Não vivemos mais em tempo de cristandade, com a hegemonia religiosa e cultural da Igreja [...]. O mundo contemporâneo abre cada vez mais espaço ao diferente, e o futuro se anuncia mais plural, também no campo religioso. A Igreja está aprendendo novos caminhos...” (DNC n.91).

 

Antes, contávamos com pilares seguros que garantiam a educação da fé: a família que iniciava na fé; uma cultura cristã que levava a supor a fé dos que buscavam a catequese; a identificação ensino religioso e catequese nas escolas; a hegemonia da Igreja Católica com fortes estruturas paroquiais. 

 

As profundas transformações sociais e religiosas trazem no seu bojo fenômenos bem diversos e contraditórios. Secularização, indiferentismo religioso, liberdade de escolha, crise das instituições religiosas, dicotomia entre fé e vida, adesão parcial, religião invisível, prática intimista, busca de uma religião de consumo, enfraquecimento ou o abandono da fé convivem com posições bem positivas como: vivência convicta, madura, esclarecida e comprometida da fé.

 

Fundamentada na reflexão pós-conciliar e, sobretudo, na necessidade que se impõe de ser fiel à missão de evangelizar com novo ardor e novos métodos, a Igreja busca caminhos para enfrentar os desafios atuais. Nesta busca, reassume e propõe algo que lhe é peculiar desde os albores de sua história: a pedagogia da iniciação na comunidade cristã e no “mistério da salvação”, Jesus Cristo. Assim, retoma a prática de ajudar a moldar a identidade cristã de quem opta por Jesus. O convertido aprende a ser cristão, porque não nasceu cristão.

 

Tais caminhos passam por opções que abrem amplos horizontes e perspectivas para a catequese. Entre estas opções podemos citar o que o DNC chama de “nova compreensão do ministério da catequese”: uma catequese em chave missionária e evangelizadora e uma catequese a serviço da iniciação e da reiniciação cristã, de inspiração catecumenal (cf. n.35s).

 

Assumir este caminho é: mudar de mentalidade; converter-se “pastoralmente”; passar de uma “pastoral de manutenção”, própria da cristandade, para uma “pastoral evangelizadora e de recriação da experiência cristã”. Isto traz conseqüências, riscos e investimentos.

 

Com raras exceções, os catequizandos hoje necessitam, sobretudo, do primeiro anúncio (querigma), de um primeiro passo para a conversão, de um encaminhamento ao seguimento e discipulado de Jesus.

 

A catequese assume, então, as características da evangelização. Hoje a Catequese precisa voltar a ter as características de um processo de iniciação para os que optam pelo Evangelho, como era no antigo catecumenato. A inspiração catecumenal deve iluminar qualquer processo catequético e tornar-se um “modelo para toda a catequese”.

 

É imperativo atual da catequese: levar o catecúmeno ao batismo e aos sacramentos da iniciação cristã; oferecer aos já batizados, que sentem necessidade, a possibilidade de refazer ou complementar o caminho de iniciação cristã e fazer desta proposta um “modelo para toda a catequese”.

 

A catequese, hoje, sem abandonar outras faixas etárias, privilegia os adultos como “os principais interlocutores da mensagem cristã” a fim de que superem uma fé intimista, individualista e infantil. Firmados na sua verdadeira identidade como cristãos, poderão exercer diversos ministérios na comunidade eclesial, entre eles a educação da fé das novas gerações e serão sal, luz e fermento na construção de uma sociedade justa e solidária.   

 

Catequese a serviço da iniciação cristã

           

O termo iniciação significa (in-ire) ir para dentro, entrar dentro, começar algo.

Podemos falar de iniciação enfocando três aspectos:      

   

a) Em muitos grupos de raízes antigas, há processos e ritos que introduzem um novo membro neles ou permitem o ingresso em estágios mais avançados de sua vida. Transmitem-lhe a quem chega valores, normas, atitudes e modos de agir partilhados e vivenciados no próprio grupo. Há momentos fortes que são celebrados com ritos de passagem (batismo, circuncisão, casamento, vida adulta, etc.). É o que se chama de iniciação natural ou cultural.


b) Por iniciação cristã entende-se o processo catequético e sacramental pelo qual alguém chega a ser cristão e se incorpora ao mistério de Cristo e da Igreja. Isto mediante a aprendizagem global da vida de fé e celebração do Batismo, Confirmação e Eucaristia. Na Igreja dos primeiros séculos isto se dava pelo catecumenato.


c) Fala-se também, hoje, de reiniciação cristã - um processo intensivo de aprendizado da vida cristã. Por meio do aprofundamento e experiência das exigências fundamentais da vida cristã, o adulto batizado dá novo impulso à sua conversão e adesão a Cristo. Com compromisso renovado, insere-se consciente, ativa e plenamente na comunidade eclesial e, com mais consciência, assume sua missão no mundo.

 

Marlene Silva

Editora da Revista ECOANDO e  professora do IRPAC

15.06.2012