O termo iniciação significa (in-ire) ir para dentro, entrar dentro, começar algo.


Podemos falar de iniciação enfocando três aspectos:  

       

a) Em muitos grupos de raízes antigas, há processos e ritos que introduzem um novo membro neles ou permitem o ingresso em estágios mais avançados de sua vida. Transmitem-lhe a quem chega valores, normas, atitudes e modos de agir partilhados e vivenciados no próprio grupo. Há momentos fortes que são celebrados com ritos de passagem (batismo, circuncisão, casamento, vida adulta, etc.). É o que se chama de iniciação natural ou cultural.


b) Por iniciação cristã entende-se o processo catequético e sacramental pelo qual alguém chega a ser cristão e se incorpora ao mistério de Cristo e da Igreja. Isto mediante a aprendizagem global da vida de fé e celebração do Batismo, Confirmação e Eucaristia. Na Igreja dos primeiros séculos isto se dava pelo catecumenato.


c) Fala-se também, hoje, de reiniciação cristã que é um processo intensivo de aprendizado da vida cristã. Por meio do aprofundamento e experiência das exigências fundamentais da vida cristã, o adulto batizado dá novo impulso à sua conversão e adesão a Cristo. Com compromisso renovado, insere-se consciente, ativa e plenamente na comunidade eclesial e, com mais consciência, assume sua missão no mundo.

 

O catecumenato como inspirador da catequese de iniciação 

 

Do ponto de vista histórico, o catecumenato é um período de formação cristã, em etapas, de caráter catequético-litúrgico. Foi criado pela Igreja dos primeiros séculos, com o fim de preparar e acompanhar os convertidos adultos para a inserção no mistério de Cristo e à vida de comunidade eclesial. Seu momento culminante era a recepção dos sacramentos de iniciação cristã: Batismo, Confirmação e Eucaristia.


São elementos fundamentais do catecumenato: o caráter de iniciação, a intensidade e integridade da formação, a forma gradual, o emprego de ritos e a referência constante à comunidade. Tais elementos inspiram a prática catequética atual e são referência para toda forma de catequese.


A catequese inspirada no processo catecumenal é: 

a) é um autêntico aprendizado, uma escola de vida cristã. Contempla todas as dimensões da vida cristã: o conhecimento da Palavra, a vida litúrgica, a prática evangélica e compromisso cristão;


b) tem certa duração e progressividade: realiza-se em etapas graduais que indicam os momentos e o ritmo do crescimento na fé;


c)  é marcada por ritos, sinais e símbolos: expressam os passos que estão sendo dados e os compromissos que vão sendo adquiridos no itinerário da fé;


d) tem caráter comunitário: o itinerário catecumenal parte da comunidade; leva à comunidade e envolve toda a comunidade eclesial;


e)  é proposta exigente de conversão: adesão a Jesus Cristo e ao seu projeto de vida e a de orientação da própria vida dentro do horizonte dos valores evangélicos.

 


O catecumenato, desde o início da Igreja, na época dos Santos Padres, como é apresentado pelo Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA), estrutura-se em quatro etapas:


1. O pré-catecumenato: momento do primeiro anúncio, em vista da conversão, quando se explicita o querigma (primeira evangelização) e se estabelecem os primeiros contatos com a comunidade cristã (cf. RICA 9-13);


2. O catecumenato propriamente dito: destinado à catequese integral, à prática da vida cristã, às celebrações e ao testemunho da fé (cf. RICA 14-20);


3. O tempo da purificação e iluminação: dedicado a preparar mais intensamente o espírito e o coração do catecúmeno, intensificando a conversão e a vida interior (cf. RICA 21-26); no final desse tempo recebem os sacramentos da iniciação: Batismo, Confirmação e Eucaristia (cf.  RICA 27-36);


4. O tempo da mistagogia: visa o progresso no conhecimento do mistério pascal através de novas explanações, sobretudo da experiência dos sacramentos recebidos e a participação integral da comunidade (cf. RICA 37-40).


Hoje, a catequese é convidada a se inspirar no itinerário catecumenal em todas as suas formas. Os catecúmenos (os que ainda não foram batizados) e os batizados se beneficiarão das riquezas desta «escola preparatória à vida cristã». A catequese, então, deixará de ser encarada somente como preparação para os sacramentos e uma mera doutrinação. Ao repropor a opção por Jesus Cristo, ela contribuirá para que as pessoas vão se tornando cristãs, num processo contínuo e progressivo de educação da fé.  

 

Assim, assumindo as finalidades da primeira evangelização, o querigma, o anúncio essencial do evangelho e a metodologia, o testemunho direto de vida, o ardor missionário, a catequese muito contribuirá para que a Igreja possa responder aos desafios da atualidade e realizar sua vocação missionária, sendo sinal eficaz do Reino.  


Algumas dioceses e paróquias já se organizaram e estão efetivando algumas experiências à luz do RICA.

 

 

Marlene Silva

Editora da Revista ECOANDO e  professora do IRPAC

01.07.2012