Depois de comentar o Símbolo Apostólico, por ocasião do “Ano da Fé”, comentarei os Dez Mandamentos ou “Decálogo”. São dez palavras de amor que Deus nos fala e a Igreja nos transmite, visando a nossa felicidade, já nesta vida, e a nossa salvação eterna.
Na versão original do Decálogo, Deus diz: “Eu sou YHWH (“Javé”) teu Deus, que te fez sair da terra do Egito, da casa da escravidão” (Ex 20,2). O Catecismo da Igreja Católica a recolhe no seu primeiro mandamento da Lei de Deus: “Amar a Deus sobre todas as coisas”.
Dessa afirmação positiva (Existe um só Deus), o texto tira três consequências, formuladas negativamente: “Não terás outros deuses...”; “não farás para ti imagens esculpidas...”; “não te prostrarás diante desses deuses e não os servirás, porque eu, YHWH teu Deus, sou um Deus ciumento...” (Ex 20,3-6).
Deus é absolutamente transcendente. Por isso, no Antigo Testamento se proíbe qualquer representação dele. Israel era um povo pequeno, rodeado de povos pagãos mais fortes. Era preciso lutar contra a tentação da idolatria, para preservar a fé monoteísta. Diversa é a situação do Novo Testamento: o Deus único se encarnou; o Deus transcendente se tornou visível. “Ninguém jamais viu a Deus; o Filho único, que é Deus e está na intimidade do Pai, foi quem o deu a conhecer” (Jo 1,18).
As primeiras palavras que um bebê aprende a falar são: “Papai”, “mamãe”... Em hebraico: abba, imma... São palavras simples, fáceis de serem pronunciadas. Jesus nos ensinou a rezar assim: “Abba (“Pai”, Lc 11,2), Abbinu (“Pai nosso”, Mt 6,9). Ele próprio se dirigia a Deus com esse termo, que as crianças hebraicas usam para chamar seu pai, sobretudo nos momentos de angústia: Abba, Pai, papai (Mc 14.36).
O nosso Deus é o Pai amoroso de Jesus. É o pai misericordioso que se comove, quando vê o filho pródigo retornar a casa, envergonhado (Lc 15,20). O Papa Francisco repete: “Deus jamais se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir perdão”.
Jesus experimentou o amor de Deus como o amor de um pai, como o amor de uma mãe: Ele quis reunir os filhos de Jerusalém como uma galinha reúne seus pintinhos debaixo das asas (Mt 23,37). Nele se cumpriu a palavra do profeta: “Qual mãe que acaricia os filhos, assim vou dar-vos meu carinho, em Jerusalém é que sereis acariciados” (Is 66,13).
Jerusalém é, para nós, símbolo ou figura da Igreja, que na sua catequese nos ensina a amar a Deus acima de toda e qualquer outra coisa.
Padre Luís González-Quevedo, sj
Jesuíta, pregador de retiros, escritor.
01.07.2013