A ação salvadora de Cristo está presente em todos os momentos da vida: ao nascer e crescer, na doença e na morte. Está presente quando duas pessoas se amam e querem unir-se pelo sacramento. O amor que nasceu, cresceu e amadureceu é abençoado e confirmado pelo sacramento do Matrimônio.
Sendo o matrimônio um ato que traz grandes conseqüências para a comunidade, é concluído publicamente. Não é algo que diz respeito somente aos dois que se casam, mas a toda a comunidade.
O sacramento consiste no SIM que os nubentes pronunciam, prometendo amor e fidelidade mútuos. Diante da comunidade, os nubentes prometem “pertencer-se mutuamente em amor e fidelidade, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença e etc, respeitando-se mutuamente”. No intercâmbio do SIM os esposos se casam. O padre é testemunha em nome da Igreja e, em nome da Igreja abençoa o casal.
No bairro, cidade ou roça onde moramos, todos nós conhecemos grande número de casais que, apesar de muitas dificuldades, levam uma vida de compromisso e alegria, amor e fidelidade. Mostram pela sua vida uma verdadeira doação de um para o outro. Mostram também este amor lá onde moram, no engajamento e compromisso com a vida do seu povo e na educação de seus filhos.
Essa realidade humana, tão natural, serviu para explicar uma outra realidade: o amor de Deus a seu povo e a toda a humanidade.
O Antigo Testamento nos ensina que a experiência fundamental que o povo hebreu fez de Deus foi a experiência da libertação do Egito. Javé se mostra aos hebreus como um Deus que age na história, libertando o povo da escravidão do Egito e levando-o para a Terra Prometida. E mais, Javé faz uma Aliança com o povo. A partir dessa Aliança, Javé será o Deus de Israel e Israel será o povo de Deus. Esta Aliança significa que Javé será sempre fiel a seu povo, estará sempre protegendo o seu povo. E o povo será sempre fiel a seu Deus. O povo não vai adorar mais os ídolos. Só vai adorar Javé como o único Deus que liberta. Portanto, a Aliança entre Javé e seu povo é marcada pela fidelidade e exclusividade. Adorar o único Deus, Javé, que libertou o povo do Egito.
Quando o povo de Israel foi infiel àAliança, começou a praticar injustiças e a servir aos ídolos, Deus mandou os profetas que denunciassem esse desvio. Para explicar ao povo o que eles estavam fazendo, os profetas compararam a atitude do povo à infidelidade matrimonial. A Aliança de Deus é como um casamento entre Deus e seu povo. Deus é sempre fiel, nunca se arrepende do seu amor. O povo também tem que responder com amor, fidelidade e exclusividade. Quando sedesvia da justiça e do direito da Aliança e adora os ídolos, é como um esposo ou uma esposa infiel.
O casamento humano se tomou assim símbolo da Aliança entre Deus e seu povo. E a gente aprendeu um pouco mais sobre o casamento humano: o amor do casal é como um broto na grande árvore do amor de Deus à humanidade. Tira sua vida da seiva desta árvore. E assim como o broto na árvore mostra que o tronco é forte e a árvore está viva, assim também o casamento das pessoas mostra que o amor de Deus está dando vida ao amor entre o marido e a mulher.
No Novo Testamento a gente descobre que esse amor de Deus à humanidade toma forma no amor de Cristo à Igreja, o novo Povo de Deus, ao qual todos os homens e mulheres são chamados. Quando dois membros da Igreja, um homem e uma mulher batizados, se unem no casamento, o amor deles está enxertado no amor de Cristo à Igreja. Tem seu fundamento nesse amor.
O amor entre Cristo e a Igreja é a doação de duas vidas. Cristo quer tanto bem à Igreja que doa totalmente sua vida para a libertação plena de todos os homens, para que façam parte da Igreja. E pela força do amor de Cristo, a Igreja vive em união de amor com Ele e lhe quer ser plenamente fiel, dar totalmente a vida por seu amor. A unidade do amor, que exige total fidelidade, compromisso constante com a vida, doação até o fim - eis o jeito de amar entre Cristo e a Igreja. E este é o fundamento do amor no matrimônio entre cristãos, que é uma aliança de amor selada entre um homem e uma mulher. Por amor.
O matrimônio cristão é símbolo do amor entre Cristo e a Igreja. Significa que o matrimônio é um lugar onde acontece a salvação, a libertação que vem de Deus por Jesus Cristo. O matrimônio cristão constitui, portanto, uma pequena Igreja, uma "Igreja doméstica", como diz oConcílio Vaticano II. Nela a gente pode ver o amor de Cristo para com a sua Igreja. E o casal cristão tem consciência de que a sua vida de esposo e esposa é um lugar especial da presença libertadora de Cristo.
No sacramento do matrimônio nós damos valor justamente a essa vida matrimonial, essa doação mútua de vida e de amor. E celebramos o momento inicial dessa Aliança. Mas o sacramento, além do momento inicial, abrange toda a vida matrimonial. Porque sempre quando se mostra o amor dos esposos se vê um pouquinho do amor de Cristo à Igreja.
É isso que o sacramento do matrimônio celebra. A própria vida matrimonial e tudo o que esta vida significa: tornar visível o amor entre Cristo e a Igreja. O momento de dizer "sim" um para o outro, diante da comunidade, é apenas o começo do sacramento. O carinho entre marido e mulher, o respeito de um pelo outro, o amor com que geram e criam os filhos, toda essa vivência do amor fiel e a conversão eterna de se doar à pessoa amada e aos filhos desse amor, é a continuidade do sacramento.
São muitas as dificuldades que as famílias encontram hoje em dia: divórcio, problemas econômicos, desemprego, falta de moradia, alto custo de vida etc. A sociedade de consumo e do prazer afeta seriamente as famílias. Os meios de comunicação, como veículo dessa sociedade de consumo, destroem valores importantes para a família.
Os casais precisam da graça do sacramento do matrimônio para resistir a tantos ataques. A comunidade cristã é um grande apoio na luta contra esses problemas. Sozinho, o casal é fraco; junto com outros será mais forte.
É necessária uma sólida preparação para o matrimônio. Muitos casamentos fracassam por falta de preparação. Tudo devemos aprender na vida. A preparação para o matrimônio começa na família, pela educação de amor e partilha, de respeito e diálogo, de co-responsabilidade. É necessária uma boa orientação sexual. Os encontros de noivos, quando bem organizados, podem ser uma grande ajuda. Mas, tais encontros devem ser dados com antecedência.
O decisivo é a responsabilidade de um pelo outro e a convivência no amor. A comunidade e a Igreja devem ajudar o casal a chegar a uma decisão responsável. Por isso, a conversa ou aconselhamento com os noivos e os encontros de noivos são importantes. Mas, a ajuda só será aceita, se ficar claro que a Igreja quer ajudá-los a tomar sua própria decisão, de forma livre. Argumentos que rotulam qualquer atitude de pecaminosa ou fora das normas eclesiásticas, não ajudam em nada e espantam os noivos para fora do âmbito da Igreja.
Lucimara Trevizan
Equipe de Catequese do Regional Leste 2 da CNBB