A eucaristia é a culminância e a fonte de toda a vida da Igreja, o sacramento da união dos seres humanos com Deus e entre si. Na santa ceia, o Senhor se torna presente na história da maneira mais completa, congregando o seu povo: é a eucaristia que faz a Igreja. Simultaneamente, na celebração da eucaristia a Igreja invoca o Dom de Deus, abrindo-se para recebê-lo, com a humilde acolhida de louvor: é a Igreja fazendo a eucaristia.
Jesus, antes da Páscoa, celebrou com os seus a última ceia dentro do contexto de um banquete pascal hebraico. Nesse banquete, recordavam-se as maravilhas realizadas pelo senhor na história da aliança crendo-se que o poder do Eterno as tornaria presentes e eficazes para essa mesma comunidade que as celebrava(memorial); o memorial da Ceia – bem cedo denominado Eucaristia, em alusão à ação de Graças dentro da qual é realizado – tornou-se desde logo ato vital da Igreja nascente que era assídua no partir o pão.
Em prosseguimento a esta tradição apostólica, o gesto sacramental da celebração da eucaristia sempre foi o escolhido por Jesus Cristo: partir o pão da fraternidade e condividir o cálice do vinho da opção comum.
Na celebração da Ceia do Senhor, a presença da Trindade apresenta uma evidência especial: a eucaristia é ação de graças ao Pai, memorial do Filho e invocação do Espírito Santo. A ação de graças é dirigida a Deus pelos benefícios dele recebidos, em prosseguimento à tradição hebraica da benção, que Jesus adotou como sua: ela é o reconhecimento da primazia absoluta da iniciativa divina, uma profissão de louvor pelas maravilhas realizadas pelo Eterno tanto na criação como na redenção, e a invocação daquele Dom que só de Deus procede e que se cumprirá totalmente quando chegar a plenitude do Reino. A Ceia do Senhor deve, portanto, despertar em nós antes de mais nada, um estilo de vida repleto de agradecimento, de adoração e de oferta, referindo tudo a Deus como fonte primeira e pátria definitiva e abrindo-se para acolher o Dom que somente dele provém. Esse estilo de gratidão e admiração nos liberta do aprisionamento em nós mesmos, abrindo nossa alma para as surpresas de Deus. Onde não houver gratidão, o Dom ficará perdido; onde se realizar a eucaristia, ele se tornará plenamente fecundo.
Enquanto memorial do mistério pascal do Filho, a eucaristia é o Sacramento do sacrifício da cruz e é, também, o banquete em que participamos realmente do Corpo e do Sangue do Senhor: não comemoração vazia, mas memória eficaz, o memorial no sentido bíblico significa que o acontecimento da salvação se torna presente, por obra do Espírito de Deus, no dia-a-dia da comunidade que celebra. O Cristo morto e ressuscitado está presente sob as aparências do pão e do vinho, que se transformam ambos no seu Corpo e no seu Sangue: a santa ceia é o sacramento do pleno encontro com ele. Unindo-se ao sacrifício que Cristo realizou uma vez por todas na cruz e que se torna presente no sacramento do altar, a comunidade que o celebra se oferece ao Pai, ingressando na paz de reconciliação realizada pelo Crucificado Ressuscitado.
A eucaristia, enquanto memorial da morte e ressurreição do Senhor, tende, então, a despertar uma vida pascal através da qual os ressuscitados, que no pão da vida encontraram o Ressuscitado, experimentam e irradiam sua vitória sobre a morte e sobre o pecado. Unidos a Cristo na participação da sua cruz, eles também ficaram unidos a ele no vigor da ressurreição, graças a ele reconciliados com o Pai e com os outros seres humanos e capazes de edificarem o Corpo dele na história.
Finalmente, a eucaristia é uma invocação ou “epiclese” do Espírito Santo: sendo o Espírito Santo quem atualiza no tempo a presença e a obra de Cristo, a Igreja suplica ao Pai o Dom do Consolador, para que torne presente sob as espécies sacramentais o Cristo morto e ressuscitado. Graças à obra do Espírito Santo, o Ressuscitado não somente se torna presente sob as aparências do pão e do vinho, mas também transforma a comunidade celebrante em seu Corpo presente na história. É por isso que a Igreja dirige ao Pai este duplo pedido: Envia o teu Espírito para que santifique os dons que te oferecemos, a fim de que se tornem o corpo e o sangue de Jesus Cristo, teu filho e nosso Senhor, que nos mandou celebrar estes mistérios” e a nós, que nos alimentamos com o corpo e o sangue de teu Filho, concede a plenitude do Espírito Santo a fim de nos tornarmos, em Cristo, um só corpo e um só espírito.
A vida Eucarística suscitada pela ação do Espírito Santo é, portanto, comunhão, testemunho e serviço: ela impõe ao cristão o compromisso de viver como reconciliado e de anunciar e transmitir aos outros a graça da comunhão que lhe foi gratuitamente concedida.
(FORTE, Bruno. Introdução aos Sacramentos.São Paulo: Paulus, 1996, p.55-62. Adaptação)