Já perto do final do Símbolo Apostólico, que estamos comentando, professamos uma verdade tão consoladora quanto pouco conhecida. Na nossa peregrinação por esta terra, rumo à vida eterna, nós não estamos sós, estamos unidos a todos os fieis que nos precederam na fé e com os quais formamos um só Corpo místico, vivificado pelo Espírito de Cristo. Depois de Cristo, ninguém se aproxima de Deus sozinho. Na Igreja, as vidas de todos os fiéis estão interligadas, em comunhão de méritos.

 

A doutrina da “comunhão dos santos” afirma que, “em Cristo”, isto é na vida cristã, há uma conexão ou comunicação espiritual entre os membros da Igreja militante (que ainda estão a caminho), os da Igreja purgante (que estão em um estágio de purificação), e os fiéis da Igreja triunfante, que já desfrutam da glória celeste.

 

Esta união e intercomunhão com os santos do céu tem uma dimensão cristológica, pois une todos os membros a Cristo, fonte e cabeça de toda nossa vida espiritual. A comunhão dos santos tem, também, uma clara dimensão eclesiológica, pois ela se dá entre os membros da Igreja . Finalmente, essa doutrina tem uma dimensão escatológica, pois a intercomunicação de bens espirituais entre os fiéis se estende até a vida eterna. Santa Teresinha de Lisieux, no final de sua vida, prometeu que na eternidade intercederia pelos pecadores, com os quais se sentia solidária.

 

Por sua vez, os fiéis que ainda estão na terra podem ajudar, com suas orações, os que já morreram, mas ainda não gozam de glória eterna. A Sagrada Escritura ensina que é coisa piedosa e santa rezar pelos defuntos (cf. 2 Mc 12,46), e toda a tradição católica recomenda a oração em favor das “almas do purgatório”.

 

O Concílio Vaticano II, sem tratar expressamente desta doutrina, dedicou um capítulo da sua Constituição sobre a Igreja (Lumen Gentium) à “Índole escatológica da Igreja peregrina e sua união com a Igreja celeste”. Nele reafirma que todos os fiéis, os que peregrinam na terra, os que estão se purificando e os que vivem já glorificados, contemplando o próprio Deus, todos “formam uma só Igreja e, nele [em Cristo], estão unidos entre si” (LG 49).

 

Infelizmente, muitos cristãos desconhecem a doutrina da Comunhão dos Santos. A busca atual por uma perspectiva holística, em este mundo cada dia mais globalizado, deveria favorecer uma visão unitária da humanidade e da Igreja.

 


Padre Luis González-Quevedo, sj

Teólogo, pregador de retiros inacianos, diretor do Centro Loyola de Goiânia-GO

15.04.2013