A pós-modernidade caracteriza-se fundamentalmente pela fragmentação, pelo pluralismo, pelas diversidades de estilo de vida até o exotismo individual. Rejeita-se fortemente a pretensão totalizante da razão científica, da visão unitária da fé, para dar lugar a experiências múltiplas e diversificadas. Em quatro breves reflexões, deter-nos-emos, cada vez, numa tendência importante dessa cultura.


A pós-modernidade tem uma face de vitória, de prazer, de felicidade, de satisfação. Tudo vai bem. Porque só existe o momento presente que procuramos usufruir ao máximo.


As manchetes de jornal, programas de TV e outros noticiários apresentam as pessoas mais ricas, os famosos da semana, aqueles/as que nadam na fama, no prestígio, na vitória. No esporte, sobressaem as estrelas que faturam milhões de dólares e exibem status deslumbrante de vida. Enchem de inveja os leitores e ouvintes.


Triunfa a sanidade física. Fecham-se livrarias e abrem-se academias. Ostentam-se corpos sadios depois de tanta malhação. A beleza física impõe-se. Noticiou-se como vitória a celebrar o fato de que classes populares já frequentam clínicas de cirurgia plástica para aprimorarem o corpo. Os modelos de beleza servem de padrão para tantos se lapidarem a fim de aproximar-se deles. 


Acrescente-se a inundação de aparelhos eletrônicos. Em cada canto da cidade, pessoas simples e pobres caminham falando alto nos celulares, mostrando o acesso que já têm a esse mundo novo. Podem faltar coisas básicas na casa, mas vários celulares não. O Brasil ocupa lugar privilegiado entre aqueles em que mais habitantes dispõem desse aparelhinho mágico que cada vez embute mais novas tecnologias. Está, portanto, em jogo o olhar deslumbrado diante das possibilidades sempre maiores que a modernidade avançada oferece sobretudo nos países centrais e para as camadas privilegiadas. 


Qual o impacto da pós-modernidade gloriosa sobre a fé? A fé descobre e valoriza a capacidade humana de buscar transformar o mundo, tornando-o, por meio da tecnologia e das descobertas, menos árduo e mais fácil de ser vivido. Mínimo olhar para anos atrás mostra como as pessoas sofriam e gastavam energias com trabalhos pesados que hoje a máquina faz. As distâncias físicas se cobrem rapidamente. As virtuais ganharam velocidade impensável. Em instantes, comunicamos com todo o mundo pela Internet. Eis o lado positivo!



A fé cristã tem sensibilidade crítica em face de tal modo, denunciando distorções. A ruptura com os pobres, embora, muitas vezes menos aparente, se torna cada vez maior. E torna-se terrível lá onde ainda não chegou a modernidade. Miséria, fome, ”morte antes de tempo”.



Mesmo para os beneficiados da pós-modernidade triunfante, há a embriaguês do presente, do consumismo, do materialismo. Perde-se a dimensão de transcendência. Entra em seu lugar o vazio existencial que nada sacia. Não raro se termina no desespero depois de época de euforia. Longe do dom de si ao outro não se encontra a Deus.

 

Pe. João Batista Libânio sj

Teólogo da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - FAJE - Belo Horizonte-MG

 02.05.2012