazem consigo pela mão.
Dá-nos a capacidade de viver de olhos abertos, de viver intensamente.
Dá-nos a humilde simplicidade dos artesãos que, preferindo a sabedoria da experiência ao aparato das teorias, reconhecem que estão sempre a recomeçar.
Permite-nos escutar a lição do cântaro na roda do oleiro; do cepo aplanado pelas mãos do carpinteiro; da massa que o padeiro pacientemente transforma em pão.
Dá-nos de novo, Senhor, a graça do canto, do assobio que imita a aérea felicidade dos pássaros, das imagens reencontradas, do riso partilhado.
Dá-nos a força de impedir que as duas necessidades do viver esmaguem o desejo dentro de nós e que se dissipe a transparência dos nossos sonhos.
Faz de nós peregrinos, que no visível vislumbram a discreta insinuação do invisível.
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: pexels.com
Publicado em 16.11.2020 no SNPC
Senhor,
É desconcertante muitas vezes olhar o mundo da política.
Mas, ela é um lugar onde é possível construir fraternidade, onde a caridade deve ser o centro.
Por isso, Te pedimos que o Teu Espírito Santo ilumine os eleitores, para que saibam escolher candidatos que privilegiam e buscam o bem comum.
Ilumina também os candidatos para que saibam olhar por aqueles que foram derrubados pelo peso do desemprego, da violência e da miséria.
Suplicamos, com fé: dá-nos Senhor discernimento, porque o voto é uma maneira de modificar a sociedade que vivemos.
Amém.
Lucimara Trevizan
Equipe do site
14.11.2020
A barca da alegria
Faz-nos navegar, Senhor, na barca da alegria que largámos em algum lugar, oculta entre os ramos e a folhagem. Torna-nos disponíveis para as viagens longas, como sempre são as viagens do coração.
Que saibamos viajar pela rota das palavras reencontradas, das conversas reveladoras sem um mapa preciso, como as trajetórias dos pássaros, inesperadamente felizes. Faz com que ousemos compreender a maneira em que o Espírito ilumina o nosso presente, com os seus surpreendentes atravessamentos de portas fechadas e de incredulidades consolidadas.
Que nenhum ressentimento alente o vínculo que nos liga à memória do amor. Ajuda-nos a acolher a força tremula e fortíssima da Vida, que perdura em nós como um chamamento incessante.
Ajuda-nos a não menosprezar as nossas mãos vazias, mas a compreender que são remos para o nosso navegar entre espera e promessa. Ajuda-nos a não eliminar espiritualmente a pobreza, recordando-nos que a pertencemos a uma multidão de sedentos, de impacientes, de desejadores.
Mantém-nos distantes do tempo interrompido e obscuro em que experimentamos a negação de nós mesmos e de ti. Faz com que não nos esqueçamos que o teu amor é capaz de transformar em desejo incandescente as nossas ruinas, paralisias e desistências.
E no acolhimento deste amor, faz deflagrar em nós a força geradora da Tua Presença radiosa.
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: pexels.com/ Shuvrasankha Paul
Publicado em 06.11.2020 no SNPC
Bendita seja a brisa nova de cada dia
Bendito seja o germinar oculto e exaltante do Espírito, graças ao qual em cada estação nos faz renascer.
Bendito seja o respiro novo que cada dia, de maneira misteriosa, insuflas em nós, recordando-nos que a nossa criação não está terminada.
Bendito seja este espaço em que pacientemente nos plasmas, respeitando a nossa liberdade e os nossos tempos.
Bendita seja a tua fidelidade à nossa história e à maneira simples em que exortas o nosso coração a não se abandonar às inúteis visões da incerteza, do pessimismo e do cansaço.
Bendito seja o teu Reino que fazes já vir até nós nesta margem provisória, e que nos estimula a compreender a tua vontade.
Bendita seja a tua Palavra que encoraja e inspira perenemente os nossos novos inícios, porque desta maneira nos voltas a colocar a caminho para aquela festa, unânime e fraterna, que o quotidiano é chamado a preparar.
Bendito seja o Deus do nosso ontem, de quem entrevemos a passagem em tantos sinais do tempo presente, umbral daquela revelação maior em que será tudo em todos.
Card. José Tolentino Mendonça
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: pexels.com
Publicado em 29.10.2020 no SNPC
Rezar o vazio
Ensina-nos, Senhor, a rezar este vazio. O vazio transportado por um medo que não conhecíamos e que parece agora um inquilino da nossa alma.
O vazio dos espaços em isolamento.
O vazio da vida que se faz sentir como suspensa.
O vazio das horas que quem está na solidão conta de maneira diferente.
O vazio das incertezas que se acumulam, e das quais ainda não falámos.
O vazio dos olhos daqueles que veem sofrer e os olhos dos muitos que sofrem sem que nós os vejamos.
O vazio de tudo aquilo que, de um instante para o outro, é adiado.
O vazio daquela mulher idosa que passa o dia inteiro com o rosto contra o vidro da janela.
O vazio do refugiado que vê a sua esperança negada por um carimbo.
O vazio do jovem diante de um futuro que escapa cada vez mais, como um pensamento distante.
O vazio que nos chega como um aviso de despejo da vida autêntica.
O vazio dos encontros e das conversas de que agora precisaríamos.
O vazio que os amigos notam.
O vazio dos risos.
O vazio de todos os abraços não dados.
O vazio da proximidade proibida.
O vazio no qual não te vemos.
Card. José Tolentino Mendonça
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: pexels.com
Publicado em 31.10.2020 no SNPC
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