Depois de afirmar nossa fé em Deus Pai, o Símbolo Apostólico acrescenta: “... E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor”. Aqui costumamos inclinar a cabeça, em sinal de respeito e de adoração diante do mistério. Deus se tornou homem!
Nos primeiros séculos da Igreja, houve muitas discussões sobre Jesus Cristo, até que o Concílio de Calcedônia definiu que em Jesus há duas naturezas (divina e humana), mas uma única Pessoa. Todavia, hoje, os teólogos nos apresentam diversas imagens de Jesus.
Segundo uma visão tradicional, Jesus é Deus que “desceu do Céu”. Daí o nome que se dá a essa corrente teológica de “cristologia descendente”. O Filho de Deus teria vivido nesta terra só para nos dar exemplo de humildade e de amor. Desde criança, sabia tudo e podia tudo, mas quis sofrer e morrer numa cruz, para nos salvar. Uma heresia radical chegou a dizer que Jesus, por ser Deus, não podia sofrer, apenas “parecia que sofria”. A Igreja condenou esta heresia, porque Jesus era Deus, mas era também verdadeiro homem.]
Outros teólogos preferem uma “cristologia ascendente”. Segundo esta outra visão, Jesus é plenamente humano, “tão humano, tão humano que assim só podia ser Deus”. Ao “Cristo da fé”, contrapõem o “Jesus histórico”, plenamente inserido na história humana. No entanto, temos que evitar cair no extremo contrário ao anterior: Jesus teria sido um homem comum, que só no momento do Batismo recebeu o Espírito Santo e “se tornou Deus”. Não! Jesus é verdadeiro homem, mas também é verdadeiro Deus.
Afinal, qual é o verdadeiro Jesus, em quem os cristãos acreditamos? O “Jesus manso e humilde de coração” ou o “Jesus revolucionário”, com jeito de Chê Guevara?
Anos atrás, um grupo de jovens me pediu que lhes falasse de Jesus, mas do “Jesus espiritual”, não do “Jesus político”. Disse-lhes que Jesus é só um. Mas temos diversas imagens ou retratos d’Ele. A Igreja só aceita, como inspirados, quatro “retratos-falados” de Jesus: os que nos deixaram Mateus, Marcos, Lucas e João.
Nos quatro Evangelhos encontramos as lembranças de Jesus que a primeira geração cristã guardou, com fé e amor. E com fé e amor devem ser lidos e meditados, hoje, por nós. Só assim poderemos nos tornar verdadeiros cristãos, isto é, seguidores de Jesus.
Seguir Jesus supõe aderir à sua causa, identificar-se com o seu projeto, que os Evangelhos sinóticos chamam de “Reino de Deus”. Para isso, temos que entrar em um processo contínuo de “conversão”, isto é, de mudança de vida.
Pe. Luis González-Quevedo, sj
Escritor e teólogo, diretor espiritual e pregador de retiros.
15.12.2012